Capítulo 4

Boa leitura! Espero que gostem!

* * *

Ri, sabendo que ela deveria estar envergonhada. Afinal, por qual outro motivo ela teria ficado vermelha daquele jeito? A não ser que ela estivesse morrendo com falta de ar, o que eu supus que não fosse o caso.

Ao sair da sala, não encontrei a garotinha em lugar algum. Desisti de procurar, já que papai estava me esperando para ir embora. No outro dia, eu falaria com ela, tentaria fazer uma amizade.

E devo ter um ótimo carisma, pois meu plano realmente dera certo.

Descobri que ela gostava de desenhar. Não era muito boa, mas sem dúvida alguma era muito melhor que eu. Sua cor favorita era o vermelho, pois pelo o quê seu pai dissera, era a cor do amor, e que ela, Cecília, esbanjava tanto amor que ele escapava-lhe pelos cabelos. Naquele tempo, não percebi que ela esbanjava tanto amor ao ponto dele chegar a mim. Naquele tempo, não percebi que uma amizade inocente acabaria se transformando no mais puro amor.

Eu devia ter percebido que estava apaixonada um pouco antes.

Quando tínhamos catorze anos, eu já estava consciente de que a amava, então tomei iniciativa. Durante um trabalho em dupla, trabalhos que eu sempre fazia com ela, a chamei para ir em minha casa. Talvez eu não devesse ter feito aquilo, mas não é algo que tenha me causado arrependimento, ou mesmo vergonha. Quando acabamos o trabalho e ficamos sem saber o que fazer em seguida, apenas encarando uma a outra, eu a beijei.

Não poderia ter escolhido momento mais inoportuno, já que mamãe estava parada à porta sem que soubéssemos.

Mamãe a mandou ir embora, a voz estava calma, mas seu rosto estava vermelho de raiva.

Quando Cecília se foi, mamãe começou com o sermão. "Isso é pecado", ela dizia, como sempre disse. Também disse que havia algo de errado comigo, muito errado, então, como se o motivo fosse óbvio, ela se voltou para a minha prateleira de livros, escolhendo um em especial. Era novo, eu havia acabado de ganhar, ainda estava na pré-venda. Eu sequer o tinha lido. Papai tinha acabado de me dar o livro Simon vs a agenda homo ssapiens quando mamãe ateou fogo nele. Era meu único livro que tratava especialmente sobre homossexualidade, e ela enfiou na minha cabeça que fora por causa daquele livro que eu tinha ido para o caminho da perdição.

Eu deveria tê-la contrariado, mas não conseguia sozinha. Sabia que papai estava em algum lugar da casa, provavelmente ouvindo toda a gritaria, esperando mamãe voltar para o quarto para conversarem de maneira sensata. Eu estava sozinha.

Foi a primeira vez que conversei com Deus.

Mamãe já não estava em meu quarto, então pude perguntar a ele porquê me odiava, porquê eu era errada por amar.

Ele não respondeu.

E foi então que percebi, não era errado. Nunca foi. Não me senti mal pela sua falta de resposta, ao contrário, meu peito se aqueceu, e soube porquê não era errado. Não existe um jeito errado de amar quando se esbanja amor.

Foi quando eu percebi que acreditava na existência de Deus. Porquê ele me amava, como eu era, pois eu esbanjava amor.

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