Capítulo 17
Boa leitura! Espero que gostem <3
* * * *
Não comentei o ocorrido com meus pais, apenas fiz o brigadeiro e fui para o meu quarto.
Mamãe passou o resto do dia reclamando de dores, até que na manhã seguinte papai decide levá-la ao hospital. Me deixou em casa com vovô, e o mesmo resolveu ir dormir mais um pouco e pediu que ninguém o incomodasse. Aproveitando a deixa, Heloísa, a empregada da casa, vai para o quarto dela também para descansar.
Essa casa nunca esteve tão silenciosa.
Mas sempre que estou aproveitando o conforto do silêncio, alguém insiste em quebrá-lo.
Dessa vez foi BomBom, os latidos eram ainda mais irritantes por ele já estar bem velhinho.
Os latidos dele resultaram nos latidos de Sargento e Cleópatra, os cachorros de vovô. Eram latidos tão graves que qualquer um teria medo, mas quando os conhece eles são as coisas mais fofas do mundo.
E como sempre, eles estavam latindo porque alguém chegou.
Me assustei com as batidas em minha janela, mesmo sendo leves, eu estava muito concentrada lendo Mitologia Nórdica, me assustaria com qualquer coisa.
- O que faz aqui? - perguntei a Felipe quando o deixei entrar, ainda um tanto chateada pelo ocorrido de ontem, ele se tornava outra pessoa quando estava embriagado.
- Vim pedir desculpas. - ele disse. Era possível ver o sentimento de culpa através de seus olhos. - Não me lembro direito do que fiz, mas sei que fiz besteira. Sempre faço.
Ele aparentava estar muito nervoso, como se temesse minhas palavras. Mas o que eu poderia dizer?
- Me diz... Diga que eu não toquei em você. - seus ombros relaxaram ao me ver balançar a cabeça em negativa. Eu já não estava entendendo mais nada. Devo ter passado tanto tempo dentro de livros que já não sei lidar com a realidade.
- Por que se preocupa tanto com isso? Não parecia se preocupar ontem... - imediatamente me arrependi do que disse. Pouco a pouco, eu estava perdendo o jeito de me relacionar com as pessoas.
Nunca gostei de deixar as pessoas tristes, mesmo não sabendo exatamente como agir perto delas.
- Desculpe... - ele pediu pela segunda vez, e tive a impressão de que viriam muitas vezes pela frente.
Nos sentamos em um tronco próximo a um pé de jabuticaba, era o meu lugar favorito em todo o sítio, mas ficava um pouco nervosa quando algumas das frutinhas caíam em mim.
Como o esperado, Felipe pediu mais desculpas em dez minutos do que ouvi em minha vida toda.
Ao confessar que realmente tinha intenções de me pedir em namoro minha primeira opção foi travar, como eu sempre fazia perto das pessoas. Mas ao invés disso, resolvi que seria melhor contar a ele sobre Cecília. Não seria legal deixá-lo criando esperanças quando eu já estava mais que decidida, não é?
- Então... Se você a ama, por quê não está com ela? - pensei em como essa parte da história era longa, e ele pareceu entender pelo meu olhar, como se fôssemos amigos há muito tempo. Ou eu que sou muito transparente? - Tem o caminho para a casa dela gravado na cabeça?
Digo que sim e ele se levanta num pulo, quase me fazendo cair para trás, mais um motivo para que ele começasse e me pedir desculpas desesperadamente.
- Venha, vou te levar até ela. - comecei a rir, mas aceitei sua mão para me ajudar a levantar. - Não ria, eu estou falando sério!
Ele tirou do bolso um molho de chaves e apontou para a caminhonete que ele e a mãe usam para vender as frutas. Ele é louco, pensei, e eu ainda mais por não me incomodar nem um pouco com isso.
- Meu pai pode ter sido um merda a vida toda, mas ele pelo menos serviu para me ensinar duas coisas que eu jamais irei esquecer. Primeira: Nunca toque em sequer um fio do cabelo de uma mulher sem o consentimento dela. Segunda: Dirigir.
As chances de acontecer alguma coisa ruim eram várias, e eu estava completamente consciente delas quando me sentei no banco do carona esperando que aquele garoto sem carteira de motorista virasse aquela chave e me levasse de volta para ela.
Nunca me senti tão parecida com a Alice. Felipe era o meu Coelho Branco.
A casa de Cecília era bem próxima a entrada da cidade, a reconheceria à qualquer distância.
O jardim da frente estava ainda mais cheio de flores, sendo regadas pela garotinha com o cabelo em chamas. Não me importei com as lágrimas que insistiam em cair, pois um sorriso enorme em meu rosto as ofuscavam.
Naquele momento me senti presa dentro de um filme, ela e eu corríamos em câmera lenta enquanto todos paravam para nos assistir.
Aquele sorriso no rosto dela conseguia ser ainda mais belo que o crepúsculo.
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