Cinco


Foi uma noite incrível. Eu e meu irmão chegamos em casa quase três da manhã. Nossa missão era entrar silenciosamente, evitando o sermão da minha mãe. Mas o universo não quis contribuir com dois jovens.

Mal saímos do carro as luzes da frente começaram a piscar sem parar e o alarme disparou do nada, ecoando pelo estacionamento. O som estridente quebrou o silêncio noturno, fazendo-nos congelar.

__ Aí merda! __ Guto, nervoso e desesperado procurou pelas chaves no bolso da calça.

__ Desliga isso logo, vai acordar os vizinhos e a nossa mãe também! __ Sussurei, impaciente, como se isso fosse acelerar o processo.

Estava frio lá fora e como não havia levado nenhum casaco estava sentido meus pelos dos braços arrepiarem e esse era mais um dos motivos para querer entrar logo em casa.

__ Eu estou pegando o controle não está vendo?

Meu irmão tentou desativar o alarme, enquanto eu olhava em volta, coçando a cabeça, mordendo os lábios e preocupada. A cada segundo, o barulho parecia mais ensurdecedor. Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, o silêncio voltou. Mas era tarde demais. Em alguns apartamentos a luz já havia acedido com todo aquele tumulto. Sem dúvida, isso seria motivo de reclamação na próxima reunião com todos os moradores e o síndico. As pessoas daquele condomínio não deixavam passar uma!

Pegamos o elevador. Me escorei na parede do espelho e os meus olhos começaram a pesar de sono. Antes de destrancar a porta do apartamento, meu irmão se virou para mim e disse com a voz baixa que era para fazer silêncio. Confirmei com a cabeça enquanto bocejava.

A porta se abriu devagar e só víamos uma tela preta na nossa frente. As luzes todas apagadas. Como não estava vendo nada direito, imaginei Guto atravessando a sala, mas ele ainda estava bem perto de mim e quando dei um passo para frente, tropecei no seu pé. Perdi todo o equilíbrio, sai arrastando a mesa de centro de madeira, daí minha mão bateu no enfeite de flor, o pequeno vaso de cerâmica caiu no chão e começou a rolar pelo piso do chão fazendo o maior barulho. Os vizinhos do andar de baixo com certeza deveriam estar bem irritados pensando que éramos loucos de estar trocando os móveis de lugar em plena madrugada.

Não era para ser uma situação engraçada, mas o meu irmão não conseguiu se segurar e começou a rir. No começo fiquei irritada, só que sua risada me contagiou e eu também ri. A luz da sala se acendeu de repente, nos fazendo arregalar os olhos e engolir em seco.

__ Mais que barulho é esse? __ Minha mãe,  vestida com seu hobby de dormir, cruzou os braços em frente aos seios __ Vocês dois estão chegando agora?

Eu e meu irmão, parados próximo ao sofá, olhamos um para o outro, sentido um leve frio correr pelo umbigo.

__ Mãe, achamos que você estava dormindo! __ Guto, exclamou surpreso __ Se bem que com todo esse barulho, acho que todos os vizinhos acordaram __ Ele murmurou entre os dentes enquanto coçava a cabeça

__ Na verdade, antes mesmo de toda essa confusão eu já estava acordada __ Minha mãe contou, fechando o seu hobby e se sentando nos braços do sofá.

__ Estava acordada esse tempo todo? Por que? __ Indaguei, intrigada, parando em frente a minha mãe.

Ela respirou fundo e colocou o cabelo de lado.

__ A maioria das mães não conseguem pegar no sono quando seus filhos adolescentes estão fora de casa. Principalmente quando vão para uma festa.

Meu irmão soltou uma risada irônica, enquanto colocava as suas chaves no chaveiro na parede.

__ Eu é que não ficaria acordado até as três da madrugada esperando meu filho ou a minha filha chegar em casa!

__ É eu também acho que não faria isso __ Afirmei, pegando o meu celular. 

__ Ok então __ Minha mãe deixou suas mãos caírem sobre as pernas __ Quando forem pais vocês me contem como será a experiência. Mas me digam, o show foi bom? Deu tudo certo?

Guto, contou que tinha sido tudo ótimo e que a banda se saiu muito bem. Teve até alguns pais que pegaram o número da Side Effect para contrata-los para tocarem nafesta de suas filhas. Além disso, só naquela noite, os garotos ganharam vários novos seguidores nas redes sociais.

Depois disso, minha mãe disse que estava com muito sono e que nós três deveríamos ir para cama porque o dia já estava quase amanhecendo.

