"Escolhi você por ser quem é"

Olá, pessoas lindas! Espero que estejam todos saudáveis! Sejam bem-vindos a mais uma história da Kook_My_Love em colaboração com o PurpleGalaxy_Projec.

E para as pessoas que não me conhecem... prazer! Me chamo Grazi e escrevo fanfic desde 2019. Gosto muito de escrever porque sinto a minha criatividade aflorar para além da mente. Essa já é a segunda fanfic que mando em colaboração com o projeto citado acima e espero que vocês gostem muito mesmo.

Antes que leiam o capítulo, queria que dessem atenção a esses nomes abaixo:

DarkBlueKisss, pela avaliação da história.

Cevemo, pela betagem da história.

@J30N, pela capa da história.

PurpleGalaxy_Project, por oferecer um tema tão único quanto o medieval!

Agora sem mais delongas... BOA LEITURA!

Mamãe estava mal. Mamãe estava muito mal. Ela precisava de ajuda urgente. E eu não tinha dinheiro para pagar nada dos medicamentos que ela necessitava. O que iria fazer em relação ao senhor Wight, que ainda não havia pagado as madeiras de alguns dias atrás? Eu precisava urgentemente de solução - em outras palavras, dinheiro. E estava desprovida disso fazia um bom tempo.

- Mamãe, já estou indo trabalhar - digo segurando a porta de madeira. Mamãe estava deitada na cama e apenas me olhava com um sorriso fraco.

- Vá com cuidado. Estarei te esperando aqui.

Com o coração apertado de tanta angústia, fechei a porta e voltei para a pequena sala. Nossa casa não era muito grande desde que perdemos tudo a alguns anos atrás, mas dava para vivermos. E eu ainda precisava ir pra casa da senhora Bennet no dia seguinte, mas naquele momento eu encontraria algum trabalho que me desse uma boa quantia em dinheiro para assim pagar o senhor Wight e comprar algumas verduras para fazer uma sopa para mamãe.

- Maisie! Olha, Edward, é a filha da Aurora que está passando! - Senhora Tunner, que estava sentada em frente a sua casa, chama o marido, esse ocupado olhando algumas espadas.

- Bom dia, senhora e senhor Tunner.

- Você está muito bonita hoje, minha menina. Está saindo com alguém? - Eu apenas sorri com a pergunta. Não tinha tempo para esse tipo de coisa na época.

- Não, estou vendo se ganho algum dinheiro extra.

- Mas você estava trabalhando na casa da senhora Bennet, certo? Não me diga que ela te mandou embora por causa da briga com a filha dela.

- Não é uma boa ideia implicar com Esme Bennet. - Até o senhor Tunner se intrometeu, olhando para mim com pena.

- Ela é uma fresca! Vive procurando problemas em tudo que faço naquela bendita casa. Mas se não fosse pelo dinheiro, eu não pisava mais o pé naquele lugar.

- Oh, menina... sinto tanta pena de você, sabe? Apenas uma jovem de 19 anos com tantas responsabilidades. Deveria estar embelezada para encontrar algum rapaz que te namore - diz a senhora Tunner.

- Eu realmente não estou procurando ninguém.

- Quero conhecer o corajoso guerreiro que conquistará o seu coração. - O mais velho diz rindo.

- Minha personalidade não é tão ruim assim.

- Te conhecemos desde bebê, Maisie. Sabemos que não é brincadeira com ninguém! - A senhora disse por fim, com um sorriso agradável no rosto. - Desde antes eu falava com a Aurora, "Sua filha vai ter uma grande personalidade", mas ela sempre dizia que você seria um docinho. Mas seu pai ficaria tão feliz se pudesse ver a mulher responsável que se tornou.

Abaixei a cabeça ao ter a lembrança do meu progenitor surgindo. Já haviam se passado 10 anos desde o Grande Golpe que aconteceu em nosso reino. O rei daquela época foi assassinado e seus ministros também foram mortos, incluindo meu pai, que todos admiravam e respeitavam no ministério do rei. Com esse acontecimento, eu e mamãe ficamos desoladas e perdemos tudo. E por isso, mesmo sendo tão nova, tinha que segurar as pontas para que nossa vida seguisse em frente da melhor forma.

- Eu imagino que ele ficaria feliz por mim. - Sorri.

- Verdade... ah! Agora lembrei de uma coisa que você pode fazer por mim. - A senhora Bennet se levantou e foi direto para dentro da casa. - Preciso que leve algumas dessas roupas para a casa da Merida, perto do riacho. Prometo te recompensar muito bem se fizer isso por mim.

- Eu faria até de graça, senhora Tunner. - Ela apenas riu e negou, dizendo que me pagaria de qualquer forma.

Então peguei as roupas e fui fazer o que me foi mandado. Passei na rua principal da cidade vendo algumas carroças da nobreza passando. Foi impossível não fazer uma cara de desgosto ao ver aquelas pessoas que não trabalhavam duro para ter as coisas vivendo uma boa vida. Depois da passagem das carroças, e de enfim acalmar a minha ira, todos voltaram a andar, inclusive eu. A casa de Merida não era muito longe da senhora Tunner, por isso chego lá em alguns minutos. Ela perguntou por minha mãe quando lhe entreguei a roupa, e respondi a sua preocupação dizendo que sua saúde ainda continuava instável, mas que ela poderia ficar melhor depois de alguns dias. Depois de agradecer pelo meu trabalho, retornei a casa da senhora Tunner e ela realmente me deu uma boa quantia de moedas. Não era muito, mas dava para comprar as verduras que mamãe gostava, e só depois de comprá-las eu voltei para casa.

- Adivinha o que temos hoje, mamãe? - perguntei animada, mas ninguém me respondeu. O silêncio era esquisito, pois mesmo doente mamãe sempre me recebia. Nervosa, fui até o quarto e encontrei ela tossindo muito, quase sem respirar.

- Mamãe! - Me aproximei sem muita cautela, pois ela continuou tossindo sem parar. Mamãe não me respondia, apenas tossia sangue incessantemente. Desesperada, tentei arranjar alguma posição que a fizesse ficar melhor, mas nada que eu fazia adiantava. - Mãe, por favor. Fica comigo. - Os olhos dela começaram a lacrimejar enquanto engasgava com o sangue. Naquele momento minhas mãos também não ajudavam, pois tremiam frequentemente.

Eu tentei gritar por socorro, mas nossa casa era um pouco longe das outras. A única coisa que poderia fazer era deixar a mamãe ali e correr atrás do doutor Anderson. E foi o que fiz. Ao chegar lá, bati na porta dele algumas vezes, implorando aos céus que ele estivesse lá.

- Doutor! É urgente! Minha mãe precisa de cuidados médicos! - berrei desesperada.

- O que está acontecendo aqui? - suspirei pesadamente assim que ele saiu de casa com uma feição nada boa, no entanto eu nem sabia por onde começar a falar.

- Minha mãe... Minha mãe está tossindo sangue. Ela está sozinha em casa. Eu preciso de ajuda. Preciso que o senhor vá à minha casa agora. Por favor. - O homem à minha frente me olhou de cima a baixo, como se nem quisesse minha presença ali.

- Você tem dinheiro para pagar, por acaso? - Ele franziu o cenho e quase senti vontade de socar aquele rosto.

- Minha mãe está quase morrendo! O senhor não entende a gravidade da situação? Ela está tossindo sangue! Eu preciso que, como médico, você vá agora à minha casa!

- Eu preciso ser pago por meu serviço.

- Eu vou pagar o senhor, entendeu?! Esse serviço não vai ser de graça. Pagarei o mais breve possível. Mas por agora, eu preciso que vá urgentemente para minha casa.

A contragosto, o doutor Anderson saiu de casa e me acompanhou. Quando chegamos lá ele abriu sua maleta e começou a pedir que minha mãe tentasse respirar devagar, mas ela já estava bem calma quando voltamos. O pior já havia passado por ora.

- Ela vai precisar de algumas dessas ervas medicinais. - Ele me mostrou os desenhos que estavam em seu livro.

- Eu sei ler.

- Você sabe? - Ele me olhou esquisito. - Como uma simples serva pode saber ler? Achei que apenas limpava a casa dos seus senhores.

- Me ensinaram a ler quando jovem.

- Certo... sobre as ervas, você só vai achar elas na Montanha de Caçada. Imagino que saiba qual é.

- Eu sei muito bem. - Peguei o papel da mão dele. - Preciso apenas ferver e dar para ela?

- Sim. E sobre a sua mãe... receio que ela não viva por mais tempo. - Meu coração quase se partiu ao ouvir aquilo. - A doença que ela adquiriu está avançando drasticamente. Sugiro que se prepare para o pior.

