09 | André gosta de Girl's Generation
AIMEE
— Podemos resolver isso — falei séria para Daphne e Mike. Aquela ida ao chalé de Hipnos os deixou sonolentos e já tínhamos uma pista de onde os descendentes podem estar, mas não totalmente.
— Ao menos que você tenha alguma ideia. Eu não consegui localizá—los de jeito nenhum. Nem sei como faz essa coisa — ela disse cansada. — Podem estar em um submarino, no triângulo das bermudas e não vamos saber.
— Mar de Monstros, você quis dizer — corrigi e ela assumiu expressão confusa. — Ah, esquece.
Fiquei roendo as unhas enquanto pensava em um plano. Quatro descendentes perdidos em algum lugar no mar e ninguém sabe como localizá—los. Os filhos de íris e Hécate já tentaram e nada... Hécate?
— Hécate! — falo em voz alta, assustando Mike. — Preciso falar com Helena urgente. Acho que tenho um plano para sairmos em missão.
— Missão? Nós três? — Mike diz rindo, ainda não entendi a graça. — Escuta, Aimee, você é a melhor de nós três aqui. Eu mal sei pegar em uma arma direito e Daphne não controla os poderes, muito menos eu!
— Cala essa sua boquinha, garoto. Isso aqui é sério. Já estou cheia dos dois se rebaixando. Eu sou apenas filha de Dionísio e nem por isso faço drama. Vocês deviam usar essa inexperiência justamente para aprender alguma coisa — falei rápido lançando um olhar ameaçador aos dois. — Me esperem aqui, eu volto logo.
Saí sem esperar respostas e corri na única direção onde Helena poderia estar. A Casa parecia vazia, rodei o local até achar sua sala. Bati os pés no chão de madeira para tirar a sujeira e dei três batidas no vidro. Vi seu cabelo trançado se virar e a mesma fez sinal para que entrasse.
A sala estava toda desarrumada, com papéis espalhados na mesa, parecia que não limpavam o lugar há mais de uma semana.
— Helena, você está bem? É uma hora ruim?
— Preocupada e com a cabeça cheia por causa de tudo — disse enquanto amarrava o cabelo rodava a sala. — Não se preocupe comigo. O que houve?
— Acho que sei como encontrar os descendentes.
Diferente de um minuto atrás, a morena me olhou nos olhos, com os mesmos brilhando em tons de azul e roxo. Era como se sua respiração parasse apenas para absorver um pouco de esperança.
— Como?
Engoli seco.
— Você lembra que dois anos atrás, quando eu e Charlotte fomos a uma missão procurar Ada e aquelas filhas de Apolo? — perguntei e a mesma assentiu, olhando para meu colar de contas no pescoço. Foi um pequeno feito que rendeu uma conta em tom amarelado. — Bem, conhecemos uma... Bruxa.
— Bruxa?
— Tipo isso, a mulher é filha de Hécate, mas ela consegue fazer coisas que ninguém pode. É especial! Não é nada do que eu já tenha visto, Helena. A bruxa nos ajudou a achar Ada a tempo!
— Está sugerindo que existe uma bruxa, e ela pode achar os descendentes? — perguntou com os braços cruzados e assenti. — Acho difícil ser verdade, Ames.
— Eu sei que parece loucura! — falei enquanto andávamos a sala. — Se Charlotte estivesse aqui ela diria, mas está? Não! Por isso precisamos nos apressar! Os próximos podem ser "Bonnie e Clyde" lá fora. — Segurei seu ombro e a mesma se virou. — Precisa confiar em mim.
— Eu confio, Ames. É arriscado, mas se for a única alternativa, então iremos fazer — soltei ar e a mesma ficou mais calma. — Chame Rebecca e Lauren para irem atrás dessa mulher, vou precisar saber do endereço, coisa simples, depois elas voltam e buscamos um tipo de...
— O que...? Não! Eu quis dizer que nós vamos — falei com grande ênfase no "nós". Os cabelos de Helena começaram a ficar vermelhos.
— Não posso deixá—los fazer isso, sinto muito. Não posso arriscar os dois desse jeito.
