Capítulo único

Co-Autor: KimSeogmin
Beta-reader: DarkBlueKisss
Capista: mandioquinha
Avaliador: koofus
Trailermaker: Yooni937

Trailer

***

Mas um dia 31 de outubro havia chegado. Para uns, algo normal, uma data muito esperada, mas para Park Jimin era como se fosse o fim do mundo.

Jimin odiava o feriado do dia das bruxas, as fantasias horripilantes, os docinhos temáticos, as abóboras decoradas, e, principalmente, a famosa frase "doces ou travessuras?". Chegava a se arrepiar em só ouvir aquilo.

Os vizinhos achavam o menino um completo estranho, afinal, quem não gosta do Halloween? Mas a verdade é que Jimin preferia o natal. As comidas típicas, as conversas em família, a famosa ceia e a vontade de beliscar alguns petiscos antes da meia noite. Por que que o natal não podia ser no halloween e no dia 25 de dezembro?

Esse 31 de outubro não seria diferente. Park apenas iria se enfurnar em casa e se entupir de sorvete de mirtilo enquanto assistia ao seus filmes de romances duvidosos, como o tão famoso Titanic, o qual já assistira mais de dez vezes só essa semana. Ou a barraca do beijo, quando quer algo mais adolescente.

Porém, os planos do garoto mudaram quando este descobriu que a tão famosa tradição começaria mais cedo e os barulhos da rua, cheia de pessoas animadas e fantasiadas, não o permitiriam desfrutar de sua paz interior.

Morando no interior da Califórnia, em um bairro onde as casas eram todas coladas umas às outras e iguais, em uma rua estreita, o barulho triplicou.

Taehyung, seu melhor amigo, já havia lhe avisado que passaria em sua casa para se arrumar por lá e até mesmo tentar convencer o amigo a se divertir um pouco, já que ele era um jovem mesquinho e ultrapassado em sua concepção, mas Jimin já decidiu. Não iria e ponto.

E por falar no bendito ser, a campainha toca e Jimin não precisa de nada para saber quem está atrás de sua enorme porta de madeira.

— Olá, Jiminie! Boa noite! Como vai meu ruivinho preferido? — O menino já entra todo empolgado, carregando consigo uma enorme mala de viagens.

— Comeu carne de palhaço ou bebeu água de chocalho? — O amorenado o olha sem entender. — Está tão animado, sem motivo algum aparente.

— Credo, Jimin! Até parece que comeu algo azedo.

O outro apenas revirou os olhos.

— Sua mãe te expulsou de casa por que não te aguenta mais, por isso está se mudando para cá?

— Quê? A minha mãe me ama! Ela nunca me expulsaria!

— Então para que essa mala? — Aponta o objeto com a cabeça.

— Ah, essa mala! Tudo o que preciso para esta noite está aqui!

— Você é tão exagerado! — exclama, trancando a porta. — Esta será a pior noite da minha vida.

— Aish! Você e esse seu preconceito com o Halloween. Toda noite do dia 31 do mês de outubro você fala a mesma coisa!

— Eu só não gosto dessa festa! É uma enorme barulheira e a cada cinco minutos alguma criança fantasiada de múmia ou fantasma bate em minha porta com a irritante frase "doces ou travessuras?". E quando acordo no outro dia, a frente da minha casa está cheia de tinta spray para cabelo, papel higiênico e ovos quebrados. Sem contar no tanto de vômito que esses porcos deixam em meu jardim tão bem cuidado!

— Sinceramente, você parece aquele tiozão chato que toda família tem. Se você desse doce as crianças, sua casa não acordaria destruída.

— Não vou gastar meu tão suado dinheiro com docinhos para essas pestinhas! Suas mães que os comprem. E eu, realmente, espero que suas idas ao dentista estejam em dia!

— Chato, chato, chato!

— Não sou chato, Taehyung, sou realista!

Em resposta, o Kim mostra a língua azulada por conta do pirulito que chupava ao amigo.

— Infantil.

