Pergaminho de Laila Hawking


Olá a todos!! 👋👋

Tive a súbita ideia de escrever esse capítulo – que por sinal não foi planejado, que foi súbito – em homenagem ao dia internacional da mulher.

Eu sei o quão escassa e necessária tem sido a presença de personagens femininas fortes em obras de fantasia. Eu espero trazer, de algum modo, ao longo de toda essa Odisseia de Fogo, confrontos épicos e personagens femininas marcantes! Aguardo você ao longo dessas jornadas das heroínas!

No entanto, a história de hoje não será sobre batalhas ou confrontos, mas um outro tipo de luta, de determinação...

Espero que gostem!

🐲~Luks~🐲

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As Crônicas de Garra do Falcão:
Laila Hawking


Os dois círculos acinzentados aos olhos de Laila, prendiam-se com uma concentração intrínseca. Entre o indicador e o dedo médio, segurava a esteca com delicadeza, porém, com uma certa rigidez cirúrgica. Até sua respiração a cima da argila, estava regulada. De modo preciso, retirou o excesso da base dos olhos e modelou com os dedos as imperfeições que o barro deixou na região articular próximo ao bico da ave. Moveu a cabeça para trás afim de observar melhor seu trabalho.

 No entanto...

 — Ainda não está bom! — resmungou, rosnando baixo.

 — Está esculpindo? — Helga, que carregava consigo uma sacola de pano aos ombros, acabava de entrar. Aquele olhar repreensivo típico desenhava-se em seu rosto.

 Essas perguntas tão óbvias de sua mãe, tornavam-se uma tentação serem respondidas da devida maneira, ainda mais naquele momento em que Laila estava irritada por não conseguir concluir seu trabalho de maneira correta. “Não, estou plantando batata... Não é óbvio?!”, porém, dessa vez ficou só em pensamento... Não estava fim de cavar sua cova.

 Optou por algo mais singelo:

 — Tenho que terminar esses olhos até o Festival do Equinócio de Primavera... — a resposta acompanhava o manejo da esteca e um encarar compenetrado no barro. — Faltam menos de um mês. — acidentalmente, a jovem acabou retirando um pouco a mais da argila do que deveria. — Droga!

 — Nesse estado, Laila?! O mestre Heitor não tinha dito que você deveria ficar de repouso depois daquilo que aconteceu lá no bosque? Mesmo que isso já seja algo óbvio. Não está com o braço doendo?

 — Eu mentiria se dissesse que não. Mas essa é a principal escultura do festival... Vai ficar bem no centro da mesa dos bolinhos do falcão. Eu preciso terminar!

Helga suspirou e então, sorriu.

 — Uma cópia do pai. Com certeza. — A mulher apreciou o falcão de barro – levemente deformado – a frente de sua filha, com os olhos perdidos em devaneios nostálgicos. — Aposto que nessas horas ele invocaria algum poder mágico de mentira para o ajudar a terminar o trabalho. Pelo menos é assim que ele fazia quando tinha dificuldade com alguma escultura. — ela deu às costas e concluiu, por fim: — Estou indo no ateliê da Agatha comprar alguns tecidos para começar logo a costurar os vestidos que vamos usar no festival. Não se esforce demais!

Finalmente, a porta bateu.

Laila transpirava e mordiscava os lábios com irritação. Os equipamentos de modelar mal paravam em sua mão, a concentração parecia ter se desvanecido. “Desse jeito não vou a lugar nenhum! Não consigo acertar!” A mão passou a prender-se na testa, externando aquele desânimo que também mostrava-se presente nos olhos cinzas, de fato, não era como se estivesse ali a pouco tempo. Contudo, sua mente começou a refletir no que acabou de escutar. “Poder Mágico?”

Um certo formigamento importunou-lhe a cabeça. O que era mesmo que também tinha a ver com aquilo? Até a lembrança surgir-lhe a mente de maneira tão límpida quanto a corrente de um rio cristalino... Um recado, talvez.

A jovem deixou a esteca ali em cima da mesa, ao lado da escultura e correu em direção ao canto da casa. Sentiu uma pontada de dor no braço pelo gesto súbito, mas engoliu. Procurou entre o amontoado de caixas e objetos por ali. Uma caixa de madeira com os itens de sua infância cobria-se de pó. Ela soprou. Retirou alguns brinquedos, roupas e acessórios. Por um instante, um leve interlúdio nostálgico a abraçou, mas Laila não se distraiu por muito tempo, continuou buscando por ali, um artefato em específico. Finalmente, quase no fundo, o encontrou. Estava levemente arranhada, um pouco desbotada, mas a caixinha de carvalho que seu pai havia lhe dado permanecia graciosamente inteira. Até mesmo os detalhes precisos ao centro das duas rosas talhadas na parte de cima, ainda podiam ser vistos.

 Laila abriu com um olhar curioso e encontrou aquela única peça sobre o estofado azul fino. A primeira esteca de modelar que seu pai lhe presenteou. Foi no dia em que a ensinou a esculpir sobre a argila.

Na parte inferior da tampa de abertura, um pequeno pedaço de papel prendia-se com um alfinete.

“Para alguém que pode modelar um mundo inteiro... Basta apenas despertar o seu poder!”

Com amor, de seu pai um tanto sem graça.”

Laila sorriu. Pegou gentilmente o material. Madeira e aço. Um pouco mais leve que os outros que utilizava. Talvez, até mesmo um pouco menos profissional. Compreensível, já que seu pai deu-lhe aos seis anos. De todo modo, seria aquela a esteca perfeita para concluir o trabalho. Sim, com certeza... Enfim, ela voltou a concertar os olhos da escultura.

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