22 | Agora não tem volta
[Mike]
Eu vou voltar. Não, não posso. Não, eu volto, não...
Argh que merda. Eu vou até Andy, voltamos e ela vai para casa conosco. É isso o que vai acontecer.
Parei no centro do salão, mas não tinha sinal de ninguém por perto. A neblina havia se dissipado e o único som era da minha respiração ofegante.
Tentei farejar algo que a remetesse, um forte cheiro de suor, ferrugem, qualquer coisa. O lugar cheirava a sangue, pelo menos não muito.
– Te achei – corri na direção do odor da menina. Cada célula do meu corpo estava mais agitada a cada segundo. Eu pensava que estava perdendo uma chance de fazer a coisa certa e cada segundo contava. – Andy? – chamei.
Eu vou morrer, isso aqui é pedir pra morrer.
O rastro me levava para uma escada que ia ainda mais fundo que as masmorras. Era um lugar amplo. Engoli a saliva que restara. Um calafrio passou pela espinha ao ver tanta escuridão e ainda não ter problema – às vezes eu amo ser um lobo, é legal demais.
Ok, pode ser uma armadilha, pensei. Matt pode estar aqui embaixo em uma emboscada tremenda e caprichada.
Desci mais, dando de cara com o espaço gigantesco lotado de mais dinamites. Era cheio de fios e explosivos que iam do chão ao teto. O que aquele doido ia fazer? E o pior: Andy estava lá no meio.
– Mike? – ela se virou assustada. Claramente estava chorando e tremendo. Tinha algumas ferramentas na mão, alicate, chave de fenda e outros vários objetos espalhados ao seu redor. – Onde estão os outros?
– Fugiram. Eu vim te buscar – falei ao segurar seu cotovelo com delicadeza. Andromeda se distanciou e agarrou um controle nos braços. – O que aconteceu? Você que está fazendo isso tudo?
Andy mordeu o lábio e olhou para o chão, decepcionada demais para falar sobre. Ela estava triste, acabada, com medo. Tinha passado tanto tempo naquele lugar que parou de confiar nos outros.
– Me ajude a te ajudar.
– Eu fiz esse dispositivo – ela mostrou o controle que parecia de uma televisão normal, mas cheio de botões diferentes e brilhantes. – Matthew me mandou construir isso enquanto passava todo o tempo aqui. O controle é conectado em todos os explosivos do lugar. Quando ele quiser pode fazer tudo descarregar para a câmara ao mesmo tempo e provocar uma reação de combustão e detonação abundante.
– Então significa que... – meu cérebro nerd começou a funcionar de novo. E ela disse que não tinha talento para aquilo.
– Basta apertar o botão e...
– Cabum? – falei assustado.
– Cabum – Andy assentiu lentamente, o que me apavorou ainda mais.
Olhei todo o loca. Ela fora obrigada a construir tudo aquilo. Por mais que tivesse conseguido fazer uma conexão gigantesca dessa sem ajuda de muita tecnologia, ela conseguiu. Eu quria poder conhecer mais esse lado da menina, o que ela se sente feliz.
A diferença é que a situação não era a mais feliz.
– Não tem como desativar?
– Eu já tentei, mas... – Andy balançou a cabeça. Seus olhos se encheram de lágrimas mais uma vez. Agora estava claro. Ela voltou para pegar o controle e destruir o que criou para nos salvar, mas não conseguiu. Agora estávamos os dois em risco e sozinhos caminhando para o fim.
Segurei a garotinha em meus braços, abraçando e sentindo o cheiro dos cachos. Apertei com cuidado, tentando ser o mais protetor possível. Se havia uma coisa de que ela precisava era carinho.
– Eu também não gosto dos poderes, de carregar esse fardo. Eu tenho medo, sempre tive medo de tudo e nunca me arrisquei. Mas aprendi a controlar e talvez possa aprender a viver com isso. Eu tenho amigos e família que me ajudam, e com certeza você vai superar isso, Andy. Eu te conheço há pouco tempo, mas sei que é forte, pelo menos, mais do que eu com certeza. – Andy assentiu, parando de tremer. Vi a luz dos botões do controle e a fiz olhar em meus olhos. – Então vamos logo sair daqui com esse controle!
Talvez eu tenha falado isso um pouco fora do controle, tipo um agudo desesperado. Agarrei a mão da menina querendo sair o mais rápido dali.