Taehyung deu de ombros e seguiu em direção ao quarto do moreno, totalmente familiarizado com o ambiente. Jimin apenas o seguiu, achando graça do quão birrento o melhor amigo poderia ser.

Ao chegarem ao extenso corredor que ligava os demais cômodos, incluído o quarto do Park, a grande janela livre de persianas dava uma ampla visão de tudo o que se tinha lá fora, incluído a porta ao lado.

Como todas as casas da região, existiam vizinhos, a casa de Jimin não seria diferente, mas o seu vizinho do 777 era completamente assustador, sem contar com o número de sua casa, algo bem duvidoso. O homem nem sequer saía à luz do dia, e Jimin só sabia que era um homem porque o viu uma única vez quando foi pôr o lixo para fora e, por coincidência, ele assinava uma correspondência debruçado sobre o umbral da porta e cara de poucos amigos. Porém, coisas estranhas aconteciam naquela casa.

Certa vez, uma luz vermelha piscante invadiu a casa do Park, que pensou que se tratava da polícia ou até mesmo de alguma ambulância que fora chamada para socorrer alguém, mas não havia barulho. O silêncio e a luz vermelha predominavam. E nesse mesmo corredor, naquela mesma janela, Jimin viu.

Um homem, completamente de preto, dos pés à cabeça, camuflado na escuridão. As luzes ainda piscavam fortes e com elas era possível enxergar as mãos do estranho da porta ao lado. Da ponta até o fim dos dedos, uma fina camada de preto que se mesclava com a cor da pele, Jimin duvidava muito que aquilo se tratava de tinta. Era tão real.

Suas mãos eram grandes e nela portava algum objeto, sem cor, pegajoso, que escorria um líquido grotesco na cor vermelha. Jimin arregalou os olhos ao constatar que aquilo se tratava de um coração humano. Movido pelo medo, levou seus olhos até os do, até então, desconhecido. Um par de pupilas vermelhas escarlates lhe fitaram, queimando-o como brasa. Aquilo arrepiou o ruivo dos pés à cabeça.

As luzes pararam de piscar e o homem desapareceu. Jimin piscou atônito e correu para fechar as persianas, voltando apressado em direção a seu quarto, esquecendo até mesmo da água que fora o motivo para ter se levantado no meio da madrugada.

Aquele mesmo episódio ocorreu por mais quatro vezes, tanto que Jimin nem se apavorava mais com a imagem que tinha quase todas às noites, mas o medo ainda prevalecia, se arrepiava só de manter contato visual com a casa ao lado.

As visões pareciam ser somente aquilo, o homem de preto e as luzes vermelhas como um pisca-pisca de natal. Nada de novo. Mas em uma madrugada de uma sexta-feira, coisas ainda piores aconteceram.

Sexta-feira 13, conhecida por ser uma data onde seres de outro mundo rondavam o planeta dos humanos. Uma data assombrosa. E na madrugada de uma sexta-feira 13, Jimin comprovou as teorias macabras.

Vozes e gritos de angústia eram ouvidos a todo momento. Jimin se via encurralado entre um espacinho entre a cama e a parede. As mãos tremiam e as lágrimas ameaçavam cair. Aquela casa, aquela maldita casa, era seu pior pesadelo!

Tudo se tornava mais difícil justamente por ela estar ali, ao lado da sua. O homem tenebroso que Jimin via apareceu naquela madrugada para si novamente, mas estava acompanhando.

Vagarosamente, Park fora levantado de onde estava e, juntando todo o resto de coragem que ainda tinha, saiu passo por passo de seu quarto, mirando a casa pela enorme janela.

O que via não eram as pessoas, e sim somente suas sombras, e aquilo o torturou de uma forma que o fez paralisar alí mesmo. O demônio portava de um enorme machado, sabia que era ele, seu corpo perfeitamente moldado e escultural nunca saía da mente do ruivinho ranzinza. Havia outra sombra, essa mais abaixo. Jimin podia ver sua feição desesperada, apesar de só enxergar as restras.

Seus olhos arregalaram-se quando viu o demônio levantar tal arma e mirá-la bem no centro da cabeça do indivíduo, acertando-lhe a testa. Poças de sangue voaram.