- Ela é tudo que eu tenho... como sugere que eu aceite o pior? - Olhei para si buscando alguma razão para tamanha frieza em seu olhar. O doutor nem parecia se importar com minha dor.

- Enfim, amanhã quero meu pagamento.

Ele saiu da minha casa sem olhar para trás. Fiquei parada na sala, olhando para o pequeno espaço e pensando como seria se mamãe não estivesse mais ali. Eu não conseguia imaginar minha vida sem ela. Tudo que eu fazia era para ela. Se ela morresse... eu ficaria sozinha e sem uma razão para viver. Quanto mais eu pensava naquela dura realidade - que parecia mais perto do que longe - sentia que nada no final valia a pena. E ao perceber que esses pensamentos não me fariam bem, e que pelo contrário, só me deixavam mais pensativa e mais triste, voltei para o quarto e encontrei mamãe mais calma. Ela olhou para mim com uma feição bem abatida, totalmente diferente de quando ela era saudável e me levava para ver papai em seu trabalho.

- Filha... sente-se. - Ela pediu e me aproximei lentamente. - Desculpa a mamãe quase ter partido hoje.

- Não fala assim, por favor - lamentei, abraçando ela com medo de imaginar a cena dela morta, deitada nessa cama e sem seu sorriso.

- Maisie. Eu sei o quanto se esforça para que eu fique saudável, mas... olhe para você, meu amor. - Ela afastou meu rosto para encarar-me. - As moças da sua idade já estão prontas para ter sua própria família, mas você continua se prendendo a mim. Não sabe o quanto isso me destrói?

- Não quero falar sobre isso agora, mamãe. - Funguei, limpando algumas lágrimas. - Por favor, descanse. Não quero discutir esse assunto.

Eu sabia que ela não tinha forças para uma conversa longa, e eu também não queria falar daquele assunto com ela. Enquanto mamãe estivesse viva, eu faria tudo para que continuasse comigo. Mesmo que tivesse que abandonar meus desejos e planos.

[...]

- Indo à Montanha de Caçada nesse sol, Maisie? - Olhei para trás antes de sair das ruas feitas de pedregulho, encarando o dono da última casa cinzenta.

- Senhor Will... Olá. Eu tenho que ir buscar algumas ervas.

- A Aurora continua doente? - perguntou preocupado, deixando o cesto de palha no chão.

- Hoje foi um dia difícil para ela, mas estou buscando algumas ervas que vão ajudá-la.

- Tudo bem, mas tome cuidado na montanha. Sei que está de dia, mas não é bom uma moça andar por essas bandas sozinha.

- Serei cuidadosa, senhor. Voltarei o mais breve possível. - Estava quase entrando na trilha quando ele me chamou de novo.

- Maisie! Não tenho certeza se você encontrará com eles, mas ouvir dizer que o Príncipe Herdeiro e o General estão caçando na montanha.

- O Príncipe e o General? Uma hora dessas?

- Sim! Nem eu acreditei, mas alguns disseram que viram os dois seguindo em direção a montanha, talvez fossem caçar na floresta. Há muitos animais selvagens lá. Não sei como você confia em entrar nessa montanha. Não são muitas moças que têm coragem de fazer isso - disse abismado.

- Pois bem, senhor Will, eu não tenho escolha. Faço qualquer coisa por minha mãe. - Sorri de leve, voltando a caminhar. - Até logo, senhor!

- Vá com cuidado e volte em segurança.

A trilha da montanha era estreita e logo o caminho se encerrava, pois os servos que a fizeram não tiveram coragem de adentrar mais. E enquanto andava, aproveitei para ver algumas flores silvestres, que só poderiam ser encontradas ali na Montanha de Caçada. Elas faziam uma fila ao redor da trilha e era lindo demais, como um campo de flores. Eu sempre ia naquelas montanhas quando meus senhores mandavam, por isso já conheciam o caminho de cor. No entanto, não deixava de ser assustador quando a trilha terminava.

Algo atingiu uma árvore. Me escondi nervosa atrás de um bosque. Minha sorte era que tinha uma adaga de material inferior escondida na coxa, e ainda assim meu coração bateu acelerado, pensei que fosse algum animal selvagem se preparando para me atacar, mas aos poucos, comecei a escutar vozes. Só considerei duas coisas naquele instante: ou a montanha tinha espíritos malignos e eu estava escutando as vozes deles, ou havia pessoas andando por ali. Respirei fundo, desconsiderando a primeira hipótese e quando abri meus olhos encontrei uma das ervas medicinais que o doutor Anderson recomendou bem na minha frente. Sorri quase instantaneamente, começando a colhê-las e colocá-las no pequeno cesto.

- Está mesmo tentando caçar um javali selvagem, General Jung? - Uma voz masculina se expressou ao longe, parecendo zombar do outro. Me escondi lentamente para ver os rostos através das folhas.

- Eu vou vencer sua aposta infantil, Vossa Alteza - disse o outro, tirando mais uma flecha das costas.

Encarei os dois jovens rapazes com curiosidade. Já tinha ouvido falar deles. E pela primeira vez, tive que concordar com as moças do reino. O Príncipe Herdeiro era belo, como uma porcelana intocável e delicada, com seus cabelos negros como a noite e olhos mais profundos ainda. Sua voz era mais grave do que esperava para um Príncipe, mas ainda assim sensual do tipo que me agradava. Entre os dois, o Príncipe poderia ganhar na beleza. Mas... o tal General Jung não ficou para trás. Ele tinha cabelos castanhos e um sorriso maroto que combinava perfeitamente com seu rosto. Seu físico era de humilhar muitos dos rapazes que moram em nosso reino e sua voz mais encantadora do que uma canção em dia de Sol. Ele era belíssimo, adorável.

- Para um General, você está bem atrevido, Hoseok. - O Príncipe deu um leve tapa na nuca do General, como se fossem amigos desde jovens. - Não chame a aposta de sua Alteza de infantil. Eu posso mandar que cortem a sua cabeça.

- Não faria isso, Alteza. Sabe que está prestes a herdar o trono, desse modo também precisa de mim como seu General. Com o poder do rei sendo cada vez mais diminuído pelos donos de terras, fica impossível o senhor se apoiar no título de Príncipe sem meu apoio.

- Está querendo dizer que meu pai não tem mais terras do que esses nobres?

- Jamais seria do meu caráter dizer que seu pai não tem mais vantagens do que eles. Mas, todos sabem que o Rei é apenas uma figura representativa.

- Meu pai está prestes a comprar mais terras, ele não abandonará o título de principal senhor tão cedo. - O rapaz voltou a caminhar para longe. Só então, suspirei aliviada.

Cuidadosamente me levantei rápido e corri até algumas árvores. Era estranho ver a presença do Príncipe e do General ali, mas eu não tinha tempo para ficar ouvindo a conversa dos dois como se minha vida fosse besteira. Eu precisava procurar as outras ervas para mamãe, pois só tinha uma em minha cesta. À medida que eu caminhava, teve algumas vezes que tropecei, e quando isso acontecia, me pegava lembrando de novo do sorriso maroto do General Jung, que mais parecia um garoto que um homem.

[...]

- Mãe! - Abri a porta de casa chamando pela mais velha. Sem esperar sua resposta, adentrei o quarto e a encontrei encostada na cabeceira da cama de madeira, costurando algumas roupas.

- Você já voltou, Maisie?

- O que eu falei sobre não se esforçar, mamãe?! - Deixei o cesto com as ervas medicinais em cima da mesinha pequena que havia no canto do quarto e caminhei até ela, tirando o tecido de suas mãos e guardando-o dentro da caixa amadeirada onde estava.

- Filha... suas roupas estão muito gastas. Por favor, deixe eu ao menos fazer isso por você.

- Eu quero que a senhora descanse. Essas roupas, por mais que estejam velhas, ainda me servem bem e eu não me sinto desconfortável nelas. - Mesmo dizendo isso, mamãe negou, fazendo cara feia.

- Maisie Moore. Você não pode ficar andando por aí assim. Sei que não se importa, mas não é ideal que uma moça continue usando roupas maltrapilhas, mesmo sendo uma serva.

- Eu não acho essas coisas importantes. Não tenho que agradar a ninguém, apenas a mim mesma, certo? - ressaltei. - A senhora mais do que todo mundo sabe que não me importo com essas coisas e que não pretendo pensar nisso um dia.

- Não diga que nunca fará algo, o destino pode ser traiçoeiro e te fazer pagar com a língua.

- Por que eu me arrumaria? Não pretendo me casar, mamãe.

- Você ainda não encontrou o rapaz certo. Se você realmente gostar do rapaz, verá que só de estar ao lado dele, seus dias serão mais alegres do que nunca foram.

- Meus dias já são alegres perto da senhora. Esqueceu-se disso? - Vou até minha progenitora para lhe dar um beijo.

