Encontro com o Rei

Jimin manteve seus braços cruzados, os olhos focados na escuridão enquanto o vento gelado tirava a agradável sensação que era estar ao ar livre.

A sacada de repente pareceu pequena para eles dois, então Jimin simplesmente abandonou Jungkook lá e entrou para o quentinho.

O lobo entrou em silêncio, pouco tempo depois e foi até a lareira acendê-la para aquecer mais o quarto do príncipe.

- Acredito que tenham servos para fazerem isso por mim. - Jimin resmungou sentando na sua cama gigantesca.

- Eu já estou aqui. - Jungkook disse baixo e calmo.

Jimin revirou os olhos, cruzou os braços e bufou enquanto se aconchegava na coberta de pêlo de animal que forrava a cama.

Ele arrepiou com uma rajada de vento entrando da sacada e se encolheu mais um pouco.

- Podemos conversar? - Jungkook perguntou depois de fechar a porta de vidro e ferro da sacada.

- Não. - Jimin respondeu, mas se sentia grato por não sentir mais frio.

- Jimin.

- Sou seu príncipe, não seu amigo, então me trate como um. - Jimin disse seco, fazendo Jungkook mudar sua postura, tentando disfarçar seu choque com um silêncio desconfortável.

- Eu sinto muito alteza. - Jungkook disse finalmente e mesmo que ele estivesse irritado, ainda parecia extremamente respeitoso.

- Me deixe sozinho. - Jimin disse engasgado com o choro preso na garganta.

- Se eu ao menos…

- Vai embora. - Jimin gritou assustando Jungkook e provavelmente o andar superior inteiro.

Jungkook concordou apressado e saiu, encostando a cabeça na porta assim que a fechou, ouvindo Jimin soluçar de tanto chorar do lado de dentro.

- Eu o traí. - Jungkook resmungou sabendo que a pantera ouviria do final do corredor.

Taehyung se aproximou um pouco tímido por ter sido pego bisbilhotando.  

- Por minha causa. - Taehyung disse sem graça mudando o foco da preocupação de Jungkook quase de imediato.

- Não se culpe. - Jungkook se aproximou, tocando nas bochechas rosadas da sua outra metade.

- Vem! Não vai adiantar de nada ficar plantado na porta do quarto do príncipe, amanhã você tenta de novo.

- Pra onde vamos? - Jungkook perguntou enquanto era arrastado pelo alfa.

- Quero te mostrar nossa casa. - Taehyung respondeu tímido.

- Temos uma casa ? - Jungkook sorriu.

Ele nunca tinha experimentado ter um lar antes. Sempre servindo Reis e seus reinos. A sensação de ter algo para ele e seu alfa lhe aquecia o peito.

- O que acha? - Taehyung perguntou envergonhado.

Seu Rei não era conhecido por ser generoso e apesar dele ser o líder da ordem dos dragões, seus espólios não eram tantos. Sua casa era simples, mas ele tinha orgulho de tê-la mesmo assim.

- É perfeita. - Jungkook disse com emoção na voz.

Taehyung se virou para o alfa, curioso com a estranheza em sua voz.

- Eu nunca tive um lar antes, mas tenho certeza que este é perfeito.

Taehyung sorriu largo.

- Fico feliz que tenha gostado.

Jungkook estava prestes a dizer alguma coisa, quando travou no lugar sentindo um cheiro leve e excitante invadir seus sentidos.

- Por que não me disse? - Jungkook perguntou se aproximando da pantera que parou de tirar o casaco para encarar o lobo.

- Eu… - Taehyung terminou de tirar o casaco. - Eu estava com medo, honestamente.

- Medo?

- De você não me querer ou pior, brigar por território como um alfa comum faria.

- Não sou um alfa comum. - Jungkook disse se aproximando para beijar Taehyung nos lábios.

- Eu sei disso, mas meu cio é um tanto quanto perturbador.

- E você achou que isso me afugentaria? - Jungkook perguntou incrédulo.

Taehyung riu com o quanto aquilo parecia um desafio.

- Estava esperando que não. - Taehyung disse tímido.

- Quando começou? - Jungkook perguntou mordendo o pescoço da pantera que gemeu em resposta.

- Pouco antes do sol se pôr.

Jungkook sorriu, beijando Taehyung no ombro.

- Seu cheiro dominante está deixando meu lobo louco.

- Tesão ou ódio? - Taehyung perguntou animado.

