18.Sensações e ciúmes
Rayne,
Eu estava ali, parado no descampado, observando Kareen ser carregada por Tristan como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo. Não que eu pudesse culpá-lo - ela era preciosa. Mas era minha. Ou deveria ser.
Meus punhos cerraram ao vê-la envolta na capa dele, os braços dele segurando-a com tanta proximidade que aquilo fazia meu sangue ferver. O toque casual, a intimidade implícita... Quem Tristan pensava que era?
— Relaxa, Rayne. Eles acabaram de sair de uma batalha, eu assisti queridinho. —Margarette comentou, com o típico tom zombeteiro, claramente se divertindo com a situação. — Aposto que ele só está garantindo que ela não caia morta de exaustão.
— Hum... — Minha voz saiu mais ríspida do que eu pretendia.
Kareen parecia... cansada, mas estava bem o suficiente para apoiar a cabeça no ombro dele. No ombro dele. Meu coração bateu mais forte, de raiva ou de ciúmes, eu já não sabia mais.
Tristan nos alcançou, parando a alguns passos de distância. Ele sequer me olhou diretamente, mas o sorriso ligeiramente provocador em seus lábios dizia tudo o que eu precisava saber.
— Vocês chegaram cedo. — Ele disse com casualidade parecia compreender muito bem o que estava acontecendo na Easton e ainda teve tempo para ajustar Kareen em seus braços. Como se carregar minha namorada fosse algo natural.
— Kareen. — Dei um passo à frente, ignorando completamente Tristan. — Você está bem?
Ela levantou a cabeça, os olhos cansados encontrando os meus. Eu queria ir até ela, tomar seu rosto em minhas mãos e protegê-la. Mas como eu faria isso quando ela já parecia tão confortável nos braços de outro?
— Estou... melhor agora. — Sua voz era suave, mas carregava uma ponta de culpa que não passou despercebida.
— Não mente pra mim Bernauer. — Afirmei. — Por que não me conta o que aconteceu? — Não consegui evitar. A pergunta saiu antes que eu pudesse me conter, e minha expressão endureceu quando Tristan arqueou uma sobrancelha, claramente se divertindo.
— Não é nada demais, Tristan só está me ajudando com um problema recente porque...
— Porque eu preciso garantir que a transfusão seja concluída. — Ele respondeu antes que Kareen pudesse abrir a boca, evidentemente que ele estava encobrindo algo que minha garota fez e isso me deixou irritado. — Ou você prefere que ela desmaie no meio do campo?
Dei meu melhor olhar de aversão
— Eu prefiro que não se meta na conversa entre a minha garota e eu. — Ironizei, apertando minha varinha.
— Rayne. Tristan — Kareen chamou meu nome, num tom que misturava exasperação e cansaço. — Não é hora para isso.
Mas era. Claro que era. Ela estava usando a capa dele, envolta no cheiro dele, enquanto ele a segurava como se fosse o único que importava, escondendo alguma coisa e para piorar esse desgraçado ainda está tentando me irritar.
— Margarete, você pode pegar o Rayne e levá-lo para tomar um pouco de ar? Ele está... tenso. — Tristan falou com um tom exageradamente calmo, como se fosse o dono da razão e eu não lembro de Kareen ter contado sobre o Macaroon para ele.
Isso foi a gota d'água. Dei um passo à frente, mas Ryoh apareceu ao meu lado, colocando uma mão no meu ombro.
— Não é o momento, esse cara está tramando algo. — Ele disse baixo, mas firme.
Não era o momento? Ele estava com a razão, poucas coisas me tiram tanto do sério. Mas em algum momento, Tristan e eu teríamos uma conversa. Porque Kareen era minha, e eu não ficaria de braços cruzados enquanto ele continuava a fingir o contrário.
🔮🔮🔮
Fazem pouco mais de meia hora que todos os que forma feridos estão na enfermaria e isso inclui o diretor, Tristan e a minha garota. Ryoh não é nada bobo e está aproveitando o tempo de tratamento para obter informações, já me questionou tantas vezes que perdi a conta.
E só posso dizer o mesmo: "Não conheço aquele cara o suficiente. Kareen não está envolvida com o innocent zero e a merda da minha paciência já está acabando"
Mais meia hora se passaram quando a enfermeira saiu da sala avisando que já poderíamos entrar.
