Poder das circunstâncias

Olá!!
Ufa, consegui terminar. Esse eh Tecnicamente o último capítulo da fic. Porém ainda vou detalhar um pouco do futuro dos 7 nas utt extras q eu geralmente faço no fim.
Espero que gostem e não me odeiem muito.
Beijinhos e se cuidem!!
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 Shownu não aguentava mais carregar sacos de arroz para a dispensa do restaurante, ele não entendia como toda aquela gente podia comer tanto arroz assim, mas apesar dos seus músculos retraídos, doloridos, o sol queimando seu rosto e o suor pinicando sua pele, ele ainda estava feliz e o principal motivo era Seokjin que não conseguia se concentrar no trabalho toda vez que ele precisava passar pelo corredor entre a porta dos fundos e a dispensa. Seu lobo faltava ronronar sempre que sentia os olhos do mais novo em seu corpo, não que ele pudesse entender. Shownu sempre teve vergonha das suas cicatrizes, mas agora, por algum motivo ele se orgulhava delas, principalmente por causa dos olhos brilhantes de Seok quando as encarava, como se o ômega sentisse orgulho do quanto o alfa já lutou para sobreviver.

 Suas mãos calejadas tremeram um pouco ao fechar a porta do caminhão de carga, batendo na traseira da lataria para que o funcionário que fornecia produtos para o restaurante pudesse sair do beco na lateral do prédio industrial. Shownu colocou as mãos na cintura tentando recuperar o fôlego, mas seu lobo distraído com algo roubou sua atenção, provavelmente porque reconheceu o cheiro do alfa na esquina da rua estreita, aquele cheiro sempre o colocaria em alerta.  

 Shownu virou alarmado na direção do cheiro, vendo Namjoon encostado na parede de tijolos do prédio da frente enquanto chutava algum papel aleatório no chão.

 O alfa se aproximou calmo, ele deveria ficar tão alarmado quanto seu lobo, mas de alguma forma não estava. 

- Rei das flores, posso ajudar em algo? - Shownu assistiu Namjoon encará-lo com certa ironia no olhar e no seu sorriso de canto.

- Você tá brincando de casinha com meu ômega, não precisa ser formal comigo. - Namjoon disse educadamente, apesar da amargura no tom de sua voz.

 Shownu abaixou a cabeça envergonhado, ele também se sentia dessa forma, mas não é como se pudesse evitar. 

- Eu…

- Não precisa se sentir mal, apesar de odiar tudo isso, Jin merece escolher o próprio destino.

 Shownu concordou levantando a cabeça para encarar o alfa.

 Era engraçado o quanto a aparência de Namjoon podia enganar. Seu sorriso gentil, as covinhas em evidência nas bochechas proeminentes, os cabelos lisos caindo em mechas na testa, as mãos relaxadas no bolso. Quem olhava de longe nunca imaginaria o quão perigoso ele podia ser, principalmente porque Namjoon era do tipo silencioso, pensativo, calculista. Ele tinha um jeito de te convencer a fazer o que ele quisesse sem que percebesse e ainda não se sujar se algo desse errado. Deve ser por isso que se manteve vivo por tanto tempo.

 Talvez o fato de ter brincado com o destino das 7 almas entrelaçadas tenha algo haver com isso também. De qualquer forma, aquele lobo não é alguém que você queira ter como inimigo. 

- Jin disse que conversou com você. - Shownu comentou, tentando parar de pensar no quanto o Kim era aterrorizante do seu jeito próprio.

 Namjoon concordou com a cabeça. 

- Sim. Ele me contou sobre o que sente por você.

- E então? - Shownu mordeu o lábio inferior em ansiedade, sem saber exatamente porquê.

 Namjoon deu de ombros, se desencostando da parede e se aproximou de Shownu, deixando seus ombros praticamente encostados um ao lado do outro.  

- Seja bom pra ele. - Namjoon resmungou a contragosto e sumiu de vista antes que Shownu pudesse se recuperar do choque por causa da aproximação repentina.

 Jin secou as mãos no avental estranhamente florido que vestia, se aproximando do alfa que entrava pela porta com as sobrancelhas juntas em preocupação.

 O ômega sentiu o cheiro familiar de Namjoon antes mesmo de poder perguntar para Shownu por que ele parecia tão preocupado. 

- O que ele fez? - Jin olhou para a porta atrás de Shownu, alarmado com a ideia de Namjoon machucar seu alfa de alguma forma.

Espera! Seu alfa?

 Jin balançou a cabeça em negação. Aquela não era a hora de pensar em coisas daquele tipo. 

- Ele não fez nada, só estava preocupado com você. - Shownu deu de ombros, ele não era mais tão jovem, não tinha paciência para aquela novela. Não queria mais saber de Namjoon ou da bagagem que Jin tinha com ele, não mais.

- Ele não vai mais nós atrapalhar, eu te garanto. - Jin resmungou e saiu batendo os pezinhos de um jeito fofo no chão enquanto corria atrás do seu celular.

 Shownu achou fofo, mas tinha certeza que não queria ouvir nenhuma conversa daqueles dois.

 Ironicamente o seu celular no bolso da calça jeans velha começou a tocar, fazendo ele sorrir assim que reconheceu o nome no identificador. 

- Pequena raposa. Como estão as férias? - Shownu perguntou com um sorriso no rosto, indo até o porão para tomar um banho e ter um pouco de descanso da manhã exaustiva.

