01 - Dança nas Sombras

— Mais uma vez! — Thorne vocifera, sua voz retumbando pelo ar como um trovão distante.

O suor escorre pelo meu rosto, transformando-se em pequenas pérolas que cintilam sob a tênue luz da aurora, um raro vislumbre do sol na gélida Hiveria. Cada respiração é uma batalha, e meu coração bate desordenadamente, como se cada pulsação fosse um chamado à sobrevivência. Com resoluta determinação, ergo minha mão direita, o punho fechado com firmeza, e me projeto para frente, meus músculos protestando a cada movimento.

Um, dois, três. Um, dois, três.

Minha mente se concentra plenamente em cada soco, como se minha vida dependesse disso, e, de certa forma, depende.

A razão desse treinamento incansável permanece parcialmente enigmática para mim. Por que preciso aprender a lutar e dominar armas, quando minha sobrevivência no mundo das sombras está mais ligada à agilidade e ao silêncio? "Você sempre pode ser capturada e precisa estar preparada," Thorne repetiu inúmeras vezes quando questionado sobre a escolha do treinamento.

Mas, no fundo, a ideia de fugir sempre pareceu a opção mais sensata. Afinal, a fuga foi o que me permitiu escapar daquele castelo uma vez. Foi o que me deu uma chance de sobreviver, se é que a palavra "sobreviver" ainda se aplica ao meu estado atual.

De bailes suntuosos e vestidos deslumbrantes sob o calor do sol...

... Para dançar com esfregões durante o dia e me esgueirar por vielas escuras à noite. Se minha mãe ainda estivesse viva, estaria certamente encantada com minha nova vida.

Um aperto doloroso atravessa meu peito ao pensar nela, e a saudade nubla minha visão, distraindo-me por um instante. Em vez de acertar a almofada que Thorne segura como alvo, meu punho encontra algo muito mais sólido.

— Merda! — exclama ele, levando a mão ao rosto em reação à dor súbita.

Thorne esfrega o rosto com uma expressão descontente, mas seus olhos, verdes como esmeraldas brilhantes, permanecem fixos em mim, com uma intensidade que só um verdadeiro amigo poderia demonstrar. Ele entende o que está acontecendo, sabe que minhas lembranças se intrometeram em meu treinamento, arrancando-me do presente.

— Ellara, você precisa se concentrar — ele lembra com uma voz firme, embora carregada de preocupação.

Thorne é o único que realmente me compreende, o único que conhece meu verdadeiro nome. Como não poderia, afinal? Ele foi quem me resgatou daquele castelo quando tudo desmoronou. Em algum momento, ele foi Nicolae, filho do ilustre conselheiro do rei, assim como eu tive outro nome.

Com a voz dele ecoando em meus ouvidos como um lembrete persistente, afasto as sombras do passado e retomo meu foco. Minha mente mergulha novamente na intensa sessão de treinamento, e meu corpo responde com um novo ímpeto.

O homem se move com uma graça quase hipnotizante, seus passos fluídos como a água serpeando por um riacho sinuoso. Sua dança é uma harmoniosa combinação de força e destreza, um testemunho de anos dedicados à arte da luta. Seu porte é de um guerreiro, músculos esculpidos pelo rigor do treinamento. É fácil esquecer que, um dia, ele foi alguém completamente diferente.

Seu cabelo castanho, curto e desleixado, está grudado no rosto pela transpiração. A pele quase pálida brilha, e o tom, assim como o meu, denuncia os anos neste reino de inverno eterno, que desvaneceram a luminosidade que nossa pele outrora dourada pelo sol costumava ter.

Continuamos nosso treinamento, a poeira do chão dançando no ar à medida que eu me esforço para acompanhar seu ritmo impiedoso. Ele me instrui com paciência, suas palavras se tornando faróis em meio ao turbilhão de emoções e lembranças que insistem em emergir.

— Lembre-se, Ellara, a agilidade é a sua aliada. Use-a a seu favor. — Thorne repete isso como um mantra ecoando em minha mente.

A agilidade foi minha salvação desde o dia em que escapei daquele castelo que um dia chamei de lar. Eu não sou mais uma princesa, mas sobrevivi e continuarei lutando.

Após horas de treinamento extenuante, ele finalmente interrompe nossa sessão, observando-me com um olhar de aprovação.

— Você está melhorando, Ellara. Mas lembre-se, a verdadeira batalha ainda está à frente.

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O suor escorre pelo meu rosto, transformando-se em pequenas gotas que cintilam sob a luz bruxuleante dos candelabros, o que é surpreendente considerando o gélido clima de Hiveria. Cada respiração é uma luta, e meu coração bate descompassado em um frenesi de esforço. Com resignação, ergo minha mão direita, o punho firme segurando o pano, e me lanço em direção às estantes repletas de livros empoeirados.

Enquanto observo a poeira acumulada nos livros que Elora raramente toca, fica claro que aquela estante serve apenas como decoração. A futilidade da tarefa me atinge como um soco no estômago, mas é preferível a outras alternativas.

A frustração cresce dentro de mim enquanto esfrego o pano empoeirado sobre as capas dos livros intocados. Meus pensamentos vagam por um momento, transportando-me de volta a um passado distante, quando os livros eram minha constante companhia e meu mundo se expandia com cada história que eu lia. Mas agora, minha realidade é muito diferente.