Assim que coloquei os pés na enfermaria, uma onda de frustração me atingiu. Era como se todas as horas de espera e as perguntas incessantes de Ryoh tivessem acumulado dentro de mim, apenas para explodir ao ver aquela cena.
O Diretor estava com a cara enfaixada e conversando com Tristan que sorria e estava sentado na cama da minha namorada, mas que porra!
Aquele sorriso que me irritava profundamente. Ele parecia descontraído demais, como se não houvesse nada de errado em ocupar um espaço que deveria ser meu. E ela... Ela estava ali, recostada, parecendo ainda mais exausta, mas claramente atenta ao que acontecia ao seu redor.
— Acho que você nos deve muitas explicações, princesa. — Ryoh foi o primeiro a quebrar o silêncio, a voz calma, mas carregada de intenção.
Eu estava prestes a dizer algo, mas Kareen foi mais rápida.
— Acho que eu não te devo nada, visionário divino. — Ela sorriu de forma doce, mas havia um tom de desafio em sua voz.
Tristan soltou uma risada curta, e isso foi o suficiente para me fazer cerrar os punhos. Ele estava gostando disso, não estava? A maneira como ele parecia estar no controle da situação me tirava do sério.
Foi quando ela olhou para mim. Seus olhos encontraram os meus, e, por um breve instante, tudo o que senti foi uma mistura de raiva e confusão. Havia algo ali, algo que ela queria me dizer, mas que não podia. Não na frente deles.
— Kareen... — Comecei, a voz mais baixa do que pretendia.
— Rayne. — Ela interrompeu, o tom suave, mas firme o suficiente para me deter. — Podemos conversar depois?
Meu coração apertou. Depois? Eu não queria depois. Queria agora, queria entender por que ela estava tão confortável com Tristan, por que ele parecia tão à vontade no lugar que deveria ser meu.
— Claro. — Concordei, a contragosto, desviando o olhar. Não queria que ela visse a vulnerabilidade que provavelmente estava estampada no meu rolhar de desgosto.
Ryoh soltou um suspiro pesado ao meu lado, como se pudesse sentir a tensão que pairava no ar.
— Bem, acho que vou deixar vocês lidarem com isso. — Ele disse, dando um passo para trás. — Só não esqueçam que temos coisas maiores para resolver.
Tristan apenas assentiu, mas não se moveu da cama dela. Ele permaneceu ali, como se estivesse marcando território.
Enquanto Ryoh saía, eu fiquei parado, observando os dois. Era difícil ignorar o fato de que Kareen parecia confiar nele. Talvez até demais. E isso fazia algo dentro de mim querer explodir.
Eu não sabia exatamente o que ela tinha para me dizer, mas sabia de uma coisa: a conversa que teríamos mais tarde seria definitiva. E, desta vez, eu não deixaria nenhum espaço para dúvidas ou desculpas.
Kareen,
Assim que o diretor parou de falar, deixei que o silêncio tomasse conta do ambiente. Minhas mãos estavam pousadas no colo, mas meus dedos inquietos traíam a tensão que crescia em mim. Tristan estava ali, parado, com aquela expressão confiante e calma, como se nada pudesse abalá-lo. Era exasperante.
— Tristan, você vai voltar para casa? — Perguntei, tentando soar casual, mas a irritação escapou no tom.
Ele sorriu, aquele maldito sorriso que me fazia querer jogar algo na direção dele.
— O diretor Walberg ofereceu um quarto que está vago para que eu passe a noite. Os dragões já se foram, e eu aceitei. Sei que é importante para a nossa conversa. Afinal, querem explicações, e conhecendo você, sei que não vai se segurar. — Ele afirmou com uma tranquilidade irritante, como se a situação estivesse completamente sob controle.
Desviei o olhar para Rayne. Ele estava em silêncio, mas dava para perceber o esforço que fazia para se conter. A tensão no ar parecia quase palpável.
É, Kareen, você está ferrada.
— Então tenha uma boa noite. — Sorri, um sorriso educado que escondia minha frustração. Era minha tentativa de encerrar a conversa antes que as coisas piorassem ainda mais.
Claro que Tristan não facilitou. Ele se inclinou e depositou um beijo leve na minha testa, sem se importar com o fato de que eu o ignorei completamente. Para piorar, seus dedos deslizaram pelos meus fios, em um gesto que parecia carinhoso, mas que só servia para provocar Rayne.