Jimin não soube como, mas ao ver o corpo do demônio completamente imóvel enquanto descansava o machado na mão, sentiu como se o ser sobrenatural estivesse lhe encarando. Sua mente ordenou e seu corpo pareceu acordar, obedecendo imediatamente a ordem de seu subconsciente e correu dali. Correu o mais rápido que conseguia, trancando-se em seu quarto.

Com aquilo, Jimin teve a certeza: aquilo não era nada normal e a força do mal lhe rondava. Estava cada vez mais próxima de consumi-lo.

— JIMIN!

— O-Oi! O que foi?

— Você não ouviu o que eu falei, não foi? Eu já estou te chamando há um tempão!

— Me desculpa, eu só... me perdi em pensamentos. — O ruivo parecia cada vez mais desconcertado. — O que disse mesmo?

— Nada, deixa para lá. — Taehyung já estava prestes a adentrar o quarto do amigo quando percebeu seu olhar distante, encarando além da janela. — O que tanto olha?

Como se saísse de um transe, Jimin balança a cabeça, acordando para a realidade.

— N-Nada! Vamos logo, uh? Você irá se atrasar. — Saiu empurrando o outro "amigavelmente" para dentro do quarto.

— Como assim "você irá se atrasar"? — Tae lhe encarou possesso, estancando no meio do caminho. — Nós vamos nos atrasar! Você vai comigo, Park Jimin!

— Ah, não, Tae! Eu não vou mesmo!

Como se aquilo fosse uma afronta, Taehyung encarou o Park com fogo nos olhos. Só de imaginar que aprontou uma mala inteira de maquiagens e fantasias para ele e para o melhor amigo se divertirem enquanto se arrumavam juntos e iam pedir doces na noite de Halloween e ser negado pelo Park lhe irritava profundamente.

— Se você não for comigo, eu não irei com você para o show da Miley Cyrus!

Jimin o encarou sem reação. Há meses esperava pela sua cantora preferida que viria tocar em sua cidade pacata, já compraram os ingressos há tempos! Como Kim Taehyung ousa o deixar na mão em um momento tão importante de sua vida?!

— Você não se atreveria...

— Me testa, Park Jimin, me testa!

— Tá bom! Eu vou com você, inferno!

A faceta do mais novo mudou completamente, transformando-se de uma carranca para um lindo e meigo sorriso quadrado. Quem não conhece Kim Taehyung, acha que ele é santo, mas Jimin o conhece, e muito bem.

— Saranghae!

— Vai se foder!

[...]

Jimin portava uma carranca ao que andava pelas ruas decoradas, vestido de Conde Drácula com uma maquiagem horrível extremamente branca, deixando-o ainda mais pálido. Nas mãos portava uma cestinha no formato de abóbora esculpida, com alguns poucos doces já arrecadados.

Já ao seu lado, encontrava-se Taehyung com um enorme sorriso estampado no rosto. Cumprimentava a todos que passavam por eles e desfrutava de sua fantasia de capitão gancho, jurando que era a fantasia do capitão Jack Sparrow dos piratas do Caribe.

— Doces ou travessuras? — perguntou o Kim animado ao chegar em uma casa onde habitava dois velhinhos que há muito já estavam com o pé na cova, se não a perna interina.

— Sumam daqui seus demônios insolentes! — balbuciou a velhinha, expulsando os garotos com um cabo de vassoura.

— Ai, credo! Não tem nem o espírito — reclamou, fugindo dali.

— Nem todos gostam de ser incomodados no meio da noite, Kim Taehyung. Eu, por exemplo, preferia estar em casa assistindo Titanic e desfrutando de um ótimo sorvete de mirtilo acompanhado de um pote de amêndoas.

— Nem todos são chatos e mesquinhos como você, Park Jimin — retrucou. — E eu aposto que você já sabe todas as falas desse filme decoradas! E a propósito, onde está seu Jack?

Jimin o encarou com um olhar mortal. Desde que assistiu ao filme histórico pela primeira vez, sonhava em encontrar o seu Jack, romântico e náutico. Taehyung não perdia a chance de incomodar o amigo com aquilo.

