Pergaminho I - (Parte II)

 No dia que se seguiu, do alto de seu escritório, Henrique vislumbrava a névoa que cobria a cidade, ao passo que mexia teimosamente no novo modelo de chapéu sob seus cabelos. Enfadonho, entediante, toda variação desse adjetivo poderia ser empregada, mas nenhuma chegaria perto de descrever corretamente o que aqueles olhos levemente abaixados e as bufadas que o cientista trazia sobre si.

Um homem acabava de sair do escritório e, ao mesmo tempo, uma sombra feminina entrava. Ele virou o rosto. Olhou para o relógio no pulso e disse impaciente:

 — Não era para estar no aeroporto essas horas?

 — Vim me despedir. Mas e você? Por que está demitindo todo mundo?

 — Não tô demitindo todo mundo, foram só sete, sete pessoas inúteis. — jogou sua mão para trás e desviou os olhos ao lado, despretensioso.

 — O Maicon não era inútil, ele era... Ou melhor, ele é um funcionário muito promissor. A propósito, eu não vi a secretária nova que eu contratei, sabe o que houve?

— Eu a mandei embora também — Henrique deixou-se levar por uma pausa ensurdecedora. Por fim, levantou os olhos castanhos a sua amiga, a encarando como um gato desconfiado — Interessante as suas opiniões Laura, mas não foi sua carta de demissão que recebi hoje no meu escritório?

 — Tá bem, tá bem — Ela mostrou suas mãos, rendeu-se aquelas palavras. Nisto, deu mais alguns passos até ele — como eu disse, vim aqui somente para me despedir — finalmente, o enrolou num abraço, aconchegando seu pescoço no peitoral do homem. Este surpreso, ficou congelado e reto, como alguém prestes a levar uma injeção. Laura chegou até a rir em pensamentos. Ele sempre ficava assim. Enfim, se afastou. — Não esqueça do que te falei. Tente conversar com meu tio e marcar uma consulta. Você mesmo sabe que vai se sentir melhor se consertar logo isso.

 Ela o deixou lá, paralisado, pensativo, receoso.

Henrique não conseguiu demitir mais ninguém. Passou o início da manhã toda roendo as unhas. Seu coração palpitava e um sentimento de incerteza gelava o estômago. “Como que vai ser daqui em diante? Principalmente agora... Sem Laura” Essa frase voltava e voltava de maneiras diferentes e com palavras variadas em sua cabeça ao longo da manhãzinha. Sempre que retornava, a premissa das palavras era a mesma, o medo. Ele era um monstro, como o mundo iria o enxergar? O respeitariam acima de tudo? Ele poderia sonhar em voltar a ser capa da Times o ou de qualquer outra revista? Não, certamente que evitariam colocar aquela face abominável em destaque.

 Enfim ele desceu os olhos e percebeu que encharcava os papéis da mesa com um suor gélido. Correu até a bolsa e pegou um remédio. Um comprimido que passou a fazer parte do dia a dia desde o acidente. Ele o engoliu de uma vez e pôs o frasco de volta. No ato, seus dedos acabaram por esbarrar no pedaço de papel. Notou o telefone do tio de Laura. Ele puxou o objeto para mais perto. Ficou ali, minutos o encarando, movendo as pupilas por cada número. Os neurônios se esforçavam nem que tivessem que ser explodidos para encontrarem alguma desculpa para amassar o papel numa bolinha e jogá-lo no lixo. Mas não havia motivos para fazer isso.

Não havia.

 Laura tinha a confiança de Henrique e se ele não entregasse seu futuro àquele conselho, suas palavras ao longo de todo esse tempo seriam vazias. Isso seria como se ele nunca tivesse confiado de verdade nela. Uma tragédia! Ele se orgulhava de ser criterioso em depositar sua confiança, então por que hesitava?

 “É só uma consulta” — pensou. “Não é como se fossem mexer no meu rosto logo que eu chegar lá”

De fato, uma consulta não mataria ninguém. Respirou fundo, bem fundo, inflando os pulmões de um modo absurdo e incomum, como se estivesse disposto a desmaiar com o isso. Por fim, pegou o celular e digitou o número logo de vez, sem titubear. Uma voz feminina atendeu:

 — Clínica Yanda, como posso ajudar?