- Não sei dizer. Os dois talvez? - Jungkook disse tirando a blusa de  lã que a pantera vestia.

Taehyung riu, fugindo do lobo enquanto corria  animado.

Jungkook rosnou, seguindo o cheiro de Taehyung pelos corredores da casa ainda desconhecida para ele.

- Vem cá, gatinho. - Jungkook chamou debochado enquanto o caçava.

Um barulho estrondoso o assustou fazendo ele apertar o passo, porém seu corpo foi pra trás quando uma enorme pantera de olhos verdes esmeraldas cintilantes, surgiu na sua frente, colocando sua presa pra fora e o desafiando a lutar.

“Seu gatinho tá aqui, lobo”. -  a voz da pantera disse em sua mente, soando ardilosa e traiçoeira.

Jungkook sorriu largo tirando a roupa enquanto dava passos para trás para não ser pisado pela pantera.

- Você fica tão sexy irritado. Nem parece o ômega carente que costuma personificar. - Jungkook provocou ouvindo o rugido reverberar pelas paredes de pedra cinzenta da casa.

Ele só esperava que a casa resistisse a eles dois. Jungkook realmente tinha gostado daquele lar.

A pantera tentou pular em cima dele, indo pra trás quando Jungkook se transformou no processo.

Sua cabeça bateu na parede e depois no chão com o impacto do corpo do lobo, mas Taehyung se levantou o mais rápido que pôde, sacudindo a cabeça antes de pular mais uma vez em cima do lobo, que dessa vez permitiu ser atacado.


Jimin acordou com a cabeça explodindo. Podia tanto ser por causa do vinho com o qual não estava acostumado ingerir ou por causa do choro que durou quase a madrugada inteira. A última opção parecia a mais provável.

O sol estava a pino, o que significa que já devia ser metade do dia e ele ainda estava na cama.

Seu rosto ficou vermelho de raiva ao perceber que ninguém deu falta dele, mas isso provavelmente era só seu ego falando.

Jimin sentiu as pernas doerem quando tocaram o chão, provavelmente da viagem no lombo do lobo na noite anterior.

Ele esticou o corpo, alongando sua musculatura rígida e caminhou para a porta que provavelmente o levava ao banheiro.

Jimin ficou impressionado quando entrou na casa de banho, era gigantesca e havia uma porta externa por onde os servos deviam entrar para preparar seu banho sem atrapalhar. E era exatamente o que deve ter acontecido, pois havia água quente numa tina de prata enorme, roupas limpas e um sino, provavelmente para chamar alguém, caso precisasse de algo.

Jimin tocou o sino e quase que imediatamente uma senhora idosa entrou pela porta.

- Majestade. - A mulher fez uma reverência exagerada e com dificuldade.

- Oh! Isso deve estar pesado. - Jimin pegou a bacia das mãos da mulher, notando que era mais água fervente para o seu banho.

- Não, por favor. Não faça isso. - A mulher disse desesperada, mas Jimin já estava enchendo a banheira.

- A senhora, trabalha sozinha? Não tem ninguém para ajudar?

- Po…r...por favor, não conte para o Rei, minha sobrinha normalmente me auxilia, mas ela está muito doente.

- Eu sinto muito. - Jimin sorriu para a mulher ainda apavorada. - Prometo não falar nada. - ele acrescentou com urgência.

A mulher relaxou imediatamente, vacilando entre um sorriso e outra reverência estranha.

- Qual seu nome? - Jimin perguntou animado.

- Dorotéia.

- Jimin. - O príncipe falou, como se a mulher não soubesse.

Ele olhou ao redor curioso.

- Dorothy. Vocês têm rosas por aqui?

A mulher enrugou a testa com o apelido, mas logo correu para fazer o serviço de agradar o príncipe.

Jimin aproveitou que a senhora idosa saiu correndo e tirou suas roupas para entrar na banheira.

Não havia perfumes na água, o que era estranho e ele já havia notado antes, por isso pediu as rosas. Jimin já imaginava um Rei velho, gordo e fedorento mesmo antes de vê-lo.

Que tipo de Rei tomava banho só com água?

- Água nem tem cheiro. - Jimin resmungou enquanto esfregava o corpo com a escova de cerdas grossas.

Dorothy travou os passos assim que entrou na casa de banho. Seus olhos arregalaram e as pernas vacilaram.

- Príncipe. O senhor tirou suas vestes sozinho?

Jimin deu um pulo seguido de um gritinho agudo, mas logo se acalmou, colocando a mão no peito enquanto se esforçava para respirar normalmente.