" Mestre". - V respondeu amoroso, o que o fez sorrir ainda mais largo.


 V estava há pelo menos meia hora olhando a vitrine de doces da esquina do seu apartamento em Londres. Tinha um trifle com morangos frescos e tão brilhante que ele simplesmente babava na expectativa de saboreá-lo. 

- Você parece tão patético na frente da vitrine que meu chefe pediu para eu vir aqui expulsá-lo antes que você assuste mais clientes. 

 V encarou o funcionário da delicatessens com horror, até notar que ele estava brincando e sorrir quadrado de um jeito tímido e adorável.

- Eu não deveria comer doces. - V esclareceu enquanto balançava a cintura numa dancinha inquietante.

 O garoto sorriu com a fofura do ruivo à sua frente e entrou no estabelecimento, voltando com uma caixinha de viagem da loja. 

- Por favor coma, eu me sentiria horrível se você saísse daqui sem pelo menos uma tacinha do doce.

 V arregalou os olhos em completa adoração, agarrando o embrulho com cuidado em suas mãos delicadas. 

- Obrigado, eu acho. Eu nem sei seu nome - V resmungou enquanto tentava pegar o dinheiro no bolso da calça larga que usava.

- Não se incomode, é um presente. Meu nome é Beomgyu.

- Vante. - V apertou a mão do garoto fofo, mas sua atenção foi logo para o embrulho em suas mãos. - Tem certeza sobre o presente? - V levantou a caixinha equilibrada na sua mão.

- Qualquer coisa para você parar de babar no display. - Beomgyu disse com um sorriso fofo.

 V riu pegando a máquina pendurada no seu pescoço com a mão livre e tirou uma foto do garoto. 

- Tchau garoto simpático. - V resmungou se afastando sem notar o quão surpreso e confuso Beomhyu ficou com as atitudes nada convencionais do híbrido.

 V entrou no pequeno apartamento com a caixinha do doce nas mãos e sorriu, encarando Jungkook vestido só com uma calça jeans esgarçada enquanto passeava pelo apartamento arrumando a iluminação para o que parecia uma sessão de fotos ou algo assim.

 - O que está fazendo? - V o abraçou por trás e beijou seu pescoço sorrindo ao ver o alfa se assustar com sua presença.

- Quero tirar fotos suas.

- Minhas? - V se animou olhando melhor o espaço. - Por que eu?

 Jungkook sorriu largo virando para beijar o híbrido. 

- Não consigo imaginar nada mais bonito que possa ser capturado pelas minhas lentes.

 V mordeu o lábio inferior enfiando o rosto no pescoço do mais velho enquanto era pego no colo. 

- Você me acha tudo isso mesmo?

- Qual é Taehyung, timidez nunca combinou com você.

 V riu, rebolando a bunda no colo do mais velho. - Você prometeu que conheceria o mundo comigo, mas até agora só transamos feito coelhos. - V fez um bico fofo, não parecendo nenhum pouco chateado com aquilo. 

- Eu te levo pra ver as estrelas todas as noites.- Jungkook brincou com as sobrancelhas, parecendo o mais brega dos namorados.

- Ai meu Deus! Isso foi muito ridículo. - V gargalhou quase caindo do colo do alfa que se ajoelhava no chão ainda com o menor no colo.

- Não é a palavra que usa quando eu tô dentro de você. - Jungkook resmungou deitando V com delicadeza no chão da sala.

- Porra Kookie, eu mal sinto minha bunda de tanto ser fodido.

- Quer que eu pare? - Jungkook levantou uma sobrancelha em dúvida.

- Por Deus, não! - V fechou os olhos, sentindo as mãos de Jungkook subir por suas pernas e apertar sua bunda por baixo da saia xadrez que o mais novo usava.

 Seu moletom enorme branco já estava quente demais no seu corpo mesmo para o clima de Londres e seu rabo estava tão agitado que acabava batendo sem rumo no piso frio. 

- Me fode, alfa. - V ronronou alto, cruzando as pernas nas costas de Jungkook que tentava desabotoar a calça jeans com dificuldade.

 Jungkook enfiou dois dedos na boca do Tae, que o lambeu e chupou como se sua vida dependesse disso. 

- Se eu fosse você, me chupava direito. - Jungkook afundou seus dedos na boca do mais novo, assistindo o garoto se desesperar ainda mais com a língua, deixando sua mão toda babada de saliva.

- Bom garoto. - Jungkook desceu seus dedos até a entrada de Tae, enfiando um dedo após o outro enquanto se esforçava para não gozar ali mesmo ao ouvir a raposa choramingando.

 Ele não queria judiar da sua pequena raposa, mas tava difícil se segurar por muito tempo.

 Seus dedos se afastaram, dando abertura para sua glande encostar na entrada já um pouco dilatada do mais novo.

- Maldito seja, por me fazer querer tanto isso. - V resmungou enquanto sentia Jungkook o preenchendo aos poucos.

  Ele não podia negar a dor que sentia, mas o prazer era tão maior, que quase o alucinava. 

- Maldito seja por me fazer te querer tanto. - Jungkook resmungou, sorrindo com a frase sem sentido de ambos.

 Seu corpo tremia como nunca e a sensação era tão incrível. Seus movimentos eram lentos e certeiros e seus olhos tentavam capturar o silêncio cheio de significados que havia dentro dos olhos de Taehyung.

