Três

__ Estudaram para a prova de química? __ Fabi, perguntou no corredor, enquanto estávamos indo para a sala de aula.

Engoli em seco e olhei para a minha amiga com aquela cara que ela já sabia qual era a resposta.

Garanti a Fabi, que eu tinha sim a intenção de estudar e que havia planejado fazer isso a noite depois do treino. Porém, quando cheguei em casa minha mãe estava se arrumando para ir fazer a caminhada dela e eu resolvi ir junto para tomar um ar e desestressar. Uma vez que eu estava bem estressada devido a confusão com o treinador Guedes. Quando chegamos da caminhada eu estava super cansada, tomei um banho, comi alguma coisa e dormi.

__ Você e esse seu hábito de procrastinar __ Fabi,
murmurou.

__ Eu nem sabia que hoje tinha prova __ Alegou, Lari olhando suas unhas grandes de gel. Lari nunca sabia de nada relacionado a escola.

__ Eu avisei no grupo __ Rebateu, Fabi

Eu não era estudiosa, mas me preocupava nem que fosse com 5% dos estudos e das matérias. As minhas notas podiam ser melhores, mas ainda sim superavam as da Larissa que só tirava nota vermelha. Lari só tinha duas preocupações na vida: sua aparência e garotos.

Não era nem sete da manhã e ela estava com a cara cheia de pó, blush e bastante gloss nos lábios. Seus cílios eram grandes e volumosos graças a extensão. Se não fosse obrigatório usar uniformes, provavelmente Larissa iria vestida como roupas inadequadas e reveladoras.

Bruna, se preocupava um pouco mais com as notas. Ela disse que não havia revisado toda a matéria, mas que estudou por uns trinta minutos ou menos.

__ Bom, então vocês não venham reclamar se forem reprovadas no final do ano __ Dito isso, Fabi saiu andando na nossa frente.

Fabi era um enciclopédia ambulante e esperava que suas amigas também fossem. Essa cobrança e pressão sobre nós, era meio chato as vezes. Mas eu entendia que minha amiga só estava preocupada e queria que nós quatro passeássemos de ano para não ter que nos separar no próximo ano. Esse era o nosso trato desde o começo do 1º ano. Na verdade, eu, Lari e Bruna, pedimos para Fabi ficar no nosso pé até a formatura.

__ Ela ficou mesmo irritada porque não somos nerds como ela? __ Lari, indagou rindo, eu e Bruna também não conseguimos segurar a risada.

Fabi não tinha nenhuma aparência de nerd. Na verdade, era muito bonita e se vestia muito bem. Mantinha seu cabelo ruivo, o que eu acho que super combinava e o corte realçava ainda mais. A mãe dela era dona de um salão de beleza, por isso o seu cabelo estava sempre bem cuidado e hidratado. Seus olhos eram claros e ela usava um óculos grande com armação transparente de vez enquanto.

Os garotos viviam atrás de Fabi, entretanto, ela não dava bola para nenhum. Seu foco era os estudos e o currículo para a universidade. Ao seu ver, namoro era uma perda de tempo e só atrapalharia as suas metas.


No intervalo, vi que Beto havia postado uma foto. Eu curti, depois fiquei olhando ela e suspirando fundo por alguns instantes. Eu e minhas amigas estávamos do lado de fora do refeitório. Lá tinha algumas mesinhas e bancos redondos feitos de concreto. Gostávamos sempre de sentar perto da árvore.

__ Cuidado com a baba caindo aí no seu lanche __ Bruna, comentou com sarcasmo, abrindo a sua caixinha de suco.

Acordei do meu devaneio e limpei minha boca, mesmo ciente de que era só uma piada. Eu não estava babando vendo a foto do Beto.

__ Deixa eu imaginar, o crush postou uma foto? __ Lari, quis saber.

__ Aí gente, ele é tão lindo __ Virei a tela do celular para que elas também pudessem admirar a foto.

__ É, ele é sim muito lindo. Mas não está solteiro e nem disponível para você __ Bruna, era uma estraga prazer.

Fiz careta sem me importar de estar agindo como uma criança.

__ Me deixa pelo menos sonhar, ok?

__ Mas o Beto não é o único interessante da banda. Aquele Carlinhos também é uma gracinha e tem um charme ... __ Larissa disse, com um sorriso maroto.

__ Todos eles __ Asseguro, Bruna.

__ Você tem mesmo é muita sorte. Tenho inveja de você Jú __ Larissa, empurrou o meu ombro e virou a cabeça para o outro lado, encenando estar mesmo contrariada com o privilégio que tinha de ficar perto dos garotos da Side Effect, e mais ainda, ter uma certa amizade com eles.


Quando cheguei da escola, meu irmão disse que a banda tocaria em uma festa de debutante na sexta a noite. A side Effect estava mesmo ficando popular.
Quando me perguntou se eu queria ir, fiquei surpresa, não estava esperando o convite. Mas claro que não perderia a oportunidade de ver o show. É verdade que seria um pouco estranho por eu não conhecer a debutante, nem a família e nem os amigos dela. Tudo isso me lembrou que eu precisava de um vestido novo.

A luz da sala estava apagada, a tv ligada no volume mais baixo e minha mãe estava no sofá lendo um romance. Cheguei de mansinho por trás do sofá, a observei por um instante, ela estava muito concentrada na sua leitura, no entanto, tenho certeza de que já tinha notado a minha presença.

