Pergaminho X
Conflito de casas
Andar pelas ruas da capital seja pela manhã, exigia muita paciência. Pessoas esbarrando umas nas outras, gritaria, comerciantes pra lá e pra cá, mendigos sentados pedindo esmolas e bandidos contornando os acostamentos. Para evitar a multidão vulgar, o rei cercou o local onde estava com duas dúzias de seus soldados, ali poderia observar com mais segurança as estátuas que fora averiguar.
— Que estrago, não? — a voz do homem idoso, ao lado do rei, saía rouca, forçada pela idade. Vendo o broche preso a túnica, qualquer um que passasse por ali saberia que o senhor era um de seus conselheiros.
— É só uma estátua. — Jano revirou suas irises amarelas com desinteresse. — Tá certo que elas representam muita coisa, mas ainda não deixam de ser estátuas.
Haviam quatro homens esculpidos em mármore, a uma altura de quarenta metros. Cada um deles esboçava diferentes olhares, mas todos penetrantes, alguns até assustadores pela seriedade. O branco delas brilhava com o sol forte que fazia, ambas estavam impecáveis, com exceção da quarta, onde faltava-lhe metade do pé e da panturrilha direita.
— Uma carroça tombou por acidente, causando esse prejuízo. — complementou o idoso.
— É reparável?
— Os escultores já verificaram. Em poucas semanas ficará exatamente como estava antes. Só fico com pena do dono da carroça.
— Mas você não acabou de dizer que foi um acidente? Nesse caso o prejuízo pra ele será mínimo.
— Não falo do valor em dinheiro, vossa majestade. O senhor sabe o que diz uma antiga lenda sobre essas estátuas? Aquele que derrubar um grão sequer desta obra, terá sua vida e sua casa amaldiçoada por cinco gerações.
— Claro que já ouvi essa lenda estúpida. E você acredita nisso?
— Bem, como sabe, eu sou da época do quarto, vossa majestade. Depois das coisas que já vi, eu não duvidaria.
O rei novamente revirou os olhos e virou o rosto para o chão a esquerda.
— Eu sinceramente não sei o porquê de vocês idolatrarem tanto esse quarto. Se ele fosse tão bom assim a casa dele não tinha sido extinta. — resmungou baixo; é claro que não ousaria vociferar essas palavras.
Antes que dissesse mais alguma coisa, um soldado apareceu anunciando:
— Vossa majestade. Os mestres das casas já o aguardam na sala triangular.
E assim, o rei tomou o caminho voltando ao palácio. Entre os corredores enfeitados pela estrutura barroca, o rei seguiu até uma sala triangular. Um local como qualquer outro no palácio, de tom branco e amarelo, a única diferença era o fato de ser bem mais luminoso por conta do tamanho das janelas.
Ao centro, uma mesa triangular inteiramente branca. Haviam sete cadeiras no total, espalhadas ao seu contorno. Duas ficavam na base do triângulo. As extremidades eram retas e possuíam uma cadeira em cada. Por fim, em cada um dos lados superiores da mesa, uma cadeira.
Na porta da sala, Jano se deparou com seu irmão, um olhar preocupado ele segurava.
— Então, como está? — questionou Leon. — Sua primeira reunião com os mestres. Tenso?
— Se eu falar que sim, aposto que papai vai se revirar no túmulo.
Leon colocou as mãos nos ombros de seu irmão e forçou um sorriso por ele.
— Vai com tudo maninho! Não se deixe intimidar. — concluiu o Loiro.
O rei respirou fundo e assentiu com a cabeça. Por fim, entrou na sala.
Haviam, fora Leon, seis pessoas para sete cadeiras e ninguém mais na sala, além de alguns guardas atrás da porta e outros próximos aos que estavam sentados, mas a presença silenciosa os tornava quase invisíveis.
Jano caminhou até sua cadeira em postura ereta, sem desviar o rosto. A cadeira ficava num dos lados do triângulo. Ali, o jovem rei pôde analisar bem a face dos outros; todos emanando autoridade, com queixos levantados e uma seriedade nos olhos. Alguns de forma evidente, olhavam para o Rei Jano e em seguida, para a cadeira vazia na ponta principal do triângulo. É claro que isso o deixou desconfortável, mesmo o monarca não ter pronunciado uma única palavra ainda.
