17 | Não quer entrar e tomar uma xícara de café?

— Ok. Vou repassar o plano — Aimee declarou em voz alta enquanto esperávamos o barco chegar à terra firme.

— Um plano que não envolva morte — disse Mike. A menina mudou a expressão para decepção.

— Então eu não tenho.

Mike estava muito concentrado. Consegui vê-lo suar apesar do escuro. A lua era nossa única fonte de luz ele se esforçava para usar os poderes a favor da maré. Era notável a diferença das ondas e direção da água. Ao nosso redor o mar era agitado normalmente por causa da noite, mas nunca conseguiríamos ter chegado tão rápido sem ajuda extra.

— Chegamos — falei antes de encostarmos-nos à areia. Olhei para o lado oposto. Ainda era possível ver o pedacinho de terra. Puxamos o barco para o mais longe possível e escondemos entre as folhas. A ilha tinha uma enorme floresta característica, então o que estivesse abrigando nossos amigos, estariam lá no meio. Eu me senti personagem de Madagascar, o que não era um bom sinal.

— Como vamos saber o que procurar?

Também queria saber a resposta, mas tudo o que vi eram folhas e árvores. Devia ser um lugar grande, eu sabia que Matt possuía muitos aliados e estava tramando algo grande. Se eu estivesse isolada e conseguisse todo o espaço, usaria tudo.

— Mike, acha que consegue sentir o cheiro? — Aimee perguntou. Ele franziu o cenho.

— Eu não sou um lobo completo, tenho só alguns... — ele respirou fundo e cheirou alguma coisa. O moreno fez uma expressão frustrada. Odiava estar errado e ter que ver Aimee com um sorriso debochado. — Tem algo naquela direção... E para de me olhar assim!

Seguimos em frente. Cortamos galhos e cipós à medida que o garoto sentia coisas imprevisíveis sem esbarrar em alguma árvore ou animal nativo. Por um instante, não precisamos mais cortar nada, o caminho era aberto e acompanhamos os rastros. Alguém já havia andado por ali, com certeza.

— Gente... — apontei para algo mais acima. Nem precisei.

Uma parte elevada do terreno se eleva até dar de cara com uma construção de pedras. Parecia muito com as fortalezas do século XVIII. Eram como castelos simples de pedra, rodeados por um muro. A diferença é que não havia ninguém de guarda nos muros e passagens.

— Ele deve ser bem vaidoso — Aimee disse com semblante obstinado. — Vamos entrar logo ou...?

— É uma armadilha. Não tem ninguém ali. Devem estar nos esperando só pra dar o bote — Mike disse e concordei. Não tínhamos escolha a não ser entrar e invadir.

Fiquei com um pouco de raiva. Entrávamos pela porta principal ou por baixo? Seríamos pegos do mesmo jeito. Nunca fiz uma missão de resgate antes.

Olhei para Mike, que atentamente observava as possíveis entradas. Ele parecia exausto por controlar a maré, mas não tirava a postura erguida. Aimee remexia as mãos e bufou, cortando o silêncio.

— Vamos por baixo — declarou por fim e apontou para uma entrada no muro que cercava a construção. — Eles estão lá embaixo, né? Vamos pegá-los e dar o fora!

— Tem o Matt também — falei insistindo. Seu rosto ficou mais furioso apesar do riso divertido.

— Aí nós o pegamos e o matamos!

— Aimee! — Mike protestou. A garota abriu a mochila e colocou o gorro na cabeça, depois abriu uma caixinha de suco e a tomou em segundos.

— Vamos — disse ela e mostrou as duas facas nas mãos. — Estou pronta.

Fomos até a entrada inferior. Seguimos por uma escada de pedras mal iluminada mesmo com o brilho fraco da minha espada.

Pressionei os lábios mais uma vez para não tremer de ansiedade. Aimee estava na frente, depois Mike, e eu. Detestei ser a última, mas também não queria saber o que se encontrava adiante.

Aimee parou de subir quando encontrou um local mais iluminado. A abertura nos levou a uma espécie de âncora. Havia outros corredores em volta da sala com forma circular. Era grande, o chão feito de mármore cor creme. As paredes eram o mesmo, e, diferente do que era por fora, o interior da construção era muito mais clássico e arrumado.

Em um canto do salão vi um tipo de trono? Não sei dizer. Era uma cadeira enorme e escura, um tapete vermelho se estendia até ele com suas leves cores. Douradas.