- Eu sei, mas esse rapaz vai ser seu parceiro pra vida toda.

- Não acho que preciso disso.

- Você pode até não precisar, mas quando seu coração quiser-

- Certo, mamãe. Vamos parar de discutir sobre isso, certo? Vou preparar um chá pra senhora com essas ervas. O doutor deixou anotado o passo a passo aqui. - Voltei para a porta do quarto, depois que peguei o cesto.

- E você já pagou o doutor?

- Não se preocupe com isso, mamãe. Deixe comigo. - Acenei para ela, tentando demonstrar despreocupação.

Eu sabia que era difícil para mamãe não se preocupar com essas coisas, mas eu precisava deixá-la tranquila. Depois da conversa eu saí do quarto e fui para a parte dos fundos da casa. Eu estava esquentando um pouco de água no caldeirão quando escutei a voz de alguém me chamando.

- Ei! Garota! - O homem que estava na cerca da minha casa era o doutor Anderson. Senti um leve receio em vê-lo tão cedo.

- Doutor...

- Vim buscar meu dinheiro. Onde está? - disse impaciente.

- Pensei que viria amanhã.

- Quero o pagamento pelos meus serviços agora - disse aborrecido.

- Doutor Anderson, eu sei que prometi pagá-lo o quanto antes, mas preciso de mais alguns dias.

- Eu não tenho todo esse tempo. Se você não me pagar, na próxima vez que sua mãe tiver algum ataque, eu deixarei ela morrer. - Só de ouvi-lo falar daquele jeito, quase senti vontade de enforcá-lo, mas precisava conter a minha raiva ao menos naquele instante.

- Amanhã eu consigo a quantia. Acredite na minha palavra, doutor, amanhã sem falta lhe pagarei o que devo. - Me comprometi sem ter certeza de como faria aquilo, mas precisava mostrar para ele a minha confiança em obter o dinheiro.

- Promessa é dívida, garota. Espero que saiba.

Ele virou as costas, saindo andando pelo caminho que levava ao centro da capital. Eu, por outro lado, suspirei angustiada. Ainda nem tinha dado o remédio à mamãe e aquele maldito doutor já queria seu dinheiro. Como podia ser tão sem coração aquele homem? Pedi a Deus mentalmente que ele colocasse aquele verme no inferno sem direito a perdão. Mais tarde, terminei de fazer o chá e entreguei para mamãe. Ela disse que eu estava precisando de um banho, mas eu prometi que mais tarde tomaria. E vê-la sorrir daquele jeito, assentindo para mim era como uma recompensa depois de um longo dia.

[...]

- Ela merece ser punida por tal ato! - A voz esganiçada de Esme poderia ser ouvida de qualquer canto da capital, acreditando eu que até a família real poderia escutá-la.

- Como pode uma serva que pagamos com tanto zelo se dispor a algo tão baixo? - A dona da casa, senhora Bennet, disse com repulsa, me encarando como se pudesse adivinhar todos meus pensamentos.

No entanto, naquele instante eu percebi que poderia me dar muito mal. Eu estava tão preocupada com a saúde da mamãe que nem pensei duas vezes antes de roubar uma das joias da senhora Bennet, afinal esse era o único jeito de pagar aquele doutor infeliz e deixar com que ele cuidasse da minha mãe mais vezes. Mas meu plano deu errado. No momento exato em que estava guardando uma das joias nas minhas vestes, a filha dela, Esme, pegou-me no flagra e saiu gritando para os quatro cantos da casa que eu era uma ladra. Talvez fosse verdade, mas eu não estava roubando aquilo por malícia ou inveja.

- Senhora, por favor, me deixe explicar o ocorrido.

- E tem como explicar o motivo de você ser ladra?

- Eu fiz isso pela minha mãe, senhora. Ela está muito doente e-

- Os servos e suas benditas desculpas. - desdenhou Esme e quase senti vontade de voar em sua garganta.

- Como uma pessoa que nasceu em berço de ouro pode entender o desespero de uma serva? - rebati, mas em troca recebi seu olhar incrédulo.

- Pelo que soube, você também nasceu em berço de ouro.

Olhei para Esme com tanta raiva que quase esqueci o quão perigoso seria agredir a filha de uma nobre, mas isso não seria tão ruim se eu pudesse ver o rostinho bem tratado dela sendo esmagado no chão.

- Sei que sua mãe anda doente, Maisie, mas isso não lhe dá nenhum motivo para roubar minhas joias. - A mais velha disse e voltei a baixar a cabeça.

- Senhora, eu sinto muito mesmo. Eu estava desesperada. Minha mãe é tudo o que eu tenho. Prometo que não farei isso novamente. A senhora sabe que faço um bom trabalho, não pode deixar isso passar dessa vez? É muito difícil encontrar serviço em outra casa.

- Mas você já vem brigando com Esme a um bom tempo, Maisie. Até agora tolerei muitas coisas de você por causa do seu bom serviço, mas isso passou dos limites.

- Mamãe. - A outra disse, chamando a atenção da progenitora. - Poderíamos dar uma chance a ela. - Suspeitei na mesma hora de sua proposta.

- Tem certeza, filha? Você disse que não gostava dessa moça.

- E continuo não gostando. Essa serva parece esquecer seu lugar às vezes. - Me olhou de cima para baixo. - Mas, como ela realmente não conseguiu levar nada e fez isso apenas por causa da mãe doente, poderíamos apenas lhe dar um castigo.

- E o que você sugere?

- Eu tenho uma missão para ela. - Seu sorriso malicioso não me pareceu muito seguro. - A senhora sabe que amanhã é o meu encontro com o General Jung, por isso, ao invés de me apresentar a ele, a senhora poderia mandar Maisie em meu lugar.

- A serva?! - Senhora Bennet fica espantada ao ouvir aquilo.

- Isso não faz muito sentido. Por que você não quer ir? - indaguei sem entender.

- Eu não quero me casar com o General Jung. Quero ser algo maior, como a Princesa do reino. Vou fazer parte da seleção da nobreza - disse orgulhosa de si.

- Você mesma pode dizer que não quer se casar com ele.

- Maisie, eu não posso negar um homem, esqueceu? Hoseok jamais aceitaria ser despachado por uma mulher. Infelizmente, só podemos romper esse noivado se ele me negar como esposa. Nossos pais já nos prometeram em casamento antes mesmo do nosso nascimento, esse é um plano que eles sonham há muito tempo.

- Isso tudo é um absurdo. Seu pai deveria gostar da ideia de ver a filha sendo uma princesa.

- Ele prefere me ver longe dos problemas da família real, mas eu quero ser da realeza - disse com os olhos brilhando ao ver aquele futuro incerto. - Mas, para que meu sonho se realize, eu preciso que você finja ser eu e acabe com as expectativas do General Jung amanhã.

- Outra serva não pode fazer isso? - indaguei quase suplicando.

- Lembre-se que essa é a condição para que você não perca seu serviço nesta casa. - Esme lembra, obrigando-me a escolher a aceitar.

Eu tinha outra escolha? Infelizmente não. E se fosse para perder o serviço ou fingir ser uma dama da nobreza, eu faria a segunda opção pela minha mãe, apenas para garantir o dinheiro de seu tratamento.

- Eu farei isso. - É o que digo quase em um gemido de frustração.

- Ótimo! Sabia que era uma serva esperta. - Ela deu algumas batidas na minha cabeça e sorriu. - Vamos, fique de pé. Se você vai agir como uma nobre amanhã, precisa levantar desse chão e não abaixar a cabeça.

Quanto mais percebia o sorriso traquino de Esme, mais entendia que eu estava entrando em uma grande furada. Pior era imaginar que seu pretendente se tratava do General que vi antes, o mesmo da Montanha de Caçada. Eu não tinha certeza o suficiente para fazer o que me foi mandado, mas faria qualquer coisa pela saúde da minha mãe. Quando Esme saiu da sala para buscar um vestido, sua mãe ficou me encarando, como se pensasse em alguma coisa.

- Algum problema, senhora Bennet?

- Sei que anda preocupada com a saúde de sua mãe, Maisie, e para te ajudar vou lhe dar seu dinheiro adiantado. - Fiquei chocada com a proposta sugerida pela mais velha. Eu realmente não imaginava que ela pudesse fazer isso por qualquer servo.

- Obrigada, senhora. Obrigada mesmo.

A senhora viu em minha expressão o quanto aquele dinheiro significava muito pra mim. Eu, ao menos, pagaria o doutor Anderson e compraria algumas coisas para minha mãe e eu. Talvez, no fim das contas, aquele plano idiota daria certo. Só não queria realmente ter que enganar alguém para conseguir aquele dinheiro.

[...]