- Que susto! Sim, não sou incapaz de tomar banho. Rosas pretas? - Jimin pediu as flores um pouco receoso.

A mulher se aproximou entregando um buquê para o príncipe.

- Ninguém sabe o porquê de terem essa cor, mas elas cheiram iguais as vermelhas.

Jimin pegou as flores nas mãos e começou a puxar as pétalas da flor estranha e jogar na água.

Dorothy viu o que o príncipe fazia e começou imitá-lo imediatamente.

- Que tipo de ritual é esse Majestade?

- Eu costumo chamar de banho bem tomado.

Dorothy enrugou a testa, mas achou melhor não discutir.


O Rei já estava impaciente.

Bem! Talvez a palavra impaciente não chegava aos pés de descrever seu humor naquele dia.

Primeiro o príncipe com o qual ele devia se ligar chegou achando que lhe dava ordens, apesar de ter sido realmente rude não recebê-lo nos portões.

Ele estava com sono e não havia necessidade de ir até o garoto mimado àquela hora da noite.

Porém, já havia passado a hora do almoço e nada do príncipe metido descer.

Estavam todos famintos ao redor da mesa esperando a vossa majestade aparecer. 

- Por que ele ainda não desceu? - Yoongi bateu com o copo de vinho na mesa, espirrando o líquido para tudo que é lado e assustando a mesa inteira.

- Talvez ele não tenha esse costume Majestade. - um dos conselheiros do Rei se arriscou em dizer.

- Não tem costume de comer? - Yoongi levantou uma sobrancelha, fazendo o conselheiro abaixar a cabeça.

- Chamem a serva responsável por seus cuidados.

Um alvoroço começou entre os serventes, fazendo a senhora de idade aparecer na mesa quase que aos tropeços.

- Ma... majestade. - a mulher se curvou com as pernas trêmulas.

- Cadê a porra do príncipe?

Alguns suspiraram horrorizados com o comportamento do Rei, mas ninguém se atreveu dizer nada.

- Ele se recusa descer vossa alteza.

Yoongi bufou irritado. Ninguém nunca o desafiou daquela forma antes. Seus olhos ficaram vermelhos e um rosnado grave saiu de sua garganta.

- Podem servir a refeição. Tranque o quarto e não lhe dê comida até amanhã. Se ele não quer comer, então que não coma.

A mulher suspirou horrorizada, mas correu para fazer o que o Rei havia ordenado.

- Ele o que ? - Jimin gritou irritado enquanto Dorothy parecia prestes a desfalecer.

- Quem ele pensa que é? - Jimin bufava irritado, enquanto girava os pés de um lado para o outro no quarto.

- Por favor majestade, não se esforce demais, ainda não comeu nada. - Dorothy disse preocupada com o bem estar do príncipe.

O garoto já parecia bem frágil.

- Desculpa. Não quis te preocupar. É só que… - Jimin mordeu os lábios irritado, se esforçando para não chorar.

Ele não tinham mais um lar, foi tirado no meio da noite do lar de seus novos amigos e da única família que ainda tinha, Hoseok. Perdeu seu melhor amigo e ainda por cima estava naquele lugar hostil sozinho.

A situação só tendia a piorar irritando o Rei, ele sabia disso, mas não podia se forçar a colaborar.

- Dorothy. Não quis ser rude. - Jimin repetiu seu pedido de desculpas.

- Estou bem alteza.

Dorothy estava em choque. Ela nunca foi tratada com tanto cuidado em toda sua vida.

O príncipe era bondoso e lhe tratava como uma igual. O que era um absurdo, nem seu marido, que na verdade era um igual, a tratava daquela forma. De repente ela se sentiu protetora em relação àquele pequeno ser de luz. Ele não merecia o Rei dela, não mesmo. O homem era um monstro e comeria aquele pequeno príncipe vivo se pudesse.

- Talvez eu consiga contrabandear um pouco de assado para o quarto.

- Não. - Jimin negou com as mãos. - Não é como se eu conseguisse colocar algo no meu estômago de qualquer forma.

Dorothy concordou se retirando do quarto em silêncio.

O céu finalmente escureceu. Ninguém veio ver como Jimin estava, ele podia muito bem morrer ali que ninguém saberia.

Tá! Talvez ele estivesse exagerando um pouco, mas não é como se fosse divertido ficar trancado num quarto, independente do seu tamanho.

Jimin comeu mais um pouco de uva, olhando para o céu cinzento escuro.

