Capítulo 22

Acabei perdendo o jantar e dormindo até o outro dia. Assim que me levantei, peguei o livro de frases escondido detrás da cômoda.

Eu precisava encontrar aquelas palavras para ter certeza de que fora real, de que Osten me dissera aquilo mesmo.

"Mas não duvides jamais de que te amo, minha Alice."

"...Não duvides jamais de que te amo..."

"...Te amo..."

Folheei a obra completamente por 10 vezes seguidas, mas não achei nada.

Me sentindo completamente frustrada, me joguei de novo na cama.

Como eu poderia ter certeza de que tudo não fora apenas uma alucinação minha?

Certamente eu não perguntaria nada a Osten, pois eu morreria de vergonha se eu tivesse imaginado toda aquela declaração e ele acabasse sabendo de alguma forma. Minhas criadas também não poderiam ajudar, pois eu e o príncipe estávamos sozinhos no quarto quando aconteceu.

Decidi que esperar era a melhor opção. Se Osten tivesse me dito de verdade que me amava, provavelmente não demoraria a repetir. E enquanto ele não fazia isso, eu podia me contentar relembrando-me de outra frase que ele havia me dito ontem, só que num momento em que eu estava muito mais desperta.

"Porque você, querida... você se tornou o meu mundo."

Sorri diante da recordação.

Você também se tornou o meu mundo, Osten.

_____________________________________________

— Revistas, jornais, programas de televisão, todos publicaram matérias detonando o "presidente". — A rainha fez as aspas com as mãos. — A senhorita conseguiu, senhorita Alice. Cortou a ameaça pela raiz.

— Obrigada.

— O povo está clamando por uma declaração formal de ilegalidade à ADL. — Uma expressão de vitória tomou conta de seu rosto. — Não sei se a minha velha conhecida Bree vai gostar disso.

Eu arquejei, perplexa.

— Bree Marksman? A mulher do vídeo? Sua conhecida?

— Ela mesma. Bree foi convidada a vir ao palácio uma vez com um grupo de pessoas para me apresentar as demandas do povo. Não deu muito certo. — A monarca sorriu de leve. — A senhorita pode a rir de mim se quiser, mas acredite quando lhe digo que por muito pouco ela não me convenceu de que uma democracia seria a solução para os problemas do país.

Meu queixo caiu.

A rainha continuou. — Ela me pegou num momento ruim, eu estava muito sensível. — Deu de ombros. — Tudo o que posso dizer é que se ela falasse comigo hoje da mesma maneira que falou há alguns anos atrás, eu não sei se seria tão piedosa a ponto de chamar o pelotão de fuzilamento.

Eu estremeci com o que a monarca disse, e a ameaça nem tinha sido direcionada a mim. A rainha Eadlyn era mesmo uma pessoa de pulso fortíssimo. Decidi mudar o foco do assunto.

— Há alguma novidade nas investigações sobre a ADL? — Perguntei.

— Não, o general Leger não tem me mandado muita coisa. Ele está empenhado em descobrir o centro de operações do grupo em Angeles, o qual eu desconfio ser o único. — A rainha me encarou. — Eu não acredito que a ADL esteja espalhada por todo o país, senhorita Alice. Para mim, eles querem parecer fortes, mas não são. Creio que seus planos eram forçar a família real a abdicar e assim...

— E assim... — Eu disse, completando a fala dela. — assim eles poderiam tomar o governo sem nenhum esforço, pois... pois eles não têm apoio ou poder de fogo suficientes para usar numa guerra civil!

A rainha sorriu.

— Sua capacidade de raciocínio é fantástica, senhorita Alice.

— O que? Não! A senhora é que é brilhante, Majestade! Sua teoria faz todo o sentido. Já pediu que investigassem isso também?

— Com toda certeza. Os primeiros relatórios chegarão em alguns dias.

De repente, a porta do escritório foi bruscamente aberta e Neena entrou como um furacão na sala.

— Majestade, — Disse ela, alarmada. — Eu acabei de falar com a princesa Josie por telefone. Ela me contou que seus pais estão vindo para o palácio.

A monarca arregalou os olhos.

— O quê? E quando eles chegam?

— Hoje à noite.

A rainha pareceu quase querer desmaiar.

— Qual a parte de "Vocês não devem mais se preocupar com o país, mas já que vocês não conseguem fazer isso podem ajudar Kaden e Josie nas questões de diplomacia na Nova Ásia" que aqueles dois ainda não entenderam?

Neena suspirou.

— A princesa Josie disse que as negociações tem avançado muito, e que seus pais acharam que ela e o príncipe Kaden poderiam terminá-las sozinhos. Ela também me contou que eles andavam muito preocupados com a situação aqui em Illéa.

— Preocupados? Neena, meus pais nem deveriam mais estar pensando em governo. — A rainha começou a pressionar as têmporas com os dedos. — Não tenho nada contra a volta deles para o palácio. — Afirmou ela mais calma. — O fato é que agora não é o momento. Ainda não é seguro aqui. A ADL pode estar acuada, mas isso não significa que não possa atacar a qualquer hora.

— Sinto muito.

A monarca se jogou na cadeira. — Não vou permitir que eles fiquem correndo perigo por aqui enquanto poderiam estar praticamente de férias na Nova Ásia.

— O que a senhora pensar em fazer, então?

— Talvez se eu mostrasse ao dois que está tudo bem no palácio, eles desistissem dessa loucura.