Assim como as nuvens escuras surgem no céu antes de uma tempestade, essa foi a situação que me ocorreu quando entrei na carroça da família Bennet em direção ao encontro com o General Jung. Eu estava nervosa, sabia que meu papel era só fazê-lo desgostar de mim, mas ainda assim parecia difícil. Eu nunca tinha ido num encontro antes, ainda mais com alguém da nobreza.

As roupas que eu vestia me incomodavam um pouco. O vestido azul, preso na cintura e com babados na parte das saias, era lindo, mas sentia que não faziam meu estilo. E para piorar, meus cabelos castanhos e longos foram amarrados em um penteado tradicional muito apertado, quase sentia minha alma se esvair a cada fio preso.

- Parece que eu comi um morango vermelho. - É o que digo ao encarar meu reflexo no prato dourado e ver meus lábios avermelhados. - Senhora, isso é necessário? - indaguei, olhando fixamente para a senhora Bennet.

- Não precisamos usar muito para que você pareça uma nobre. Não sei como, mas seu rosto já é de alguém da nobreza. Deve ser por causa de seus pais.

- Senhor Bennet não estará lá? - indaguei com receio.

- Meu marido? Não, ele está mais ocupado no palácio. Nem ele e nem o pai do General puderam comparecer.

- E a mãe dele não vai estar lá?

- Não precisa se preocupar com nada disso, Maisie. Ela já é falecida - suspirei um pouco aliviada, mas me senti mal ao ficar assim ao saber de alguém morto. - Por que está ficando tão nervosa? Não estamos te obrigando a encantar o rapaz. Você só precisa agir de modo que ele não se interesse.

- Eu não sei como vou fazer isso diretamente.

- Mantenha a calma. Não é como se ele fosse se apaixonar por você ao te ver.

Não sei porque me senti chateada com sua declaração, mas assenti fingindo estar mais calma. Na minha cabeça, naquela hora, só me vinha a imagem do General Jung sendo ingênuo e acreditando que eu, uma mera serva, era a sua prometida pretendente. Claro que eu não deveria ter pena de si, mas ao lembrar do quão alegre ele estava ontem ao lado do Príncipe Herdeiro, pensei seriamente que ele não devia ser enganado.

- Chegamos. - Ao ouvir sua declaração, olhei pela janela da carroça.

O local escolhido para o encontro era no meio de um jardim belo, de flores vermelhas e lilás. No meio do espaço, havia uma cobertura e debaixo dela uma mesa e duas cadeiras. Eu mal tive tempo de analisar tudo, pois identifiquei o General Jung de longe. Ele estava vestido com roupas formais, bem elegante por sinal, e pela maneira como brincava com os dedos das mãos, parecia ansioso. Senhora Bennet estendeu a mão para mim e pediu que eu saísse da carroça. Nós duas caminhamos até ele, mas antes disso ela cochichou algumas coisas para mim.

- Não precisa ser perfeita.

- Ele é amigo do Príncipe Herdeiro. Não acha que ele vai aconselhar o amigo a não escolher sua filha?

- Eu tenho meu jeito de fazer minha filha chegar à final da seleção. Tenho certeza que a atual rainha irá concordar que ninguém é melhor do que Esme para suceder seu lugar - disse com uma convicção invejável. Eu apenas dei de ombros.

- Eu realmente não sei como fazer isso.

- Ele vai tentar chamar sua atenção, apenas não retribua na mesma intensidade. Quando ele ver a falta de interesse e seu total descaso, vai falar com o pai que você não é a mulher certa para ele.

- E se tudo der errado? - questionei quando estávamos próximas demais do General.

- Não vai dar errado, confie em mim, garota.

Nós paramos de frente para ele e o General logo ficou de pé. Aquele era o momento. Eu estava olhando para ele e seus olhos também encaravam os meus. Não sei bem o que estava pensando, mas a maneira como seus lábios subiram em um sorriso me deixaram com um leve arrepio.

- Senhora Bennet e senhorita Bennet. - Ele pegou a mão da minha "mãe" e a beijou, mas quando pensou em fazer o mesmo com a minha, peguei minha mão de volta. Estava mais do que na hora de começar o plano. - Hm... Bom... por que não se sentam? - Ele ficou bastante constrangido, vi pela maneira que escondeu as mãos atrás do corpo.

- Queria deixá-los mais à vontade - senhora Bennet diz, olhando para mim em um falso sorriso. - Querida, estarei fazendo algumas compras no mercado da cidade. General Jung - ela olhou para o rapaz -, quando terminarem de conversar, poderia deixar minha amada Esme em casa?

- Claro, senhora Bennet. Deixarei sua filha em segurança em casa. - Sorriu educado, forçando suas covinhas aparecerem com mais evidência no queixo, sendo esse um detalhe que me chamou atenção.

- Certo. Tenham uma boa conversa.

Ela acenou sutilmente, lançando um olhar esquisito para mim. Parecia que minha falsa mãe estava tentando me lembrar do intuito da missão, isto é, despachar o General Jung. Mas depois que ela se foi, um silêncio estranho se formou na mesa. Eu não tinha muito o que falar - afinal, já estava incorporando a chata da Esme - no entanto, Hoseok nem conseguia apoiar as mãos sobre a mesa. Suspirei de forma teatral, apenas para fingir descaso.

- E então... você não acha tudo isso uma bobagem?

- O quê? - Ele levantou a cabeça, olhando-me espantado.

- Essa história de sermos prometidos desde a infância. Sabe? Na minha opinião, tudo isso é uma perda de tempo.

- Mas... nossos pais também se casaram assim.

- Não acho que seja uma coisa boa. - Encarei o jardim em volta, fingindo que o rapaz à minha frente não tinha nenhuma importância para mim. - Eu sou uma dessas pessoas que realmente acreditam em amor verdadeiro.

- Bom, eu também sou assim. Não acho que dê para forçar um relacionamento. Esme - chamou meu suposto nome, obrigando-me a lhe encarar -, eu trouxe algo para você. - Ele tirou debaixo da mesa um cesto com flores exóticas.

- Ah, não precisava.

- Claro que sim! É a primeira vez que nos encontramos. Queria te presentear com algo. - Voltei a olhar as flores e percebi algumas peculiaridades em suas espécies.

- Essas flores... não são encontradas em barracas. Só existem na Montanha de Caçada. - Eu nunca tinha recebido um presente de um rapaz antes. Por mais que estivesse enganando Hoseok, percebi naquele momento que ele seria um bom pretendente, para outra pessoa, não para mim.

- Como você sabe disso? - Olhou-me extasiado. - Achei que as moças da nobreza nunca saíssem de casa para ir a montanhas tão perigosas quanto aquela. - Lhe encarei depois do seu comentário com um leve medo. Eu tinha falado algo que não fazia sentido. Esme nunca foi na Montanha de Caçada.

- Bem... eu tenho uma serva que sempre vai lá. Geralmente ela busca algumas ervas que só crescem naquela montanha. Uma vez eu vi ela contando a história de umas flores silvestres e coloridas, por isso pensei que fossem de lá.

- Compreendo. - Hoseok ficou em silêncio, mas não desviou o olhar. Seus olhos eram puxados de um jeito diferente e ele parecia amar deixar um sorriso no rosto, isso deixava ele muito lindo. - Eu tenho a impressão que seu rosto... eu já o vi.

- Claro que já o viu. - Fiquei morrendo de medo dele ter visto meu rosto nas ruas da cidade enquanto fazia a vistoria. - Eu gosto muito de passear pela cidade.

- Não sou muito de sair, mas meu dever me obriga. Como General tenho que andar pela cidade e saber se está tudo bem.

- Achei que só tratasse de coisas do Palácio. Nunca vi nenhum soldado ajudar um servo que é roubado no meio da rua - debochei em um sorriso fraco. - Eles passam como se esses tipos de pessoas, que estão na base da pirâmide da sociedade, não prestassem para mais nada além de trabalhar.

- Você parece saber bem sobre o assunto - diz, se mostrando mais interessado. - Não me diga que é uma dessas nobres que sente pena dos servos e os ajuda de todas as formas possíveis? - A Esme jamais seria esse tipo de pessoa, e eu era a prova viva daquilo.

- Eh... eu apenas observei esse fato. Mas o que podemos fazer? Já nascemos nesse sistema. Não é como se de uma hora para outra tudo fosse mudar. - Olhei com atenção o servo que se aproximava trazendo algumas xícaras, provavelmente com chá.

- Certo, senhorita Esme. Eu tenho uma pergunta para fazer: o que gosta de realizar em seu momento de lazer? - me questionei seriamente se Esme tinha algo mais interessante para fazer do que importunar a vida dos criados.

- Eu... hã, leio alguns livros.

- Você lê? Vejo que gosta de coisas novas.