Ele sentia falta do Reino das flores e de Jin. Merda! Ele sentia ainda mais falta de Galante, por mais que sua família nunca o amou ou lhe deu atenção, pelo menos no seu quarto ele podia ver a vida de pessoas aleatórias da torre.

Dorothy entrou desesperada na sacada, se debruçando no parapeito de pedra e olhando para baixo.

- Você não acha que eu pularia, acha? - Jimin perguntou rindo do pulo que a mulher deu ao notá-lo na mesa de ferro ao lado.

- Majestade. Que susto! Não, eu achei que teria amarrado trouxas de panos para fugir. - Dorothy disse olhando a mesa cheia de comida à sua frente.

- Já estava aqui quando cheguei. - Jimin disse mordendo um pêssego um pouco passado, mas ainda suculento.

Ele olhou para a sacada pensando se não deveria ao menos tentar fugir.

- Acha que sou idiota? Por nem ao menos tentar salvar minha vida?

Dorothy torceu o avental que vestia, sentindo aliviada, apesar de ser muito pouco.

- O fiel do Rei é um bom rastreador, não iria muito longe. - Dorothy disse infeliz.

Jimin concordou com uma careta pensando na pantera que o recebeu no castelo.

Aquele ladrão de almas!

- Majestade. Você está bem? Parece pálido.

- Por favor. Me chame de Jimin.

Dorothy arregalou os olhos em pânico.

- Eu não posso fazer isso, ao menos que eu queria minha cabeça em um espeto. Sinto muito.

Jimin concordou em silêncio, ignorando o pavor da mulher. Ela ficava apavorada bem fácil.

- Posso te preparar para o jantar majest… princípe? - Dorothy perguntou sem graça.

- Vou tomar banho, mas não vou descer para jantar.

- Não pode se alimentar só de frutas. - Dorothy disse o óbvio.

- Só vá buscar mais flores Dorothy. - Jimin disse irritado, formando um bico em seus lábios.

Yoongi sentou na mesa de jantar. Todos já estavam o esperando. Ele tinha o costume de se atrasar, só para deixar seus convidados à mercê, era uma sensação de poder e superioridade que ele sempre fez questão de enfatizar, assim como seu pai e o pai de seu pai fizeram.

- Cadê o maldito príncipe? - O Rei gritou ao ver a cadeira ao seu lado vazia.

Taehyung não estava ali para acalmá-lo e mais ninguém se atreveu tomar o papel do braço direito do Rei, então um silêncio aterrorizador tomou conta do lugar.

Dorothy foi empurrada para frente, quase caindo aos pés do Rei. O que não seria uma má ideia naquele momento.

- O príncipe se nega a descer, majestade. - Dorothy disse vacilante, mas se orgulhou de não ter gaguejado. 

O rei odiava fraqueza.

- Ele o que ? - Yoongi olhou nos olhos da pobre alma, como se pudesse estrangular seu pescoço a qualquer momento.

- Ele pediu para lhe dizer que se não é importante o suficiente para ser recebido aos portões quando chegou, não deveria ser importante o suficiente para sentar na mesma mesa da vossa senhoria.

A mulher caiu de joelhos conforme Yoongi levantava de abrupto, derrubando a cadeira de madeira em que estava sentado.

- Isso é o que vamos ver. - Yoongi resmungou entre um rosnado assustador enquanto caminhava na direção da escada lateral.

- Pobre alma. - Dorothy disse triste ao pensar em Jimin perto daquele homem sem alma.

Jimin havia tomado seu banho com flores mais uma vez, vestiu um pijama de seda preto e agora escovava seus cabelos cantarolando uma música que o harpista do Reino das flores costumava dedilhar em suas cordas durante o jantar. Seu estômago roncou um pouco.

A porta abriu com tudo num estrondo, fazendo Jimin pular do banco da penteadeira com a escova de cabelo quase cravando em seus dedos.

Jimin olhou entediado na direção do Rei, mas suas pernas quase falharam quando seus olhos focaram no homem de pé na sua frente.

Ele era lindo. Não de um jeito comum. Ele era simplesmente perfeito.

Os rosto liso e impecável, a mandíbula saliente tirando um pouco da delicadeza de seu queixo, os olhos negros pareciam assustadores e frios, porém sua expressão séria o imaculava. Mesmo com toda aquela roupa Jimin podia ver seu corpo forte com músculos salientes, sua boca vermelha e delicada estava numa pequena linha fina e sua testa franzida. Jimin se pegou pensando em como seria seu sorriso e seu corpo vacilou em expectativa.