 — Oi...

 — Olá, como posso ajudar?

“O que está acontecendo?” pensou Henrique “O que era para falar mesmo?”

 Os olhos do homem se arregalaram, ele tremia. Mas por quê? Foram minutos. O que levou a impaciência por parte da atendente:

 — Alguém está na linha? Alô? A chamada será encerrada.

 Ele não sabia ao certo o que dizer, mas gritou mesmo assim:

 — Espera! — Por fim, desistiu de deixar seu cérebro formular as palavras, ele seguiu a onda e disse tudo o que lhe surgisse a boca. — Eu sou Henrique Becker, presidente do Grupo Becker e seus associados.

 — Como posso ajudá-lo senhor Becker?

 — Gostaria de marcar uma consulta com o Doutor Yanda.

 — Certo, aguarde um momento, vou verificar os dias disponíveis — e por fim: — Temos horários a partir do dia vinte de junho.

 — Hoje é dia vinte e dois, você está falando de julho, certo? Olha, não quero ter que esperar um mês, tem mais próximo para semana que vem ou algo assim?

 — Perdão senhor, eu me expressei mal. A partir do dia vinte de junho, só que do próximo ano. Para antes que isso será impossível.

"Espera o quê?" Henrique riu baixo, de maneira tão debochada como uma vilã de novela mexicana "Até parece."

 — E eu vou esperar um ano? Você por acaso se deu ao trabalho de ouvir quando eu me apresentei? Eu sou Henrique Becker, sabe? Do grupo Becker, o mesmo grupo responsável por liderar a venda de metade dos produtos farmacêuticos desse país. O antidepressivo que você provavelmente toma por ter de aturar esse seu emprego, fui eu que produzi.

 — Eu sei perfeitamente quem o senhor é, mas a fila de espera não segue um padrão de importância. Você terá que esperar como todo mundo.

 O homem fechou os olhos, iria deixar o celular cair de sua mão, já estava cansado daquilo. Ao menos havia seguido Laura e tentado. Mas uma ideia lhe surgiu.

 — Me passe o nome de alguém que tem uma consulta marcada pra semana que vem, qualquer nome. Tenho certeza de que uma boa quantia o fará liberar um espaço na lista.

 — Infelizmente nossa lista de clientes é confidencial senhor.

 — Entendo. Então me deixe falar com o doutor Yanda. Vamos!

 — O senhor não é o primeiro que pede isso. No momento o doutor Yanda não poderá atendê‐lo.

  Não deu tempo nem de reclamar, logo notou que a atendente conversava com outra pessoa. Ele tentou escutar a conversa, mas não conseguiu entender. Finalmente, a atendente retornou:

 — Senhor Becker, vou passar a chamada para o doutor Yanda. Tenha um ótimo dia!

Foi súbito? Com toda a certeza! Mas quem se importava? Pelo menos agora teria uma chance. Henrique não a respondeu e aguardou. Uma voz mais rouca e familiar tomou a palavra:

— Henrique?

— Olá, como vai tio Yanda?

— Henrique, meu garoto! Há quanto tempo! Desculpe por isso de agora pouco, por você eu mesmo faria seu atendimento.

 — Não tem problema. Acho que o senhor sabe porque eu liguei.

 — Eu tenho uma ideia. Sei que não tive tempo de dizer ainda, mas sinto muito pelo que aconteceu. Deve ter sido horrível.

 — São só memórias agora. Mas, em relação ao que ficou marcado no meu rosto, acha que pode resolver?

 — Acredito que sim meu jovem, mas precisaria ver mais de perto se me permitir.

 — Claro, mas aí eu teria que esperar um ano, certo?

 — Infelizmente Henrique. Os horários já estão estourando e temos a política de não realocar consultas.