 V sentiu as lágrimas escorrendo dos próprios olhos, mas aquilo tinha mais haver com o prazer que sentia do que com a tristeza de saber que aquela seria a última vez dos dois.

 Seu corpo tremia e convulsionava, apertando Jungkook dentro dele enquanto os dois se encaravam com mais intensidade que a pretendida.

 V gozou gemendo o nome de Jungkook, que não demorou muito pra gozar dentro do pequeno híbrido, que agora parecia tão frágil em seus braços. 

- Maldito seja. - V resmungou sonolento, jogado no chão enquanto Jungkook o abraçava de forma amorosa, para que o nó dentro do menor não doesse ao menor movimento dos dois.

 Eles ficaram assim por um tempo,  seus corpos estavam quentes e era difícil pensar em algo melhor do que aquilo. Era um momento tão perfeito e calmo.

 Jungkook sentia seu corpo instável, ele não podia estar mais feliz.

 V estava pensativo e preocupado com sua fragilidade atual, mas seu alfa não reparou em nada disso e isso era o suficiente pra deixá-lo mais calmo em relação a tudo que ele sabia que estava por vir.

 Era tudo o que importava por enquanto.

...

 V estava sentado em uma das vigas de reforma da maior Ponte de Londres, a escuridão era iluminada pelas luzes presas nos ferros de aço que formavam arcos aleatórios, as lâmpadas tinham uma distância semelhante entre si formando um padrão que encarava já há um tempo, sem um pensamento específico sobre o porquê daquilo chamar sua atenção, o ar era impregnado de umidade e musgo, que cobria a maior parte do que era possível ver da ponte antiga de pedras velhas.
A chuva começou a cair, e com ela veio uma ventania forte, capaz de sussurrar sons aleatórios em seu ouvido. O cheiro de umidade salgada e as nuvens carregadas acima da sua cabeça deixava seu corpo pesado e sobrecarregado de estática.
V podia identificar os sussurros em um dos assopros no vento forte e sorriu com o pensamento.
A lembrança a seguir foi inevitável.

 Seus olhos esmeraldas refletidos no rio que cruzava o castelo do Rei dos dragões. Não importava quanto anos se passassem, era assim que ele se via quando fechava os olhos. Uma pantera com seus pelos negros e brilhantes, a voz do seu lobo sussurrando alguma canção aleatória em sua mente. Se ele mantivesse os olhos assim podia quase se transportar para aquele tempo, Jungkook caçando algum animal selvagem enquanto ele sentava nas pedras para tomar um sol, olhos relaxados, a mente acompanhando a caça de Jungkook com diversão, o lobo adorava desafios, sempre testando sua própria capacidade por nenhum motivo além da curiosidade em conhecer e aprimorar seus próprios limites.

 O tempo era uma fração insignificante da sua existência e não importava quantas vidas ele tenha tido, a única parte que realmente contou foi aquela em que ele passou com Jungkook, seu alfa.

 Sua fragilidade atual o irritava, o fato de que sua vida havia chegado ao fim mais uma vez, o entristecia mais do que o indignava.

 Chamem-no de covarde, mas ele não suportaria ver o olhar do seu alfa mais uma vez enquanto sua vida era tirada dele.  V daria tudo pra ter sua coragem de voltar no apartamento para poder encarar Jungkook nos olhos só mais uma vez antes da escuridão invadir sua mente conturbada, mas talvez tenha sido o suficiente sua despedida do jeito que foi, apesar de Jungkook não fazer ideia de que aquela foi a última vez em que se veriam, pelo menos nessa vida.

 V tirou o celular do bolso, puxando nos contatos a única pessoa com quem sabia que precisaria ter uma conversa em algum momento.

" Pequena raposa. Como estão as férias" ? - Shownu perguntou do outro lado da linha.

 - Mestre. - V respondeu pensativo, a voz embargada e o peito doendo ainda mais.

" Quanto tempo ainda tem, criança" ?

 V suspirou com dificuldade. 

- Não muito, meu peito dói demais e meu coração já está falhando. - V colocou as mãos trêmulas no peito, tentando se agarrar um pouco mais à vida. - Você recebeu as cartas que eu mandei?

 Shownu suspirou audivelmente do outro lado da linha.

" Tem certeza que não quer conversar com seus irmãos pessoalmente? Eles vão ficar chateados com isso". 

- Eles vão entender. Sem contar que eu não tenho mais tempo para repensar minhas decisões, minha morte está tão próxima que eu posso quase sentí-la.

" Eu não te sinto mais, achei que já estivesse"...

 - Oh! - V tossiu algo molhado, que ele chegou a conclusão ser sangue assim que aproximou sua mão até seu campo de visão curto, dada a visão turva e a falta de iluminação na ponte. - Mestre, tenho só mais um pedido. - V praticamente sussurrou com dificuldade.

" Farei o que quiser que seja feito". 

- Esteja ao meu lado no meu retorno, caso eu retorne é claro. Sinto um conforto diferente quando está por perto.

" Não sei se estarei vivo até lá, também sinto minha vida por um fio, mas prometo que não estará sozinho quando voltar".

 V sorriu, deitando na estrutura úmida, fria e desconfortável da ponte.

 Seu peito já quase não subia mais e sua visão era precária.

- Então fica comigo enquanto pode. - V sussurrou com um sorriso seco e a boca trêmula.

