Capítulo 24

À tarde todas as selecionadas foram convidadas para um chá com a rainha Eadlyn e sua dama de companhia. O planejado era que o evento acontecesse nos jardins do palácio, mas o clima nublado fez com que ele fosse transferido às pressas para o Salão das Mulheres.

— Foi realmente uma pena nós não termos conseguido realizar o chá no jardim, Majestade. — Disse Riley com um suspiro. — O príncipe Osten não pode entrar aqui no Salão.

— Na verdade, Riley, ele pode. — Leah a corrigiu. — Só precisa que a rainha o autorize a fazer isso.

— Ele não quis pedir a sua permissão, Majestade? — Perguntou Grace.

A rainha conteve uma gargalhada.

— Senhoritas, entendam, — Disse ela, com um sorriso leve. — O meu irmão prefere fazer qualquer coisa a pedir permissão a alguém. Ele é assim desde criança.

— A presença dele faz muita falta. — Leanna comentou e eu revirei os olhos.

— Bem... — Começou Neena, com cara de tédio para aquilo tudo. — já que vocês não vão sossegar porque o príncipe não pode vir conosco para o chá, que tal vocês compensarem a falta dele contando as suas expectativas, por exemplo... para o casamento na hipótese de serem sua escolhida?

As selecionadas gritaram, vibrando de empolgação com a ideia.

— Certo, certo, eu posso ser a primeira? — Pediu Mia.

Nós assentimos e a ela começou a falar. Mia contou alguma coisa sobre vasos de flores rosa, igreja rosa, tapetes rosa, cortinas rosa, vestido rosa, anel rosa e o mais impressionante de tudo: buquê de rosas pintadas de quê? De rosa!

Fiquei imaginando se ela queria um noivo rosa também.

Leanna descreveu um casamento demasiadamente extravagante. Houve momentos durante o seu relato em que eu cheguei a duvidar se haveria dinheiro no mundo o suficiente para custeá-lo.

Grace declarou que queria um evento que ficasse à altura do matrimônio da rainha.

A monarca sorriu para ela ao ouvir isso, mas lhe respondeu que seu desejo era impossível, pois na opinião dela todo casamento era um acontecimento único.

Já o resto das meninas, fora Madison e Leah que declararam estar sem vontade de participar da brincadeira, relatou casamentos tradicionais. Sem exageros rosa e nada do gênero.

Quando a minha vez chegou, eu comecei a suar frio.

Eu não queria falar sobre casamento, especialmente porque ainda não havia conversado com Osten desde que tinha decidido lhe contar tudo.

Querendo fugir de todos os olhares focados em mim, me virei para a janela e percebi que havia começado a chover.

Madison, vendo a minha situação, tentou acabar com constrangimento da cena.

— Majestade, porque sua mãe, a Sra. Schreave, não pode nos acompanhar esta tarde?

Por sorte, todo mundo se interessou pela pergunta dela e me esqueceu.

— Bem, — A rainha sorriu. — a presença dela aqui hoje seria digamos, perigosa.

Algumas da selecionadas arregalaram os olhos.

— Porquê, Majestade? — Perguntou Leah.

— Por que a qualquer hora...

Uma batida alta de porta interrompeu a rainha. Me voltei para o local do barulho e vi Osten de pé na entrada do Salão.

Parecendo muito agitado, ele passou os olhos pelo espaço até me encontrar. E então começou a correr na minha direção, me deixando sem entender nada.

Quando ele chegou onde eu estava, simplesmente me ergueu nos braços e com um giro de 360o, disparou de volta para a saída.

—... isso poderia acontecer. — A rainha Eadlyn completou sua fala, parecendo perplexa demais até para rir.

Osten nem se deu ao trabalho de fechar novamente as portas do Salão, ele simplesmente se lançou comigo pelo corredor.

Segundos depois de pura afobação, percebi que ele estava seguindo na direção da entrada principal.

— Osten! Está chovendo!