"Que tipo de clínica é essa? Talvez se eu a comprar eu consiga um horário melhor"

 — Tem certeza de que não tem nenhum horário mais cedo mesmo? Ou nada que você possa fazer pra me encaixar em algum outro horário?

 — Olha, eu nem ia te falar isso. Mas hoje um de meus clientes sofreu um acidente e não irá conseguir vir, mas o horário dele é para as catorze e meia. Você tá em São Paulo ainda, né? Acho que nem tem como, né?

 O homem virou o pulso e notou no relógio:

“Nove e quinze”

 — Pode colocar meu nome nesse horário!

 — O quê?

 — Eu sei que uma viagem até Natal pode levar um pouco mais de três horas. Talvez até a ilha seja um pouco mais. E daqui até o aeroporto... Uns quarenta, talvez cinquenta minutos dependendo do trânsito... Certo, acho que vai dar tempo! Então nos vemos no consultório, tio.

 Henrique não esperou que o senhor Yanda respondesse. Pôs o celular no bolso, pegou sua bolsa social e correu até o carro.

 No percurso, ligou para um dos seus funcionários pedindo para que preparassem o jatinho. Acelerou sem se importar com os radares. Felizmente o trânsito não estava tão caótico naquele horário. Umas dez e cinco da manhã chegou no Aeroporto de Guarulhos, estava tudo pronto para a viagem, o piloto posicionado e seus seguranças deixaram a porta aberta.

 Já ali do céu, dava para ver as nuvens abaixo ficarem mais escuras e pesadas conforme se aproximavam do Nordeste. Não demorou até raios começarem a riscar a paisagem sem nenhum pudor. Os gregos diriam que Zeus decerto não estava no seus melhores momentos, naquele dia. Passaram por duas ou três turbulências e o trajeto ficava cada vez mais negro. O tempo piorou e não tiveram outra escolha a não ser pousar em Natal. Essa foi a decisão que o piloto tomou sem com que Henrique pudesse contestar.

“Petulante” foi a única reclamação do cientista.

O desvio foi concluído, porém, levou um certo tempo até que conseguissem pousar adequadamente em Natal.

————||————

 Com o céu negro a sua cabeça e poucas pessoas ali na praia, Henrique pôde aproveitar o momento sozinho de depressão tomando um açaí ao lado de uma rocha. Sua calça social se afundava na areia densa. Ele se importaria em outra situação, mas não naquela. Via-se tantos raios rasgando o céu, mas não dava para sentir medo. Se caísse algum ali do lado dele, não iria nem piscar. Pegou seu celular a fim de ver as mensagens de Laura. Ele também se deparou com as horas. Treze e cinquenta e quatro. Todos os voos foram adiados. Não haviam navios disponíveis que o levassem até lá. Não era como se fosse possível chegar até aquela maldita ilha. Mas por que ele parecia tão revoltado? Afinal, como um cirurgião poderia resolver o problema dele? Que piada.

Não, não deu certo ele se consolar com esse tipo de pensamento. E para deixar tudo ainda “melhor”, começou a garoar. O chapéu a sua cabeça ainda protegia partes de seu rosto, em especial, as acobertadas. Em cinco minutos, a chuva ficou mais pesada. Por fim, se levantou, deu algumas palmadas na calça para tirar a areia e decidiu se hospedar em algum hotel até conseguir voltar para casa. Pelo menos ele tentou, né?

Até que, uma gritaria chamou sua atenção.

Ao fundo, apertando os olhos, Henrique viu alguns homens enchendo um barco com algum tipo de mercadoria. Como era possível? Eles iriam zarpar? Nessas condições?

 Ele virou o pulso para si.

 “Catorze e um... Ainda dá tempo!”

 Henrique pegou gentilmente o chapéu e o deixou ali em cima da rocha. Finalmente, ele correu!

 Seu sapato social se afundava na areia, precisava de um certo esforço para movimentar as pernas, mas ele não parou de correr. Estava na hora de reviver seus tempos de “Tsar da Velocidade” do Ensino Médio. É claro que não tinha uma bola para bloquear, nem uma rede o impedindo. E, assim como um dos mais rápidos jogadores de vôlei da escola, ali nada poderia o segurar, nem a chuva, nem a areia, nem suas inseguranças que talvez fosse o pior encosto. O navio parecia prestes a sair, mas ele sabia que daria tempo. E, no final das contas, chegou antes que o senhor mais velho, que parecia ser o capitão, entrasse.

