07 | Eu só quero suco!

— Mike... Acho que somos os próximos ­— falei firme e ele assentiu. Apertei os olhos e o puxei correndo até o pavilhão.

Fiquei sem respirar e olhei tudo ao redor. Avistei Aimee conversando com um dos seus irmãos. Apenas corri até lá e a puxei de uma vez, quase derrubando sua caixa de suco.

— Ai! Você é rápida — ela disse enjoada e Mike a ajudou a se apoiar. Ela piscou e respirou fundo. — Tá, o que aconteceu?

— Você viu a Charlie hoje? No café da manhã ou treinando? — pergunto rápido e ela para de beber o suco.

— Felizmente não.

— Aimee, isso é urgente — Mike disse. — Achamos que ela pode ter sido levada, ou já foi.

— Por quem? — ela pergunta é pelas nossas expressões já tem a resposta. — Não sabem, isso ajuda bastante. Podemos falar com Quíron ou Helena, eles vão...

— Não! — falei rápido. — Mike escutou os dois conversando na Casa ainda há pouco. Eles sabem de algo, mas não querem contar, muito menos fazer alguma coisa.

— Ela pode ter fugido. Daphne deveria saber. As duas andaram muito apegadas essas dias, não é? — Aimee perguntou e balancei a cabeça.

— Ela teria me avisado, eu acho. E para onde iria? Eu contei pra ela dos sonhos uma vez, mas nunca sairia sozinha para buscar os outros. Não temos pistas!

Aimee semicerrou os olhos, pensativa, e respirei fundo. Estava começando a me preocupar. Meu melhor amigo é filho de Selene, sou uma descendente de Cronos, talvez as coisas sejam até piores do que achamos.

— Olha, nunca senti tanto orgulho em ser filha do deus do vinho. As vezes é bom ser flopada. — Ela disse satisfeita olhando para cima e suspirou. — Certo. Mike, procure-a nos chalés de Poseidon e Atena. Eu pergunto para o pessoal e algumas ninfas. Daphne, como é mais rápida, olha o acampamento inteiro buscando algum rastro daquela cara de peixe! Encontro vocês bem aqui no almoço.

Aimee saiu correndo de volta ao pavilhão e começamos a fazer o mesmo, procurando por Charlie. Corri procurando em cada canto, passando como um borrão para aqueles em volta. Fui para o lago, a praia, os chalés, a colina, arsenal... Todos os lugares possíveis e nem cheiro dela.

Quando minhas pernas cansaram já era hora do almoço. Encontrei os dois e tiveram o mesmo resultado que eu: nada. Nem Mike conseguiu sentir alguma coisa.

Sentei-me à mesa de Hermes e Aimee na de Dionísio. Mike ficou sozinho em uma mesa do canto que provavelmente devia estar vazia há anos assim como o chalé.

Na refeição inteira fique olhando para os dois e procurando Charlotte nas mesas. Ela não podia ter desaparecido.

Enquanto comia, Quíron entrou no pavilhão com Helena. Ele fez um sinal de silêncio que aos poucos foi obedecido até ninguém dar um piu.

— Atenção, campistas! Eu e Helena temos uma notícia não muito agradável — ele disse respirando pesado. Já havia perdido a fome e afastei o prato, cruzando os braços. — Recentemente, tivemos dois descendentes desaparecidos.

Todos ficaram surpresos, isso foi apenas uma confirmação para nós. O que planejavam fazer?

— Brenda, descendente de Ares e Lucas, de Tique. Os dois sumiram faz uma semana e talvez não lembrem deles, já que chegaram recentemente — Helena disse. — No começo, pensamos que fosse brincadeira ou algo do tipo. Mas isso não é o pior.

— Lá vem... — falei baixo e observei todos. Os filhos de Ares se entreolharam pensando como esqueceram a garota nova.

Brenda e Lucas, repeti mentalmente. Não vou esquecer os nomes. Eles não apareceram no sonho por coincidência.

— Não sabemos onde está Charlotte, a descendente de Poseidon e Atena — ela completou e todos olharam para a mesa de Poseidon, vazia e para a mesa de Atena, sem a morena. — Acabamos de receber uma mensagem do Acampamento Júpiter...