- Sim... também gostaria de saber o que- - parei a pergunta no meio. Eu não precisava saber qualquer coisa sobre o General. O plano era ser desinteressante aos olhos dele. Eu estava fazendo tudo errado. - Poderíamos tomar esse chá e caminhar um pouco? Estou cansada de ficar sentada aqui.

- Mas você praticamente acabou de chegar.

- Está dizendo que não vai fazer isso? - Fingi estar desacreditada, deixando o pobrezinho com receio.

- Não, não. Podemos tomar o chá e caminhar sim.

E foi o que fizemos. Tomamos o chá em silêncio, sem dizer nada um ao outro. Eu senti que ele estava desconfortável, mas não tanto quanto eu por estar mentindo. Na minha cabeça ficou passando inúmeras situações e vários motivos do porquê aquele plano era idiota. De qualquer forma, o Hoseok não iria conhecer a Esme na seleção para princesa? Por que todo aquele trabalho tosco de tentar enganá-lo? Ele não merecia aquilo.

No momento que estávamos andando juntos, olhei para si algumas vezes e me perguntei o que se passava em sua cabeça. Será que estava suspeitando de mim? Será que não havia gostado do meu jeito mandona ao falar agora a pouco? De qualquer forma, o General deveria apenas não gostar da Esme e pedir que anulasse o possível noivado.

- Você tinha razão.

- O quê? Eu? - Apontei para mim, confusa com sua declaração repentina. Hoseok estava andando pela trilha ao redor do jardim enquanto eu ficava ao seu lado, segurando o cesto com as flores exóticas que me deu. - O que eu disse exatamente que fez você aceitar que eu tenho razão?

- Sobre o casamento arranjado. - Olhei para ele atenta quando tocou no assunto. - Eu falei mais cedo que também acredito em amor verdadeiro. Não sei se existe amor à primeira vista, mas creio que quando se conhece alguém de verdade, é quase impossível não se apaixonar.

- Mas forçar uma relação não dá certo. Fico muito feliz que você seja inteligente o suficiente para perceber que esse plano idiota dos nossos pais não vale nem um pouco a pena.

- Mas não pode pensar assim, Esme. Você não acha que deveríamos tentar antes de dizer que não vale a pena? - Ele sorriu de novo com aquelas covinhas traiçoeiras. - Esse é apenas nosso primeiro encontro. Não dá para definir nosso futuro apenas aqui.

- Certo, certo. - Parei de andar, lhe encarando séria. - O que você acha que vai acontecer se tivermos mais encontros? Tenho certeza que não será a mesma coisa. E olha, sinceramente, não sou uma das melhores pessoas para se conversar - digo com exagero, para afastar qualquer sinal de delicadeza.

- Espere e verá, senhorita Esme. Me permita encontrá-la mais três vezes, sendo a última na festa da colheita. Nesse dia, somente nesse dia, você me dirá sinceramente que não se interessou por mim. Até lá, não tome decisões precipitadas. Vou dizer ao seu pai que adorei a sua companhia, por enquanto. - Sorriu sacana, brincando com todo o plano que a senhora Bennet havia feito.

Diante da declaração de Jung Hoseok, não soube como me defender ou desfazer aquela situação. No final das contas, tudo era uma grande idiotice e senhora Bennet junto de sua filha não sabiam o que estavam fazendo. Eu, por outro lado, que tinha consciência que aquele plano poderia dar errado, guardei para mim mesma que seria interessante encontrar Hoseok mais algumas vezes antes daquela farsa terminar tragicamente.

[...]

- Espero que não esteja se acostumando com meus vestidos, serva. - Esme debochou na porta do quarto.

- Eu vou acabar com isso hoje - digo convicta. Não iria dar mole na frente daquela garota.

- Esperamos mesmo. Você não conseguiu o despachar até agora. Se ficar encontrando-o tantas vezes, é capaz dele formalizar o casamento antes mesmo que eu tenha a chance de entrar para a seleção de Princesa.

- Sinto muito, Esme, mas eu acho que isso não vai dar certo. - Eu estava sentada na cadeira, por isso olhei para trás a fim de encará-la. - De qualquer forma, o General vai te encontrar no Palácio caso você se torne a Princesa. Como você explicará a ele que foi enganado?

- Pequena Maisie, não se preocupe com isso. Não sei se sabe, mas os homens se apaixonam assim que veem a minha beleza. Se Hoseok me visse, além de aceitar ficar comigo, ele se apaixonaria fácil. Meu pai não gostaria que eu o dispensasse, pois, abaixo do Príncipe, ele é o melhor partido do reino. Então, quando eu vou encontrá-lo no Palácio e dizer a dura verdade que ele se encontrou com a serva por questões de segurança em relação a minha beleza.

- Quanta idiotice... - resmunguei. - Eu ainda continuo achando errado enganá-lo. Hoseok não é do tipo de cara que se revolta por ser rejeitado por uma mulher.

- "Hoseok"? Você já está chamando ele de forma tão próxima assim? - Ela se aproximou e começou a tocar no meu cabelo, que estava com adornos brilhantes e caríssimos. - Será que devo lembrá-la que, mesmo tendo chamado a atenção do General Jung, você é apenas uma serva? Que você perdeu seu lugar de renome na sociedade a muitos anos?

- Eu não preciso que me lembre disso.

- Maisie, você tem que romper com esse encontro hoje - disse, apertando meu ombro com uma certa violência. - Você acredita que terá mais encontros com ele? Que, quando descobrir que você é apenas uma serva, ele vai escolher ficar com você? É bom acordar dessa fantasia impossível o quanto antes - dizendo isso, Esme saiu do quarto, me deixando sozinha e com os pensamentos a mil.

Já haviam se passado dois encontros desde a primeira vez que vi Hoseok. E nesses encontros ele se mostrou gentil e atencioso como um verdadeiro cavalheiro. Foi difícil bancar a durona; evitar sorrir para ele era como um castigo. Quando ele disse que eu estava bonita quando fomos ver algumas pinturas, implorei aos céus que estivéssemos em outra realidade e que nessa eu pudesse realmente ser alguém que ele quisesse como esposa. Mas Hoseok só deveria estar me dizendo aquelas coisas porque acreditava fielmente que eu era a filha dos nobres. Se ele descobrisse que eu era apenas uma plebeia, não importam todos os momentos que tivemos juntos, ele logo me despacharia.

De toda forma, mesmo sendo duro admitir, Esme tinha razão. Eu tinha que romper com aquilo logo. Tinha que apagar qualquer resquício do General Jung das minhas memórias e naquele dia, no nosso último encontro, precisava olhar firmemente em seus olhos e dizer que não estava sentindo nada por si.

Fiquei de pé e saí do quarto. Logo a festa da colheita iria começar no final de tarde. E mesmo assim, eu não estava nos meus melhores ânimos. Quando entrei na carroça enviada pela senhora Bennet, só comecei a lembrar detalhadamente dos últimos encontros que tive com o Jung. Como disse antes, havíamos passado em uma galeria de pinturas de artistas renomados do reino. Hoseok fez questão do passeio, já eu fiz de tudo para que ninguém reconhecesse meu rosto. Assim que cheguei naquele lugar, ele disse que eu estava muito bonita e perguntou se eu poderia segurar sua mão. Claro que aquilo me deixou espantada, nunca tinha ficado tão próxima de um rapaz daquele modo, e mesmo assim segurei sua mão. Ele tinha um jeito que me deixava calma, confiante. Enquanto andava ao seu lado, ficava observando cada traço de seu físico e até a maneira que fechava os olhos quando sorria sinceramente.

Também quando tivemos outro encontro, ele me ofereceu um passeio no seu cavalo. Fiquei nervosa a princípio, mas ele sentou atrás de mim e me abraçou firmemente dizendo que me protegeria de qualquer coisa. Naquele instante meu coração acelerou. E doeu olhar para ele daquele dia em diante. Na festa da colheita era a última oportunidade que tinha para ficar tão próxima de si novamente, mas eu só me preocupava com a nossa despedida e como eu faria para acreditar que tudo isso - esses encontros e conversas - realmente aconteceram.

- Chegamos, senhorita. - O servo que dirigia a carroça alertou, tirando-me dos devaneios.

- Certo. Obrigada.

Eu desci da carroça indo em direção à praça, onde Hoseok pediu que eu o encontrasse. As ruas da cidade estavam bem enfeitadas. Muitos nobres e plebeus dançavam ao som de músicas típicas, na mais ingênua alegria. A festa da colheita era um dos poucos festivais que reunia todo mundo daquele jeito, sem que se importasse com sua posição na sociedade. O cheiro de comida sendo feita na hora estava subindo por toda a praça, também era visível a brincadeira da uva, onde eles pulavam e machucavam a fruta.

- Esme! - Assim que escutei o nome que me foi dado nos últimos dias, olhei para trás.