Eu sabia o que ele estava fazendo. Era visível para mim. Tristan adorava brincar com os limites, e desta vez ele estava testando Rayne, colocando gasolina em uma fogueira que já estava prestes a explodir.
Enquanto Tristan saía, seu olhar carregava um misto de constrangimento e satisfação. O meu, no entanto, refletia a confusão e o constrangimento de estar presa entre duas forças tão opostas. Mas o olhar de Rayne... o dele era o mais difícil de encarar. Era intenso, cheio de raiva contida e algo mais que me fazia sentir o peso da situação ainda mais.
E, em meio a tudo isso, enquanto meu coração batia acelerado e minha mente girava em torno das possíveis consequências, uma coisa me atravessava como um raio: em nome de todos os grandes magos, como eu amo esse homem.
Rayne continuava parado, os braços cruzados, me encarando com uma expressão indecifrável. Eu respirei fundo, sentindo o peso do olhar dele. Fiz um gesto simples, me movendo para o lado e dando espaço na cama. Até dei umas batidinhas no colchão, incentivando-o.
— Sabe que estamos na enfermaria, certo? — Ele comentou, a relutância evidente na voz.
Mordi o lábio para conter uma risada.
— Se perguntarem, eu digo que você está cuidando da sua futura esposa. — Falei com naturalidade, o suficiente para vê-lo revirar os olhos, mas o leve rubor que subiu em suas bochechas não passou despercebido.
— Vem, Ames. — Sussurrei, suavizando a tensão no ar.
Apesar da hesitação inicial, ele acabou cedendo. Tirou a capa, dobrando-a com cuidado e colocando-a na ponta da cama antes de finalmente se deitar ao meu lado. Sem perder tempo, me aconcheguei em seu peito, os braços envolvendo sua cintura em busca de conforto.
— Você está bem? — Ele perguntou enquanto esfreguei levemente meu rosto na roupa dele antes de erguer os olhos para encontrá-lo.
— Estou sim. — Respondi, voltando a repousar minha cabeça em seu peito. — Tristan estava me curando. Meio que... perdi o controle.
Eu poderia contar mais. Poderia dizer que meu pai foi o responsável por me ferir, mas esse detalhe... não agora. Quando estivermos no quarto, a sós, explicarei tudo.
Rayne respirou fundo, o som me trazendo de volta ao momento.
— Hm. — Ele murmurou, a voz soando compreensiva. — Sei que me contará quando estivermos a sós.
Ele me abraçou com força, seu calor envolvendo meu corpo e afastando o desconforto que ainda me cercava. Quando senti seus lábios tocarem minha testa, foi como se toda a tensão se dissipasse, o gesto tão reconfortante que meu coração quase desacelerou para acompanhá-lo.
E, por um instante, me permiti relaxar ao ponto de adormecer.
No dia seguinte acordei ouvindo batidas de um sapato fino no chão. Abri meus olhos um pouco irritada quando vi tanto o diretor, quanto Ryoh e a própria enfermeira responsável pelas batidas de sapato.
— Bom dia senhorita Smith. — Esfreguei meus olhos, notando que Ames já havia se levantado e isso me deu uma baita vergonha, ainda assim levantei e os cumprimentei antes de sentir o peso da capa de Ames nos meus ombros.
— Assim que se trocar e comer me encontre na minha sala. — O aviso do diretor me deixou apreensiva, mas tudo bem eu preciso realmente dar um jeito no meu cabelo.
Segui até meu quarto louca para tomar um banho. Peguei tudo o que eu precisava e fui para a área dos banheiros femininos, onde finalmente tomei meu tão amado banho. Enquanto me enxugava vi a cicatriz na lateral da minha barriga, Tristan foi realmente eficiente, mas essa marca aqui está tão feia que me deixa envergonhada. Eu não queria ter algo assim no meu corpo, já basta aquela linha destoante, respirei pesado e continuei a me vestir, Rayne veria isso depois e seria mais uma explicação conflituosa.
🔮🔮🔮
Enquanto seguia para a fala onde teríamos a reunião, acabei esbarrando com Abel, tinha tantas pessoas nessa escola, mas parece que o destino gosta de me irritar. O Walker simplesmente me olhou antes de desviar o olhar em um comprimento mudo, desde que brinquei com a cabeça dele que as coisas mudaram e, sinceramente prefiro assim, pois o estresse é menor, mas ainda havia um burburinho nos corredores e dava para entender que falavam de um garoto sem magia e isso atiçou a minha curiosidade.
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