13.Meu cunhado e seus amigos
Kareen,
O dia começou como todos os outros: um turbilhão de tarefas e responsabilidades que o diretor não hesitava em empilhar sobre minha mesa. O sol nem tinha surgido completamente, e eu já estava no gabinete, separando documentos, organizando arquivos e respondendo às cartas urgentes que haviam chegado durante a noite. O diretor parecia confiar cada vez mais em mim, o que era ao mesmo tempo um elogio e um peso que eu carregava com certa resignação.
Entre uma tarefa e outra, os intervalos entre as aulas eram preenchidos com deveres administrativos, deixando pouco ou quase nenhum tempo para pensar em mim mesma — ou para respirar, no mínimo. Cada vez mais, eu sentia a exaustão acumulando-se, quase como uma sombra que me seguia para todos os cantos. Ryoh, claro, aproveitava essas pausas forçadas para insinuar algum novo treinamento ou me testar, como se eu fosse um projeto pessoal que ele se recusava a deixar de lado.
Finalmente, ao final da tarde, consegui uma pequena folga. Por um breve momento, o gabinete estava vazio, e o diretor estava ocupado em uma reunião com os conselheiros. Aproveitei a oportunidade e saí do gabinete, sentindo o alívio de estar fora daquele espaço abafado. Meus ombros relaxaram, e a tensão diminuiu ao me afastar das pilhas de pergaminhos e ordens inacabadas.
Era um dos raros momentos que eu tinha para mim, e tudo o que eu queria era algo que me lembrasse de quem eu era antes de ser consumida por essa rotina exaustiva. Foi então que me veio a ideia de procurar Margo. Fazia tempo demais que não conseguíamos nos ver sem interrupções e, apesar de termos horários parecidos, nossas vidas haviam se distanciado muito mais do que eu gostava de admitir.
Acelerando o passo, atravessei os corredores da escola, observando os rostos dos alunos que cruzavam meu caminho. Pareciam despreocupados, rindo e conversando sobre coisas triviais — uma simplicidade que, no fundo, eu invejava. Quando finalmente alcancei o corredor das salas de estudo avançado, onde Margo costumava passar as tardes, meu coração acelerou de expectativa. Era como reencontrar uma parte de mim que havia ficado adormecida.
Bati na porta da sala e espiei por entre a fresta.
— Margo? — chamei, baixinho, com uma esperança cautelosa.
Ela levantou o olhar de um livro grosso e sorriu, surpresa, mas claramente feliz.
— Kareen! Não acredito que conseguiu escapar do gabinete! Achei que já estavam considerando te manter lá em tempo integral, como se fosse uma espécie de... prisioneira da burocracia — brincou, colocando o livro de lado e se aproximando para me dar um abraço.
— Honestamente? Às vezes eu mesma penso que estou presa ali para sempre — respondi, retribuindo o abraço e sentindo um alívio imediato só de estar com ela.
Ela me conduziu até uma pequena mesa perto da janela, onde algumas xícaras de chá estavam dispostas.
— Preparei esse chá de ervas para ajudar na concentração, mas acho que o que você precisa é de algo mais relaxante, hein? — Margo brincou, servindo-me uma xícara fumegante.
— Com certeza. Nem sei mais o que é relaxar — suspirei, segurando a xícara entre as mãos, deixando o calor do chá me acalmar.
Margo me observou com um olhar atencioso, o tipo de olhar que só uma amiga de verdade consegue dar. Ela sabia o quanto eu estava sacrificando para cumprir as expectativas do diretor, mas, ao mesmo tempo, ela também sabia o quanto eu sentia falta de momentos simples como aquele.
— Você tem se isolado demais, queridinha. Parece que sequestraram a sua vontade de viver. — em um mero estalar os "servos" dele estavam ali, respirei fundo encarando o Macaron que logo revirou os olhos mandando sair.
Olhei para a xícara, sentindo uma pontada de culpa por ter ficado tão distante e queria muito conversar e ter um dia normal, acho que só estou um pouco sobrecarregada de responsabilidades.
— Eu sei, é só que... parece que cada dia que passa, há mais coisas a fazer, mais responsabilidades. E com Ames fora, parece que estou carregando tudo sozinha. Não quero preocupar ninguém, então apenas... sigo em frente.
Ele suspirou, e vi nos olhos dele um misto de compreensão e preocupação.
— Mas você não precisa fazer isso sozinha. Sabe disso, não sabe? E mesmo que esteja difícil, você tem que encontrar um equilíbrio. O que aconteceu com a Kareen que usava o tempo livre para me arrastar até uma sessão de compras ou qualquer outra atividade infernal?
Soltei uma risada, lembrando-me desses momentos de rebeldia simples.
— Talvez ela ainda esteja aqui e sinceramente estou precisando... — murmurei, com um sorriso que parecia mais um lamento.
Ficamos em silêncio por um momento, aproveitando a presença uma da outra. Eu não precisava dizer nada, e ela não precisava perguntar mais nada. Era como se Margo entendesse cada fragmento de cansaço que havia em mim.
Ao terminar o chá, me recostei na cadeira, sentindo-me mais leve do que me sentira em semanas. Conversar com Margo era um alívio tão profundo que quase me fazia esquecer das pressões constantes.
— Obrigada, Margo. Eu nem lembrava o quanto precisava disso — admiti, sentindo um peso ser arrancado de meus ombros.
Ela sorriu e segurou minha mão por um momento.
— Sempre que precisar, estou aqui queridinha, só cobro alguns litros de molho em compensação. Não se esqueça disso.
Gargalhei antes de o abraçar.
