Capítulo 3
Boa leitura! Espero que gostem!
* * *
Eu tinha sete anos quando criei a minha própria história.
Era sobre um garotinho que não tinha amigos, apenas a velha senhora que cozinhava no orfanato onde ele vivia.
Ele tinha completado sete anos, assim como eu.
A senhora percebia a solidão do garotinho, e como ele ficava triste por isso, então ela resolveu dar a ele um presente, o melhor dos presentes.
Ele estava nos fundos do orfanato, chorando baixinho. Ela se aproximou dele, o entregando o pequeno embrulho. Ele não enxugou as lágrimas, pois agora elas já não eram de tristeza.
Rasgando o embrulho de papel marrom, ele viu um pequeno caderno, a capa em um couro gasto, as folhas amareladas porém em branco.
- É magico. - a senhora disse-lhe, baixinho como se alguém pudesse os escutar, mas ninguém estava ali, ninguém os notava. - Tudo o que escrever nele se tornará realidade daqui a um tempo. - o garotinho olhou para ela sem nada entender, e voltou a olhar para o caderno. - Eu sei que você quer amigos.
Ele sacudiu a cabeça minimamente, tão pouco que a pobre senhora mal o percebeu.
- Eu não preciso pedir, porque eu já tenho você. - ele disse, entregou cuidadosamente o caderno de volta para a sua velha amiga, que sorriu ao ver a inocência do garotinho.
Nunca mostrei esse conto ao meu pai. Era como se aquela história fosse particular, como se eu não tivesse o direito de mostrar os sentimentos do garoto por aí.
Foi quando eu percebi que não era apenas uma história. Aquilo fazia parte de mim, aquele garotinho fazia parte de mim. E percebi porque eu ficava encantada a cada vez que lia um livro, pois eu não estava lendo um livro, eu estava lendo um autor.
Eu reli o conto do garotinho quando completei dez anos, e eu já não me encontrava lá. Era como se a história tivesse mudado, mas quem estava em uma mudança constante era eu.
Dez anos.
Quase onze.
Só conseguia pensar em uma única coisa, e esperar uma única coisa: meu romance.
Quanto mais eu lia, mais vontade de me apaixonar eu tinha. Observava meu pai e minha mãe e achava o amor deles lindo, mesmo por serem tão diferentes, acho que era por isso que eles se davam bem, cada um tinha aquilo que faltava no outro. Isso era magnífico para mim naquela época.
Eu tinha onze anos quando o conheci. Sentava na primeira carteira da sala, o achava incrível, todas as meninas achavam, mas eu tinha a absoluta certeza de que ele era o meu príncipe encantado. Ele seria meu Romeu e eu sua Julieta. Morreríamos um para o outro transbordando de amor.
Fiquei ainda mais empolgada quando percebi que éramos tão diferentes assim como mamãe e papai. Esse foi o meu maior erro, não perceber que éramos diferentes demais...
Ele me tratou mal quando tentei falar com ele pela primeira vez, e a última. Ele não foi educado como um príncipe, e agora, eu já não via nele a beleza de um.
Eu me sentei no meu lugar, que por sorte era no fundo da sala, enquanto ele ria de mim junto com seus amigos eu sentia vontade de chorar. Foi quando ela se aproximou de mim.
Seus cachinhos ruivos caíam por seus olhos miúdos que eram castanhos como terra. Suas mãos estavam ao lado do corpo, enquanto seus dedinhos pequenos dançavam sem ritmo porém com rapidez.
Ela corou quando percebeu que eu a encarava. Podia jurar que ela estava da mesma cor que o cabelo. Paracia estar queimando.
- E-Eu gosto de você... - ela murmurou, se embolando nas palavras do mesmo modo que eu fiz quando li aquela Bíblia pela primeira vez.
Abri a boca para responder algo, mas nada me veio em mente, e logo tornei a fechá-la.
Ela saiu correndo, mais vermelha que nunca.
Eu também deveria estar, pois quando a professora entrou em sala me encarou por um bom tempo, mas logo deixou pra lá.
Fiquei pensando no que a menininha me disse. Meu primeiro pensamento foi que ela queria ser minha amiga, afinal, uma menina não pode gostar de outra menina como uma menina gosta de um menino, foi o que mamãe sempre dissera, e eu nunca vi razão no porquê disso, mas acreditava.
Eu queria ir falar com aquela menininha, mas ela estava sentada longe demais.
Quando o sino bateu anunciando o horário de ir embora, me levantei rápido, decidida a ir conversar com ela.
Quando me levantei, apenas vi uma cabeleira vermelha sumindo pela porta.
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