— Disse que é uma missão simples. Posso lidar com isso, eu os ajudo! Sabe que posso fazer isso! Os dois são poderosos, precisam disso tanto quanto a gente! — seus cabelos começaram a ficar mais vermelhos e me afastei. Helena levantou a voz:
— Prometi aos pais dela que cuidaria apesar de tudo.
Apertei os lábios, senti meu rosto ficar vermelho também.
— Isso é porque eu sou "inferior" a eles, não é? — senti a boca ficar amarga. — Tenho o direito de escolher. Você mais do que ninguém aqui sabe disso, tenho mais chance que qualquer um aqui.
— Não estou dizendo nada! Aimee, eu te conheço desde sempre, mas Peter e Lydia não são apenas meus amigos, eles são minha família.
Fechei os olhos por um tempo e respirei fundo. Quando abri, ela estava normal de novo. Abri meu punho e falei baixo, quase num sussurro:
— Pelo menos você tem uma família.
Saí correndo da casa o mais rápido que pude. Procurei os dois no mesmo lugar torcendo para que ainda estivessem ali. Por sorte os achei e passei a manga do casaco no rosto antes de falarem em uníssono:
— Como foi?
— Hm... Bem, na verdade. — Menti — mais ou menos.
— Que quer dizer...?
— Iremos à missão. Escondidos.
Mike fechou a cara e saiu andando. Daphne foi até ele e o puxou pela orelha.
— AI! Escuta aqui, esse lugar já é perigoso com uma barreira doida, e agora vamos sair escondidos para buscar pessoas que não tem nada a ver com nossas vidas?
— É muito mais do que isso, Chiclete. Daphne é amiguinha colorida da Charlotte, eu também já fui (só amiga) e, por mais que isso soe idiota, ainda me importo com ela — falei e ele ergueu a sobrancelha. — Se contarem isso para alguém mato os dois.
— E se continuarem com os desaparecimentos, seremos os próximos — Daphne. — Agora o maior problema é: como vamos e para onde.
— Precisamos ir atrás de uma macumbeira Janaina que conheci dois anos atrás e depois pegar o filho da mãe que está fazendo isso — falei rápido e tossindo. Mike lançou um olhar de "escuta o que eu to falando senão a gente vai se foder bonito". — Sairemos hoje à noite. Cuidado com as harpias. Alguém aí tem dinheiro? Peguem alimentos também na hora do jantar!
— Wow, calma aí! — Daphne disse. — Acho que Mike consegue o dinheiro. Meio que o pai dele trabalha em uma empresa gigantesca e deixa mesada todo mês. Mas são dólares, não dracmas.
— Vão funcionar. Dracmas eu tenho de sobra — dei de ombros.
— Então saímos no meio da noite, pegamos o dinheiro em algum caixa por aí e compramos passagens para...?
— Carolina do Norte aí vamos nós — sorri.
. . .
DAPHNE
Não consegui dormir de novo. Na noite da tal fuga, aquela sensação de medo ficou na barriga misturada com a insônia. Passei a tarde reunindo suprimentos e deixei a mochila escondida debaixo da cama.
Olhei o relógio de bolso mais uma vez, faltaram apenas cinco minutos para 2 da manhã. Era a hora. Encontraria Aimee e Mike na floresta perto do Bunker.
Peguei a mochila tentando não fazer barulho e saí da cama cambaleando. Pus a mesma nas costas e andei na ponta dos pés até o banheiro.
01h56.
— Aonde você está indo? — uma voz perguntou e me virei lentamente para o garoto moreno na cama ao lado. Ele tinha o cabelo cheio de dreads compridos como os de Helena. O menino arregalou os olhos apenas ao ver minha expressão. — Está saindo em missão?
— Por favor, não conte à Helena — sussurrei suplicando. Minha mão apertava a alça da bolsa.
O garoto coçou a barba por fazer e passou as mãos pelo rosto dando um sorriso de canto.
— Eu te ajudo.
— Ajuda? — perguntei duvidando se tinha escutado bem.