Minha mãe nem precisava me mandar para cama, eu já estava indo porque não estava me aguentando de sono. Os meus olhos estavam fechando involuntariamente. Vesti o meu pijama, coloquei o celular para carregar na tomada ao lado da cama e apaguei a luz.

Estava morrendo de sono, mas não consegui dormir tão rápido pois fiquei revivendo os acontecimentos marcantes da festa de debutante.

A festa aconteceu em um salão. A decoração estava ótima, quase tudo ali estava em tom de dourado e branco. Os enfeites de flores, os panos das mesas, as cortinas. A iluminação era baixa e amarela e havia música de fundo. Muitos convidados já haviam chegado. Procurei por um rosto conhecido, mas as únicas pessoas que reconheci ali foram os meninos da banda, Nick e seu irmão gêmeo Carlinhos e Juan. Eles estavam em um canto conversando e com um copo na mão. Beto não estava por ali.

Meu irmão caminhou em direção aos seus amigos e eu fui atrás dele.

__ E aí, brother! __ Os meninos se cumprimentaram com um toque de mão e um abraço rápido, quando chegamos perto.

__ Olha só quem veio! __ Carlinhos, me viu por cima dos ombros do meu irmão e veio até mim com um sorriso.  Me deu um beijo em cada lado das bochechas e me olhou dos pés a cabeça __ Você está muito bonita hoje, Juju.

__ Isso é verdade __ Nick que estava atrás de nós, concordou.

Eu estava usando o vestido preto que tanto queria mas que não pude levar para casa naquele dia porque Kátia Alencar o tomou de mim. Minha mãe não se conformou, pois viu como fiquei triste com aquela situação. Então ela voltou na loja no dia seguinte, sem me falar nada, e para a sua surpresa o vestido estava lá. Kátia, não tinha comprado. Ela fez que tinha gostado dele só para me provocar. Quase não acreditei quando minha mãe chegou em casa, me entregou a sacola e lá estava ele. Dei vários pulinhos abraçada ao vestido e muitos beijos na minha mãe.

Agradeci a Carlinhos e a Nick pelo elogio. Enquanto Guto e os outros conversavam entre si, corri os olhos pelos convidados enquanto mordia os lábios, na esperança de ver Roberto por ali. Até que ele surgiu, vindo da direção e andava olhando para o chão. Enquanto caminhava na nossa direção, podia ouvir o barulho das batidas do meu coração. Beto usava uma camisa preta e um colete social por cima, seu cabelo que batia um pouco acima do pescoço, estava penteado para trás e com efeito úmido do gel.
Me virei para frente rapidamente antes que ele levantasse os olhos e me flagrasse o observando.

__ Vocês chegaram __ Foi o seu comentário, repousando uma mão no meu ombro e a outra no ombro do meu irmão. Ele olhou para mim por cima do seu próprio e sorrimos um para outro.

__ Eu espero que você tenha lavado essas mãos __ Meu irmão disse, olhando para mão de Beto no seu ombro, com uma cara de desconfiança.

__ Lavar as mãos? Puxa, acredita que eu esqueci! __ Beto brincou enquanto esfregava as mãos na cara do meu irmão.Todos nós rimos.

__ Para com isso __ Meu irmão, se esquivou, quase impaciente.

Perguntei que horas iam subir no palco e disseram que seria umas onze da noite. Ou seja, faltava menos de uma hora para o show. Disse a Guto que ia pegar algo para beber, ele concordou e continuou conversando com os seus colegas.

Era estanho passar por aquele tanto de gente desconhecido. Tinha vários grupos de jovens conversando, rindo e até dançando. Também tinha famílias sentadas nas mesas e garçons indo de um canto ao outro. A debutante ainda não havia entrado. Havia várias fotos dela pelo local. Seu nome era Yasmin. Tinha o cabelo preto longo e usava aparelho.

Parei em frente a uma mesa com ponche e doces, uma mulher morena e cabelo preso, estava enchendo os copos com a bebida vermelha para quem quisesse.

__ Eu também quero um __ A voz de Beto soou atrás de mim, me pegando de surpresa e provocando um frio na barriga. Me virei para ele, segurando o meu copo.

__ Então você veio mesmo __ Ele comentou.

__ É eu vim sim. Meu irmão me chamou e eu não poderia deixar de ver o show de vocês.

Beto apenas assentiu. Ficamos alguns minutos parados um ao lado do outro, tomando o nosso ponche e observando tudo o que acontecia a nossa volta. Daí, veio na nossa direção um garoto e uma garoto, eles pararam em frente a mesa do ponche e ficaram tendo conversas melosas e depois começaram a se beijar.

