7.Intruso

Kareen,

Eu acordei um pouco cansada, estava uma bagunça e até hoje não sei como o colega de quarto de Ames nunca nos viu, principalmente agora que eu praticamente durmo aqui toda semana.
Me levantei tranquilamente depois de conferir se eu estou sozinha, catei as minhas roupas, me vesti rapidamente e não pude deixar de ficar vermelha ao pensar que realmente ocorreu o que Margarete falou.
Eu não esperava por isso, e não imaginei que seríamos assim. Só de pensar que fizemos amor, eu fico vermelha.

Ok, Kareen, foi só sexo! Pare de pensar com o coração e vá logo de uma vez para o seu quarto! Me autocritiquei mentalmente e, ao desviar o olhar, não pude deixar de sorrir. Havia um pequeno pedaço de papel junto a uma caneta de coelhinhos brancos.

Nos vemos na aula,
tive de conversar com o diretor.

Ames.

Meu sorriso foi instantâneo, é muito difícil não se apaixonar por Rayne Ames.


🔮🔮🔮


As aulas de poções e feitiços avançados já haviam terminado e nada do Ray voltar. Achei estranho, mas preferi não ficar pensando muito, afinal de contas, meu namorado agora é um visionário divino.

Terminei mais uma aula e segui para o salão de refeições, onde Margarette e seu "mordomo" pessoal já me esperavam.

— Margo, é sério que agora você vai ter companhia no almoço?

— Kitty, você sabe como gosto do meu molho na temperatura correta. E olha esses camarões, estão no tamanho certo!

Revirei os olhos.

— Sua fresca — sussurrei.

— E como foi a sua noite? Eu sei que não voltou para o seu quarto... — Margarette cantarolou baixinho.

— Deixa de ser bisbilhoteira. Eu voltei sim, agora estou com uma baita cólica. Acho que vou pegar mais daquele inibidor. Por falar nisso, tenho que agradecer, foi graças àquele remédio que tive uma noite ótima!

— Hum... sei. Agora me conta o que você fez com o Abel. — Arqueei a sobrancelha e olhei para o mordomo. Margo não demorou a dispensá-lo e, quando ficamos sozinhas, só pude sorrir.

— Nada demais.

— Kareen, só existem cinco usuários de magia proibida na escola e quatro deles são professores. Quanto tempo acha que aqueles idiotas levarão para chegar até você? Desfaça logo isso.

Revirei os olhos. Não foi só magia proibida que usei; não me limitei e, com isso, não sei desfazer. Duvido que o idiota do Abel queira tentar.

— Ele nem deve estar tão mal assim — afirmei, levando Macaron a rir.

— Queridinha, fontes me dizem que ele não dorme há dias e que vem alucinando. O poder está fora de controle, já feriu seis alunos da Lang.

Revirei os olhos, que cara frouxo.

— Farei o seguinte: se ele pedir ou precisar, eu ajudo. Do contrário, não. Agora vamos mudar de assunto? Falta tão pouco para as férias e estou tão animada.

— Eu também não vejo a hora, preciso renovar algumas coisinhas.

O salão de repente se calou e não demoramos a entender os motivos. Isso já pode ser considerado uma invasão, são tantos intrusos nessa escola que chega a ser ridículo.

— Olá novamente, senhorita Bernauer. — Esse loiro de farmácia sorriu.

— Se está aqui à toa, é porque anda sem ter o que fazer no gabinete. — Ele riu da minha resposta e notei que alguns ao redor cochichavam.

— Você deve me acompanhar. Já que é graças às suas façanhas que fui obrigado a vir mais uma vez. — Ele sorriu antes de piscar para algumas alunas que se derretiam por ele e eu me levantei.

— Ninguém te obriga a nada, Ryoh, do contrário não seria o líder. — Passei à frente, segurando meus livros, os quais ele pegou e entregou a alguém. Eu faço questão de chamá-lo sem qualquer sufixo hierárquico e assim ele me guiou até a sala do diretor.

Wahlberg estava sério e eu não estou nem aí.

— Sabe por que está aqui, senhorita Bernauer? — O diretor perguntou e eu neguei.