 A chuva caía em seus olhos abertos, mas nem isso o incomodava mais. Ele estava feliz que pelo menos a Terra estava chorando por ele. V odiaria um dia ensolarado e feliz como seu último dia de vida, assim era melhor, refletia o que ele sentia por dentro. 

- Obrigado por não me abandonar.

" Você faz parte de mim agora, criança. Nunca abandonaria um dos meus".

 V sorriu com o pensamento e esse foi seu último.

 No entanto sua visão, captou um outro evento magnífico bem antes de partir, talvez fosse alucinação ou o reflexo de alguma das lâmpadas amareladas na ponte, mas ele poderia jurar que tinha visto uma estrela cadente passar por cima dele e cair mais ao sul.
V fechou olhos sentindo o cheiro de poluição e cimento no ar.
- Kookie. - ele sussurrou tentando imaginá-lo ali.
Ele se sentiu instável nas pedras. Olhou para baixo, a água abaixo descansava entre as colunas esverdeadas de musgos, algumas gaivotas faziam barulhos esvoaçantes vez ou outra.
ele tentou lembrar da essência exata que o lobo de Jungkook exalava. Seus olhos fecharam, os braços se abriram alto, lutando contra o vento forte e o sorriso veio junto com a sua lembrança preferida de todas as suas existências. 
- Hora de ir uma última vez. - ele sussurrou pra si.

 A chuva gelada, fina e rotineira da cidade começou cair em seu rosto com mais força arrancando seu último sorriso, deixando seu corpo mais leve e seu coração menos agitado, o fazendo perceber que era só isso que faltava.

 Uma pequena fração de paz de espírito.

...

Jungkook entrou no apartamento dos dois, estranhando a porta entreaberta, o que o fez procurar às pressas por V em todos os cômodos.
- Tae? - ele berrou se segurando para não pensar no pior, mas era difícil quando se conhecia uma alma durante tantas vidas.

 Mas ele prometeu.

  Jungkook procurou em todos os cômodos mais uma vez, sem esperança. V não estava em nenhum lugar à vista, ele  poderia muito bem ter ido dar mais uma de suas voltas aleatórias pela cidade, mas no fundo ele sabia.
- Taehyung. - Ele tentou mais uma vez.
Nem um som. Nada.

A máquina fotográfica tão comum ao redor do pescoço do híbrido estava em cima da mesa de centro na sala, servindo de peso para uma folha dobrada, o que fez Jungkook se aproximar com a testa enrugada. Ele nem lembra a última vez que viu Tae sair sem a máquina fotográfica. Conforme ele aproximava da mesa ele pôde ver melhor a folha de caderno colocada de forma que seu nome ficasse em evidência.
Seu corpo se arrepiou ao tocar no papel enquanto lia várias vezes Kookie, reconhecendo a letra infantil de Tae.
Suas mãos tremiam quando ele desdobrou o papel.

Kook

Jungkook tremeu mais uma vez ao ler seu nome repetidas vezes, com medo de seguir para as próximas palavras.

Hoje eu acordei pensando em como você se sentirá quando eu partir, quantas horas, minutos e segundos da sua existência você estará pensando em mim? Seria egoísmo querer que pense em mim?

 Meu coração está fraco, minha mente está falhando, às vezes esqueço em que existência estou vivendo, às vezes esqueço de você. Me chame do que quiser, mas odiaria viver num mundo em que eu não sei quem você é. Cansei de te fazer sofrer, parece que sou muito bom nisso.
Eu penso em como te tratei. Em como lidei com meus medos e covardias, para ser sincero eu tinha esperanças que se você me odiasse isso te motivaria a seguir em frente, apesar  de saber que seria só o instinto de sobrevivência se manifestando. É difícil te fazer desistir de mim, mas pra ser sincero te entendo bem, apesar de não ter essa paciência que você parece esbanjar.
Sinto que com o tempo destruiria seu coração sempre alegre, todas essas mortes, todo essa dor. Sei que quer passar o máximo de tempo que puder comigo, mas é sempre tão difícil ter que olhar nos seus olhos enquanto dou meus últimos suspiros, já passamos por isso tantas vezes. Talvez eu tenha sido criado com esse objetivo? O de destruir tudo que toca. Talvez eu seja só um fracasso da criação, não saberia dizer, queria no entanto que pelo menos uma vez fosse eu no seu lugar, pelo menos te livraria de toda a dor que vem com a solidão, é sempre você quem me vê morrer, me pergunto o porquê. Será que tem um porquê?
Você sorriu para mim e disse que iria ficar tudo bem, depois que eu disse que te queria ao meu lado nos meus últimos dias de vida, eu disse que queria que segurasse minha mão e beijasse minha testa antes que meus olhos fechassem de vez. Você só ficou ali sorrindo com lágrimas nos olhos. Você sabia que eu estava mentindo, não sabia?
Bom, eu vou escolher acreditar que você sabia.
Minha existência é insignificante agora, mas eu realmente espero que o peso dos problemas que eu deixei você carregando sozinho fique mais leve e se dissipe junto com a fumaça responsável por isso que vive dentro desse corpo que todos conhecem como Kim Taehyung.

 Kook me perdoa? Posso fingir que você disse sim? 

Feche os olhos lobo e finja que eu estou na sua frente dizendo que tudo vai ficar bem e que eu voltarei por você mesmo sem saber se isso é verdade.
Finja que eu sou um ser corajoso e não esse covarde desprezível que você teve o desprazer de amar.
Faz por mim?
Obrigado.
Eu sabia que faria...