— Pois bem — começou o Jano — Saiba que é um prazer tê-los por aqui para discutirmos a prosperidade das nossas famílias e de nossos povos. Meu pai costumava dizer que não existe nenhum assunto grande demais que não possa ser resolvido numa boa conversa.
— Seu pai, jura? — um homem numa das pontas do triângulo o interrompeu. Seus olhos puxados sérios e sem compaixão fez Jano temer o que diria a seguir. — Seu pai não era aquele genocida?
— Xógum Dalton — iniciou o Rei —Vamos nos ater ao que realmente importa e deixar nossas questões pessoais de lado.
— Eu menti?
Ótimo, o oriental da casa Dalton resolveu implicar com ele! Jano já ouvira notícias sobre essa casa. Os chamavam por aí de um bando de baderneiros desagradáveis. Não era a toa que aquela guerreira nas montanhas que libertava os escravos e matava comerciantes era uma deles.
Themis Dalton... Ele sabia da vergonha que os causava; era uma tentação mencionar seu nome na reunião só para aquele Xógum ficar quietinho. Mas que tédio seria começar uma discussão.
Jano já sabia como o responder da maneira correta, pelo menos antes de ser interrompido por uma mulher sentada na base do triângulo. Ele a conhecia muito bem. Quem não a conhecia? A pele preta entregava sua terra e, seus cabelos crespos, que no momento se encontravam amarrados num coque, eram conhecidos em todo o continente. A Rainha da casa Curie. A “Rainha de Ferro”... Ou algo do gênero.
— Vamos deixar o teatro apenas para os atores, Rei Jano. Não precisa falar conosco como fala com os jornalistas. Eu sei o que eu e a minha casa queremos e o que a casa Thomson quer.
— Pois bem então, vamos discutir o que as casas querem e veremos a onde vamos chegar com isso. — Jano ergueu levemente a voz, acabou deixando escapar para os outros, seu desconforto. — Sei que é a minha primeira reunião com os mestres das casas, eu poderia tê-los convocado antes, mas fiquei com receio de que uma reunião como essa piorasse as coisas que já não estão muito boas. — talvez o motivo não tenha sido bem esse. É claro que não iria admitir que não os convocou antes por preguiça mesmo... De todo modo, deu a melhor resposta para o momento. — Por isso, deixei o tempo tomar as rédeas, mas a situação foi ficando cada vez mais insustentável! — Jano virou o rosto para o oriental, se esforçando para deixar passar alguma ansiedade — Serei direto, acho que todo mundo aqui quer que essa reunião acabe logo. A casa Thomson solicita que a casa Dalton tire seus soldados urgentemente da fronteira sul.
O outro homem nem sequer piscou, seu olhar era o mesmo desde sua primeira fala. Com um leve desdém, respondeu:
— E a casa Dalton diz que isso é impossível.
— O quê?
— Primeiro que eu não me lembro de ser consagrado Rei dos Blancos. Segundo, que o Reino Lazuli que, caso tenha esquecido é o MEU reino; não possui exércitos na fronteira. Pelo menos não por enquanto.
Um senhor de cinquenta e poucos anos com atitudes de um adolescente mimado. Como diziam mesmo... Baderneiros.
— Você pode falar com seu primo. — completou Jano — Ele está manchando o nome da sua casa com seus atos. Como líder da casa Dalton é sua obrigação. E também, que eu saiba isso não seria difícil, já que você e seu primo sempre foram próximos.
— Não é tão simples, Jano Thomson. Quando eu me tornei Rei dos Azulis e meu primo dos Blancos, nós juramos nunca interferir nos assuntos um do outro. Não vai ser hoje que vou fazer isso, muito menos em favor da sua casa.
— Você sabe que se a guerra vier, poderá chegar até seu reino, Xógum.
— É uma ameaça, Thomson? É por isso que eu digo que você consegue ser ainda mais patético que seu pai.
— Chega disso! — disse um homem do outro lado do triângulo. Sua respiração era audível por conta do sobrepeso, principalmente quando estava nervoso. — Estamos aqui para conversar ou trocar farpas?
