Capitulo 1

Em um laboratório o ambiente era denso e opressivo, um vasto lugar de pesquisa que se assemelhava a um calabouço de castelo. A luz fraca das velas verdes lançava sombras dançantes nas paredes, revelando corpos dispostos em mesas de pedra, ferramentas de tortura e armas enferrujadas jogadas ao acaso. O ar estava impregnado com um cheiro ácido e de decomposição, e a temperatura era gélida, como se o próprio lugar estivesse preso em um inverno eterno.

No centro dessa cena macabra há uma mesa onde um garoto aparentemente morto despertou. Ele se sentou abruptamente na mesa de operações, a confusão dominando seus sentidos. As memórias eram vagas, um borrão de imagens que não faziam sentido. O garoto olhou ao redor, e nada encontrou, mas logo sentiu uma presença se aproximando.

Era uma figura mascarada, com uma capa negra que ocultava seu corpo esguio. O garoto, em vez de ceder ao pânico, analisou a situação com uma frieza impressionante, se mantinha estático na presença daquela situação. Antes que pudesse reagir, a mascarada avançou, pressionando-o de volta à mesa com uma força inesperada. Uma faca reluzente surgiu acima de sua cabeça, e o garoto fixou o olhar na lâmina, porém, seus olhos não esboçaram medo, isso chamou a atenção. Os olhos do garoto e o do ser mascarado se cruzaram em um silêncio tenso. A faca, que momentos atrás parecia o prelúdio de morte, começou a ser lentamente abaixada. Com um movimento deliberado, o ser removeu a máscara, revelando uma mulher de beleza impressionante: cabelos negros como a noite e olhos esmeralda que brilhavam com uma curiosidade insaciável.

Lecest é seu nome, e logo se aproximou, inclinando-se para examinar o garoto de perto. A faca agora repousava cravada ao lado de sua cabeça, o qual permanece sem reação e Lecest acreditava que ele estava morto quando chegou, mas agora, ali, à sua frente, estava um milagre inexplicável. Intrigada, puxou uma cadeira e se sentou, estudando cada traço do garoto.

- Quem é você? - a voz de Lecest era suave, mas carregava um peso autoritário.

- Eu... não sei - o garoto respondeu, sua mente ainda confusa, repleta de lacunas.

- Eu sou Lecest, - ela disse, erguendo a cabeça com orgulho - uma bruxa de alta patente na Legião dos Bruxos. Sou artesã, necromante e encantris dentre outras áreas.

O garoto logo se sentou, permanecendo em silêncio:.

- Você foi morto em um confronto entre dois seres extremamente poderosos. Os cadáveres daquele confronto foram trazidos para meu laboratório para experimentos. E agora, você... você está vivo? - seu tom misturava admiração e ceticismo.

Após uma breve pausa, Lecest exigiu:

- Diga-me seu nome!

- Lino, - ele respondeu, dessa vez sem exitar.

- Lino, você será meu prisioneiro. Preciso entender como você retornou, seja lá pra onde foi. Não se preocupe, eu não pretendo matá-lo novamente, mas sua existência é um mistério que não posso ignorar, afinal, sou uma entusiasta. - Lecest continuou a observar Lino enquanto andava pelo laboratório pegando algumas ferramentas. - Você é um feiticeiro?

A pergunta deixou Lino confuso. Havia uma diferença clara entre a raça dos Feiticeiros, seres natos com afinidade mágica, e a classe de Feiticeiros, que se referia a aprendizes e praticantes de artes mágicas. Sem entender ao que Lecest se referia, ele respondeu:

- Eu sei alguns feitiços, mas...

Lecest sorriu de forma enigmática.

- Interessante. Quais os tipos de feitiço tem conhecimento? - indagou, enquanto se começou a mexer em um dos cadáveres.

- Magia Espiritual, mas meu Livro de Encantamento, deve ter se perdido durante o confronto. - após as palavras de Lino, um susto, Lecest deixou repentinamente uma faca cair no chão.

Os olhos de Lecest brilharam com interesse no que acabou de ouvir..

- Quero saber mais a respeito deste livro. Vou levá-lo ao lugar do confronto. - ela fez uma pausa, parou o que está fazendo. - Vamos recuperar esse livro.

Antes de saírem, Lecest se vestiu com um casaco de couro que acentuava sua figura esguia, colocando um chapéu pontudo que a tornava ainda mais imponente e Lino apenas observou.

Logo ela se voltou para ele, lançando um olhar que dizia para se preparar. Em seguida, entregou-lhe uma calça escura, botas pretas, uma camisa e um manto que se ajustava bem ao seu corpo.

- Vista isso.