Te amo, hoje e sempre. 

Nessa vida, sua pequena raposa.

...

 V tentou sorrir mais uma vez depois que notou que a tal estrela cadente era só uma ilusão da sua mente, seu corpo não obedecia mais seus comandos letárgicos. Mas nada disso importava, não havia mais nada a ser celebrado, pelo menos não nessa existência.

 Suas mãos estavam frias e imóveis, então ele não pôde sentir os braços quentes de Jungkook o agarrando forte enquanto suava frio por ter virado a cidade atrás de Taehyung nas últimas duas horas. Ele provavelmente teria sorrido se o tivesse sentido, mas foi melhor assim, às vezes o silêncio dizia mais do que palavras vãs de uma despedida inevitável.

 Jungkook o conhecia bem, entendia o porquê dele ter feito o que fez, apesar de não concordar. 

- Maldito seja seu egoísmo. Raposa inútil.  - Jungkook resmungou irritado, mas não o suficiente pra não agarrar ainda mais forte V nos seus braços e chorar mais lágrimas do que aquela chuva torrencial era capaz de proporcionar.

 Maldito seja.

 Maldito seja.

 Maldito seja.

- Te odeio por te amar tanto. - Jungkook sussurrou para o vento sentindo seu coração quebrar mesmo que não tivesse a marca da ligação para fazer isso por ele.

 Ele beijou Taehyung na testa e sorriu como prometeu que faria, por mais que tudo o que quisesse fazer no momento era gritar e gritar e então chorar ainda mais, porque a verdade é que Jungkook se sentia só metade sem Taehyung e não fazia ideia do que fazer pra sobreviver, vivendo pela metade mais uma vez. Ele não achava que era capaz, mas não podia desistir, pelo menos não até estar completo de novo.



 Jin não sabia exatamente há quanto tempo seus olhos encaravam as figuras disformes que as sombras dos postes na lateral da viela fazia no teto do seu quarto.

 Shownu parecia dormir tranquilamente e era isso que ele estava esperando acontecer, mas agora seu corpo parecia tentar resistir aos instintos do seu lobo. Ele só não queria sair da cama quentinha, mas não é como se pudesse dormir.

 Seus pés fizeram seu melhor para não fazer barulho enquanto o ômega se matava para vestir algo quente que combinasse com suas pantufas rosas, por motivo nenhum e quando finalmente ficou satisfeito, seus pés quentinhos e agora devidamente agasalhados se arrastaram de volta para cama para que seus lábios gelados encostassem na testa do seu alfa. 

- Eu te amo. - ele sussurrou pela primeira vez para o mais velho, antes de sair o mais silenciosamente possível dali.

 Shownu abriu os olhos assim que a porta foi encostada com nem tanta delicadeza assim.

 Era engraçado como Seok tentava fazer silêncio com todo o barulho do mundo. Shownu queria rir da fofura desastrada do ômega, mas seu lobo se sentia ferido, porque seja lá o que Seok estava indo fazer, o menor não confiava nele o suficiente, a ponto de ter que sair de fininho no meio da noite.

 Jin estava prestes a pegar o celular para chamar um Uber, quando uma moto parou na sua frente, o assustando um pouco, mas só até sentir o cheiro familiar do alfa que estava tirando o capacete e o encarando com curiosidade. 

- Vai ficar vigiando minha casa pra sempre? - Jin perguntou levantando a sobrancelha com um sorriso pequeno no rosto.

 Ele queria ficar puto, mas não estava.

 Namjoon entregou o capacete à ele e esperou o menor subir na moto tentando não olhar para janela acima deles onde ele sabia que Shownu estava assistindo à tudo provavelmente sem entender o que acontecia, mas pra falar a verdade nem Namjoon entendia, tudo que ele sabia é que precisava estar ali por Seokjin e isso era tudo que ele precisava saber.

 Jin encarava a cidade abaixo deles com tristeza. Os reflexos das luzes amareladas em seus olhos deixavam ainda mais difícil disfarçar suas lágrimas, o medo era justificado, mas ainda assim ele se sentia errado ao sentir tudo que sentia naquele momento. 

- Você acredita em destino? - Jin perguntou curioso enquanto se encolhia com frio, que seu casaco fazia pouco ao tentar protegê-lo.

- Por que está me perguntando isso? - Namjoon fechou os punhos dentro da jaqueta para não abraçar o pequeno ômega com frio do seu lado, tentando fazer o seu melhor para ser o menos prejudicial possível para a vida atual do menor.

 Jin deu de ombros. 

- Sei lá. Fico pensando se estava escrito na linha do destino toda essa merda, se eu deveria realmente estar vivo e respirando nessa época do tempo ou se estou roubando o direito de existir de alguém.

 Namjoon olhou para a terra avermelhada sobre seus pés, pensando se existia um inferno especial só pra ele ou se ele já estava vivendo nele. 

- Cansei de dizer que sinto muito. - Namjoon resmungou cansado.

 Podia parecer algo cruel de se dizer, mas Seokjin sabia que ele só tava sendo sincero. 

- Respondendo sua pergunta. Eu não sei nada sobre o destino, mas eu nunca vou achar que foi um erro poder te ver sorrir mais uma vez, não importa o quanto eu pague por isso.

- Você não vê, não é?! - Seokjin riu seco fazendo Namjoon encará-lo pela primeira vez aquela noite.