— Será que um iceberg o matou? — O moreno tentava, a todo custo, segurar a risada que estava prestes a sair com a cara de ódio que o amigo lançava para si. — Jack, come back!

Taehyung explodiu em um galhofar gostoso, tirando sarro da cara do mais velho.

— E onde está o seu Jack Sparrow dos piratas do Caribe, uh? Porque o que eu vejo aí é apenas o capitão gancho de Chernobyl!

Taehyung parou de gargalhar imediatamente. Encarou o amigo como naqueles velhos filmes de faroeste, onde dois capangas se olham e um deles fala "essa cidade é pequena demais para nós dois."

Tae removeu de dentro de sua cesta de caveira uma barra de Snickers e lançou sobre o amigo. Enfurecido, Jimin lançou-lhe a cesta de abóbora, acertando suas costas. Os doces pularam para fora, e as crianças que ali rondavam correram em direção às balas caídas como se ali fosse um gigantesco tesouro que procuravam a décadas.

— Perdeu todos o seus doces em troca de nada, seu estúpido!

Jimin apenas moveu os ombros para cima e para baixo, como se falasse "que se dane, não estou nem aí."

Taehyung o olhou enfurecido.

Jimin revirou os luzeiros.

A noite só estava começando...

Ao se recuperarem da pequena discussão, os amigos seguiram em frente, pedindo doces e se divertindo como nunca antes. Pela primeira vez, Jimin gostou de um feriado de Halloween.

O tempo fora passando e o cansaço chegando, Taehyung já lutava para manter os olhos abertos e os passos certos, cambaleando vez ou outra. Já passava das duas da manhã quando os dois decidiram voltar, porém algo os alertou.

De repente, uma fumaça cinza pairou no ar e uma sensação de que tudo estava paralizado toma o ser do Park. Jimin olha para os lados e seus luzeiros se arregalaram ao constatar sua sentença. Tudo estava petrificado. Ao seu lado esquerdo, estava Taehyung, com os olhos fechados e um enorme bico nos lábios.

Um ser totalmente distinto e coberto por uma manta preta o encara com vigor, seus luzeiros em um tom forte de vermelho escarlate mesclado com bordô o deixaram arrepiado.

Sem saber o que fazer ou como reagir, Jimin apenas correu. As pernas estavam bambas e o corpo inteiro doía, mas não parou. Continuou correndo como se aquilo fosse a última coisa que precisasse fazer. Seu âmago estava dolorido e seus instintos o mandavam fugir. O ar estava rarefeito e quanto mais corria, mais parecia chegar em lugar nenhum.

A cidadezinha tão pequena agora parecia gigante. Tudo estava tão longe, uma sensação de perda e desesperança invadiram o arruivado. A cada novo beco que passava, havia duas ou mais pessoas petrificadas, algumas sorriam, outras pareciam aterrorizadas.

Passos foram ouvidos e Jimin não se arriscou a olhar para trás, estava confuso, queria entender o porquê só ele estava a correr feito um louco assustado enquanto as pessoas estavam paralisadas. Sabia que era consequências de seus sonhos malucos e de seu vizinho esquisito.

Suas pernas seguiam por si próprias, o moreno queria correr para frente, mas suas pernas o guiavam para outra direção. Moviam-se sozinhas para o lado, cruzando a rua próximo a sua casa. Um imenso alívio lhe acometeu, alívio esse que se foi ao entender para onde estava sendo levado.

Ao invés de parar em frente a sua porta, ele parou em frente a porta ao lado. Seu sangue percorria rápido pelas veias, o coração bombeava afoito e as mãos tremelicavam. Podia ter um infarto ali de tanta ansiedade.

Na porta de número 777, uma figura esplêndida e maligna que exalava poder brutal o encarou duvidoso. Um sorriso ladino tomou os lábios do demônio. Jimin estremeceu, passou seus olhos rapidamente por todo local em busca de uma arma para se proteger daquele ser hediondo, contando o que achou fora somente um taco de Baseball. Agarrou-o como se aquilo dependesse de sua vida, e dependia.