— Eu sei. — Disse antes de sorrir. — Meus pais sempre fizeram isso. E eu sempre quis saber qual é a sensação.

— A sensação de que?

O sorriso dele tornou-se travesso. — Nós vamos dançar na chuva, minha Alice.

Arregalei os olhos, surpresa.

Mas ao invés de dizer não ou reclamar, eu fiz a coisa que achei ser a mais correta naquele momento:

Eu simplesmente ri, aceitando embarcar na loucura dele.

Osten continuou correndo e nós cruzamos as portas da frente. A cara de total incredulidade dos guardas foi impagável.

— Alteza, espere... — Um deles ainda tentou alertar o príncipe, mas o menor dos olhares de Osten o calou.

As primeiras gotas de chuva tocaram a minha pele no momento em que descíamos as escadas. A sensação de frio que me percorreu foi como um bálsamo para as últimas duas horas abafadas que eu havia passado no Salão das Mulheres.

Osten parou de correr em frente à majestosa fonte que ficava na entrada do palácio e girou comigo em seus braços antes de me por de pé novamente.

— E agora? — Eu perguntei quando meus pés tocaram o solo.

O sorriso dele se alargou.

— Agora. — Ele me puxou para perto. — isso.

Com seus braços ao meu redor, o príncipe começou a se movimentar. Eu abracei seu pescoço e deitei minha cabeça em seu peito, acompanhando o ritmo do seu corpo.

Não havia orquestra. Não havia cantores. Não havia nem mesmo música.

Mas havia Osten e eu juntos, e isso era tudo o que me importava.

Eu conseguia sentir o coração dele pulsando acelerado, e sabia que ele podia sentir as batidas do meu em resposta.

Constatei que nós dois éramos assim. Duas almas. Dois corações. Uma sincronia perfeita.

A chuva começou a ficar mais forte e eu levantei a cabeça para encará-lo.

— Você quer parar? — Perguntou ele.

— Não.

Seus olhos brilharam.

— Eu também não.

Osten afrouxou seu abraço e deslocou as mãos para a minha cintura, me erguendo para cima ao mesmo tempo em que começava a rodopiar.

Eu apoiei minhas mãos em seus ombros e gargalhei, sentido a chuva diretamente no meu rosto.

Baixando a cabeça, eu olhei para ele. O humor subitamente deu lugar a outro sentimento. Seus olhos estavam tão intensos que pareciam ter o poder de perfurar os meus. Aos poucos, ele deixou meu corpo escorregar por entre seus braços até que nossos rostos ficassem frente à frente. Meus pés ainda não tocavam o chão, mas meu peso não parecia ser nenhum incômodo para o príncipe.

Eu abracei seu pescoço e Osten sorriu novamente. O sorriso mais brilhante que eu já havia visto na vida.

— Eu percebi. — Foi tudo o que ele disse.

— Percebeu o quê? — Eu perguntei tirando alguns fios de cabelo molhado da sua testa.

— Eu finalmente percebi. — Repetiu.*

E então ele me beijou. Não de forma leve, mas de forma exigente.

Uma verdadeira descarga de sentimentos que ressoou por todo o meu ser.

Nossas línguas dançaram extasiadas uma com a outra, explorando um espaço que já lhes era conhecido. As gotas de chuva caíram continuadamente em nossos rostos e deslizaram por eles, tentando de forma inútil se intrometer entre nossas bocas. Uma das minhas mãos começou a fazer círculos involuntários em seu cabelo e Osten me apertou ainda mais contra seu corpo, como se estivesse com medo de que eu pudesse ser levada para longe.

— Veja só isso, querida, parece que fomos plagiados. — Alguém disse, sendo seguido por uma risada baixa.

Osten parou o nosso beijo com um suspiro frustrado, mas sorriu diante da interrupção.

— Oi para você também, pai. — Disse ele, fechando os olhos e encostando sua testa na minha.

— Ah Maxon, nós acabamos com o momento deles. — Reconheci a voz da Sra. Schreave.