E os dois ficaram em silêncio.
— Agradeço por isso, Conde Marcius. — disse a rainha.
— Pois então! — iniciou mais uma vez, Jano. — O que a casa Dalton solicita, para retirarem seus soldados da fronteira?
E por fim, Xógum o respondeu:
— Eu não respondo por meu primo, mas acredito que o que ele quer não seja segredo para ninguém. — o oriental virou o rosto para outro homem sentado na base do triângulo, ao lado da rainha, e concluiu. — A libertação do Reino Sopro.
Já era esperado que tocariam nesse assunto, Leon havia aconselhado Jano quanto a isso. Que tedioso, pareciam que queriam prolongar aquela reunião de propósito.
“Bando de desocupados” amaldiçoou na mente, o Rei.
— Quer mesmo discutir um assunto de quase cinquenta anos atrás?
O homem a pouco olhado pelo Xogúm resolveu tomar a palavra. Sua expressão era intimidante e o físico musculoso combinado ao capacete com três chifres, levou Jano a transpirar ainda mais.
A voz era a mais grave da sala:
— Não é segredo nenhum que seu pai, assim como a casa Thomson; destruíram a harmonia do continente. O mínimo que você poderia fazer pra concertar isso, seria libertando o Reino Sopro.
“Troglodita” é assim que as pessoas se referiam ao líder e qualquer um da casa Heisenberg. Tinham aquelas barbas nojentas. Será que não ficavam com medo de que alguma comida se prendesse nelas? Pode até ser que sim, mas nunca que abandonariam esse ar de machões.
Diziam por aí que eles eram também um bando de figurantes. O capacete deles poderia ter dois, três, quatro chifres, nada mudaria isso.
Jano engoliu seu medo que nem sabia o porquê estava sentindo. Quase deu um tapa no próprio rosto para que tomasse coragem, e resolveu falar:
— Conde Heisenberg; meu pai costumava dizer que não existe mais Reino Sopro, agora e para sempre o nome é: Província dos Montes; um território anexado e pertencente ao nosso reino por tempo indeterminado. Eu vou honrar o nome dele reafirmando isso.
Heisenberg, com seu braço gigantesco, deu um soco na mesa, trincando-a levemente.
— Vocês não podem ignorar o passado e fingir que nada aconteceu. Eu imaginei que com a morte daquele imprestável do Hector esse reino finalmente poderia ter alguma mudança; mas pelo jeito, esse tipo de pensamento tá impregnado na sua casa.
“Patético... Não tem nada pra fazer, a casa dele é mais inútil que um martelo sem cabeça e agora fica aqui, aproveitando o momento pra ficar me alugando” – pensou
— Do que você está falando? — suas pálpebras se abaixaram levemente. Teve que segurar o bocejo na frente deles. — Mesmo que eu liberasse o Reino Sopro, quem o governaria? A casa Borh? — e por fim, ele virou os olhos para a cadeira vazia.
— A casa Heisenberg. — respondeu o troglodita.
— Heisenberg? Já não basta os condados espalhados pelo reino Lazuli? O Reino Sopro, enquanto existia, possuía uma identidade inteiramente Bohr, foi construído pelo primeiro deles; se esse reino voltasse estaríamos mostrando redenção a casa Bohr. — era fácil falar o que havia treinado com Leon; melhor assim. Afinal, seria um saco ter que pensar no que dizer.
— Você está com medo de uma casa que nem existe mais? — questionou o oriental barraqueiro — É claro... Eu deveria ter imaginado.
— O quê você quer dizer?
— Nada de mais. Seu pai também tinha esse medo, sabia? Tanto que ele deixou de sequer pronunciar o nome da casa Borh desde que ele mesmo a extinguiu. Eu imagino como deveria ser; viver a vida com medo de seus pecados serem cobrados.
— Pecados? Meu pai não condenou a casa Borh sozinho. Alguns de vocês inclusive, governavam nessa época. E Xógum, que eu saiba também, não é pecado condenar alguém por um CRIME. A casa Borh teve o que mereceu, e reviver o Reino Sopro seria reviver seu legado.
— E qual é o legado da casa Borh, Thomson? — questionou a Rainha da casa Curie.