Assim, com Lino agora vestido adequadamente, os dois partiram em direção ao local do confronto. E logo chegaram ao local através de um encantamento de teletransporte, e o que se desenrolou diante deles é um verdadeiro caos. A cena era devastadora, como se uma cidade inteira tivesse sido consumida pelas chamas. O ar estava impregnado com o odor de carne carbonizada, enquanto aves necrófagas rondavam os cadáveres, devorando o que restava. O céu estava coberto por uma camada de cinzas, como se um vulcão tivesse exalado sua fúria, e as rachaduras no solo pareciam feridas abertas, revelando escombros de estruturas que um dia foram grandiosas.

Apesar da desolação, Lino não demonstrava intimidação. Lecest, por outro lado, observou-o com surpresa. Ela imaginava que aquele lugar tivesse um significado mais profundo para o garoto, mas ele se mantinha frio e composto em meio ao horror.

- Impressionante, não? - comentou Lecest, tentando decifrar a expressão de Lino.

Ele apenas deu de ombros, seu olhar fixo no horizonte.

Em um determinado momento, Lino começou a entoar um cântico, um chamado que parecia ecoar em busca de algo. Criando um efeito como um radar que pulsava na escuridão. Subitamente, algo reluziu entre as cinzas: seu Livro de Encantamento. A luz resplandecente destacava-se contra a destruição, visível a metros de distância.

Isso impressionou. O garoto havia usado um cântico em uma linguagem antiga, algo que poucos dominam ou que sequer tem conhecimento. A curiosidade a dominou, e ela permaneceu observando, intrigada.

Ao alcançar o livro, Lino o segurou com cuidado. Mas Lecest, ao ver a capa de couro antigo com inscrições rúnicas, puxou-o de suas mãos com um movimento rápido. Folheou as páginas com avidez, e teve uma grata surpresa.

- Onde você aprendeu a linguagem rúnica? - indagou,

Lino hesitou, e não respondeu.

- Essa linguagem é restrita, - Lecest começou a explicar. - Poucos feiticeiros detém este tipo de conhecimento. A maioria dos feitiços foi traduzida para uma linguagem comum, e o uso de runas se tornou raro, reservado para aqueles que lidam com o passado.

O brilho do livro começou a se apagar lentamente, e Lecest devolveu-o a Lino, então uma nova ideia veio à mente.

- Você deve se tornar um aprendiz, - sugeriu ela. - Eu lhe ensinarei tudo o que você precisa saber, e em troca, você me ensinará tudo o que eu desejar.

Após aceitar a proposta, retornam ao laboratório, Lino e Lecest caminharam por um corredor escuro, até chegarem a uma porta que, ao ser aberta, exalou um ar gélido que fez Lino estremecer. Dentro, uma voz seca ecoou, chamando por Lecest e questionando sua ausência na reunião que ocorreu mais cedo.

Antes que ela pudesse responder, a figura na sala virou a cadeira em que estava, revelando-se como outra criatura macabra, semelhante a Lecest em sua aparência sombria e máscara.

- Haverá outra reunião em breve. Idesmo faz questão de sua presença desta vez, - afirmou a criatura, em seu tom firme.

- Não se preocupe - respondeu Lecest, mantendo a compostura. Ela então indagou:

- Grinlow, o que você está fazendo em meu laboratório?

Grinlow, sem rodeios, explicou que estava rastreando feiticeiros que haviam escapado das garras de Shakall, incluindo a garota que eles estavam procurando. Ele revelou que seu paradeiro estava próximo de ser encontrado e decidiu agir por conta própria, e convidou Lecest, alegando que agora estava entediado, e a Bruxa recusa o convite dizendo que está com novos planos. E a atenção se volta para Lino, mais Grinlow não disse uma palavra, apenas se levantou para ir embora da sala.

Antes de se afastar, ele olhou para Lino e fez uma pergunta:

- E quem é o garoto que te acompanha?

- Meu aprendiz.

Com uma risada irônica, Grinlow se despediu e saiu, deixando Lino perplexo e curioso:

- Quem era aquele?

Lecest respondeu de forma enigmática:

- Tudo será explicado em seu tempo. Mas antes, devemos nos preparar para a reunião. Contudo, quero testar suas habilidades primeiro.

Com isso, Lecest conduziu Lino a uma arena subterrânea, localizada em uma das salas do laboratório. As paredes eram de pedra fria e umidade, e o espaço era iluminado por cristais que lançavam uma luz suave. De repente Lino cai no chão, mas acorda de imediato, sua respiração está forte, e um intenso suor desceu pelo seu rosto, finalmente, recuperou suas memórias.

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