— Droga, era pior do que eu pensava — resmunguei. Enterrei a cabeça nas mãos e pressionei as minhas pálpebras.

— Corey, descendente de Vênus desapareceu ontem. Eu e Quíron pedimos a vocês que a partir de agora nunca fiquem sozinhos! Estejam sempre armados e longe da fronteira do acampamento! Quem tiver alguma notícia ou possível visão dos meios—sangues nos avise o mais rápido possível!

— Descendentes e filhos raros de deuses... — Quíron exclamou e olhou para mim — ou os dois. Tomem muito cuidado.

— Por que não saímos em uma missão? — uma garota da mesa de Apolo exclamou. — Não é meio idiota ficar esperando outro meio—sangue sumir? Não podemos ficar parados!

— Precisamos ter uma localização exata, Lauren. — Helena disse firme — Nossos recursos são poucos, só temos nomes e nada mais. Precisamos saber onde todos estão e com quem. Daphne, um minuto conosco, por favor.

Saí da mesa, sentindo todos os olhares sobre mim. Eu, Quíron e Helena ficamos um pouco mais distantes do pavilhão em pé no gramado.

— Daphne — Helena disse com cuidado, como se minha vida dependesse daquilo. — Você estava certa. Se tiver qualquer pista, sonho ou alguma localização exata, me diga. Lydia podia sentir determinada localização e acho que você também — os cabelos de Helena começaram a ficar de cor roxa, assim como os olhos. Fiquei me perguntando se isso era normal. — Se ver todos os semideuses de novo, me fale. Vocês filhos de Hermes podem ser bons nesse tipo de coisa, mas eu sou filha de Íris e vou tentar ao máximo.

— Tudo bem, eu falo se acontecer algo — assenti e pensei no sonho de Mike, mas preferi não jogar esse peso nele. — Só é muita informação. Quer dizer que temos quatro meio—sangues desaparecidos e nenhuma notícia, só sonhos. Eu sabia que escondiam algo!

— Não queríamos preocupar todo mundo — Quíron disse com semblante triste. — Quando o Acampamento Júpiter nos avisou e perguntou sobre nossa situação os pontos começaram a ligar.

— Então é tudo proposital — falei. Não sabia o que dizer. Olhei para os dois com olhares preocupados e fiquei mais ainda. A única coisa que sabia era que precisava fazer algo e rápido.

Voltei até minha mesa, de novo pensei em Charlotte e minha fome passou. Resolvi dar uma oferenda.

— Para Hermes — falei baixo — Apesar de nunca ter te conhecido, agradeço por ter me dado isso, e por fazer meu pai existir. — E para Cronos, mesmo você sendo um babaca e, nem sei se esse troço leva até o Tártaro, mas obrigada por ter tido minha mãe. Ah, se for você sussurrando na minha cabeça, sai daqui, demônio!

É, vai saber, a voz disse de novo e balancei a cabeça, Cronos pode não gostar de frango!

— Vai embora — sussurrei.

Aimee chegou ao meu lado com Mike e saímos do pavilhão, caminhando na direção dos chalés.

— Para onde vamos? — perguntei.

— Mike acabou de me contar do sonho. Igualzinho ao seu. Não vou ficar aqui parada esperando vocês desaparecerem também. Algum filho de Hefesto devia construir um localizador e pôr em todo mundo, mas eu penso melhor que qualquer filho de Atena aqui e não vou deixar vocês irem embora.

— Não vamos embora, Aimee — Mike disse e arrumou os óculos. A garota deu um giro para encarar nós dois com seriedade.

— Mas podem. Eu estou nesse acampamento há mais tempo que os dois. Mais do que imaginam e que, por sinal, mal sabem pegar numa arma muito menos se defender direito.

— Obrigada pelo elogio — falei irônica. Aimee deu as costas e continuou a andar.