É claro que a Rainha de Ferro... Ou Pedra – seja lá o que fosse – iria aproveitar a situação para dar uma de sabidona
Jano revirou os olhos e continuou:
— Agora você tá falando dos heróis viajantes? Eu os respeito muito, inclusive, antes de vir para essa reunião, estava acertando o conserto da estátua do Quarto. Sempre os tratamos com muito respeito aqui no Reino. Meu pai, principalmente dentre todos. Não é nossa culpa se os filhos deles mancharam o nome da casa. — Jano rezava para que aquela reunião acabasse logo. O script que Leon fez estava em seu limite.
— Dá para ver como você os respeita. — interrompeu o Xógum oriental. — desdenha do nome deles. Finge que eles nunca existiram.
— Da onde o senhor tirou isso? Tudo o que eu disse, foi sobre os filhos deles, e como os FILHOS deles mancharam o nome da casa. Algo parecido com o que vem acontecendo com a casa Dalton, que nesse ritmo, também estará afundada na lama fazendo companhia a eles. — foi meio que fora do planejado, mas Jano gostou disso.
Desta vez, o Xógum cerrou os dentes. Suas pálpebras levemente se abaixaram.
— Quem é você? Quem é a sua casa para falar algo da casa Dalton? Quer saber? Para mim e para minha casa já chega dessa reunião patética! — o oriental mimado se levantou. Quanto a Jano, este aproveitou o breve momento de silêncio para alfinetar.
— O senhor passou a reunião toda nos agraciando com suas indiretas insolentes sobre minha casa e meus parentes próximos. Agora se sente ofendido com um comentário que fiz?
O Xógum nada respondeu. Olhou para o homem bárbaro com o capacete e, logo, aos outros mestres. Até voltar a dizer.
— Peço perdão as demais casas. — finalmente, encarou Jano — Quando a casa Dalton e a Heisenberg decidiram vir para a reunião, estávamos ansiosos que nos desse alguma concessão e acabasse com toda a bagunça que seu pai fez. Eu achava, de verdade que não seria como ele. Obviamente eu estava enganado. — o homem se virou, porém, antes de ir, fez sua conclusão dramática: — Peça para seu filho nos convidar para a próxima reunião quando ele for rei, quem sabe não teremos sorte na próxima vez?
“Já foi tarde” – encarou Jano.
E saiu dali. Segundos depois, o Conde Heisenberg também se levantou, mas foi embora em silêncio, deixando que as palavras do xógum também lhe servissem de resposta.
— Ótimo! — exclamou Jano. — É desse modo que vamos terminar bem mesmo.
— Admito, quando você disse que se importava com os heróis do passado por somente concertar a estátua deles, eu achei de um certo modo, tosco. — disse a Rainha.
“Tosco é você querendo se aparecer aí” – quem dera não pudesse falar o que pensava sem causar alguma crise diplomática tediosa.
— Talvez eu possa ter me expressado mal mesmo.
— Talvez... Mas agora é tarde. Pelo seu tom também não acho que tenha muito respeito pelos heróis viajantes. Sei que pode ser meio incômodo tocar nesse assunto, mas já fazem mais de cem anos desde que o quarto se foi. Não acho que vá demorar muito para o quinto viajante aparecer, se... Ele já não tiver aparecido. E você sabe o que dizem deles, não sabe? Duas coisas acontecem: dinastias caem e uma grande mudança ocorre. Acredito que seu respeito por eles seria decisivo nessa hora. — era óbvio que ela iria tocar nesse assunto de novo.
— O que está insinuando senhora Curie? Por favor, vamos voltar ao que realmente interessa nessa reunião, acredito que temos muito ainda o que discutir.
— Sinceramente Rei Jano; sem a casa Dalton e a casa Heisenberg nessa reunião, então não temos nada o que discutir. Eu vim para cá representando os interesses comerciais de meu Reino e de toda a casa Curie. Esperávamos fechar algum acordo comercial, principalmente sobre as importações de madeira e prata. Sem o apoio da casa Dalton nessa empreitada, caso não saiba, poderíamos sem mesmo ter a intenção, começar uma crise comercial entre nossos reinos. Rei Jano, eu lhe garanto que o Reino Luminoso não tem o menor interesse em comprar briga com o Reino Lazuli. — a Rainha se levantou e disse, antes de se virar: — espero que nossas divergências sejam resolvidas o quanto antes. Em nome da casa Curie e do Reino Luminoso, lhe desejo um reinado próspero. — e por fim ela se foi, caminhando até a porta na companhia de seus soldados.