— Por que demorou tanto para chegar, meu bem? — A voz extremamente grossa, quase robótica, chamou-lhe a atenção.

Agoniado, o ruivinho olhou em sua direção, assustado. Aquele demônio parecia não temer ao taco que Jimin segurava. Bom, aquilo não o faria nem cócegas. Com as mãos trêmulas e a cabeça abaixada, as lágrimas começaram a rolar dos olhos pequeninos.

— Por que choras, ratinho?

Os olhos miúdos arregalaram-se com a sentença. Já ouvira aquilo antes. Sabia que sim. Aquilo tinha que ser mais um sonho, mas parceira tão real. Aquela figura viva disposta em sua frente, com os braços cruzados, totalmente despreocupado, deixava Park confuso. Olhou na direção do cão, ergueu a "arma" e profanou sem medo algum:

— Afaste-se de mim!

Assustado com o olhar do ser maligno lançado sobre si, Jimin deu um passo para trás ao que o demônio deu outro para a frente.

— Não fuja de mim, ratinho, procurei-o por tanto tempo. A cada novo Halloween, tentava ter sua alma para mim e nunca conseguia, o que me fez duvidar sobre os meus poderes e desejos sobre si.

O demônio caminhava, exalando uma áurea sexy e perigosa. Jimin estremeceu, mas parecia gostar. Um pequeno sorriso tímido escapou de seus lábios, não estava tão assustado como antes. O demônio achou graça.

— Quem é você? — perguntou, tentando conter o sorriso. Apesar de ainda estar um pouquinho amedrontado, já sabia de onde conhecia aquela figura.

— Quem sou eu? — O sorriso malicioso e sacana marcava os lábios finos do demônio. — Não se lembra de mim, Jimin?

— Como sabe o meu nome?

De repente, voltou a ficar assustado. Tremia tamanho era o medo que sentia. Estava cara a cara com um ser sobrenatural, aquele que só via, segundo ele mesmo, em seus sonhos. Aquele que era tão bonito que perturbava seus pensamentos.

Suas mãos apertavam cada vez mais o taco de baseball que pegara inútilmente no calor do momento na tentativa de se defender, mas nem mesmo uma arma de fogo de longa precisão acabaria com o demônio Jeon, quem dirá uma viga de madeira maciça.

— Não sei só o seu nome como também sei sua idade, de onde vem, e porque está aqui.

O sorriso profano deixado pelo demônio foi impossível não desconcertar o ruivo, que tremia ora não pelo medo, mas pela proximidade daquele ser intimidante.

— Não sei quem você é, muito menos o que quer comigo, então peço educadamente que vá embora.

Jimin estremeceu com a risada alta do ser que mais parecia um ronco de um trovão.

— Tem certeza que não sabe quem sou? Não lembra de todas as vezes que te fiz companhia quando se sentia solitário?

Park arregala os olhos. De certo aquela criatura não lhe era estranha. Como um filme, todas as vezes em que ficou paralizado por horas em frente à sua janela, fazendo contato visual com o demônio, invadiram sua mente. O olhar penetrante da criatura sobre si lhe causavam arrepios tenebrosos e estar tão perto daquele ser o deixava confuso de modo que gostava daquela aproximação.

— O que quer comigo, Jeon Jungkook? — O demônio encara o ruivo com a cabeça tombada para o lado, como se não acreditasse no que acabara de escutar. — O quê? Acha que só você é espertinho? Eu também tenho meus lances.

— Você é atrevido, Park, e isso só faz com que me atraia ainda mais por você. Eu desejo tomar sua alma, levá-lo para o inferno comigo.

Jimin não pôde segurar a risada. A essa hora, o taco de baseball já estava rolando pelo chão, enquanto o Park se contorcia de tanto galhofar.

— Acha isso engraçado, Park? — indagou atônito.

Sorrateiro, aproximou-se do ruivo sem que ele percebesse tal aproximação. Jeon almeja há tempos aquele ruivinho e tinha total certeza que naquela madrugada, 31 de Outubro, o teria.