— Mas não está tudo bem, Majestade.

— E você acha que eu não sei disso, Neena? Mas o que mais eu posso fazer? Não posso expulsar os meus pais da própria casa.

A dama de companhia pareceu pensativa.

— Um evento daria a impressão que a senhora quer?

— Sim. E algo grande, com muitas pessoas.

— Uma recepção?

— Não, maior. Os dois precisam ver que não tememos mais ataques.

— E que tal um baile? — Eu disse, me intrometendo pela primeira vez na conversa.

As duas mulheres olharam para mim curiosas.

— Um baile dedicado a breve visita dos pais da rainha ao palácio.

— Continue, por favor, senhorita Alice. — Pediu a rainha.

— Se os seus pais precisam ter certeza de que Vossa Majestade e a primeira-ministra estão no controle da situação, nada melhor do que um baile para exibir o quantos vocês duas estão despreocupadas com tudo. E se a senhora reforçar a segurança, ninguém vai pensar em um ataque no meio do grande acontecimento.

— É perfeito. — Gritou Neena.

A rainha sorriu. — Neena, comece os preparativos. Temos um baile para planejar.

_____________________________________________

— Você não cansa de tentar roubar a cena, não é, Alice? — Esbravejou Leanna, jogando uma revista na minha direção.

Eu peguei o periódico e olhei para a capa.

Selecionada favorita do Príncipe também é a favorita do povo.

— Eu não escrevo as matérias que saem aqui, Leanna. — Sacudi a revista para ela.

Ela revirou os olhos.

— Como se você não soubesse o que aquele seu teatrinho de ontem lhe renderia.

— Não foi "teatrinho" nenhum, Leanna. Eu não inventei nada.

— "Prometi não confiar mais em nenhum homem. Até agora" — Ela trincou os dentes. — Eu aposto que o príncipe estava lá quando você disse isso, não estava?

— Não lhe devo satisfações.

Leanna bufou. Todas as selecionadas estavam nos encarando.

Quando eu pensei que a conversa tinha acabado, ela riu, irônica.

— Você quer confiar de novo, não é, Alice? Então é bom que você saiba de tudo o que acontece por aqui antes que faça isso. Você acha que alguma de nós ainda não beijou o príncipe?

Meu semblante caiu na hora, e aquele frio horrível que eu já conhecia começou a queimar em meu peito.

— Ah meu Deus! — Continuou ela, morrendo de rir. — Você acredita mesmo nisso! — Leanna se virou para as outras garotas. — Digam para ela, meninas. Vamos, levantem a mão todas que já beijaram o príncipe.

As selecionadas se entreolharam e pareceram hesitar, mas pouco depois todas levantaram a mão, me olhando com um prazer velado. As únicas que permaneceram de mãos abaixadas foram Leah e Madison.

— Eu não beijei. — Declarou Leah.

— Nem eu. — Comentou Madison.

— Vocês são ridículas. — Leanna fez um gesto de desdenho com a mão. — Pois eu já beijei ele sim, — Ela se voltou na minha direção. — Várias vezes.

Quis morrer ao ouvir aquilo. Mas o que eu poderia ter esperado? Eu havia dito a Osten para continuar a Seleção, pois entendia a situação dele. O príncipe só estava fazendo o que eu lhe disse.

Não sei de onde as palavras vieram, mas antes que eu me desse conta do que estava fazendo, eu já estava falando.

— Caso você ainda não tenha percebido, Leanna, isso aqui é uma Seleção. Logo, o príncipe pode beijar quem quiser. — Respirei fundo para manter a calma. — E já que todas vocês resolveram revelar a sua posição na competição, permitam-me que eu também revele a minha. — Algumas meninas empalideceram. — Eu também já beijei o príncipe, — Fiz uma cara de inocente e pisquei os olhos. — e foi muito mais vezes do que as de todas vocês juntas.

Um silêncio pairou sobre o Salão das Mulheres. Leah me olhava com aprovação e Madison estava tentando esconder seu sorriso com os dedos. Quando percebi que ninguém ia falar mais nada, resolvi finalizar a conversa. Mas não sem antes provocar as outras garotas mais um pouco.

— Agora, se me dão licença, — Comecei a andar. — eu preciso encontrar a princesa Kerttu. Afinal, a educação da futura rainha não pode ser deixada de lado pela minha total incapacidade de contar o número de beijos que eu já troquei com o príncipe. Devo ter parado de enumerar aos 27, por aí.

As selecionadas arregalaram os olhos.

Não satisfeita, eu continuei.

— Vocês acharam mesmo que ele me chamou de minha Alice no Jornal Oficial à toa?

Ninguém me respondeu.

Cheguei à porta do Salão e a abri. — Tenham todas uma boa tarde, meninas.

A última voz que escutei antes de sair foi a de Leah, numa frase parecida com: Eu vou fingir que você não ousou me chamar de ridícula, Leanna.

Despontei no corredor sem acreditar no que havia acabado de fazer. Eu agira totalmente como uma criança.

Desde quando eu já havia beijado Osten 27 vezes?

Balancei a cabeça.

E desde quando ele também vinha beijando as outras selecionadas? Quase todas as outras?

Talvez ele esteja com mais dúvidas do que eu pensava. Provavelmente eu também não ouvi ele me dizendo que me amava. Deve ter sido mesmo só uma alucinação.

Suspirei.

Parece que eu ter me tornado o mundo de Osten não foi o bastante para ele.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top