“Me toca essa sinceridade”
Um silêncio passou a perturbar o ambiente, deixando o suor de Jano ainda mais gelado. Respirou fundo e apoiou a cabeça sobre seu punho.
“Que reunião desastrosa.” De fato, o objetivo não havia sido atingido, ou seja, aquele saco de crise no sul continuaria.
O senhor gordo a frente, cravou seus olhos no Rei e teve a ideia de o agraciar com sua voz tediosa, num tom apaziguador.
— Não se preocupe, seu pai conseguia ser ainda pior. Pergunte ao loiro aí atrás de você! Leon estava presente em quase todas as reuniões dos mestres, seu pai fazia questão disso, "o preparando" ele dizia. A propósito, confesso que fiquei espantado quando soube que ele não seria o futuro rei. Seu pai já o havia preparado durante anos! O que houve? Por que o deserdou?
— Com todo o respeito, Conde Marcius. — Jano soltou o ar que segurava. — Nem eu, nem ninguém aqui nessa sala temos a capacidade de responder por meu pai. Se quer saber a opinião dele, sugiro que se consulte com alguém que fale com os mortos.
— Tudo bem, já vi que é um assunto delicado. — Marcius estendeu uma das mãos — De qualquer modo, foi um prazer visitar a capital depois de tanto tempo. — o Conde com dificuldade se levantou, apoiando-se num de seus soldados. — Eu vou seguindo meu caminho, não estamos no melhor momento em Garra do Falcão, não há mais por que eu ficar parado aqui.
"Como se você já não ficasse o dia todo." — resmungou Jano.
— Como? Perdão o que disse?
— Nada de mais. Tenha uma ótima viagem de volta. — o Conde virou-se para a porta e Jano revirou os olhos, quase vomitando toda a radiação.
Ao fim, o Rei relaxou-se em sua cadeira e bufou. Fechou os olhos por segundos. Ali, na sala, até um cego perceberia a decepção que o Rei exalava.
Ele imaginava que todos haviam ido em bora, até virar o rosto para o lado, ainda com a cabeça encostada na cadeira, e ver um homem vestido de uma forma peculiar, com um cabelo tão preto quanto o carvão.
“Credo, parece um vampiro” – não fazia questão de esconder seu olhar assustado.
— Ainda está aqui? — questionou Jano. — Imagino que não tenha mais o que se discutir.
— De fato.
— E então? — O rei estendeu as mãos em direção a porta. — O quê está esperando.
— Uma ordem. Eu só ajo por ordens.
— Minhas ordens?
— Não.
— Então! Ordens de quem? Você não é o chefe da casa Rutherford?
— Longe disso. Sou somente um diplomata deles e, nas horas vagas, um mordomo.
Sua voz causava um certo medo. Na verdade, falando da casa Rutherford era até esperado.
— Bem, então você não deveria estar aqui! Acho que no convite que enviei a todos eu deixei bem claro que solicitava a presença dos chefes e não de intermediários.
— Nem eu, nem a casa Rutherford seguimos ordens de outra casa. A não ser...
— A não ser?
— A casa Borh.
— Mas é claro... A propósito, por que seu líder não veio? Ele é tão ocupado assim que se recusa a se reunir com lideranças dos outros reinos? Ou me subestima?
— Não, não é isso. Creio que o senhor ainda não saiba disso, mas garanto que o príncipe Leon sabe. Desde a criação dessa assembleia, o chefe da casa Rutherford só esteve presente uma vez, e foi na primeira reunião há mais de cem anos atrás.
Leon enfim resolveu tomar a palavra:
— Isso é verdade meu Rei. Em todas as reuniões que estive presente, o Rei do Reino Soturno só mandava um de seus mordomos. Eu nunca vi a face dele, nem mesmo sei seu nome, nem sei também se é o mesmo rei da época em que seu pai ainda estava vivo.
