Sete

__ O que você trouxe, irmão? __ Perguntei, meus olhos brilhando ao ver a mesa farta.

__ Muita coisa. Hambúrgueres, batata frita, cebola empanada... ... Guto, colocou algumas garrafas de cerveja sobre a mesa e duas latinhas de refri __ Os refri são para você. Álcool só quando estiver na casa dos trinta __ Brincou Guto, eu o encarei com os olhos semi errados e ele fez uma careta infantil.

Os meninos se aglomeraram ao redor da mesa, vorazes, devorando cada mordida com uma fome louca. Risadas e conversas animadas encheram o ar. Enquanto isso, eu me esquivei, refri e batatas em mãos, em direção ao parapeito. O sofá floral e as almofadas laranja convidavam ao descanso. Daquela altura, a cidade se estendia diante de mim, um espetáculo deslumbrante. Eu amava a vista de lá de cima.  Naquela tarde, o sol se despedia, deixando o céu com tons de laranja, e o vento suave acariciava meu cabelo, fazendo algumas mechas dançarem. Me senti envolvida pela serenidade daquele momento.

Sentada no sofá, um sorriso bobo se espalhou por meus lábios. Aquele era o meu lugar favorito do mundo. Com a banda reunida, a casa ganhava vida. Adorava observá-los, cada um com sua personalidade única. Guto, com seu carisma inegável; Carlinhos, com seu humor sarcástico; Nick, com sua calma contagiante; e Beto, com sua energia juvenil. A discussão sobre quem era o favorito das fãs era apenas mais um pretexto para se divertirem. Era como se o tempo parasse quando estávamos juntos. Levantei o celular e comecei a gravar. Carlinhos percebeu, esboçou um sorriso travesso e veio na minha direção.

__ Te peguei no flagra __ disse ele, apontando para o meu celular.

Sorri, tentando parecer descontraída.

__ É, você me pegou __ respondi, jogando o celular no sofá.

__ Posso saber porque estava me filmando? __ Provocou ao se sentar do meu lado, se inclinando para mais perto de mim.

__ Gravando você? Não mesmo. Eu estava gravando todos e não só você __ Afirmei, depois de soltar uma risada irônica.

Carlinhos me encarou, os olhos cintilando de desafio.

__ Acho que você está mentindo __ disse ele coçando o queixo e com um sorriso ladino.

__ Ah, é? E por que eu estaria mentindo?

__ Porque você não quer que eu descubra que você estava me gravando. Mas tudo bem, eu sei que sou o seu preferido e que você não resiste a esses cachos dourados __ completou, piscando para mim ao mesmo tempo que fazia um movimento com a cabeça.

Não pude conter a gargalhada.

__ O meu preferido? Você é mesmo muito convencido!

Carlinhos continuou com suas gracinhas para me divertir. Ele era um dos garotos mais legais da banda e precisava admitir isso.

Ao olhar para frente em um determinado momento, meu olhar encontrou Beto, imóvel, escorado em uma parede, com os braços cruzados e as mãos enfiadas nos bolsos. Sua expressão, antes radiante, agora refletia descontentamento.  Carlinhos lançou um olhar fugaz em sua direção, mas desviou rapidamente, como se ignorasse a tensão que envolvia Beto. O ar parecia vibrar com emoções não ditas.

Carlinhos estendeu a mão, tocando uma mecha do meu cabelo. 

__ Seu cabelo também é muito bonito, sabia? __ Seu toque me pegou de surpresa e me fez estremecer.

__ Obrigada, __ murmurei, forçando um sorriso, sentindo meu rosto aquecer.

Meus olhos buscaram Beto novamente, mas ele havia sumido. Olhei para todos os cantos, ansiosa.

__ Procurando alguém? __ Carlinhos perguntou, virando-se para trás, inspecionando o local.

Neguei rapidamente, escondendo minha preocupação.

__ Não, não. Estou bem __ Um sorriso falso selou minha mentira, enquanto eu ajeitava meu cabelo atrás da orelha, tentando ocultar meu desconforto.