— Se for para ajudar Charlotte eu faço. Ela era ótima líder e o acampamento não é o mesmo sem ela... Sem todos eles — disse baixo e verifiquei as pessoas ainda dormindo. Acabei de me tocar, o cara é o líder do chalé e provavelmente amigo de Charlie também. — Venha, eu te mostro um caminho.
Ele saiu da cama e entramos no banheiro. Havia uma espécie de porta no chão perto da pia, o lugar não era pequeno.
— Como sei que posso confiar em você? — perguntei desconfiada.
01h57.
— Isso aqui é um túnel, não vai tão longe, mas é bom pra sair sem fazer barulho e melhor que pela porta da frente. Acaba na floresta, ninguém vai te ver ou ouvir. Além disso... Eu nunca te vi saindo, certo?
O moreno levantou uma sobrancelha e sorri. Trocamos um soquinho e desci no buraco. Tateei o túnel improvisado de Hermes e andei mais e mais, até a luz do banheiro ser apenas um pontinho na escuridão.
Quando o túnel chegou ao fim, senti a parte de cima. Já estava ficando sem ar. O teto era de madeira. Empurrei com a mão e o mesmo se abriu em um rangido. O vento frio passou direto. Joguei a bolsa para fora e pulei.
Avistei ao redor da floresta, apenas a noite e as árvores. Fechei a porta e me ergui, procurando sinais dos meus amigos.
— Aimee? — chamei um pouco mais alto. Se as harpias ouvissem seria o fim.
— Fala baixo! — alguém sussurrou. — Vem aqui mais perto!
— Perto aonde? — insisti e uma pedra passou voando na frente do meu rosto. Aimee estava lá parada atrás de uma árvore cheia de raízes gigantes. — Tá querendo me matar é?
— Cadê o Mike? — perguntou arrumando o gorro na cabeça junto com a mochila nas costas. — Ele tinha a função de trazer água e comida, só por isso eu espero.
02h03.
— Pensei que ele já estaria aqui...
Antes de completar, um barulho me interrompeu. Algo passou voando pelas árvores à nossa direita. Observamos uma pena marrom descer lentamente até a grama úmida. Não era uma pena comum, era de uma harpia.
— EU TÔ AQUI! — escutamos um grito abafado e agudo. O garoto vinha correndo, com a mochila nas costas, mais suado que não sei o que. Prendi a respiração. — Estava resolvendo umas coisas.
A harpia passou de novo, dessa vez mais perto. Recuamos com o susto e Mike ficou mais branco que o normal.
Aimee arregalou os olhos para cima e segui... Asas gigantescas se camuflado no pinheiro escuro.
— Corram.
— Correr? — engasguei.
— Ela já nos viu. Mike, quando eu contar nós corremos e você começa com o plano — disse devagar sem tirar os olhos da mulher—pássaro. Ele assentiu com a cabeça e Aimee contou nos dedos.
1.
2.
3.
Agarrei o braço de Aimee e corri entre as árvores. Senti sermos perseguidos com a harpia pulando e voando de galho em galho. Não era o bastante.
— Vão à frente! Eu assumo daqui — Mike disse parando e derrapei na grama. Aimee me puxou para o lado até rolamos no chão. Mike respirou fundo e estendeu a mão. A harpia se aproximava e não tínhamos tempo.
— E se eu parar o tempo? Podemos ter vantagem! Eu consigo! — exclamei e Aimee tapou minha boca.
— Apenas em caso de emergência. Tenho um plano B ainda.
Neblina surgiu dos pés de Mike e se estendeu aos poucos. Se fosse alta o suficiente talvez a distraísse.
Acho que ele pode ver através da neblina, então pode nos guiar. Ninguém lhe conta dos planos, então fica difícil saber., aquela voz irritante resmungou. Eu também queria falar umas coisinhas nada agradáveis.
— Está vindo! Se abaixem!
Obedecemos e a ave passou direto. Se havia ido embora não tinha como saber, mas voltaria. A neblina estava na altura da cintura.
— Para a colina, rápido!
Corremos mais e mais. Aimee parou por um instante e exalou um cheiro ruim de uva estragada na direção do acampamento, tentando manter a harpia longe.