— Por que isso? — questionou Jano. — Por que o Reino Soturno e a Casa Rutherford insistem em guardar tantos mistérios? Estão escondendo algo? Por acaso querem começar mais uma guerra?
Leon, de imediato, tocou nos ombros de seu irmão:
— Por favor Jano, não insinue esse tipo de coisa. Não vamos ultrapassar esse limite.
— É melhor escutar seu irmão, Rei Jano. — concluiu o mordomo. — Eu, assim como a casa Rutherford, sabemos que não é possível nos redimirmos completamente com tudo o que aconteceu. Temos consciência de nossos pecados no passado. Por isso, juramos nunca mais interferirmos nos assuntos políticos, econômicos e sociais das outras nações. Acredito que seu pai não tenha lhe falado sobre isso também.
— Assuntos econômicos? Foi por isso que pararam de comprar nosso cobre no último mês?
— Caso tenha se esquecido, o Reino Blanco instituiu um bloqueio marítimo na costa do mar do Leste.
— E daí? Nós oferecemos suporte aos comboios para que não sejam atacados. Não tem desculpa pro que vocês fizeram.
— Se aceitássemos seu suporte, não seríamos mas a nação neutra que somos e isso poderia acarretar numa rixa com os blancos. Como eu disse, o Reino Soturno nunca interferirá nos assuntos de outras nações, como também nunca tomaremos um lado em qualquer disputa.
— Em outras palavras, vocês são mais em cima do muro do que cerca de arame farpado.
O mordomo se levantou bruscamente e concluiu:
— Finalmente recebi minhas ordens. Isso é tudo.
— Só me responde uma coisa por favor, antes de ir. Se vocês são tão neutros assim, por que aceitam participar dessas reuniões?
O mordomo não disse nada no momento; sua espera aconteceu, para que tivesse certeza de que seu mestre o deixaria ficar mais um tempo para responder a dúvida. E assim o fez.
— Há cem anos a casa Rutherford fez uma promessa a casa Borh... Ou melhor, fez uma promessa a Thomas Borh, ou, quarto viajante, chame como quiser. E nós, em hipótese alguma, pretendemos descumpri-la.
Ele saiu de lá com o drama que a casa Rutherford causava nos lugares; deixando Jano e seu irmão sozinhos na sala.
— Eu não entendo. — iniciou Jano. — A casa Bohr não cometeu metade dos crimes que a casa Rutherford cometeu. Mas eles que foram extintos e não os Rutherford.
Leon respondeu:
— Épocas diferentes, líderes diferentes. Ninguém seria tão misericordioso quanto o quarto viajante foi com os Rutherford. Quem dera nossos líderes hoje fossem assim.
— Tanto faz, no final das contas, a reunião foi inútil. E ainda, aquele oriental respondeu meu convite dizendo que estava com as melhores das intenções para resolver nossos problemas. Patético...
Leon riu baixo:
— De uma coisa eu sei, de boas intenções o inferno está cheio.
“Bem, que se dane se deu certo ou não. Pelo menos... Aquele saco de reunião acabou”
Como visto, na reunião dos mestres foi discutido a situação das casas primárias. Pensando nisso, fiz um mapa para ajudar a entender melhor onde estão localizados os principais reinos do continente.
Ao extremo noroeste do continente:
• Reino Flamejante: O Reino atualmente governado por Jano, da Casa Thomson.
• Xogunato Lazuli: A casa Dalton detém o domínio e governo deste reino desde sua fundação. O Xógum é o governante supremo.
• Tsarado Blanco: Também governado pela casa Dalton, porém, num outro ramo. O Tsar é primo do Xógum Lazuli.
• Reino Luminoso: O único reino com uma monarca mulher. Conhecida como a Rainha de Ferro, a casa Curie tem orgulho de sua alteza.
• Reino Soturno: Não se sabe quem o rege, mas se tem conhecimento que este pertence a casa Rutherford.
A partir de agora, vou providenciar o mapa no final de cada capítulo. Espero que ajude de algum modo!! :)
Se está gostando, não esqueça de ir curtindo e comentando.
🐲~luks~🐲
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