Teodoro era um jovem alegre e sociável, com Síndrome de Down. Sua comunicação era rica em gestos e expressões faciais, e ele usava algumas palavras com muita jovialidade. Seu sorriso contagiante era marcante e todos logo se apaixonavam por ele. Adorava mostrar sua coleção de carrinhos e sempre brincava, emitindo sons com a boca, simulando o barulho do motor. Tinha uma memória incrível para rostos e nomes, lembrando-se com facilidade de todos os seus amigos e familiares. Teodoro conquistou a independência ao aprender a se vestir sozinho, mostrando sua determinação e capacidade em aprender. Era o caçula da família Arautra.¹¨²

— Teo, vá guardar seus brinquedos. Vamos! A comida já está na mesa.

Em seu quarto, Teo guardou cuidadosamente os carros de brinquedo, pelos quais tinha adoração. Depois lavou as mãos e foi para a cozinha.

Anita achava impressionante o seu asseio. Geralmente, após um longo banho, ficava horas a fio se penteando e se arrumando. E como era zeloso de suas coisas! Os modos à mesa também causavam espanto. Usava o garfo e a faca corretamente e comia vagarosamente, mastigando bem os alimentos, como todos, aliás, deveriam fazer.

Mas comia muito. De apetite inesgotável, engordava facilmente. Anita controlava rigorosamente sua a alimentação e não deixava nada a seu alcance.

Anita ficou a observar o irmão, que considerava como filho. Ela achava que ele, em outra encarnação, possivelmente usara mal sua inteligência, assim voltando privado de usá-la. Pelas maneiras educadas que adquiria com tanta facilidade, Anita concluía que Teodoro tivera muita classe em suas vidas passadas.
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Nota geral: Esse texto, originalmente, fazia parte do capítulo "Anita", tendo sido retirado e colocado aqui, para que houvesse um texto específico e dedicado a Teodoro. Assim, todos os filhos de Timóteo foram apresentados pela ordem de nascimento.

¹ Este trecho continha, originalmente — e como poderão ler na "Obs. 1", menções à Síndrome de Down horrivelmente preconceituosas e cujos termos hoje não se justificam em hipótese alguma. Quando escrevi, em 1984, eu era adolescente e naquela época éramos todos sem noção das coisas. Em vez de se enfatizar as qualidades e conquistas, enfatizávamos os supostos defeitos, o que se constituía em um ato de exclusão, quando então demonstrávamos total ignorância da verdade. Ainda bem que hoje conquistamos conhecimentos que nos fizeram rever todos esses conceitos errados, com vistas à necessária inclusão, uma vez que nós mesmos, enquanto seres humanos, necessitamos de amparo e compreensão para todas as nossas dificuldades, inerentes ao nosso ser, afinal, nenhum de nós deixa de possui-las.

Obs.1: Texto original:
     "Teo brincava na sala. Tinha 35 anos e suas feições eram totalmente as de um vitimado pela Síndrome de Down. Era o caçula da família."
     'Teodoro tinha um corpo perfeito. Não fora um mongolismo tão pronunciado, que o deixasse defeituoso. Retardamento mental e dificuldade extrema em articular sons eram as características principais, além dos traços fisionômicos típicos."