Jimin estava preparado para desafiar e fazer da vida do Rei um inferno, já que a sua vida estava sendo um, mas não esperava que o Rei fosse assustadoramente lindo. Não será fácil desafiá-lo se sua perna mal conseguia mantê-lo em pé.

Yoongi olhou o príncipe pela primeira vez e seu lobo quase uivou em desespero para marcar território.

O cheiro de rosas misturavam com o de açúcar queimado, fazendo Jimin parecer a porra da sobremesa.

Seu lobo se identificou imediatamente com aquele pequeno ser, agora seu lado humano parecia ainda mais patético.

Seu coração batia acelerado enquanto ele encarava aquela figura delicada. O corpo delineado no tecido fino e brilhante não ajudava sua sanidade já escassa, seu quadril fazia o Rei salivar. Ele precisou apertar os lábios para conter o rosnado de desejo que vinha de dentro dele.

A testa franziu em completo desagrado. 

Como alguém tão pequeno e frágil podia desestabilizá-lo daquela forma?!

Yoongi já lutou sozinho com mais de cinquenta soldados e saiu ileso, mas pela primeira vez, ele se sentia derrotado.

Seu lobo queria rodear seu príncipe, marcá-lo com seus dentes e fazer tudo que o menor desejasse. Ele queria servir, pela primeira vez em sua existência, Yoongi queria caçar o maior animal que conseguisse achar e jogar aos pés do príncipe.

Espera um minuto! Seu príncipe?

Yoongi ignorou seus pensamentos perturbadores, ainda pensando num animal digno de oferenda para o pequeno ser.

Talvez ele não devesse caçar animais ainda, isso provavelmente o assustaria.

- Eu… - O Rei gaguejou confuso com os próprios pensamentos bagunçados, a adrenalina sendo despejada na sua corrente sanguínea, já que seu lobo estava pronto para caçar.

Jimin no entanto parece ter se recuperado mais rápido que o Rei.

Regulando sua postura e fechando a boca aberta.

- Quem você pensa que é para entrar nos meus aposentos desse jeito? - Jimin perguntou com a voz rouca e instável.

Droga!

- O Rei. - Yoongi respondeu confuso. - Eu sou o Rei.

- Muito bem “o Rei” - Jimin começou irônico. - O quarto é meu. Não entre sem bater.

- Mas é o meu castelo. - Yoongi resmungou confuso.

- Você me sequestrou. O mínimo que devia fazer era respeitar minha privacidade. - Jimin disse incerto.

Yoongi encarou o Jimin em completa confusão. Aquilo não fazia o menor sentido. Se ele sequestrou alguém, o esperado é que essa pessoa sofresse uma morte lenta e dolorosa, não recebesse respeito.

O Rei se arrepiou, pensando na morte do pequeno príncipe. Seu lobo rosnando em sinal de ameaça.

Ele não fazia ideia da última vez que realmente sentiu algo assim. Yoongi nunca protegeu ninguém em sua vida, pelo contrário, ele sempre foi o protegido. Então, a sensação agonizante de temor o assustava.

Sua atenção voltou para Jimin que havia dado passos para trás, se encurralando na parede com uma escova de cabelo apontada para ele.

- Vo...cê  vai me matar agora? - O príncipe perguntou quase conformado com a situação.

Yoongi percebeu que ainda estava rosnando baixo, seu peito vibrando com o som assustador. Ele parou imediatamente, se sentindo um inútil por não conseguir controlar seu lobo, que normalmente não agia tão indócil dessa forma.

- Não quis assustá-lo. - Yoongi disse, sem ideia do porquê o coração agitado do príncipe o incomodava tanto.

- Saia do meu quarto.

- Não fale comigo assim.

- Sai agora do meu quarto. - Jimin berrou.

Yoongi o olhou nos olhos, suas presas ferindo a boca fechada, gosto de sangue nos seus lábios, ironicamente o lembrando que não precisava ser um total selvagem.

- Só quero sua companhia para jantar. - Yoongi disse tentando manter a calma.

- Eu já disse que não vou descer. - Jimin disse entre dentes, fazendo Yoongi perder o pouco da paciência que tinha .

- Você vai… - Yoongi deu alguns passos mais para perto. - … fazer... - Jimin bateu as costas na parede. - … o que eu… - Yoongi se aproximou do menor, soltando ar pelas narinas dilatadas. - ...Mandar.  - Ele terminou num rosnado baixo e assustador.