Hoseok sorriu para mim, mais uma vez. Ele passou algumas pessoas e correu até mim com os braços abertos. Quando ele me abraçou, fiquei paralisada. Não era muito adequado ele fazer aquilo em público, mas quando se afastou eu percebi que em seus olhos ele não estava se importando para o que os outros dissessem.

- Você veio. Achei que não viria mais.

- Eu aceitei vir nos últimos encontros. Por que não viria nesse? - Tentei falar de maneira casual, sem mostrar muita tristeza.

- No final das contas, você realmente me deu a chance de provar quem sou de verdade. - Ele abaixou o rosto, escondendo um pouco mais do sorriso. - Eu sei que pedi a você que me desse sua resposta hoje, mas gostaria de se divertir ao meu lado hoje, Esme? - Sempre era doloroso quando ele me chamava por aquele nome.

- Tudo bem. Vamos procurar algo para fazer aqui.

- Ótimo! - Sorriu aliviado. - Você veio na última festa da colheita?

- Não, eu estava ocupada. - Para ser mais específica, estava trabalhando duramente como serva.

- Como você estava ocupada? A festa da colheita só acontece uma vez por ano. Eu conheço muitas pessoas que se preparam apenas para aproveitar esse dia.

- Os servos não têm esse luxo com frequência - deixei escapar, um pouco chateada.

- Você é uma pessoa que tem bastante empatia pelos servos, Esme. É muito lindo ver que você admira o trabalho dessa gente.

- Eles trabalham muito para que pessoas como você e... e eu tenhamos essa vida tranquila, sem precisar sujar as mãos ao limpar a casa ou ao fazer a comida, cuidar dos animais e das plantações. Até mesmo essa festa não seria possível se os camponeses não trabalhassem duro, de sol a sol, chuva a chuva, todos os dias enquanto os nobres ficam em suas casas debaixo da sombra.

- Os soldados do palácio vivenciam a mesma coisa. Todos eles trabalham duro para manter a segurança do palácio. Eu também faço parte, mas sei que não tanto quanto eles. No final das contas, eu acabo entendendo o porquê de você admirar tanto essas pessoas. Eles sim são dignos de todo o reconhecimento possível. Queria que soubessem que, seu trabalho árduo e diário, é mais do que valorizado por mim.

Naquele momento eu percebi que não sabia muito sobre a história de vida do General, mas pela forma como dizia aquilo parecia ter bons motivos para continuar protegendo o reino. Hoseok era o tipo de cara que não olhava para as posições sociais das pessoas, ao meu ver. E naquele momento, senti meu coração bater acelerado novamente. Queria contar a ele o motivo para que eu fosse tão revoltada com a vida cruel que os servos levavam, queria dizer a ele que meu verdadeiro nome era Maisie e não Esme. Naquela hora, eu realmente pensei que ele poderia me entender.

Mas decidi não contar.

- Chega desse assunto. Hoje eu realmente quero ver você me surpreendendo.

- Sério? Você realmente não vai ficar séria ou evitar sorrir pra mim como fez das últimas vezes? - Olhou-me surpreso. - Se você realmente quer se divertir, tem que tirar todos os pensamentos negativos da sua cabeça.

- Eu prometo que não pensarei em mais nada. - Apertei nossas mãos com mais força. - Você pensou em algo para fazermos aqui?

- Pensei em muitas coisas. Acredito que você vai gostar.

Hoseok não estava errado quando disse aquilo. Nós entramos em diversas barracas e participamos de inúmeras brincadeiras da festa. Quase fomos para a brincadeira da uva também, mas implorei para que ele desistisse daquele plano por causa do meu vestido azul que ficaria manchado - se Esme soubesse que o vestido ficaria sujo, eu com certeza seria decepada.

O General não largou as minhas mãos em momento algum. Naquele breve instante, imaginei que poderíamos ter um futuro junto como casal. Mamãe estava certa, uma hora a pessoa destinada chegaria em minha vida, mesmo que essa pessoa não fosse ficar comigo no final de tudo.

- Eu quero te levar em um lugar - comentou, enquanto me dava uma maçã melada com mel.

- Temos mais algum lugar para ir? - indaguei curiosa. Já estava escuro, as estrelas brilhavam no céu e o vento trazia consigo uma brisa fresca, quase apagando as tochas fixas pela rua.

- Sim. É meu lugar favorito por aqui. Você quer conhecer? - Ele estendeu sua mão mais uma vez naquela noite. Eu já não conseguia dizer não para sua mão.

- Claro, vamos.

Nós fomos a pé, Hoseok disse que era bem próximo da festa. No meio da estrada, olhei para o céu e sorri mais encantada que antes. As estrelas brilhavam em uma intensidade incrível. Eu respirei fundo o ar daquela noite e permiti que todos os problemas que enfrentaria depois daquele dia fossem embora ligeiramente. Hoseok apertou nossas mãos mais uma vez, dizendo que estávamos próximos do local. E quando enfim chegamos, ele foi o primeiro a sentar na grama do campo aberto.

Aquele lugar não era desconhecido para mim. Já havia ido lá buscar algumas flores, mas era diferente estar lá debaixo de uma noite tão estrelada e ao lado de um rapaz tão incrível quanto o próprio General.

- O que você achou? Gostou da vista? São poucos os que conhecem esse lugar - disse com um sorriso inocente.

- Muitos servos conhecem. - Me sentei ao seu lado, olhando atentamente todo o campo.

- Você conhecia? - Pela maneira como perguntou aquilo, parecia que sabia da minha real identidade. Respirei devagar por um instante, com medo do que dizer.

- Não. Essa é a primeira vez que venho aqui. Você sabe que não é muito comum uma nobre sair de casa para lugares tão abertos assim.

Mais uma brisa fresca passou por nós, obrigando-me a sorrir minimamente.

- Você se divertiu hoje?

- Pela primeira vez em muito tempo. - Abaixei a cabeça contendo um sorriso.

- Era isso que eu queria ver em você. Seu sorriso sincero. E confesso que fica mais linda quando está assim. - Nossas mãos ficaram uma sobre a outra na grama, chamando minha atenção. - Esme Bennet. Eu, seu pretendente, fiz de tudo para que abrisse seu coração para mim. Me interessei por você no primeiro dia que a vi, indo contra tudo que um dia conhecia. Fiz de tudo para que você me conhecesse como sou, por isso quero te perguntar uma única coisa.

- O que seria? - Mesmo com o coração a mil, indaguei ansiosa, vendo seus olhos tão bonitos focados em mim.

- Me responda agora, com base em tudo que viu de mim até agora... Você aceitaria se casar comigo? - Ele respirava pesadamente, parecia tão nervoso quanto eu.

No entanto, senti meu coração se rasgar em mil e minha tristeza ir de mal a pior. Era injusto tudo aquilo estar acontecendo. Era injusto meus pais terem perdido seu cargo na nobreza e minha mãe ter ficado doente. Era injusto eu ter que me esforçar para viver como uma mera serva e eu não conseguir cuidar bem da minha própria mãe. Era injusto enganar o General de tal modo ao ponto dele estar ali, na minha frente me pedindo em casamento.

Sempre fui dura com as pessoas porque sentia que precisava cuidar de mim mesma e da minha mãe, mas pela primeira vez eu queria desmanchar a barreira em volta do meu coração e saber onde aquele sentimento estranho e doloroso que sentia naquela hora iria me levar. Eu segurei os dedos de Hoseok com força enquanto ouvia o som dos grilos cantando a noite. Fechei meus olhos e tentei controlar as batidas do meu coração. Me questionei duramente se ele estava apaixonado por mim ou por Esme. Me perguntei cruelmente se ele me pediria em casamento se soubesse quem sou.

Sem pensar duas vezes e achando tudo muito injusto, me aproximei do General Jung e trouxe seu rosto para perto do meu. Naquele momento eu não pensei em que desculpa eu daria para ele, mas precisava fazer aquilo. Precisava guardá-lo em minhas memórias para que assim pudesse me despedir. Toquei sua bochecha com minhas mãos trêmulas e quase hesitei no último instante, mas beijei sua boca com carinho. Era lindo ter como testemunha daquele momento os grilos, as estrelas e a Lua. Eu jamais esqueceria aquele momento. Permaneci beijando-o até que ele também tocou minha bochecha e aconchegou seu rosto para mais perto do meu. Seu cheiro era tão peculiar que seria impossível confundi-lo com qualquer pessoa.

Só haveria um General Hoseok Jung na minha vida a partir daquele instante.

A contra gosto, quando senti que não conseguiria respirar, me afastei de seus lábios e acariciei suas bochechas.

- Hoseok - chamei seu nome e sorri triste, sabendo o quão estúpida estava sendo por permitir que meu coração se acelerasse por ele naqueles dias. - Eu sinto muito, mas eu não posso me casar com você.

