You Love I.mp3

Wendy dava mais uma volta em frente ao espelho, esbanjando elegância enquanto a bainha do vestido deslizava pelo chão.

— Esse está ótimo, não acham? — perguntou para as mulheres ao seu redor que a olhavam com o olhar avaliador que só uma casamenteira de carteirinha possuía.

Amanda foi a primeira a falar:

— Não sei, está muito longo para o meu gosto... prefiro algo mais moderno — disse sua cunhada.

Olhou para sua sogra. Ela a fitava com um sorriso de ponta a ponta que confirmava que estava aprovada.

— Está perfeito! Sério, se melhorar estraga... — disse Tanda com indícios de lágrimas nos olhos.

Wendy foi ao seu encontro e a deu um abraço confortante.

— Nem acredito que meu filho vai finalmente casar... e ainda mais sabendo que encontrou a mulher perfeita. — Lágrimas quentes escorriam por sua face.

Wendy a olhou.

— E você a sogra perfeita, eu não poderia pedir por algo melhor.

As outras duas mulheres olhavam para a cena revirando os olhos.

— Gente é só um casamento, não algum tipo de ato revolucionário ou heróico — disse Ana sarcasticamente.

Tanda recobrou a postura e ralhou com suas duas filhas.

— E vocês não soltem um piu pois só me trazem desgosto. Você, Ana, até hoje não arrumou um emprego ou marido e ainda vive na casa dos seus pais, deveria sentir vergonha! Já Amanda, nem preciso começar a falar sobre o Caleb...

— Eu já disse que ele vai arrumar um emprego, só precisa de um empurrãozinho para iniciar o seu negócio, ele me disse...

— E ainda por cima acredita nas mentiras desse encostado. Não sei até quando você pretende sustentar esse vagabundo.

— Chega mãe! — Amanda elevou o tom de voz. — Vamos voltar ao casamento ao invés de prolongar mais uma discussão interminável.

Wendy olhava para tudo atônita.

— Ah, desculpe Wendy. Não deveriamos ter começado essa discussão boba justo nesse dia.

— Tudo bem, eu entendo.

— E vocês duas, melhor ficarem de bico calado caso não tenham nada melhor para falar. — Ela deu um olhar mortal as duas filhas.

Após estar certa de ter escolhido o vestido ideal, foram ao balcão da loja pagar. Em seguida, saíram para o estacionamento e partiram de carro rumo a casa de Tanda.

***

Chegaram a casa da família.

A casa era de um tamanho relativamente grande conparada as outras da vizinhança. Por dentro, cercada por um muro de cercas cor de azeviche, havia um jardim floral e uma respeitável varanda que dava acesso a porta da casa.

Entraram na casa.

Ao chegar na casa, Wendy se sente oprimida em meio ao tanto de rostos desconhecidos.

Haviam marcado um almoço comemorativo. A família de Phillip inteira havia feito uma visita antes do casório para dar os parabéns adiantados aos noivos. Era tanta gente que de repente indagara-se se a igreja seria o suficiente para abrigar a todos.

Forçando um sorriso simpático, se juntou aos demais parentes que trocavam conversas.

— Wendy querida, que prazer em conhece-lá — disse uma senhora com chapéu de plumas enquanto caminhava em sua direção para trocar abraços.

Respondeu ao abraço.

— O prazer é todo meu, já provaram os bolos de limão da Tanda? — disse. Fez um sinal para Ana que levava pedaços de bolo de um lado para o outro. — São de outro mundo.

Ana serviu pedaços de bolos para as senhoras que rasgavam elogios enquanto comiam.

Pegou um pedaço e comeu.

O glacê e chantilly, em conjunto com o sabor de limão, davam um toque especial ao sabor da massa. Limpou o resto de glacê em seus lábios e continuou jogando conversa fora.

Ficara sabendo que as mulheres com quem conversava eram primas da senhora Tanda e a encheram de perguntas a respeito de sua família e seus parentes. Também ficou sabendo de fofocas a respeito de Phillip em relação as suas manias nojentas de roer os dedos das unhas, o que a fara soltar um riso singelo.

Após alguns momentos trocando de roda e roda, procurando manter contato com todos ali, a porta se abrira informando que Philip havia chegado. Ao seu lado estava um homem que conhecia apenas de fotos, era seu cunhado.

Tanda bateu em uma taça de vidro com uma colher.

— Atenção... atenção, todos em silêncio, o noivo acabou de chegar.

A atenção de todos dirigiu-se para os dois irmãos parados na porta.

Wendy abriu espaço e deu um beijo em Phillip e o abraçou.

— Sempre escandalosa não é mãe — disse ele repreendendo a mãe.

— Ah, vamos lá, deixa de enrolar e vai logo ao ponto.

Ele endireitou-se.