— Recebi uma carta do gabinete dizendo que alguns dragões estavam presentes na Easton e que passaram pela cidade, aparentemente muito bem alimentados, já que não devoraram ninguém.

Droga, Igniss!

— Sem ofensas, diretor, mas o que eu tenho a ver com isso? Eu não saí da escola.

— Permita-me, diretor Wahlberg — o diretor consentiu. — Depois de certos incidentes com dragões, existe uma barreira de proteção por todo o país. Não é fácil entrarem assim. Até onde foi catalogado, somente uma linhagem não pertence à lista, sendo a única que pode ir e vir quando quiser.

Ótimo, agora ferrou. Vou ser expulsa porque Igniss ficou com saudades. Acalmei-me e resolvi contornar a situação.

— Foi como disse, até onde VOCÊ sabe. Podem haver diversas espécies não catalogadas e isso de forma alguma tem a ver comigo.

— Ah, não? Então não se importará de me mostrar quantas linhas tem no seu rosto. — Ele riu vitorioso, deixando claro que, desde o começo, essa era sua real intenção.

— Eu não quero. Você não precisa saber. Por acaso serei presa ou perseguida se continuar negando? — Fui direta e ele riu.

— Presa não, mas vigiada e contida, talvez. Eu conheço sua família diretamente. Linhagem nobre, muito antiga e cheia de questões péssimas para os dias de hoje.

— Se conhecesse mesmo, saberia que se estou aqui é porque não sigo a doutrina.

— E isso importa? Sejamos sinceros, se eu estiver correto, você não passa de uma bomba-relógio prestes a explodir a qualquer momento. — Ele aproximou o rosto do meu. — Se bem que isso já aconteceu, não é mesmo?

— Já chega. Senhor Grantz. Senhorita Bernauer, mostre as marcas. Não quero ter que conter uma aluna tão promissora.

Respirei fundo e me afastei. Por respeito ao diretor, farei o que pedem. Sem esperar mais, fiz com que as linhas surgissem.

Três ao todo, uma do lado esquerdo e duas do lado direito, todas adquiridas depois de muito esforço e treino árduo por obrigações, fora o despertar.

Ryoh se aproximou e encarou meu rosto, sorrindo de maneira presunçosa, antes de se afastar.

— Está satisfeito? — Estou com raiva e tenho que me conter. Tenho ao todo quatro marcas, há mais uma que atravessa as duas do lado direito em sentido diagonal e desce pelo meu maxilar. Toda vez que perco o controle, ela se estende um pouco mais e isso não é normal. Não foi concebida de forma natural e é até mesmo traumatizante lembrar disso. É por isso que a mantenho segura, assim como as outras duas. Na verdade, quanto mais fraca eu aparento ser, melhor. Assim, evito ser o centro das atenções e perder o controle, como aconteceu no mercado.

Estou aqui apenas para aprender e me divertir. Não almejo ser algo grande e destacável, só boa o suficiente para, quando decidir o que farei da minha vida, ter influência para me estabelecer. Dinheiro e poder são o que não me faltam e eu abriria mão disso facilmente se pudesse me livrar dessa maldição. Afinal, o poder que consome jamais poderá ser totalmente controlado.

Ryoh me encarou mais uma vez antes de aparatar ao lado do diretor.

— Por ora, sim. Você é realmente interessante. Se sair da linha, eu volto. Até mais, Bernauer, foi um prazer te conhecer.

Ele sorriu de lado. Esse cara é ridículo. Quando fiquei a sós na sala do diretor, ele me encarou e engoli em seco, esperando pelo esporro.

— Aluna, tire a maldição do Walker. Ele está começando a incomodar os demais alunos e professores. — Me senti frustrada, se fosse ao contrário, duvido que eu teria esse tipo de tratamento.

— Sei que está pensando o pior. Ele provavelmente perdeu para você e fez o que achou certo. O único erro nisso é incomodar os outros. — Ele sorriu. — Já pode ir.

Assenti, agradecendo, e pensei numa forma de diminuir isso. Acho que consigo substituir uma punição por outra...

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