Seus olhos ficaram vermelhos e sua fera estava quase que em total controle do seu lado humano.

Uma pontada de dor fez Yoongi voltar de seu transe, os olhos adquirindo sua cor natural, as presas de volta para dentro da boca machucada. Ele passou a mão na cabeça, notando um galo prestes a se formar ali.

Suas sobrancelhas se juntaram ao notar um objeto no chão.

Era a escova de cabelo do príncipe.

Jimin havia tacado a escova de cabelo na sua cabeça?!

- Não rosna pra mim. - Jimin disse bravo.

Yoongi arregalou os olhos em compreensão, ainda tentando acreditar no que tinha acontecido.

- Você tacou a escova em mim? - ele perguntou ainda sem acreditar.

Jimin colocou as mãos na cintura e empinou seu nariz delicado para cima.

- Se rosnar de novo, taco-lhe a cadeira.

Yoongi estava perplexo e o que parecia um momento tenso de início terminou assim que Yoongi começou a gargalhar, colocando as mãos na barriga para conter a dor causada pelas risadas.

Jimin relaxou os ombros, mas o Rei ainda o assustava, ele estava falando sério sobre a cadeira.

O Rei parou de rir, dando alguns passos na sua direção.

- Eu confesso que posso ter sido um pouco rude com você, alteza. - Yoongi puxou o ar ao redor de Jimin, sentindo seu lobo pular em êxtase como um filhote inútil.

Por que ele tinha que ser tão cheiroso?!

- Você foi um boçal, isso sim.

Yoongi mordeu os lábios tentando conter a irritação, aquele cheiro o deixando excitado e vergonhosamente a mercê daquele garoto mimado.

- Eu sinto muito.

Não! O que ? Ele não pedia desculpas à ninguém.

- O que ? - Jimin enrugou a testa, encostando suas mãos no peito de Yoongi para impedi-lo de se aproximar ainda mais.

Teria funcionado se ele não tivesse deixado escapar um maldito gemido ao encostar no peitoral do Rei.

Yoongi sorriu, enquanto suas pupilas dilatavam, a medida que o cheiro de Jimin se intensificava.

- Você me deseja. - Yoongi disse baixo quase chorando para encostar no pequeno príncipe.

- Não. Eu o odeio. - Jimin disse contrariado, tentando empurrar o Rei.

- Eu posso sentir desejo no seu cheiro. - Yoongi riu, se sentindo melhor com seu ego devidamente inflado.

Jimin sentiu vergonha.

O mesmo Rei que matou toda sua família, tantas pessoas inocentes. Mandou matar Jungkook e o trouxe ali a força.  Ele realmente estava excitado e desejoso e não era por qualquer pessoa, era por um monstro sem alma que queria lhe devorar a alma e manchar seu sangue.

Jimin sentiu as pernas vacilarem, suas mãos pararam de lutar por espaço. Ele abaixou a cabeça, sendo seguido por Yoongi que olhava a tudo com curiosidade.

- Por que  quer tanto que eu me alimente? - Jimin perguntou com a voz instável.

- Porque me importo. - Yoongi respondeu distraído.

Jimin levantou a manga do pijama de tecido fino, expondo uma enorme cicatriz, ainda cicatrizando no braços esquerdo.

- Não! Você não se importa. - Jimin falou firme. - Você me quer aqui para ser mais forte e impiedoso às custas de uma ligação. - Jimin disse quase chorando. - Não se importou comigo quando tentou matar a mim e à minha família.

Yoongi se afastou assustado, mas a compreensão logo chegou a ele.

Seu corpo tremeu ao olhar para aquela cicatriz e seu lobo aproveitou da sua distração e tomou conta de sua mente, se transformando bem ali na frente do príncipe.

Jimin encarou as roupas rasgadas no chão confuso, mas seus olhos se recusaram a levantar mais que isso. Ele não sabia se o Rei estava transtornado por nojo dele ou se é porque agora ele não parecia mais perfeito e imaculado como sua mãe o obrigou a parecer por tantos anos. Jimin tinha uma falha agora. Não era mais digno de um Rei.

Ele sabia o que tinha acontecido quando ouviu aquele barulho assustador de ossos quebrando. Já tinha visto Jungkook perder o controle um milhão de vezes.

Seu corpo estava rígido e ele sabia que morreria a qualquer segundo.

Ele não ouviu o som de patas na sua direção, mas as viu quando entraram em seu campo de visão.