Avançamos até o escudo protetor e o atravessamos. A partir daqui é por nossa conta.
— Só falta mais um pouco. Que horas são, Daph?
— Duas e quinze. Estamos atrasados, o André deve estar sozinho! — apressei o passo. Aimee devia estar pensando em quem era André, mas não excitou. Explicaremos tudo quando chegássemos na estrada.
Enquanto corria pensei no quanto nossa fuga fora mal planejada. Aimee tinha vários planos, mas não contara nenhum. Além disso, eu e Mike não contamos sobre o André — ele foi meio que de última hora.
— Ei! Eu não sou tão rápida quanto vocês! — ela gritou quando nos perdia de vista. Nem tinha reparado em como meu corpo parecia leve ao correr. Mike deu meia volta e parei olhando ao redor.
— Sobe logo! — ele reclamava enquanto indicava para a menina subir em suas costas.
— Ah, eu mereço — revirou os olhos e subiu no moreno, os dois xingaram ao mesmo tempo quando a menina quase escorregou.
Se não estivéssemos em uma fuga e sendo procurados por uma mulher-pássaro, ela teria soltado um grito de vaqueira com certeza. Peguei as mochilas de ambos e seguimos em frente.
Aprendi que mesmo sendo descendente de Hermes não sou tão rápida quanto pareço (ou devia ser o peso monstruoso de três mochilas).
Mike e Aimee foram à frente enquanto eu vigiava o caminho.
A floresta foi se dissipando, as folhas mais secas. Pulamos uma pequena cerca até sentirmos o asfalto da rodovia.
— Ali! — Mike indicou o carro preto, tão chique que mais parecia uma mini limusine, do outro lado, quase camuflado. — Vamos logo.
Os faróis se acendem antes de entrarmos. O porta—malas se abriu e joguei tudo lá dentro. Eu daria qualquer coisa pra descansar a bunda e as pernas depois dessa caminhada.
Mike e Aimee brigaram para ver quem iria no banco da frente. Só empurrei os dois e sentei lá. E é assim que se resolve uma briga: não estando nela.
Fechei a porta e olhei para o lado. André era um senhor de meia idade, mas não aparentava ser muito velho, era jovem o suficiente para ouvir kpop no carro. Tinha um sorriso simpático, sempre foi legal comigo.
— Graças a Deus vocês estão bem. O que aconteceu? — perguntou para mim e se virou para Mike. — Estão em uma encrenca? Seu pai não me disse nada do porque foi embora.
— É uma longa história, André. Por favor, não conte nada pra ele senão as coisas pioram.
André assentiu. Não sei se foi um "ok eu não conto" ou se foi "foda-se meu bem", mas ele sempre foi gentil com Mike e a família dele.
— Ah, olá! — disse assim que reparou em Aimee com cara de paisagem — meu nome é André, sou o motorista do Sr. Harris e do Sr. Harris.
— Então o senhor é tipo o Alfred — confirmou apertando a mão dele — e ele é o Batman. Saquei. A diferença é que o Mike é... Sabe, o Mike.
— André, precisamos ir logo — disse tentando desviar o assunto, era meio difícil se concentrar com "Lion Heart" tocando ao fundo. — Quanto tempo pode ficar?
— Só tem gasolina para algumas horas. Mas preciso voltar para deixar seu pai no trabalho, então posso levá-los por duas horas, depois é por conta de vocês. Ah, Daphne, pode pegar o dinheiro no porta-luvas, por favor? — obedeci e guardei o envelope na jaqueta, íamos precisar pra mais tarde.
Então só temos até às quatro da manhã, e depois pegamos um ônibus até Carolina do Norte, pensei.
André deu partida no carro. A ideia de seguirmos sozinhos até outro estado ainda me dava frio na barriga. Só queria que tudo ficasse bem.
Meu olhos estavam quase se fechando e pensei em Charlie. Será que ela e os outros estavam bem? O que estava acontecendo?Finalmente, Aimee e Mike desabaram no banco pelo sono, e eu também.
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