 — Por gentileza — estava ofegante, apoiou as mãos em seus joelhos puxando todo o ar que conseguia. — Vão partir agora, certo? Qual é o destino?

O senhor virou o rosto para ele e arregalou os olhos numa condição levemente atônita.

 — Que estado, hein garoto!

 — Por favor! — agarrou sua camisa.

— Havana, Cuba.

— Se importa de fazerem um pequeno desvio? Fernando de Noronha.

O velho riu.

 — Isso vai nos dar encrenca rapaz. Eu diria que é melhor não.

 — Eu pago quanto for necessário! E, se tiver problemas com a justiça, eu posso te ajudar. Conheço alguns políticos.

 — E você é quem? Um mafioso? — o senhor coçou sua barba grisalha rala e ajeitou os cabelos também grisalhos bagunçados pelo vento.

 — Quase isso.

 Uma voz, meio aguda que lembrava a de um adolescente, surgiu detrás do velho.

 — Ele é Henrique Becker, presidente do Grupo Becker. — O rapaz ajeitava um boné sob os cabelos alaranjados, suas irises estranhamente cinzas encaravam Henrique com seriedade de um juiz.

 — Você o conhece guri? — perguntou o velho.

 — Sim, senhor!

 — Certo, pode ir entrando. Mas eu vou dar uma olhada na Internet só pra ter certeza. Se você não for quem parece ser, vamos te jogar no mar mesmo — o velho entrou no barco cacarejando uma irritante risada.

 Henrique abaixou o rosto e viu o adolescente com a mão estendida.

 — É um prazer conhecê-lo senhor!

 — O prazer é meu.

 Com a outra mão, o jovem tirou algo do bolso.

 — Ah propósito! Tome, melhor carregar isso! É um amuleto da sorte, nessa tempestade vamos precisar de toda a sorte do mundo. Sabe o que dizem, né? Esse mar é repleto de tubarões tigre. Então, se o barco virar, já era!

 O cientista só bateu o olho. Uma pedra roxa clara e a figura de um corvo num tom mais escuro estava talhada. Tão assustador quanto inútil. Esse tipo de crendice era só pra aqueles que não gostam de encarar a realidade. Normalmente, o homem jogaria aquela porcaria pra fora do barco, mas não quis chatear o rapaz que acabara de o ajudar; em outro momento faria isso. Pôs no bolso e não tocou mais naquilo.

 Henrique sentia as ondas fortes até da cabine especial que o capitão havia providenciado. Era o local mais espaçoso e aconchegante de todo o barco, embora já tivesse visitado banheiros mais limpos que aquilo. Vez ou outra o capitão passava por ali perguntando como ele estava e se precisava de alguma coisa, um mimo que vinha desde que ele pegou o celular para conferir se Henrique era mesmo o homem que parecia ser.

A chuva continuou por todo o trajeto e ficava cada vez mais intensa, contudo parecia que se aproximavam da ilha. Pelo horário ele se atrasaria um pouco. Mas talvez ainda pudesse ser atendido.

 — O capitão me pediu para conferir se precisa de alguma coisa — escutou a voz daquele jovem.

 — A minha resposta é a mesma de cinco minutos atrás; não obrigado.

 O homem esperava que ele fosse embora como o capitão, mas o rapaz adentrou no quarto. Se jogou preguiçosamente numa poltrona ao lado do homem e bufou olhando para cima.

 — Ah, parece que não chegamos nunca! Quem dera eu tivesse em outro lugar agora, mais calmo, relaxante, deitado e assistindo algum bom anime.

 — Eu digo o mesmo, tirando a parte do anime. — Henrique sorriu. — Acho que leria alguma obra clássica, tipo, A Volta ao Mundo em 80 Dias, ou mesmo, a Odisseia de Homero.