Encontrei uma desculpa rápida para escapar da companhia de Carlinhos, dizendo que ia ao banheiro.  Ao atravessar a cozinha, um som inesperado me gelou: uma voz feminina, ecoando de uma chamada de vídeo. Caminhei com passos lentos até a sala e meu olhar encontrou Roberto no sofá, com celular em frente ao rosto, conversando com a sua namorada. Alice. Meu coração se apertou como se uma mão invisível o estivesse espremendo. Engoli em seco, sentindo um nó na garganta.  Minha consciência duelava com meus sentimentos. Eu não tinha o direito de me sentir daquele jeito, no entanto, a dor da realidade era difícil de lidar. Eu não era a garota de Beto e queria ser. 

Desejei desaparecer, me tornar invisível para evitar o constrangimento. Respirei fundo, reunindo coragem para cruzar a sala sem ser notada.

__ Tem uma garotinha passando atrás de você __ Alice disse, sua voz suave ecoando pelo celular.

Um arrepio percorreu minha espinha. Paralisei, não sabia o que fazer em seguida. Olhei para a tela e vi Alice, cabelo castanho preso, vestida com um top de academia. Suas palavras me feriram. Garotinha? Eu não era uma criança. Beto se virou, surpreso, e nossos olhares se encontraram. Seu rosto se iluminou com um sorriso forçado.

__ Ah, essa é Júlia, irmã mais nova do Guto. O baterista, lembra?

Para disfarçar meu desconforto, esbocei um sorriso e me aproximei do sofá onde ele estava, tomando assim um espaço na câmera.

__ Que linda, amei os cachos! __ Alice exclamou, surpreendendo-me com seu elogio genuíno. Era a segunda pessoa a falar do meu cabelo.

Roberto ergueu os olhos e nosso olhar se cruzou por um breve instante. Senti um calafrio. Ignorando a sensação, sorri e agradeci Alice.

__ Quantos anos você tem, Júlia?__ Ela perguntou, curiosa.

__ Tenho dezesseis __ respondi, minha voz tremendo levemente. A pergunta me fez sentir vulnerável.  Perto de Alice, que tinha vinte e três e era uma universitária, a minha pouca idade parecia uma deficiência.  Eu me senti pequena, uma garotinha mesmo.

__ Tão nova! __ Alice exclamou, com um sorriso melancólico, __ Saudades dos meus dezesseis...

Minha autoestima vacilou. Me senti jovem e inexperiente diante deles, já era desconfortável e ainda por cima, Beto não disse nada, mas seu silêncio foi mais eloquente que qualquer palavra. Seu olhar parecia confirmar as dúvidas que eu mesma tinha sobre minha maturidade.

Após responder mais algumas perguntas de Alice como, por exemplo, como estava indo às coisas na escola, o que eu estava achando do sucesso que a banda Side Effect estava ganhando, dizer para ela que eu fazia parte do time de futebol feminino e ouvir um pouco sobre a sua vida de universitária na Alemanha, eu finalmente pude sair dali e correr para o banheiro.

Tranquei a porta e as lágrimas silenciosas fluíram, incontroláveis. Diante do espelho, encarei meu reflexo: um rosto jovem, um corpo em desenvolvimento. Uma mistura de raiva e tristeza tomou conta de mim. Por que não podia ser como Alice Vaz? Elegante, simpática, experiente e segura.

Nossa primeira conversa revelou uma verdade cruel: eu era apenas uma adolescente sem grandes conquistas. A dor que me consumia era agônica, um vazio difícil de preencher. Enxuguei as lágrimas com lenços, tentando aliviar o olhar vermelho e inchado. Nesse momento, alguém bateu na porta do banheiro.









                                            🎵


Olá, como vai?  Primeiramente obrigada por ler esse capítulo! Espero que tenha gostado e gostaria muito de saber o que está achando da história até aqui.

Também gostaria de dizer que aos poucos estou revisando os capítulos já publicados para tornar a leitura melhor.

Espero te encontrar no próximo capítulo!

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