— Não acabaram não mãe. — Declarou Osten, antes de me beijar novamente.

Eu arfei de surpresa, mas amoleci em seus braços na mesma hora.

— Viu? — Ele disse sem separar nossas bocas. — Ainda há tempo para vocês saírem e nos deixarem continuar.

— Não vai nem nos apresentar a menina, meu filho?

Osten me colocou no chão com outro suspiro. Ainda me abraçando, ele se virou para os pais e eu fiz o mesmo.

O Sr. Schreave estava com um braço na cintura da esposa e ela estava com a cabeça apoiada em seu ombro.

— Pai, mãe, esta é a minha Alice. Alice, esses são os meus pais enxeridos, Maxon — O homem fez cara de ofendido. — e America Schreave.

— Não precisava me apresentar filho. Eu e a senhorita Alice já nos conhecemos. — A mãe dele comentou.

— Vocês já se conhecem? — Perguntou Osten, confuso.

— Exatamente. A senhorita Alice está instalada no quarto que foi meu durante a minha Seleção. Hoje cedo eu fui até lá e acabei me oferecendo para ajudá-la a se arrumar. — A Sra. Schreave sorriu. — Conversamos muito por sinal.

— Eu ficaria preocupado com essa conversa se fosse você, filho. Afinal, veja só o que a sua mãe fez comigo. — O pai de Osten se virou para a esposa. — Eu não consigo passar nenhum segundo longe dela.

A Sra. Schreave se voltou para o marido e o olhar de amor que eles trocaram me deixou até corada.

Osten riu e depois me encarou, sua expressão contemplativa.

— Eu já estou tão perdido quanto você, pai.

Meu coração quase explodiu com aquela declaração dele.

Ficamos nos olhando em silêncio por um tempo, até que mm pigarrear de garganta fez com que com que o príncipe se virasse de volta na direção dos pais, que tinham largos sorrisos no rosto.

— Vocês poderiam ir agora, por favor? A chuva não é o melhor lugar para apresentações.

— Nem para beijar, meu filho. Mas nos 4 estávamos fazendo exatamente isso.

Eu fiquei com tanta vergonha que quis me enterrar viva.

— Pai, por favor.

O Sr. e a Sra. Schreave gargalharam, mas começaram a se afastar.

— Você fica nos devendo uma, filho.

A mãe de Osten balançou a cabeça para tentar se controlar.

— Vamos, Maxon. Vamos deixar os coitados em paz.

— Você me daria a honra da sua dança no telhado, querida?

— Sempre, meu amor. Você sabe disso.

Os pais de Osten se beijaram e eu desviei olhar da cena, lhes dando privacidade.

O príncipe começou a me conduzir para outro local e não parou até que estivesse certo de que ninguém mais pudesse nos interromper.

— Onde estávamos? — Ele perguntou, me erguendo pela cintura e deixando meu rosto na altura do seu novamente.

— Bem... — Eu fingir pensar no assunto. — Eu estava nessa posição, mas eu acho que o seu rosto estava um pouco mais perto do meu.

— Quanto mais perto? — Ele sorriu divertido.

— Você pode tentar descobrir.

Osten aproximou seu rosto do meu e deixou nossas testas se tocando.

— Perto assim?

— Não, — Eu ri. — mais perto.

Ele juntou nossos narizes com um movimento.

— E assim?

— Ainda mais per...

Antes que eu pudesse terminar de falar, Osten já havia colado sua boca na minha e nós estávamos nos beijando de novo.

Ficamos daquele jeito até o cessar do temporal, e chegamos ao palácio literalmente encharcados. Mas eu nem estava preocupada com isso, porque eu só conseguia pensar em uma coisa:

Na frase em que Osten sussurrara para mim durante todo o tempo que passamos juntos sob a chuva:

Eu finalmente percebi.

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Nota do autor: Música de fundo sugerida para a cena do beijo: The Only Exception (Glee version). Link nos comentários (Youtube).

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