— Assim que vocês apareceram, meu subconsciente dizia "Aimee, saia de perto desses caras". Mas então vem a garota descendente de Hermes e Cronos! Cronos. O titã, o fodão, o cara enorme que consegue manipular o tempo com uma foice maluca e olhos brilhantes! — ela dizia e caminhava tão rápido que eu mal entendia. — Depois vem o garoto—chiclete filho de Selene, um dos semideuses mais raros que existem, porque atualmente não apareceram mais filhos dela!

— Isso é reconfortante — Mike diz e já chegamos perto do chalé.

— Horas antes de vocês chegarem a Helena me chamou pra dizer "Aimee, eles são novatos e você é vice-líder do chalé. Eles têm a mesma idade que a sua, são dois amigos que só tem um ao outro...". E o que eu fiz? Eu topei, porque fiquei cansada de andar com pessoas que não são da minha idade! Eu precisava conversar com alguém. Agora vocês são minha responsabilidade. Depois que Charlotte sumiu, eu tomo conta e temos que resolver essa merda!

Aimee respirou fundo e ficamos parados na porta do chalé de Dionísio. Ela abre a porta e faz sinal para passarmos.

— Vamos, entrem. Preciso pegar uma bebida.

O lugar estava vazio, só com o cheiro agradável de vinhas. Aimee foi até sua cama e procurou algo embaixo do tapete.

— Aimee, tem pessoas desaparecendo e você quer entrar no chalé pra beber suco? — comecei a falar, mas ela abriu uma pequena alça, e apareceu uma mini—geladeira cheia de caixas de sucos de canudinho e até mesmo chás — ... Isso é um frigobar?

— Um dos cinco — deu de ombros e voltou a procurar algo — Tem carregamento pro mês inteiro. Os outros chalés não são os únicos que tem segredos. Aqui tem todo tipo de bebidas, mas nunca álcool, ainda. Infelizmente. Pelo menos não pra mim.

Mike andou pelo chalé procurando mais sinais daquilo. Aimee achou o que procurava, mas eu não fazia ideia do que era. Parecia uma caixinha de chá.

— Agora vamos para o chalé de Hipnos, e não, nós não vamos tirar uma soneca — zombou e saímos apressados correndo pela grama, nos dirigindo ao chalé do deus do sono.

— Disse que tinha um plano! — Mike resmunga quando chegamos até lá.

— Olha, disseram que tiveram sonhos com o pessoal preso. Os caras que tão aqui dentro são especialistas nesse tipo de assunto. O Jonathan pode nos ajudar. Helena e Quíron podem ficar esperando por toda essa baboseira de sonhos, mas eu não! Acreditem, vai ser mais eficiente do que imaginam.

— Tá, mas pra que serve o chá? — perguntei e apontei para o mesmo.

— Tudo tem um preço. É o chá pelo serviço. Esse negócio não se arranja em qualquer lugar, então se isso der certo, vão ter que comprar outro pra mim.

Aimee bateu na porta. O lugar parecia tranquilo, com uma construção simples e uma grinalda de papoilas vermelhas pendurado acima da porta.

— Já esteve aqui?

— Algumas vezes — ela deu de ombros. — Jonathan é o líder, um cara legal, mas esperto. Quando entrarem lá dentro, tomem cuidado. Pode ser perigoso.

— Por quê? — Mike perguntou sorrindo. — Não tem nada de ruim lá, ou tem?

— Ah, tem — ela assentiu com a cabeça, mas foi apenas para assustá—lo. — Com certeza sabe como é a força do sono. Pelo menos eu, quando fico cansada, parece que a cama me puxa. Esse lugar é muito pior. Fiquem de olhos abertos.

A porta se abriu, revelando um garoto bem mais velho que nós. Deuses, ele era absolutamente lindo. A pele cor de chocolate e os olhos verdes quase me fizeram cair. Não sei se isso aconteceu só comigo, porque Mike fraquejou os joelhos.

— E aí, Dionísio? — ele perguntou acenando com a cabeça para Aimee. — Quem são eles?

— Oi, Josh. São meus amigos novatos. Preciso de ajuda. O Johnny tá aí?

— Claro que sim. Podem entrar e tente não desmaiar.

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