A imagem da rainha, minha mãe, surge em minha mente, com seus olhos gentis e sorriso acolhedor. Uma saudade profunda se instala em meu peito, e por um momento, sou transportada de volta à infância feliz que tive antes de tudo desmoronar.

No entanto, a cruel realidade rapidamente me traz de volta. Eu sou agora Ellara, a faxineira, a esquecida. Minha nobreza e meu nome foram roubados por Seraphina e suas filhas, enquanto eu sou forçada a viver nas sombras.

A voz de Elora ecoa em minha mente como uma advertência, interrompendo meus pensamentos melancólicos. "Você tem que fazer tudo brilhar, ou vai se arrepender." Suas palavras são ameaçadoras, e eu sei que não posso arriscar desagradá-la.

Com um suspiro pesado, continuo a esfregar o pano nas capas empoeiradas dos livros. Eu sei que minha verdadeira batalha está à frente, e que cada gesto, cada palavra, é uma dança perigosa em um jogo de sobrevivência.

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O suor escorre pelo meu rosto, transformando-se em pequenas gotas que cintilam sob a luz do luar, um fenômeno quase impossível na noite fria de Hiveria. Cada respiração é uma luta, e meu coração bate descompassado em um frenesi de esforço.

Mas sob o manto da noite, eu assumo um papel diferente. A vida de espiã se tornou minha segunda natureza, um meio de sobreviver. Na escuridão, as sombras são minhas aliadas e a agilidade, minha melhor arma.

Minha missão desta noite é arriscada, mas necessária. O alvo é a residência de Lord Alden, um homem cruel e corrupto que explora as pessoas deste reino. Ele acumulou uma riqueza inimaginável à custa do sofrimento dos outros, e eu estou determinada a prejudicá-lo.

Isso é o que me impulsiona, o que me faz continuar apesar dos riscos. Meu chefe Raposo (qualquer que seja seu verdadeiro nome) pode ser um tanto desprezível, mas seus alvos são ainda mais. Ele tem seus próprios motivos para desejar a queda do Lorde, e eu estou disposta a ajudar.

Silenciosamente, movo-me pelas sombras, minha capa negra ondulando ao vento noturno. A lua está escondida, lançando uma escuridão que me envolve. Aproximo-me furtivamente da mansão de Alden, uma estrutura imponente envolta em mistério.

Meu objetivo é encontrar evidências incriminatórias que possam finalmente desacreditar e derrubar Lord Alden, um homem que está longe de ser nobre. Ele oprimiu o povo de Hiveria por tempo demais, enriquecendo à custa deles.

Não que o Raposo se importe com o povo, não, ele mina a concorrência e Lord Alden se tornou uma pedra em seu sapato. O governante da cidade anda atrapalhando os negócios do meu chefe, e isso significa que ele precisa sair de cena.

Com um gesto rápido, retiro uma pequena adaga de meu coldre, pronta para qualquer eventualidade. Cada passo é calculado, cada sombra é um aliado. Enquanto me aproximo da entrada da mansão, meu ouvido aguçado capta um murmúrio distante. Alguém está se aproximando. Eu me escondo nas sombras, observando com atenção.

Dois guardas robustos emergem da escuridão, lanternas na mão. Sussurram entre si enquanto patrulham o perímetro, alheios à presença invisível. Meu coração acelera, mas eu sei que a furtividade é minha aliada.

Com movimentos cuidadosos, me aproximo das janelas da mansão. Ouvindo vozes abafadas do interior, percebo que estou no lugar certo. Com destreza, escalo a parede, encontrando uma brecha na vidraça e deslizando para dentro.

A sala é ricamente decorada, com tapeçarias luxuosas e móveis requintados. Vasculho a sala em busca de pistas incriminatórias. Documentos, cartas, qualquer coisa que possa provar a corrupção de Lord Alden. Encontro um cofre embutido na parede, um lugar lógico para esconder segredos.

Com habilidade, começo a trabalhar na fechadura do cofre, meus dedos ágeis encontrando os pontos fracos do mecanismo. Enquanto trabalho, ouço passos se aproximando da porta da sala. O tempo está se esgotando, e eu sei que preciso ser rápida. Com um clique suave, o cofre se abre, revelando seu tesouro: pilhas e pilhas de joias, moedas e, o mais importante, documentos.

Um sorriso satisfeito toma meu rosto, é isso! Esses papéis contêm segredos que podem finalmente desacreditar Lord Alden e derrubá-lo de seu pedestal de corrupção. Agarro os documentos; não há tempo para analisar o conteúdo, preciso levar tudo. Junto com os papéis, algumas moedas também desaparecem em minha bolsa, um pequeno ato de vingança contra aquele que enriqueceu à custa do sofrimento de outros.

Movendo-me rapidamente em direção à janela pela qual entrei, percebo que os guardas ainda patrulham o lado de fora, alheios ao intruso que opera em sua própria casa. A pressão aumenta, a adrenalina bombeando forte em minhas veias.

Enquanto deslizo pela janela e retorno às sombras da noite, sorrio com uma sensação de vitória iminente. Sei que em breve a mansão do Lord ruirá, e minha missão está quase completa.

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