O lobo soltou o ar pelo nariz com violência, como se pedisse atenção, mas Jimin o ignorou completamente, agora travado no lugar por medo.

Ele fechou os olhos quando sentiu uma baforada de ar quente em seu pescoço e quase desmaiou quando o lobo lambeu um pouco de lágrimas da sua bochecha. Suas pernas finalmente perderam as forças e ele caiu no chão, cobrindo a cabeça com os braços em volta dos joelhos.

Suas mãos eventualmente foram aos seus ouvidos, tentando bloquear os uivos agonizantes que o Rei dava enquanto corria para fora do castelo.


Yoongi permitiu que o príncipe comesse em seu quarto nos dias que se seguiram, até porque também não queria encará-lo. Ele estava envergonhado. Não queria acreditar que tinha sido responsável por desfigurar um ser tão perfeito. Não que isso atrapalhasse na beleza do príncipe, mas era uma afronta, um pecado imperdoável que ele não estava disposto a aceitar.

Ele sabia que Taehyung tinha alcançado seu Rut e estava pacientemente esperando passar os três dias de ápice do alfa, mas isso não significa que ele não torturou cada ser que passou perto dele durante aqueles dias de espera. Principalmente os que tentavam conversar ou perguntar se ele estava bem e precisava de algo.

 Finalmente, Yoongi mandou chamar Taehyung que chegou afobado, olhando com as sobrancelhas levantadas para o escritório completamente destruído do Rei.

- Mandou me chamar? - Taehyung perguntou quase sem voz.

Acasalar com outro alfa foi uma experiência um tanto quanto interessante, Taehyung estava destruído. Em algum ponto ele teve que se declarar o submisso da relação e entregar seu poder para o seu alfa, mas não significa que eles não tentaram se matar antes.

Yoongi olhou curioso para Taehyung. A pantera estava toda machucada e mal andava direito.

- Você tem sorte de se curar rápido. - O Rei disse divertido.

- Eu sei. - Taehyung resmungou mal humorado, louco para voltar para o quarto. - Por que estou aqui?

Yoongi mordeu os lábios, jogando os papéis de suas mãos na cara da pantera.

Taehyung estava tão debilitado que não teve nenhum reflexo do movimento repentino, assistindo as folhas baterem com leveza em seu rosto e depois cair no chão junto aos destroços do restante do cômodo.

- O que é isso? - ele perguntou, se recusando a agachar para pegar o papel.

- Me responde você? - Yoongi perguntou irritado enquanto olhava o fogo crepitar na lareira, ainda intacta na parede.

Taehyung revirou os olhos, gemendo de dor enquanto agachava para pegar os papéis.

- Por Deus Taehyung. Aquele lobo tem uma tromba por um acaso?

Taehyung gemeu, tentando não se excitar com os pensamentos seguintes.

Yoongi suspirou desanimado. Talvez ele tivesse arrancado a pantera cedo demais do quarto, apesar de que ele duvidava que o garoto aguentasse ser fodido ainda mais do que já estava.

- Esse é um relatório da queda do Reino de Galante. - Taehyung disse fazendo Yoongi sair de seus pensamentos aleatórios sobre o amigo.

- Que merda aconteceu ? - Yoongi disse irritado.

Ele estava tão focado em ter o príncipe a qualquer custo que acabou se distraindo completamente das suas funções como Rei.

Os relatórios em cima da mesa, no qual ele não tinha encostado ainda, diziam todo tipo de coisa.

Mortes de soldados na fronteira leste, perda de alimentos por furtos, queda de reinos que juraram fidelidade a sua família. O reino inteiro sofria com a displicência do Rei.

Ele queria culpar o príncipe de Galante por isso, mas só conseguia culpar a si mesmo.

- Eu achei que tinha permitido somente uma sabotagem no abastecimento de alimentos da cidade baixa do castelo, não a destruição de todo o reino.

- As ilíadas ofereceu auxílio de última hora, a conversa sobre a maldição que acomete o príncipe começou se espalhar feito praga no acampamento e quando eles deram por si, o objetivo já era matar o príncipe ao invés de resgatá-lo. - Jungkook disse invadindo a sala sem ser chamado.

Yoongi olhou torto para o lobo, mas a informação parecia mais importante que a intromissão.