— Deveríamos fazer compra nesse fim de semana e uma sessão de spa eu pago essa. — Pisquei lentamente e ele riu.
— Talvez eu aceite, receber massagem de algumas mãos interessantes não me parece nada mal. — por um momento me esqueci que Margarette Macaron não vale nada e é eu adoro isso nele.
Com o fim daquela tarde, voltei ao gabinete com uma sensação renovada. Ryoh me deixou em paz por um momento e eu pude finalmente me afastar dos visionários, mesmo que apenas um me interessasse.
🔮🔮🔮
A tarde estava até tranquila... ou tão tranquila quanto o gabinete poderia ser. Eu estava concentrada em uma pilha de documentos quando um estrondo ensurdecedor sacudiu as paredes. O som foi seguido por gritos e, logo depois, o cheiro inconfundível de fumaça começou a invadir os corredores. Poucos segundos depois, alguns alunos passaram correndo, gritando algo sobre uma explosão na cozinha.
Suspirei, já sentindo o cansaço pesando sobre mim. Claro que era a minha vez de estar de plantão na monitoria. Sabia que, se eu não fosse verificar o que estava acontecendo, o caos se intensificaria. Com passos firmes, segui em direção ao local do incidente.
Assim que entrei na cozinha, encontrei um cenário digno de uma batalha. Ingredientes estavam espalhados por todos os cantos e uma espessa nuvem de fumaça pairava sobre o ambiente. Em meio aos destroços e à bagunça, havia cinco figuras distintas, todas parecendo bem culpadas — e entre elas, reconheci de imediato meu cunhado, Finn.
Além dele, um garoto de cabelos pretos estava parado, completamente coberto de farinha dos pés à cabeça, segurando o que restava de algum tipo de... coisa que talvez tivesse sido comida antes de tudo explodir. Ao lado dele, um rapaz de cabelo prateado segurava um caldeirão, tentando ao máximo parecer inocente. Mais à direita, um garoto de cabelos vermelhos parecia se divertir mais do que deveria, rindo como se aquilo fosse a coisa mais hilária do mundo. Próxima a ele, uma garota de cabelos loiros olhava em volta, parecendo ao mesmo tempo arrependida e... ligeiramente orgulhosa?
E então, claro, havia Finn, no meio de tudo, com um olhar de puro pânico ao me ver. Ele ficou paralisado por um segundo, parecendo um cervo pego pelos faróis de uma carruagem em alta velocidade.
— Alguém pode me explicar o que aconteceu aqui? — perguntei, cruzando os braços e lançando um olhar severo ao grupo.
O garoto de cabelo preto coçou a cabeça, ainda coberto de farinha, e tentou se explicar:
— Bem... nós só queríamos fazer uma sobremesa especial... mas acho que eu... exagerei na força da mistura.
O rapaz de cabelos prateados, que parecia tentar manter a dignidade, suspirou.
— Estávamos tentando ajudar, mas... bem, alguém teve a ideia brilhante de adicionar ingredientes explosivos para "acelerar o cozimento." — Ele lançou um olhar de reprovação para o garoto ruivo, que apenas deu de ombros.
— Ei, um prato sem emoção é só uma refeição chata — o ruivo disse, como se tivesse acabado de compartilhar alguma sabedoria profunda.
A garota loira, tentando amenizar a situação, deu um passo à frente, um sorriso hesitante surgindo em seu rosto.
— Era só para ser uma surpresa para os colegas... mas talvez a gente tenha exagerado um pouco.
Revirei os olhos, lutando para manter a compostura, embora a situação quase me arrancasse uma risada. Finn me olhou com um ar de desculpas e murmurou:
— Eu... eu tentei avisar eles, Kareen. Mas você conhece... o "cara da farinha". Quando ele começa a socar a massa, nada pode parar.
Suspirei de novo, desta vez contendo um sorriso.
— Então, vocês acharam que transformar a cozinha em um campo de guerra por uma sobremesa era uma boa ideia?
O garoto de cabelo preto deu de ombros.
— Era para ser uma surpresa, então... surpresa.
— Parabéns, vocês conseguiram. Mas agora, espero que deem um jeito de limpar isso antes que o diretor descubra — respondi, ainda avaliando a bagunça ao redor. — Não quero ter que ouvir reclamações por uma semana sobre a cozinha estar interditada.
Finn começou a pegar um esfregão, já se resignando, enquanto o garoto de cabelo prateado tentou conjurar um feitiço de limpeza, que falhou de imediato. O ruivo ainda ria, mas a garota loira parecia determinada a dar ordem à bagunça e rapidamente começou a organizar a limpeza.
— Finn — chamei, e ele olhou para mim com certo nervosismo. — Antes de tudo, vai me dizer quem são seus novos... amigos?
Eu sei por alto quem são, mas quero conhecê-los minimamente. Ele corou ligeiramente e começou a apresentá-los.
— Bem, Kareen, esses são meus amigos. — Ele apontou para o garoto de cabelo preto. — Esse é Mash. — Depois, indicou o prateado. — Esse é Lance. — O ruivo risonho. — Esse é o Dot. — E por último, a garota loira. — E essa é a Lemon.
Acenei com a cabeça, agora conhecendo os nomes dos culpados por transformar a cozinha da escola em um desastre.
Enquanto eu observava a "equipe de limpeza" improvisada, cada um parecendo se atrapalhar ainda mais, percebi que, no fundo, a situação era divertida. Apesar do caos, essa cena toda me arrancou um sorriso — e até mesmo um pouquinho de respeito pelo quanto Finn parecia gostar desse grupo.
A fanfic se aproxima da reta final, ela terá no máximo 20 capítulos.
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