- Esme... então por que me beijou?

- É complicado explicar, mas... talvez eu quisesse que meu primeiro beijo fosse com alguém especial.

- Se eu sou especial para você, por que não aceita se casar comigo? Por que só me beijar quando eu estou aqui propondo que seja minha esposa? - indagou confuso, com o olhar mais cabisbaixo que antes. - O que te impede de ficar comigo, Esme?

Eu não sou quem você pensa que sou, Hoseok. Sou apenas uma serva e fiz tudo isso por causa da minha mãe. Por ter dinheiro, talvez você nunca entendesse minhas reais intenções, mas mamãe era tudo para mim.

- Eu sinceramente não posso me casar com você.

- Você fala uma coisa e seus olhos dizem outra. - Ele tocou minha bochecha mais uma vez, quase me fazendo chorar de tristeza. Eu nunca tinha ficado tão triste daquele modo, por isso estava sendo uma péssima experiência. - Por favor, me conta o que te impede de me aceitar.

- Eu não posso falar. Você disse que queria minha resposta, certo? Pois bem, é só isso que tenho a dizer. - Fiquei de pé, me desvencilhando de seus toques. - É uma pena dizer que sua tentativa de me encantar foi tudo em vão. Por favor, não me procure mais.

- Esme...

Lhe dei as costas sem nem pensar duas vezes. Odiava quando ele me chamava por aquele nome. Só reforçava mais uma vez que tudo não passava de uma grande mentira. Enquanto andava pela trilha de volta, sozinha naquela noite, senti vontade de rasgar aquele vestido e destruir todas aquelas joias, mas me limitei a voltar para a casa da senhora Bennet.

- Fiz o que me foi mandado. - É o que digo assim que atravesso a porta da sala. As duas estavam sentadas, provavelmente esperando por mim. - Fiz o General desistir da ideia de se casar com a Esme.

- Ótimo, Maisie. Agora vá para o quarto e se desfaça das roupas e dos penteados. - É o que Esme diz, com um sorriso falso.

- Quando você voltar, lhe pagarei a quantia certa - Senhora Bennet garante e eu assenti sem saída.

Vendo que as duas não perguntaram mais detalhes, voltei para o quarto e joguei aquelas roupas para longe do meu corpo. Enfim havia acabado o conto de fadas. Minha vida real havia retornado para mim. Qualquer fantasia que tivesse com o General Jung devia ser esquecida, pois ele jamais saberia quem eu era. Hoseok se tornaria alguém que não estava mais ao meu alcance.

[...]

A noite após a festa tinha sido dura para meu coração. Me permiti chorar no colo da minha mãe, enquanto lhe explicava toda a história. Eu enfim disse a ela que me apaixonei por alguém impossível. Mamãe apenas disse que no coração a gente não poderia mandar e que eu só poderia lidar com aquela dor pacientemente. O tempo curava tudo, me garantiu ela. Mas eu não gostava daquilo de sentir dor por alguém que mal sabia quem eu realmente era. Por outro lado, se esse alguém era o General Jung, que me surpreendeu com seu modo de ser e sua insistência, parecia que meu coração aguentaria sofrer mais um pouco por si.

Então, naquela noite depois da festa da colheita, me culpei por tudo que havia acontecido e resmunguei para os céus do porquê de não haver outro caminho. Quando adormeci ao lado da minha mãe, sonhei com uma realidade impossível. No sonho, mamãe estava bem arrumada, parecendo uma rainha e eu estava levando ela para o campo de flores. Nesse campo, Hoseok estendia a mão e perguntava se eu queria casar com ele. Lembro que olhei para minha mãe com felicidade e ela dizia para que eu aceitasse.

Quando voltei a encarar Hoseok, eu aceitei seu pedido e disse que ele teria que ser um verdadeiro guerreiro se quisesse ficar comigo. Em troca do meu comentário, ele sorriu e disse que não seria nenhum pouco difícil lutar todos os dias pelo meu amor para si.

No entanto, logo já era de manhã cedo e senhor Wight, o mesmo que paguei as madeiras, havia me dito que ofereceram serviços nas plantações de um nobre. Como outras servas estavam indo, não tinha visto problema em fazer parte do grupo também. Por ora, eu deixaria aquele conto de fadas com o General em meus sonhos noturnos e viveria minha vida.

- Mamãe, prometo que trarei algumas frutas gostosas quando voltar - digo a ela, enquanto terminava de amarrar uma fita nos meus cabelos, a fim de mantê-los bem preso.

- Certo, filha. Se eu me sentir melhor, farei alguma coisa para comermos mais tarde.

- Não precisa, mãe. Apenas espere que sua filha querida vai trazer tudo que precisamos, okay? - Me aproximei dela e deixei um beijo na sua testa.

- Tem certeza que vai trabalhar hoje? Ontem você pareceu tão triste.

- Não posso me entristecer com coisas como aquilo. Eu aprendi desde cedo que minha vida não pode parar por causa dessas bobagens.

- O amor não é uma bobagem - diz quase num tom de repreensão.

- Sei, mãe. Mas se eu ficar chorando por causa de alguém que nunca vou ter, minha vida não vai para frente. - Balancei minha cabeça algumas vezes, tentando encontrar foco. - A partir de hoje, vou esquecer tudo que aconteceu e focar só no que realmente importa, que é eu e a senhora.

Acenei para minha mãe mais uma vez e saí de casa antes que ela ousasse falar mais coisas sobre a noite anterior. Realmente eu estava arrasada, mas daquele dia em diante eu tinha que seguir em frente por mais que doesse. Só de lembrar dos planos dos últimos dias, me questionava se no final das contas Esme conseguiria ser Princesa. A maneira como ela e sua mãe disseram que não poderiam negar o pedido de casamento de um homem me fez questionar que tipo de cara elas imaginavam ser Hoseok. O Jung não me pareceu rude e egoísta, ele era o total oposto dessas coisas. Ele sinceramente queria que eu me apaixonasse de verdade.

- E mais uma vez eu estou lembrando dessas bobagens... - sussurrei para mim mesma baixinho.

- Maisie! - Uma voz familiar chamou meu nome e olhei para trás rapidamente.

- Ah, Kate. O que faz aqui?

- Estou indo para as plantações. - Ela ergueu um cesto, com um sorriso pequeno. Kate era uma moça da minha idade com o cabelo bem ruivo. A única diferença gritante entre nós duas era a altura, pois Kate era bem baixinha. - Por que está parecendo tão triste?

- Eu? Triste? É só o cansaço.

- Ah! Você deve ter se divertido ontem na festa da colheita - disse alegre. - Mas eu não te vi por lá.

- Eu não estava na festa. Fiquei em casa cuidando da minha mãe.

- Ah, Maisie. Você é tão nova e só vive dentro de casa. Nós já temos uma vida dura como servas, deveríamos ao menos aproveitar as festas para conhecer alguns rapazes bonitos, não acha? - Ela me dá um empurrão enquanto dava risada.

- Não fale essas coisas por aí, se não vão te chamar de meretriz.

- Não é pra tanto. Eu sou apenas uma jovem mulher que está aproveitando a vida enquanto pode.

- Não aproveite tanto, pois nunca sabemos o que pode acontecer amanhã.

- Tudo bem, senhora idosa - brincou, puxando-me para um abraço de lado. - Eu queria buscar uma coisa na casa do meu senhor. Você poderia me acompanhar?

- Se isso não for nos atrasar, eu te acompanharei sim.

- Vai ser bem rápido.

Kate era o tipo de pessoa bem esquisita para se conversar, mas por ser serva e ter um passado parecido com o meu, nos identificamos em muitas coisas. Ela me levou para a casa de seu senhor e percebi que era bem próxima da casa da senhora Bennet. Enquanto Kate pediu que eu aguardasse do lado de fora, fiquei encostada em um canto, olhando o movimento.

Porém, o som de alguém gritando me chamou a atenção.

- Esme! Esme! Por favor, fale comigo. - Eu conhecia aquela voz.

Cuidadosamente me escondi até chegar a casa da senhora Bennet. E o rapaz que chamava por Esme era... o General Hoseok Jung! Ocultei um grito quando percebi a maneira como ele chamava por ela - no caso, a maneira como ele queria me ver. Os servos falavam alguma coisa para ele, mas eu estava muito longe para escutar. Ele continuou dizendo que queria encontrar Esme e meu coração só batia mais acelerado. Ele havia voltado para me ver. Ele ainda queria lutar por mim.

Eu secretamente desejei que ele olhasse para trás e me visse escondida de alguma forma. Fechei meus olhos e desejei tanto que quase senti meu desejo se tornar realidade. E sendo assim, quando abri meus olhos, ele estava olhando para mim. Seu olhar era atento, surpreso e admirado. Senti meu corpo se arrepiar. Eu não estava arrumada. Eu não era Esme Bennet, e sim Maisie Moore naquele momento. Infelizmente, não estava preparada para ser negada por ser desse jeito.