— Estou sendo sincero, eu o quero no martírio ao meu lado. — Jimin parou sua crise de risos e encarou o ser, agora tão próximo. — Você está vestido de Drácula, apesar de eu ser o vampiro aqui, então por que não vem comigo de uma vez?

— Você não pode estar falando sério. Eu sou um mero humano! — exaltou-se. — Você se passou por um vizinho esquisitão todo esse tempo para me vigiar, fazia contato comigo todas as noites de formas macabras, eu tinha medo! Ainda tenho!

— Eu não vou machucá-lo, ratinho, sabe disso.

— Para de me chamar assim... — Abaixou a cabeça envergonhado. Um pequeno sorriso já esboçava seus lábios grossos

— Por que? Te incomoda? — Aproximou-se ainda mais do menor.

Park arrepiou-se ao sentir o demônio tão próximo a si, estava tão desconcertado que não conseguia reagir. Um beijo casto fora deixando na região entre o pescoço e o ombro do mais baixo, deixando a pele pálida extremamente arrepiada, cheia de bolinhas brancas.

As mãos grandes agarraram a cintura fina e os dedos pintados em preto, mesclando-se com a pele, apertavam toda a região, provavelmente marcando-a. O ruivo não conseguia entender como de uma hora para outra o seu maior pesadelo, o seu maior medo, estava ali em sua frente lhe apalpando. E ele estava gostando. Muito. Em um momento estava com medo, assustado, em outro estava inerte a um prazer desumano. O demônio tinha uma pegada forte e sensual, deixando o ruivo molinho em seus braços.

Cada vez que Jimin tentava se soltar daquele abraço, mais forte era a vontade de permanecer nele. Era como uma linha tênue que os ligava, juntando o bem ao mau.

Jeon encarou o rosto corado ainda confuso, mas prazeroso. Mirou os olhos pretinhos, descendo seus luzeiros até os lábios cheios. O cão desejava tanto aquele ruivo que seus instintos estavam aflorados, não controlava mais. Juntou os lábios em um ósculo quente e bruto.

A boca do diabo movia-se com volúpia enquanto a língua parecia conhecer cada mínimo detalhe da boca do arruivado. O músculo quente explorava cada cantinho da cavidade bucal do outro, deliciando-se com o gostinho doce de frutas vermelhas, consequência de um doce que de antes, movia-se ligeiro onde sua língua agora adentrava.

Uma lamúria baixinha deixou os lábios grossos ao sentir uma mordidinha em seu lábio superior. O beijo era quente, molhado. A falta de ar se fez presente para o humano enquanto o demônio continuava insaciável. Empurrando o corpo forte para frente, Jimin interrompeu aquele contato brutal.

Sua boca latejava e se encontrava ainda mais inchada, totalmente vermelha. O beijo de um demônio podia ser extremamente bruto, e Jimin constatou o óbvio.

— Não tem noção da vontade enorme que tenho de consumi-lo — o cão profanou as primeiras palavras.

— Por que escolheu-me?

— Porque você é bruto, é egocêntrico, ousado, taca o foda-se para tudo e todos. És perfeito para mim.

Park arregalou os luzeiros. As mãos fortes ainda seguravam sua cintura com gana, os dedos dedilhavam sua pele com precisão, como se quisesse o marcar e mostrar para todos a marca avermelhada e gritar "é todo meu!"

— Acha mesmo que vou me entregar a um demônio?

Jeon arqueou uma de suas sobrancelhas bem desenhadas. A ousadia do Park acabava com sua postura de malvadão.

— Acho. Sabe por quê? — Apertou ainda mais forte a cintura fininha, juntando os corpos mais ainda. — Porque você se derrete em meus braços, e seu eu for embora, você vai clamar para que eu volte.

— Que demônio convencido. — Um risinho escapou-lhe a garganta. — Não teria tanta certeza se fosse você.

Em resposta, o cão somente grudou os lábios novamente. Jimin poderia negar o quanto quisesse, mas era o diabo a quem pertencia. Sempre fora assim, estavam destinados.