— Queria agradecer a todos pela presença... E gostaria de anunciar que os preparativos para os casamento estão todos confirmados! — informou de forma com a qual todos ouvissem. — Já reservei a igreja e, amanhã, eu e Wendy visitaremos a casa recomendada pelo consultor. Se tudo der certo daqui a dois dias estaremos nos casando.

Um salva de palmas ressoa pelo lugar. Wendy olhou para ele com indícios de lágrimas em seus olhos.

— O almoço já está pronto — anunciou Tanda.

Todos se dirigiram para o quintal da casa, no qual havia uma grande mesa com cadeiras reservadas para todos membros da família. Sobre a mesa, um longo pano quadriculado com o que seria a refeição do dia.

Esperou a casa diminuir o fluxo de gente para conversar com seu marido.

— A casa é realmente boa? Para mim você pode falar a verdade.

— Sim. Não poderia ser mais perfeita, você deveria ver. Com piscina, jardim e uma varanda com uma tremenda vista.

O homem ao lado tossiu chamando a atenção para si.

— Ah, desculpe não apresentar vocês! Esse é meu irmão, Cassin.

Wendy analisou bem o homem. Havia conhecido o irmão apenas por foto. Pelo que havia ouvido sobre ele, parecia viver em um barco e levar a vida como um pescador ou algo do tipo.

— Prazer em conhecer-la — disse ele a abraçando. — Meu irmãozinho me falou muito sobre você, mas parece mais bonita ainda a cores.

De repente ficou vermelha.

— Cassin, você não muda nunca! Não dá folga nem para uma mulher comprometida. — Os dois riram.

Wendy achou estranho o fato de Phillip não ter ficado com raiva com o elogio-quase-flerte, mas deveria ser coisas de irmãos.

— Soube que você mora em um barco... — entrou na conversa.

— Sim, nada como a vida ao alto mar. A melhor coisa que fiz foi vender minha casa e comprar a minha companheira de vida.

Phillip balançou a cabeça.

— Sempre vou achar isso uma loucura. Trocar a estabilidade de uma casa própria e um emprego em uma renomada empresa para virar pescador...

— Você não sabe aproveitar as coisas boas da vida, irmão. Tudo isso é passageiro, sou adepto da filosofia de vida em não me apegar a convenções sociais.

Wendy se surpreendeu com a sinceridade do homem. Lagar tudo para viver em alto mar parecia como uma loucura, mas ao mesmo tempo não podia deixar de imaginar a excitação que idéia a dava.

Após a conversa foram se sentar na mesa com os demais.

***

Ao fim do almoço conversas romperam ao redor da mesa.

Wendy olhou para Cassin que se sentara ao seu lado e não pode evitar perguntar.

— Então... Como é a vida em alto mar?

— Não existe sensação melhor no mundo do que a de navegar na infinidade dos oceanos, sentir como se estivesse um mundo só para você e longe das preocupações mundanas.

— Mas você... Como posso dizer, você não sente falta dos confortos proporcionados pela sociedade moderna?

Ele arqueou as sombrancelhas.

— Isso depende muito do quanto o indivíduo preza pelos bens materiais em detrimento da felicidade da alma.

— Não consigo entender.

— Você se sente feliz ao lado do meu irmão, não é mesmo?

— Sim...

— E você realmente ama ele, não ama?

Aquela pergunta havia a pegado de supresa. Se estava feliz ao lado dele é óbvio que ela o amava.

— Não liga para ele, meu irmão nunca fala coisa com coisa — é surpreendida pela voz de Ana que a olhava sorrindo

Agradeceu pela interrupção porque não precisaria responder a pergunta. Porém aquela questão não deixaria de rondar sua cabeça.

***

A noite, enquanto penteava seus cabelos na penteadeira do seu quarto não deixava de remoer a pergunta levantada por Cassin.

"Mas você realmente ama ele, não ama?"

É claro que amava! Se não amasse, não estaria casando com ele...

— Você está pensativa.

Olhou para sua cama. Phillip havia retirado sua atenção do livro que lia e a olhava.

— Nada... Só um pouco nervosa por causa da casa.

Foi se deitar ao seu lado na cama.

— Não precisa se preocupar, tenho certeza que você vai amar.

Continuou acordada pensando na vida até decidir dormir.

Na manhã do próximo dia, o penúltimo antes do dia do casamento, foram ver a casa de que Phillip falara.

Era uma casa de porte médio, com piscina e uma varanda requintada. Seu jardim era cercado por coloridas cercas e havia até um parquinho que poderia ser útil para seus futuros filhos.

O lugar era tão esteticamente agradável ao olhar que temeu, ao entrar, acabar com o encanto. O interior era esplêndido, com três quartos, cozinha mobiliada e uma agradável sala de estar.

Enquanto passava a mão pelo corrimão da escada, porém, não parecia tão animada quanto deveria estar.