Jungkook olhou para a calça apertada de Taehyung, vendo que ele já estava excitado só de ouvir sua voz e sentir seu cheiro. Seu lobo encheu de orgulho por ter sido reconhecido pelo seu alfa, mas a semana foi difícil e seu corpo mal aguentava se  manter em pé de tão exausto. Taehyung era insaciável, sua pantera era geniosa e ele tinha a força de um alfa bem treinado. Não estava sendo fácil.

- Onde você estava para não impedir que ele se machucasse? - Yoongi perguntou, interrompendo a troca de olhares do casal apaixonado à sua frente.

- Jimin descobriu que a promessa que nos ligava foi feita para o bem da sua família e não por ele. Ele sabia que no final, minha lealdade estava com você.

Yoongi repetiu o nome de Jimin várias vezes na mente, precisando balançar a cabeça para interromper a atitude sem sentido.

- Sua promessa era protegê-lo.

- Protegê-lo para sua família.

- Você mesmo disse que o protegeria até mesmo de mim se fosse necessário.

- Jimin não via dessa forma.

Jimin. Jimin. Jimin.

- De qualquer forma, ele me mandou ir embora e eu fui. Eu ia caçar e voltar para tentar me desculpar com algum coelho ou algo assim, mas quando cheguei no alto da Colina, vi o castelo pegando fogo. Quase não cheguei a tempo.

Yoongi mordeu os lábios.

- Quero as ilíadas destruída. - Yoongi disse quase rosnando com o pedido.

- Eles são nossa maior fonte de trigo.

- Não me interessa.

- Seu povo passará fome.

- Tá me desafiando? - Yoongi perguntou revoltado.

- Talvez eu tenha uma solução um pouco menos bíblica.

Yoongi encarou Jungkook incrédulo, mas não o impediu de continuar.

- O Reino das flores produz trigo e está em guerra por território neste momento com as ilíadas, apesar de que o Rei tenta resolver tudo entre acordos, ao invés de morte e destruição.

- O Rei das flores é um fraco. - Yoongi resmungou entortando o nariz com nojo.

- Ainda assim o reino floresce todos os dias do ano. - Jungkook falou, querendo dizer que o reino das flores era um reino próspero.

- Como sugere que eu faça uma negociação por trigo com o Rei? - Yoongi perguntou irônico, já que medo era a principal arma do Rei dos dragões e ele duvidava muito que Jungkook estava dizendo tudo aquilo para que eles o atacassem.

- Conversando.

O Rei bufou incrédulo.

- O reino das flores fica localizado numa posição bem mais estratégica que os dragões. Você poderia liderar sua tropa de lá. Ganharia a guerra antes mesmo dela começar.

- Eu poderia guerrilhar com o povo das flores, tomar seu território vomitado por um unicórnio e depois derrubar Ilíadas.

- Poderia! Mas isso levaria muito mais tempo do que conversar. - Jungkook disse no mesmo tom estrategista que Yoongi.

Taehyung ficou com ciúmes. Ele era o único que falava daquela forma com o Rei.

- Você pode usufruir das tecelãs do Rei também. São as melhores da províncias, assim como os ômegas da cidade baixa. - Taehyung disse lambendo os lábios.

Jungkook rosnou para Taehyung que ficou satisfeito por conseguir causar ciúmes também.

- Por Deus! Voltem para o quarto. Preciso pensar e essa tensão sexual não tá ajudando.

Taehyung riu e foi elegantemente para fora do que um dia foi um escritório, deixando Jungkook pra trás.

Jungkook encarou Yoongi com curiosidade, pensando se falava ou não o que estava pensando.

Yoongi parou de olhar o fogo para tentar descobrir porque Jungkook ainda não tinha ido embora.

- Jimin morre de vergonha daquela cicatriz. Não consigo imaginá-lo mostrando deliberadamente a você.

- Eu sou seu Rei. Ele faz o que eu ordenar. - Yoongi disse com orgulho ferido.

- Nós estamos falando do mesmo Jimin, certo?! - Jungkook perguntou divertido, recebendo um resmungo irritado em resposta.

- O que eu quero dizer é que, se Jimin se abriu para você, é porque viu algo em você que talvez  já tenha esquecido que existe.

- E o que seria isso? - Yoongi perguntou debochado.

- Compaixão. - Jungkook disse, saindo do cômodo antes de ver o rosto de Yoongi perder o sorriso debochado e adquirir uma expressão sinistra e perturbadora.  

Yoongi chegou a conclusão que talvez a tal da maldição não fosse tão infundada assim, já que Jimin parecia a pessoa perfeita para lhe deixar à ruínas.

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