Eu e Beto nos entreolhamos com cara de nojo, provavelmente pensando a mesma coisa: que aqueles dois adolescentes deveriam fazer aquilo em outro lugar e não perto da gente. Sem falar o constrangimento que pairou sobre nós. Pelo menos eu, me senti corar.

__ Acho melhor dar o fora daqui __ Beto se inclinou e disse quase perto do meu ouvido, depois olhou para mim esperando uma confirmação.

Beto se juntou aos integrantes da banda novamente e eu inventei uma desculpa de queria sentar, mas a verdade é que já estava começando a me sentir mal de ter que ficar na cola do meu irmão e dos amigos dele. A sensação de que estava sendo inconveniente.

O restante da noite foi mais interessante. Depois da entrada da debutante, da valsa e de todas as apresentações, a Side Effect finalmente subiu no palco e a pista de dança foi liberada. Fiz questão de gravar quase tudo. Todo mundo pulou, cantou, gritou e dançou. Em um determinado momento a banda chamou a Yasmin, para subir no palco e cantar junto com eles. Carlinhos, até dançou com ela lá em cima.

Eles se apresentaram por uma hora. Depois que desceram do palco corri até eles para dar os parabéns. Todos estavam suando e quase sem fôlego.
Nós nos sentamos em uma mesa para descansar. A pista de dança continuou cheia só que agora ao som de músicas aleatórias e eletrizantes, também com luzes e efeitos especiais.

Depois de recuperar o fôlego, Carlinhos se levantou de repente e disse que logo estaria de volta. Nós nos entreolhemos nos perguntando onde ele estaria indo.

__ Aí, eu to afim de dançar. Alguém mais topa? __ Beto perguntou, ele olhou rapidamente para Guto, para Nick e para Juan, por último seu olhos pararam em mim.

__ Eu não cara, tô quebrado __ Meu irmão disse, enfiando os dedos entre os cabelos e se recostando na cadeira. Os outros dois meninos disseram o mesmo.

__ Ah, eu topo __ Eu disse entre uma risadinha nervosa. 

__ É isso aí! __ Beto começou, batendo algumas palmas e se levantando animado.

Ele me esperou, ajeitar o vestido e me levantar. Entreguei a bolsa para o meu irmão e pedi para tomar conta.

__ Eu não sabia que você gostava de dançar __ Beto praticamente gritou em meio ao som alto, quando atravessamos o salão para ir para a pista de dança.

__ Eu gosto muito __ Gritei de volta, olhando para ele e sorrindo.

Nós dois nos infiltramos entre os outros jovens e começamos a dançar de frente um para o outro . As músicas eram bem agitadas. Rimos e sorrimos quase o tempo todo. Sem que eu estivesse esperando, Beto, segurou a minha mão e me rodopiou arrancando de mim um gritinho agudo. Nós divertimos muito. Até que chegou a vez da música lenta para os casais apaixonados. A luz ficou baixa e um tom de rosa.

__ Acho que já está na hora de voltar __ Eu disse com a respiração ofegante, já quase saindo da pista. Porque eu achava que Roberto também estava pensando mesmo.

__ Ei, espera aí. Você não vai dançar nenhuma música lenta comigo? __ Sua voz era mansa e penetrante e havia um sorriso diferente no seu rosto. Ele estendeu a mão quando olhei para ele. Pensei por uns dois segundos, ele mexeu a sobrancelha como se perguntasse se eu ia ou não aceitar.

Mesmo morrendo de vergonha e nervosismo é claro que aceitei. Uma dança lenta com o Beto, só poderia ser um sonho!

Encurtamos a distância um do outro. Beto segurou uma das minhas mãos, em seguida olhou para os nossos pés para certificar de que não estávamos pisando no pé um do outro, daí ela levantou a cabeça e nossos olhares se encontraram.

__ Eu posso? __ Perguntou, antes de tocar a minha cintura.

Balancei a cabeça que sim e quando sua mão tocou a minha cintura foi como uma descarga elétrica, o meu corpo se arrepiou todo, meu coração batia rápido e parecia quase saltar da garganta. A minha respiração ficou curta. Um monte de sensações ao mesmo tempo.

Começamos a dançar no ritmo da melodia lenta e aos poucos a calmaria interna veio . Estar ali bem perto de Beto, sentido o seu perfume, o seu corpo próximo ao meu, era uma sensação de conforto. Não queria nunca mais ter que me separar. Tomei a liberdade de repousar a minha cabeça no seu peito e ficamos assim até a música terminar. Foi pura magia. Uma pena que durou pouco.

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