- O que quer dizer?

- Você não nos amaldiçoou tanto quanto amaldiçoou a si mesmo. Do que adianta me ver sorrir se é você quem me faz chorar?

 Namjoon encarou o ômega por alguns minutos silenciosos, sem saber o que dizer.

 Suas mãos agitadas pareciam feitas de pedra e seu coração batia desesperado, ainda assim não conseguia pensar no que dizer, talvez não houvesse nada que ele pudesse dizer. 

- Há quanto tempo sabe? - Namjoon resolveu perguntar, já que mudar de assunto era sempre sua melhor estratégia para esconder o fato de que não sabia muito sobre nada apesar de já ter visto um pouco de tudo.

- Um mês. - Seokjin alisou a própria barriga pensando no quanto daquilo era uma benção e o quanto era uma maldição.

- Ele sabe?

 Seokjin negou com a cabeça, sentindo as lágrimas finalmente escorrendo pelas bochechas geladas. 

- Ele sabe que tem algo errado comigo, mas não diz nada. - Seokjin limpou o nariz com a barra da blusa. - Shownu sempre espera o meu tempo.

 Namjoon concordou com a cabeça. O cara era um bom alfa, ele não podia negar isso. 

- E por que eu estou aqui e não ele?

- Você sabe porque Namjoon.

- Talvez você precise ser mais específico.

- Eu quero que me diga se vou morrer.

- Como é que eu vou saber disso, Jin?

 Jin bufou irritado. 

- Eu morri em todas as vezes em que engravidei?

- Suas memórias voltaram, sabe a resposta.

- Milênios em memória não é o que eu diria saber de algo, é tudo muito confuso na minha mente. Namjoon, eu preciso saber.

 Namjoon suspirou alto, concordando com a cabeça para o ômega que o encarava desesperado. 

- E como você sabia que eu ia morrer. Alguma vez ficou por perto pra ver como acontecia ou você só fugia como sempre?

- No parto.

- O que?

- Você morria quando o filhote nascia.

 Seokjin concordou desanimado. 

- Sempre?

 Namjoon concordou com a cabeça. 

- Ótimo.

 O alfa mordeu os lábios com insegurança, sentindo o peito doer com a culpa já tão familiar à ele. 

- Me leva pra casa.

- Seok…

- Só me leva pra casa Namjoon.

- O que quer que eu faça? Eu faço qualquer coisa, é só me dizer.

 Seokjin negou com a cabeça, odiando a tristeza que sentia por ver toda dor de Namjoon. Ele queria dizer que ele merecia tudo aquilo, mas não significava que seu peito não apertava por vê-lo assim.  

- Você já fez o suficiente. - Jin resmungou, mas não havia mágoa em sua voz pela primeira vez em muito tempo.

- Eu te amo. - Namjoon disse enquanto pegava o capacete da moto e entregava nas mãos do ômega.

- Shownu não tem muito tempo de vida.

 Namjoon ficou estático com aquela informação.

- Como você…

- Isso não importa agora.

- O que quer que eu faça?

- Quero que desapareça e só volte quando eu morrer. Ele já tem muito na cabeça, olhar pra você só o lembra do que ele não é pra mim e eu tô farto de ver dor em seus olhos.

- Você o ama?

- Mais que tudo nesse mundo.

- Tudo ?

 Seokjin concordou encarando Namjoon nos olhos.

- Eu o amo mais que tudo.

- Certo.  - Namjoon subiu na moto, esperando Seokjin fazer o mesmo. 

- Quando vou poder voltar? - Namjoon perguntou ao chegarem no restaurante.

 Seokjin entregou o capacete nas mãos do alfa. - Quando eu morrer.

 Namjoon concordou, vendo Seokjin se distanciar com passos lentos. 

- Nam.

 Seu corpo inteiro arrepiou com o apelido saindo dos lábios do menor. 

- Sim, ômega.

- Obrigado.

- Você sabe que sempre vou proteger sua geração, né ? - Namjoon encarou a barriga de Jin antes de olhá-lo nos olhos, com esperança de que ele pudesse ler o que havia li, já que ele não podia encontrar palavras para aquele sentimento. 

 Seokjin sorriu. 

- Por que acha que eu tô agradecendo?

 Namjoon sorriu e um enorme peso saiu do seu peito. 

- Se você tivesse no meu lugar, se soubesse de uma forma de te salvar antes da vida e morte parecer tão insignificante para nós. Você faria?

 Seokjin deu de ombros. 

- Talvez.

 Namjoon sorriu concordando com a cabeça.

- Eu sei o que você quer ouvir, só não sei se estou pronto pra dizer ainda.

- Eu entendo.

- Talvez em outra vida.

 Namjoon concordou vendo Jin desaparecer dentro do restaurante. 

- É, talvez.


 Shownu odiava toda a insegurança que estava sentindo naquele momento, mas era difícil evitar quando seu ômega cheirava a outro alfa.

 Suas presas rasgaram a gengiva sensível, em um ato desesperado do seu lobo de querer aquele ômega só pra ele.

 O alfa suspirou desanimado, se controlando para ter seu autocontrole de volta. 

- Oh! Você está acordado. - Jin deu um pulinho adorável na entrada da porta e Shownu sorriu pequeno em resposta.

- Eu estav…

- Você pode tomar um banho ? - Shownu perguntou mais seco do que pretendia, se arrependendo quase que imediatamente.

