Teresa Arautra Cali era alta, cabelos curtose lisos, bem aparados. Dona de olhos argutos e que pareciam hipnotizar que os fitasse no fundo. Boa e honesta; faladora e estabanada. Gostava muito de aparecer e mostrar-se por dentro de tudo, julgando-se um ser superior. Suas críticas, porém, não eram como as de Anita, que procuravam auxiliar e contornar problemas, num aspecto construtivo. Havia sempre um clima de fofoca.

A impressão que dava é que Teresa tinha voz ativa em relação a Jofre. Mas o alto e bigodudo Jofre Cali a controlava com tal sutileza, que ninguém percebia. Um olhar bastava para fazê-la calar.

Jofre dominava com maestria as seis cordas e dezenove casas do violão. Tinha uma loja de instrumentos musicais, onde era sócio com o irmão.

— Mamãe!

— O que é, Juliana?

— Chegou uma carta da Joice.

Teresa tinha modos afetados ao falar, principalmente quando excitada por um fato interessante. Sua voz era fina e estridente:

— Que maravilha! Onde está, querida? Quero ler.

Juliana entregou o envelope à mãe. Teresa rasgou-o rapidamente. As duas ficaram juntas (tinham quase a mesma altura) e leram a carta ao mesmo tempo:

"Querida mamãe,
"Gerson e eu estamos de malas prontas. Em breve chegaremos a Poá. Susana está uma gracinha. Espero que...

A carta continuava ainda por duas páginas, cheias de afetuosidades.

Teresa disse, em tom afetado:

— Que bom que eles vêm nos visitar! Não acha, Juli?

— Minha irmã é uma mulher de sorte. O Gerson é um gato! Poxa vida, que tesão!

— Juli!, que termos são esses? Se teu pai te ouve falar uma coisa dessas...

— Desculpe, mamãe.

Juli sentou numa cadeira, envergonhada:

— Mas afinal, que coisa desagradável ter apenas treze anos e já ser tia. Pensei que isso fosse coisa pra velho.

Teresa retrucou algo e se afastou. Juli pensou: "Mas que ele é um tesão, isso é"!