Desesperada e me sentindo arrependida, eu fugi. Andei com pressa pelas ruas até que encontrei uma casa abandonada. Eu ouvia ele me chamando, ainda confuso se deveria ou não dizer Esme. Hoseok continuava se aproximando com sua voz melodiosa e ao mesmo tempo ansiosa.

- Esme! Esme, é você? - questionou pela terceira vez enquanto se aproximava da casa abandonada. - Seu rosto é impossível de esquecer. Então, por favor, fala comigo só mais uma vez. Eu quero ouvir sua voz. Por que está se escondendo?

Hoseok não podia me ver daquele jeito. Não, ele não poderia conhecer a verdadeira pessoa que eu era.

- Esme, por favor. - Sua voz ficou mais alta, mesmo que ele falasse em um sussurro. Ele estava atrás da porta. Eu não conseguia fugir para outro lugar, era como se esperasse ele me achar. - Esme. Esme, fala comigo.

- Meu nome não é Esme. - É o que digo no final das contas.

Hoseok deu alguns passos, invadiu a casa escura e me encontrou encostada na parede. Seus olhos brilhavam naquela escuridão; a luz que vinha das janelas arrombadas iluminava seu corpo dos pés à cabeça. O Jung se achegou mais e eu respirei fundo, sem saber por onde começar.

- Você não é a Esme que eu conheço? - perguntou encarando-me com atenção.

- Sinto muito, General Jung. - Abaixei a cabeça, envergonhada ao extremo. - Eu não queria enganá-lo de tal forma. Pensei que quando você me visse pela primeira vez logo me acharia desinteressante e cancelaria aquele encontro, mas deu tudo errado.

- Ei, calma. - Cuidadoso, Hoseok estendeu a sua mão para tocar a minha, e eu permiti que o fizesse. - Eu vou te escutar. Não se preocupe. Estou aqui para você agora. - Seus dedos deslizavam pelo dorso da minha mão, fazendo um carinho insistente.

- Não acha esquisito que eu esteja vestida com esses trapos? - questionei, olhando as roupas desgastadas que escolhi para trabalhar nas plantações. - Acho que já percebeu que não sou aquela que estava na festa de ontem.

- Por que eu não acharia que você é ela? - Ele levantou minha cabeça, pousando sua mão em meu queixo. - Os olhos são os mesmos. A voz é a mesma. O rosto e os lábios... não tem como eu a confundir com outra pessoa.

- Você não entende, Hoseok. - Sorri fraco, achando suas palavras encantadoras demais. - Na verdade eu sou uma serva. Fiz tudo isso, de te enganar, apenas para ganhar dinheiro da senhora Bennet e pagar pelo tratamento da minha mãe. Eu quase roubei as joias da minha senhora e ela me puniu obrigando-me a fingir ser sua filha Esme, pois ela não queria se casar com você como o pai dela prometeu ao seu pai. Elas apenas me usaram para que você me despachasse. Elas acreditavam veementemente que, por eu ser uma serva, você logo perceberia minha falta de classe. A senhora Bennet tinha medo que você gostasse da Esme e impedisse que ela fizesse parte da seleção para Princesa, por isso me usaram. Só que esse plano ainda é idiota ao meu ver e de qualquer forma você saberia que eu sou uma serva. General, eu não queria o enganar, então tenha piedade da minha vida e não me castigue por isso. Apenas fui obrigada pela minha senhora, senão eu perderia meu trabalho.

- Qual o seu nome?

- O quê? - perguntei espantada. Ele sorriu simplista, acariciando minha bochecha com a mão livre.

- Seu verdadeiro nome. Eu tenho que saber o nome da pessoa que realmente me chamou atenção.

Meu coração se agitou de tal modo que quase fiquei muda. Ele não me culpou por nada, Hoseok não me atirou pedras ou se chateou por ser enganado. Ele apenas perguntou qual era o meu nome.

- Maisie. Maisie Moore.

- Seu nome é lindo, Maisie. - Ele sorriu mais abertamente.

- Obrigada.

- Mas eu já sabia que você não era uma nobre.

- O quê? Mas como você sabia? Por que não me disse que sabia? Me deixou esse tempo todo fingindo ser uma pessoa que eu não era?

- Eu não tinha certeza, mas eu acho que te vi na Montanha de Caçada. - Ele riu baixo ao ver minha cara de espanto. - Você estava indo embora. O Príncipe Herdeiro quase atirou uma flecha em você, achando que era algum animal selvagem escondido, mas eu logo identifiquei que se tratava de uma moça. Naquela hora eu vi seu rosto e me perguntei como poderia haver uma pessoa corajosa o suficiente para adentrar na montanha quando o Príncipe e eu estávamos caçando. É extremamente perigoso, sabia? Principalmente quando o herdeiro do trono é audacioso e certeiro.

- Eu precisava buscar remédio para minha mãe.

- Pelo que vejo, você é uma pessoa que se importa muito com ela. Admiro isso em você, Maisie. Me impressionei ao vê-la no dia do encontro. Você estava mais bela que antes, mas parecia desconfortável. Senti que você estava escondendo algo de mim, imaginei que fosse algo que não pudesse falar de qualquer maneira. E quando nos encontramos mais vezes, percebi que o destino estava a favor de nós. No final das contas não foi uma coincidência, talvez eu realmente tivesse que conhecer você.

Hoseok me olhou confiante. Coloquei a mão sobre a sua que estava no meu rosto e me aproximei sem pensar duas vezes. Eu precisava beijá-lo antes de mais nada. Precisava lembrar da sensação que era ter seus lábios no meu e quão segura me sentia quando ele me tocava com carinho. Deixei que sua língua se enrolasse com a minha, enquanto sua outra mão descia para minha cintura. Os estalos que surgiam com nosso beijo me deixava arrepiada. Nunca pensei naquela época que beijar fosse tão bom. Era íntimo o suficiente e pedia por mais.

Desci minha mão para tocar na sua nuca e acariciei lentamente ali. Hoseok, com todo seu corpo, me prendia na parede enquanto dedilhava a minha cintura. Quando ele se afastou, deixou alguns pequenos selinhos em meu pescoço, sussurrando frases que diziam o quanto ele queria me ter para si, o quanto ele sonhava com alguém como eu. Ouvir aquilo me deixava com o coração cheio de esperança, mas logo o afastei.

- Hoseok. Nós não podemos ficar juntos.

- Por que continua dizendo isso, Maisie? - indagou chateado. - Por que está dizendo que não podemos ficar juntos? Eu quero ficar contigo. Você também não quer?

- Eu nunca me apaixonei antes. Não sei se tudo isso, esse misto de sentimentos confusos que estou sentindo agora ou a dor que senti ontem ao dizer a você que não poderia ficar contigo, é realmente amor. Eu sinceramente não sei. Mas, olha pra mim. - Apontei para mim mesma. - Sou apenas uma serva, Hoseok. Perdi tudo que tinha quando era criança. Já fui nobre, mas hoje sou apenas a base da pirâmide, aquela que serve os outros. Não tenho sobrenome importante e nem dinheiro. Quem aceitaria essa relação? Seu pai seria o primeiro a negar.

- Maisie. Eu não me importo com o que meu pai ou outras pessoas irão dizer. Essas coisas são apenas detalhes perto do que nós podemos ter e fazer juntos. Eu me apaixonei por você, Maisie. Escolhi você por ser quem é. Não olhei para o que tinha ou seu sobrenome. - Seus dedos voltaram a tocar minha bochecha, deslizando carinhosamente. - Eu quero me casar contigo, Maisie Moore. Você aceitaria ser minha esposa?

Eu me perguntava como algo tão complicado quanto o amor poderia chegar para mim daquele modo. Parecia impossível. Achei que a pessoa certa não era para mim. Acreditei com certeza que nada na minha vida seria diferente e que o momento que eu estava vivendo era o mais importante, mas bastou Hoseok aparecer e insistir em entrar no meu coração que tudo que acreditei um dia mudou totalmente. No final das contas, minha mãe sempre tinha razão.

Emocionada, beijei Hoseok outra vez, não sabendo como conter aquela alegria. Antes eu achava tudo isso de gostar de alguém uma grande bobagem, mas foi preciso alguns pequenos atos para que eu mudasse de ideia. O General correspondeu ao meu beijo na mesma intensidade, segurou meu rosto com todo amor e sorriu pequeno quando me afastei de si.

- Eu adoraria me casar com você, Hoseok Jung.

Aquele sorriso de covinhas que me desfazia totalmente, surgiu. Naquele momento eu percebi que o amor era imprevisível e que conectava as pessoas mais improváveis.

[FIM]

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