- Claro. - Jin sabia que entrar no seu ninho cheirando a outro alfa, não era um movimento muito esperto. Ele só estava distraído demais para pensar nisso antes de Shownu comentar algo.

- Vou preparar seu chá preferido enquanto isso.

 Shownu saiu do quarto às pressas, suspirando em puro desânimo enquanto ia até a cozinha do restaurante. Ele só queria que Seok confiasse nele, mas confiança não é algo a se pedir. 

- O cheiro tá ótimo. - Jin comentou ao entrar na cozinha industrial com um roupão rosa felpudo e uma toalha amarrada na cabeça.

 Ele estava adorável.  

- Seu preferido. - Shownu empurrou uma xícara delicada pelo balcão, sorrindo ao dar a volta na mesa e abraçar Jin por trás.

- Eu quero ser marcado. - Jin comentou fazendo Shownu se transformar em uma pedra atrás dele.

- Não somos almas gêmeas, a marca vai sumir em poucos meses.

- Então você marca de novo.

 Shownu negou com a cabeça. 

- Uma marca rejeitada arde, queima e dói toda vez em que for preciso marcar de novo. Não faz sentido nenhum eu fazer você passar por tudo isso, quando sabemos que… 

- Eu quero ser seu. - Jin virou na banqueta, puxando o alfa entre suas pernas. - Quero ser seu por completo.

 Shownu encarou os olhos brilhantes do ômega por um tempo, descendo por sua boca e parando na pequena barriga avantajada do menor.

 Ele alisou a barriga de Jin por cima do roupão, sorrindo com a ideia de um pequeno filhote crescendo ali. 

- Pode machucar ele.

 Jin puxou o ar com força para seus pulmões.

- Você sabe. - Jin sussurrou em choque.

- Eu posso sentí-lo. Ele é parte híbrido.

 Jin arregalou os olhos em choque. 

- Mas ele é tão pequeno. Como ?

 Shownu deu de ombros. Ele não sabia como responder aquilo. 

- De qualquer forma, eu conversei com a médica da vila. A mordida não vai interferir em nada em relação ao filhote.

 Shownu puxou Jin pela cintura para poder enfiar a cabeça no seu pescoço e alisar suas presas delicadamente como provocação. 

- Você tem certeza ômega?

- Sim. Por favor. - Jin resmungou manhoso.

 Shownu se afastou, tentando manter o controle. Ele realmente se tornava um lobo descontrolado quando se tratava de Jin. 

- Eu vou adorar te marcar ômega, mas tem algo que precisamos fazer primeiro.

 Jin se ajeitou na banqueta, encarando seu alfa com preocupação. 

- Quem? Vante?

 Shownu concordou com a cabeça, encarando o menor com pesar. 

- Ele te deixou uma carta.

- Covarde filha da puta. - Jin resmungou se segurando para não desatar no choro e falhando miseravelmente.

 Ele nunca foi tão grato por ter Shownu ao seu lado, como naquele momento.

… 

- Jimin, o que você está fazendo? - Suga perguntou com curiosidade ao ver Jimin segurar o filhote pelas pernas com uma das mãos enquanto atirava talco para todos os lados.

- Tô tentando colocar uma fralda no pirralho. - Jimin resmungou indignado enquanto Kihyun gargalhava todo animado ao ser pendurado no ar pelo pai ômega.

- Acho que balançar nosso filho no ar, não é a melhor estratégia amor. - Suga pegou o filhote delicadamente das mãos do seu ômega, sorrindo com a bagunça de talco que estava a camiseta enorme que Jimin vestia.

 Era a sua camiseta e seu lobo gostava disso por algum motivo. 

- Descansa um pouco, você parece exausto. - Suga colocou a criança no trocador, tentando não parecer muito bom no que fazia, já que podia sentir através da marca o quão inútil Jimin se sentia por não saber muito bem como cuidar do filhote.

- Estou faminto. - Jimin rosnou irritado. Assustando um pouco Kihyun que endureceu o corpinho minúsculo e ficou atento a qualquer barulho.

- Por que não deixa eu preparar um almoço especial para nós?

- Kihyun precisa dormir e eu preciso de um banho, não acho que…

- Baek  pode ficar com Kihyun um pouquinho, passear na vila e mostrar o pirralho para as outras crianças. Enquanto isso eu posso te dar banho e te alimentar, é claro.

 Jimin deixou os ombros caírem, seu olhos carregados de olheiras se fecharam enquanto ele sorria amoroso. 

- Você faria isso por mim?

- Faço qualquer coisa por você. Sempre.

 Suga não queria discutir, mas Jimin não deixava ninguém ajudá-lo quando se tratava de cuidar de Kihyun. Era como se o fato dele um ter pedido para tirar o bebê no passado fosse motivo o suficiente para jamais confiar nele com a criança.

 Ele queria dizer que foi um estúpido mais de uma vez no passado e que amava aquela criança mais que tudo no mundo, mas palavras não significavam tanto quanto ações e Suga estava sendo paciente a respeito disso, apesar de odiar o fato do ômega não querer dividir as tarefas de cuidar do pequeno. 

- Amor, por favor. Descansa só um pouco, o filhote vai ficar bem.

 Jimin encarou Kihyun deitado numa cama de talco enquanto batia as mãozinhas pelo pó e fazia a maior bagunça. 