De repente, imaginou como seria a sensação dos ventos marítimos ao encontro com os seus cabelos.

Despertou do transe e voltou ao mundo real.

— E ai, o que achou?

— Bom... eu acho.

Phillip a olhou decepcionado.

— Se você não gostou nós poderemos trocar...

— Não, esse está perfeito, é só a pressão do casamento agindo. Juro, essa é a casa.

Forçou um sorriso.

Na noite daquele dia, enquanto Phillip saía com seus amigos em sua despedida de solteiro, Wendy deitava sobre sua cama ainda mergulhada em pensamentos. Concluiu que aquilo não resultaria em nada e simplesmente não poderia continuar com aquela dúvida na cabeça. A maldita pergunta.

Levantou de sua cama, pegou o carro de Phillip na garagem e dirigiu pelas ruas noturnas em direção ao porto marítimo.

***

Não fora difícil localizar ao barco que atendia pelo nome de Queen's Majesty. Ao chegar perto do local onde estava ancorado, respirou fundo e pulou para dentro.

Caminhou pela convés até subir na sala de comando. Ao chegar perto da janela de vidro fez uma sinal para Cassin que a olhou espantado.

— Wendy... O que você está fazendo aqui?

Ele saiu da sala de comando e fora para ponta do barco na qual Wendy se encontrava.

— Vim falar com você...

Wendy se apoiou nas barras de apoio de ferro e olhou o horizonte. Era uma noite agitada, as águas estavam violentas e os ventos sopravam com intensidade.

Cassin também se posicionou de modo a admirar o horizonte.

— O que você queria dizer quando fez aquela pergunta?

— Qual pergunta? Eu faço muitas...

— Você perguntou se eu realmente amava o Phillip logo após eu afirmar que era feliz ao seu lado.

— Foi só uma pegadinha. Existem pessoas que conseguem ser felizes quando se agarram a um bem material e pálpavel. E existem pessoas que encontram a felicidade na liberdade e no incerto como eu... e como você.

O olhou espantada ao ser mencionada.

— Mas eu não sou como você.

— Ah você é sim, Wendy, senão não estaria aqui nesse exato momento.

Não respondeu nada.

— Você deve estar se indagando mentalmente se é realmente feliz ou se apenas têm uma ilusão de felicidade baseada em senso comum. Você não obterá essa resposta de mim, pois isso é uma questão pessoal que só poderá descobrir sozinha.

Olhou para ele. Reparou que em nenhum momento ele lançará um olhar para ela.

— E então, que tal um passeio em alto mar? — disse ele, dessa vez a olhando.

Concorda com a cabeça.

Cassin se dirigiu para a sala de comando e navegou o barco para o meio da agitada baia marítima.

Wendy olhava para as luzes da cidade que desapareciam conforme o barco se afastava do porto e adentrava a escuridão afogante. Por um momento, se sentiu desconectada da civilização e das responsabilidades. Todas as preocupações se esvaziavam junto com o ritmo das ondas.

Aquela noite fora realmente feliz.

***

Olhava-se novamente vestindo aquele esplêndido vestido.

— Você está bem, querida? — perguntou a senhora Tanda. — Parece pensativa enquanto olha para nós.

— Nada não. Apenas nervosismo.

— Fique bem. Nós estaremos indo para igreja, aguardando a sua chegada na limousine. Tenho certeza que tudo será perfeito.

Então era isso.

Estava perto do tão esperado momento do matrimônio. Mas as memórias daquele noite não paravam de a atormentar.

"Você é realmente feliz?"

Ao entrar na limousine, o motorista dirigiu até chegarem na igreja. Podia ver do vidro todas as pessoas deslumbrantes. O homem a conduziu para fora. Em seguida, fora seu pai a acompanhar-la pelo longo tapete vermelho até onde seu noivo e o padre aguardavam. Durante a caminhada seus olhos cruzaram brevemente com os de Cassin, mas fez um esforço para desviar a atenção.

Ao chegar perto do palanque, olhou para seu marido por entre o véu e sorriu.

O padre começou a discursar.

— Eu aceito — disse Phillip após a benção do padre.

— Eu aceito — respondeu.

E assim trocaram um beijo. Um beijo frio.

***

— E quando foi que tudo aconteceu? — perguntou friamente Phillip.

Wendy enxugou as lágrimas.

— Ontem.

— E você está arrependida?

Não respondeu.

— Ainda por cima com o meu irmão, você é uma... — ele não terminou antes de deixar o quarto com uma forte batida.

Wendy pegou uma garrafa de champagne e derramou uma grande quantidade na taça.

Não sabia se havia acontecido uma lua de mel mais desastrosa que a sua mas, por incrível que pareça, não sentia remorso de nada que havia feito.

Bebeu uma boa dose de champagne e começou a rir sozinha.

Então imaginou como seria sua vida em alto mar.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top