Andy corria rápido devido às pernas curtas. Ela enxugou as lagrimas com a mão livre, enquanto a outra guardava o controle junto ao peito.
Percorremos um curto caminho. O coração batia rápido só de pensar em sair logo dali e...
Eu fui atingido.
De novo.
Uma força me jogou para a direita com mais força que a pancada da ultima vez. Minhas costas bateram de jeito na parede. A colisão me deixou tonto.
Abri os olhos para ver que merda tinha sido aquela. Quando eu penso que tudo tá bem, lá vem alguém pra estragar.
– Parece que você ia esquecer-se de me devolver o controle, mas obrigado por isso – era Matt. Eu estava bem aos seus pés sem conseguir me mover. Ada bem ao seu lado sem expressão como sempre, mas ela certamente sentia dor. Matt agora estava com alguns cortes na testa.
– Vão se foder – falei cuspindo.
Andy estava presa por Ada e Matt segurava o controle nas mãos com a vitória no olhar.
– Vocês descendentes são tão mal educados. Aquela ruiva me mandou o dedo do meio e você ainda me manda pra merda? – ele riu de deboche. – Pode ir se acomodando. A diversão está só começando, garoto!
. . .
[Daphne]
Não consegui me lembrar de muita coisa. Lembrei-me de Mike indo na direção oposta, Charlie nos guiando pelo corredor escuro, olhos grandes e brilhantes na nossa frente e minha respiração falhando logo em seguida.
Minha cabeça latejava. Eu estava deitada na grama e abri os olhos tentando descobrir que lugar era aquele.
– Ai... – alguém gemeu de dor ao meu lado. Movi a cabeça para Corey, mas ele estava sentado no chão, apertando a mão contra um ferimento no braço. Ele estava todo arranhado, sangrando, sujo. A calça estava quase completamente rasgada. Por algum motivo, um dos cachos castanhos parecia ter pegado fogo. Ele voltou sua atenção para mim. – Você está bem?
Balancei a cabeça. Eu pareço bem pra você? Com certeza estava pior do que ele umas cem vezes. Por mais que quase morto, o garoto ainda parecia atraente. Que droga.
Apoiei meu tronco nos cotovelos ao tentar me erguer, o que foi bem difícil. Corey ofereceu ajuda e apenas cedi, erguendo os braços.
– Onde estamos? Eu não me lembro de nada, e você? – resmunguei quando ele me puxou. Uma onda de choque percorreu minhas pernas, mas levantei. Cocei os olhos e examinei o local.
– Ada fez... Alguma coisa... Ai, minha cabeça – outro alguém disse. Era Brenda. Todos estavam lá, deitados no chão gramado. Atrás de nós, a construção do castelo se erguia fazendo uma enorme sombra sobre nós. A luz ainda brilhava lá em cima. – Escapamos?
– Improvável – Charlotte disse mais disposta que os outros. – É uma armadilha. Saímos mas não totalmente. Esse lugar é muito estranho.
Aos poucos todos acordavam. Procurei Mike ao redor para saber ao menos se estava vivo.
– Mike?
– Aquiiiiii – disse ele, com uma voz de dor. Estava deitado no chão ao lado da garota Andy, eu suponho. Ela tentava ajuda-lo a levantar. – Minhas costas doem. Que lugar é esse?
Eles tinham razão. Atrás de nós estava a construção, mas acabamos saindo na parte do "jardim", digamos assim. Enormes paredes feitas de galhos e folhas se estendiam por mais corredores, parecendo não ter nenhum fim.
Um labirinto feito de arvores ao nosso redor, sem nenhuma chance de saída. Pensei que jamais ia acabar, mas a contagem de passagens estava certa para cada um.
Brenda subiu nos ombros de Corey por serem os mais altos. Ela estreitou os olhos diante das plantas.
– É enorme.
– Tem cheiro de magia. Foi bem programado – Andy passou os dedos pelas folhas, tirando logo em seguida. – Espinhos. Alguém sabe voar? – ninguém respondeu.
Se for algo mágico, nunca nos deixaria sair. A praia ficava para o outro lado da ilha, levaríamos um tempo.
Pude visualizar o sorriso sínico de Matt, sua boca emitindo as palavras "eu venci, seus otários".
– O que a gente faz? – disse Aimee.
Olhei para Charlotte, sabíamos a resposta. A morena acenou para mim.
– Nós atravessamos.
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