Para quebrar o silêncio perguntei se não era melhor desligar a tv, já que minha mãe não estava assistindo, mas ela disse que gostava de ler só com a claridade da tv. Assenti. Dei mais alguns passos e me sentei na ponta do sofá.

__ É um livro novo? __ Perguntei, olhando a capa.

Minha mãe percebeu que eu não estava ali atoa, ela respirou fundo, provavelmente lamentando ter que interromper a sua leitura, colocou os óculos de descanso no topo da cabeça, cruzou os braços na frente dos seios e me olhou com aquela cara:

__ Do que você precisa dona Júlia Rodrigues?

__ Os meninos vão tocar em um festa de debutantes na sexta, sabia disso?

__ Sabia sim, e?

Estiquei os braços na frente das pernas, juntei as mãos, olhei para minha mãe com um sorrisinho e pisquei algumas vezes .

__ Já entendi, você precisa de um vestido novo para ir na festa

__ Isso! __ Vibrei. Era tão empolgante quando minha mãe sabia exatamente o que eu estava pensando só pelos olhares, sem precisar de eu ter que dizer.

__ Mas você foi convidada pelo menos ? ___ Minha mãe quis saber, fechando o livro e se sentando.

Disse que tinha sido convidada pelo Guto, mas não pela debutante. Minha mãe ficou um pouco receosa e com medo de eu passar vergonha por entrar de penetra na festa de uma pessoa que eu nem conhecia. Porém fontes da minha cabeça me dizia que eu tinha todo direito de entrar, uma vez que o meu irmão era um dos integrantes da banda. Embora eu mesma não fizesse parte dela.

__ Então nós vamos às compras? __ Eu quis saber, cheia de expectativas, me sentando ainda mais perto dela.

__ Só vamos comprar um vestido para você ir nessa tal festa __ Minha mãe protestou, levantando o dedo. A sua voz e sua expressão facial demonstrava que ela não estava brincando e que seria apenas um único vestido mesmo. 

Concordei, disse que para mim estava perfeito, afinal só tinha um corpo e só precisava de um vestido. Me levantei, dei um abraço forte nela e disse que podia voltar a ler as páginas do seu romance, que eu não a interromperia novamente.

Fui para o meu quarto contar a novidade para as minhas amigas e elas choraram por que também queriam ir ver o show. Lari e Bruna , disseram que invadiria a festa. Também contei que minha mãe me levaria para comprar um vestido novo e elas me questionaram por que eu tinha chamado a minha mãe ao invés de chamar elas para irmos ao shopping. 

A verdade é que amava fazer compras com a minha mãe. Só confiava nas opniões dela na hora de escolher roupas, sapatos e acessórios. Honestamente, gostava mais de sair com a minha mãe do que com as meninas da minha idade.Além do mais estes eram os momentos perfeitos para termos conversar mais sérias. Mas ainda não tinha tido coragem o suficiente para falar  sobre eu estar afim de um dos melhores amigos do meu irmão.

Deveria ser quase onze da noite, estava na minha cama, escorada na cabeceira, apenas com a luz do abajur acesa, com o celular na mão, aberto no perfil de WhatsApp do Beto. Fazia isso quase sempre.
Tinha uma vontade de louca de mandar uma mensagem para o garoto e me perguntava o que aconteceria.

Nunca conversamos por mensagem. Teve uma vez que ele me ligou, mas foi só para perguntar sobre o meu irmão. A ligação durou menos de um minuto, então não contava. Tinha por mim que iniciar uma conversa por mensagem era o primeiro passo para nos conhecermos melhor e ficarmos próximos.  Entretanto, já ia fazer quase um ano que eu estava tentando adquirir coragem para tomar essa atitude.

Diante da tela do celular, podia sentir o meu coração pulando dentro de mim, como se estivesse prestes a sair.  As mãos suavam e um frio corria pela espinha. Enchi o peito de ar e digitei um: Oi. Mas precisei de um pouco mais de tempo para conseguir tocar no botão enviar.

Ficava pensando em como seria muito, muito vergonhoso se Roberto ignorasse e não respondesse.
Ou se ele me achasse ousada demais ou uma demente. Milhões de cenários constrangedores se passaram pela minha cabeça quase me fazendo desistir de ir em frente. Ainda nem tinha enviado a mensagem e já estava quase tendo um treco.

__ Se não for agora, não vai ser nunca mais __ Disse baixinho, fechando os olhos e apertando no botão enviar. Acho que meu coração parou por um segundo, as minhas mãos ficaram geladas e o meu corpo tremia todinho por dentro.

Abri os olhos lentamente e quase não acreditei que tinha mesmo feito aquilo. Enviado uma mensagem para Beto. Engoli em seco. Agora não tinha mais como voltar atrás. Fiquei em desespero. Bloqueei o celular rapidamente o joguei para o lado e me escondi debaixo do cobertor, igual a uma borboleta no casulo.  No fundo, não tinha tanta esperança que ele ao menos responderia. Beto poderia simplesmente ignorar, igual ignorava mensagens das novas fãs.  Mas, daí, algo inesperado aconteceu. Um minuto depois, uma notificação chegou me fazendo tremer bem mais.

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