— Tem alguém aqui — Mike anunciou baixo. — Humano.

Antes que alguém pudesse dizer algo, um vulto cai bem a nossa frente e levanta como se tivesse feito aquilo mil vezes.

Ele era alto, tinha uma cicatriz na testa não tão visível agora e um sorriso diabólico. Arregalei os olhos.

— Sid? — falei, não foi tecnicamente uma pergunta. O garoto sorriu. Lembrei vagamente da nossa luta na captura da bandeira lá no acampamento. Ele quase cortou minha cabeça fora. Apertei bem o cabo da espada.

Outro garoto com o cabelo verde desbotado veio pelo canto esquerdo. A direta, a menina de cabelos brancos que também estava no dia do ataque. Todos estavam lá. Não conseguiram nos pegar naquele dia, mas estávamos todos juntos aqui, mais uma vez.

A diferença era que tínhamos melhorado, mas estávamos no território deles. E não tínhamos Charlotte para jogar uma onda enorme na cabeça deles.

— Ada — Aimee disse baixinho. A menina estava sem expressão. Ela tinha uma cicatriz enorme que atravessava o olho.

— Não deviam ter vindo — ela disse pela primeira vez desde que a conheço. Sua voz era profunda e suave como uma pluma. Ada olhou com ódio para Mike e apontou para a cicatriz. — Você vai pagar por isso, garoto.

Lembro daquele dia como se fosse ontem. Mike tinha acabado de descobrir a licantropia e atacou a menina com as garras bem no rosto. Se bem que dava um tom característico a ela, eu gostei. Combinou com todo o rosto de "eu vou te matar daqui a pouco".

Ficamos em posição de ataque. Era tudo ou nada. Ada não parecia nem um pouco preocupada. A menina ergueu a mão direita e, em um movimento de fechar o punho, nos fez largar as armas. Ela fez isso como se estivesse espantando uma mosca.

, eu pensei. Corri na direção de Sid e tentei chutar seu queixo, mas ele foi rápido e arrastou minhas pernas. Rolei no chão e me ergui depressa. Vi Ada caminhar na direção do trono e olhar as unhas. Mike e Aimee resistiam ao outro semideus de cabelo verde com êxito.

— Ainda não aprendeu quem manda aqui, herdeira de Cronos? — Sid disse. Limpei o rosto e segurei minha espada com força. Ele não parecia assustado. Nossa diferença de altura era grande, eu podia usar isso como vantagem.

— Eu não vou me render a você. Vou te arrebentar com minhas próprias mãos dessa vez — falei e parti para cima com a lâmina, ele defendeu bem. Lutamos rápido, mas eu era mais.

Forcei minha espada contra a dele. Nossos rostos ficaram próximos mesmo com ele se abaixando.

— Eu não sou a herdeira de Cronos. Não me chame assim — falei cerrando os dentes. Ele sorriu mais ainda e forcei mais. — Ainda tenho Hermes comigo!

Chutei as pernas de Sid. Ele caiu e bateu a cabeça.

Quando pensei em fazer algo, que estávamos ganhando, que Mike conseguiu atingir o alvo com a flecha e Aimee cortar o braço do menino...

Nós fomos erguidos no ar.

Minha espada caiu aos pés de Sid, assim como as facas de Aimee e o arco e flecha. Uma força nos puxou para cima e amarrou nossas mãos até ficarmos indefesos. Aimee se debatia e xingava tentando sair. Mike estava uma fera, com os olhos azuis furiosos procurando por presas.

Encarei o que estava a minha frente. Ada usava sua magia sem fazer força.

Aí mais alguém surgiu das sombras, batendo palmas, com o melhor sorriso de deboche visto na terra.

— Ninguém pode dormir em paz por aqui sem que tenha uma invasão — disse ele. As pantufas de minion faziam um barulhinho a cada passo.

Abaixo de nós, os semideuses se recompuseram.

Matt parou ao lado de Ada e vi suas pupilas crescerem ao olhar diretamente para nós, olho no olho.

— Pensei que teria trabalho em trazer vocês, mas parece que caíram na minha armadilha! Inclusive, estão atrasados. Isso é hora de se chegar? E no meio da madrugada? — disse desapontado, mas um sorriso se abriu em seguida, revelando seus dentes mais que perfeitos. — Sejam bem-vindos à minha humilde casa! Vocês vão morrer!

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