- Ok. - ele suspirou, sorrindo no final quando Suga fez uma comemoração silenciosa na sua frente.

Alguém bateu na porta, tirando a atenção dos dois.

- Aconteceu alguma coisa? - Suga perguntou assim que Jin e Shownu entraram no quarto.

 Jin tinha os olhos inchados, mas foi logo invadindo o lugar para agarrar o sobrinho e mimá-lo de todas as formas possíveis, sem se importar com a cara fechada de Jimin ao vê-lo jogando a criança para o alto. 

- V mandou entregar a vocês.

 Jimin tirou os olhos do filhote para encarar as mãos de Shownu e logo em seguida cruzar olhares com seu alfa.

 De alguma forma, eles já sabiam exatamente o que havia acontecido, quase como se esperassem essa exata atitude de Taehyung.

 Eles conheciam o mais novo por tempo demais. V odiaria choros e lamúrias como despedida. Ainda assim, pegar aquela carta nas mãos foi, para ambos, uma das coisas mais difíceis que já tiveram que fazer.


 Jin encarou o berço encaixado no canto do quarto estreito em cima do seu restaurante com outros olhos.

 Era incrível quanto o tempo havia passado e como seu filhote havia nascido saudável e incrivelmente lindo. A criança era a cara de Shownu, mas isso não o magoava. Ele estava bem orgulhoso de tal feito na verdade.

 Seu corpo andava fraco e Jin sabia que estava prestes a morrer, mas não queria estragar o clima, contando aquilo pra todo mundo. Pelo menos ele não morreu no parto e pôde curtir um pouco da vida da sua criança. Foi a primeira vez que o destino lhe permitiu tal feito. 

- Ele adora seus carinhos.- Shownu disse ao abrir a porta com delicadeza e se deparar com aquela cena.

 Shownu estava tão fraco ultimamente, que até mesmo subir as escadas faziam seus cabelos grudarem em suas têmporas.

 Jin tinha quase certeza que a marca estava deixando o maior ainda mais fraco, pois ele estava muito doente. Talvez por nunca ter vivido por tanto tempo, a maldição provavelmente estava fazendo algo sobre o assunto.

Ele não queria dizer para o Shownu que não queria mais renovar a marca. 

 A cada três meses quando a marca sumia, eles a renovam, mas Jin sabia que isso estava deixando o mais velho ainda mais fraco.

 Um lúpus morre quando é rejeitado pelo seu único amor e um lúpus só ama uma única vez.

 Era por isso que Shownu, que já era debilitado pela idade, estava sofrendo consequências ainda mais visíveis com tudo aquilo.

 Em contrapartida, rejeitá-lo faria mais mal que bem para seu lobo.

 - Não se preocupe tanto. - Shownu sussurrou ao seu lado.

 Era engraçado como ele podia sentir cada mínimo detalhe dos pensamentos de Seok, geralmente uma ligação como a deles não era tão forte assim. 

- Como se sente hoje?

 Jin se esforçou para ir até a cama e deitar de lado. Ele se sentia fraco demais. 

- Não muito bem, passei a manhã inteira revirando os livros de feitiços e não encontrei nada sobre efeitos colaterais da magia. - Jin disse irritado, fazendo Shownu sorrir com o jeito fofo do mais novo.

- Estou vivendo por mais tempo que deveria. Já tive a criança, a regra seria morrer. Meu corpo está sofrendo com a rejeição da minha alma em viver. É isso ou estou realmente doente.

- Hobi sumiu. 

- O que? - Jin virou com dificuldade na cama, sendo abraçado por Shownu que deitou de forma que o ômega ficasse o mais confortável possível.

 Ele adorava esse extremo cuidado do seu alfa. 

- Ele pegou a moto e saiu para ver o mundo ou algo assim. Minhyuk não soube explicar exatamente.

- Você acha que ele…

- É possível.

 Jin suspirou com dificuldade. 

- É engraçado como que mesmo sem a maldição ativa, a gente ainda consegue desgraçar tudo.

- Vocês são almas muito velhas com muitas coisas que não se pode explicar envolvida em suas existências, é normal que não tenham respostas, pequeno.

 Jin concordou com a cabeça. 

- Você vai ficar do meu lado até o fim? - Jin perguntou sonolento.

- Até mesmo depois disso. - Shownu sussurrou, vendo Jin sorrir antes de cair no sono.

 Shownu acordou com uma dor insuportável no peito.

 Seus olhos arregalaram enquanto ele agarrava o ômega frio nos seus braços.

 Era a marca se desfazendo.

 Seokjin havia partido. 

- Não. Não. Não. Ainda é cedo. - Shownu precisava avisar alguém, mas ele estava debilitado demais para sobreviver há uma quebra de ligação no momento.

 Seu coração já estava falhando e o máximo que ele pode fazer foi se virar na direção do berço e sorrir antes de fechar os olhos. 

- Cuide deles para mim. Esse é o seu legado. - Foi o que saiu da sua boca antes da última lufada de ar presa em seus pulmões.

 Pelo menos é o que ele pensou ter dito, sua consciência já tinha a longo se partido, não tinha como saber com clareza o que realmente havia acontecido. A única coisa que tinha certeza, era que terminou sua existência exatamente como queria. Nos braços do único amor da sua longa e exaustiva vida.

 Shownu morreu feliz e isso era mais do que muitos podiam dizer, então ele se considerou com sorte no fim.

 Afinal, para ele esse era realmente o fim.

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