O garoto entortou o rosto como um cachorrinho confuso e o encarou com estranheza.

 — Que chato, prefiro One Piece. — os dois riram baixinho, sinfonicamente. Por fim, seguida de uma longa pausa, o rapaz continuou: — Deixa eu te perguntar, você vai ao cirurgião da ilha, né?

 — Bom palpite. Como sabe?

 — Não me leve a mal, mas na época que trabalhava em outro barco, já demos carona pra pessoas em estado bem pior que o seu. Já vi homens completamente desfigurados. Na verdade, se os visse, consideraria essa cicatriz de queimadura como sorte.

 — Sorte? — riu.

 — O quê? Eu te chateei?

 — Completamente inconveniente e sem empatia — Henrique permaneceu sorrindo — Prefiro que me digam essas merdas do que falarem: “Você vai superar isso.”

 — Entendi, você é engraçado Henrique. Sabe que eu acho que o doutor vai conseguir te ajudar, eu soube que ele é muito profissional.

 — É o que espero descobrir. A propósito, quantos anos você tem, rapaz?

 — Eu fiz dezesseis semana passada, senhor.

 — Ainda dá tempo de largar essa vida tediante e fazer algo que importe, não acha?

O jovem ficou pensativo.

O navio tremeu mais uma vez. Tremeu com fúria. As poltronas que descansavam, tombaram. O susto gelou o peito de Henrique. Os dois correram para fora. Se depararam com o capitão e seus funcionários alvoroçados. A embarcação se inclinava quase parecendo virar de cabeça pra baixo, eles não tinham contato com o exterior e toneladas de água que invadiam, pesavam contra o navio. O capitão, alarmado, se dirigiu até o rapaz.

 — Preciso que me ajude com um negócio, guri — ele virou o rosto para Henrique, por um momento, tentou disfarçar o semblante pavoroso — eu peço que o senhor espere dentro da cabine, só tivemos um contratempo... Como... Como uma turbulência de avião, o senhor com certeza já andou de avião e sabe o que eu estou falando.

 Que patético, até parece que Henrique era idiota! A feição de cada funcionário por ali, não só isso, o próprio balançar do navio indicava que eles estavam com problemas sérios. Ele não iria voltar pra cabine. Quem nunca assistiu Titanic? Os primeiros a morrer não foram os que estavam dentro das cabines? Por mais aterrorizante que fosse, ele se sentou num desnível por ali mesmo e observou a natureza exprimir todo seu ódio em um pedaço de madeira que ousava cruzar o atlântico.

 Sentia algo na barriga, um palpitar no coração. Medo. Uma coisa que não o consumia desde aquele dia, enquanto assistia as chamas arderem em sua pele. Já chegou a pensar que morreria pelo fogo. Que ironia.

“Água” — pensou. “Ainda bem, acho que não vai doer tanto”

 Ele respirou fundo, observando uma onda gigantesca bater no navio. Não foi suficiente para virá-lo, não, mas arremessou Henrique violentamente ao chão, fazendo-o derrubar tudo em seu bolso: celular, carteira e aquela pedra esquisita. E foi exatamente isso que ele resolveu pegar. Talvez fosse a hora perfeita para acreditar em simpatias e coisa e tal, ou para rezar a algum deus que pudesse o ajudar. Mas não, ele não renunciaria ao que acreditava. No final das contas, como um último ato de dignidade ou, orgulho, ele ergueu o braço para arremessar a pedra. Colocaria toda a sua força, era assim que gostaria que fosse seu fim.

Apertou a pedra. Esticou o braço e girou máximo que podia...

E quem foi arremessado foi ele.

Já foi tarde até notar a onda maior que a anterior que arrastou e destruiu o barco de uma vez, o levando junto. Não viu nem escutou nada, além do barulho da água e, por fim, da imagem da superfície se distanciando cada vez mais e seu corpo, sendo puxado para as assustadoras trevas do oceano.

 Mais que droga!

Não deu tempo, não deu tempo do seu último ato!

Mas, pelo menos...

Era água.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top