O ósculo era cada vez mais ardente, o ruivo se perdia em toda aquela profanação. Fingia que não, mas gostava, e muito.

As mãos não paravam quietas, tocavam ambos os corpos sem pudor algum. Sozinhos no meio de uma estrada deserta, todas as pessoas petrificadas, e a Califórnia inteira congelada. Era uma loucura.

— Seja minha Perséfone.

Sussurrou o demônio atônito, perdido em suspiros apaixonados.

"O demônio não ama"

Já deves ter ouvido esta frase, mas o demônio ama, e ama muito.

— Então você é Hades?

Sorriu fraquinho, transformando seus olhos miúdos em duas listrinhas adoráveis.

— Sou o demônio, o cão profano. O pai da mentira e o príncipe do inferno, condenado a viver no martírio pela eternidade pelo Deus adorado por muitos. Sou satanás, Hades, o todo poderoso.

— Hades é um vampiro? — Sorriu travesso.

— Sou o que quiser que eu seja.

Jimin ponderou um pouco, mas logo encarou o demônio e sussurrou:

— Então também serei o que quiser.

Jeon o olhou sorridente. O ruivo já imaginava a resposta do ser tenebroso, mas não temeu.

— Quero que seja minha Perséfone. Que comanda um império ao meu lado.

Aquela afirmação foi muito além do que o Park pudera imaginar. Estava sem palavras e não sabia como responder o senhor do inferno.

Encarou o nada pensativo. Pensou em tudo o que deixaria para trás ao fazer aquela escolha enquanto encarava o céu.

— Tenho uma vida aqui. Meu amigos... Meus pais... O Taehyung.

— Sei que tem, por isso essa escolha só depende unicamente de você.

Jimin sorriu e pensou mais um pouquinho. Lembrou de Taehyung e de como o amava, de todas as loucuras que faziam juntos e de como o melhor amigo o chamava de rabugento. Lembrou de seus pais, que viviam mortos de saudades na Coréia, do quanto que os amavam.

Não entendia como, mas tinha uma conexão forte com o demônio. Assim que o viu, sentiu isso. Mirou os luzeiros na face bela e sorriu:

— Eu irei. Irei com você.

Jeon suspirou e juntou as bocas novamente. Puxava Jimin para si, colando ainda mais os corpos, duvidando da lei da gravidade.

Passava a língua quente pelos lábios do ruivo e descia beijinhos molhados por todo o pescoço imaculado. Ah, ele iria adorar marcar aquela pele tão alva.

— Mas não agora, ainda preciso ir ao show da Miley Cyrus com o Tae... Espera, o Taehyung! — Arregalou os lumes ao lembrar de como abandonou o amigo congelado e adormecido no meio do nada.

— Não se preocupe, ele e todos os outros já estão seguros em suas casas em sono profundo. Ao raiar do dia, nem lembraram do que aconteceu.

SETE ANOS TERRESTRES

O martírio, agora, era comandado por dois demônios extremamente poderosos. As almas acalentadas que lá viviam clamavam ao seus soberanos, lágrimas de sangue escorriam de seus olhos e correntes prendiam seus pescoços às paredes de pedras obsidiana.

À frente estava Jeon Jungkook e, agora, Jeon Jimin, postos em seus tronos esculpidos com pedras preciosas, feitos completamente de quartzos.

As vestimentas totalmente escuras, uma túnica longa preta moldava o corpo do ruivo, uma manta que ia até os pés, juntamente de sapatos Balenciaga, também pretos modelavam todo o corpo escultural do Jeon.

Os soberanos encaram os seres que gritavam angustiados a mesma frase repetidamente: és somente e unicamente os nossos senhores. Oh, louvai aos santíssimos e eternos demônios.

— Que entediante — proferiu Jungkook, encarando os seres despidos proclamarem sem pausa. — Parece não se cansar.

— Eles os adoram, ó, poderosíssimo Hades!

Jeon não pôde segurar a risada do humor quebrado de sua Perséfone.

— Os mandarei todos para o abismo se isso for fazer a minha paz eterna prevalecer ao lado do meu ratinho predileto.

FIM

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