✿*:・Capítulo III

    Lilith havia perdido muito peso, ao ponto de ser estranho encarar novamente a própria feição no espelho, mas apesar disso, continuava bela. O que poderia fazer? Nos últimos meses tinha sobrevivido a base frutas e água, com receio de encontrar qualquer tipo de veneno mortal, essa opção foi tudo o que lhe restou.

    Afinal, teria que estar muito obcecado em vê-la em um caixão para tentar envenenar uma fruta, ou com muito tempo livre.

— Devo comprar um pouco de maquiagem... — disse para si mesma, depois de analisar suas olheiras profundas.

    Com o terceiro andar ainda em reforma, decidiu ficar no quarto de sua falecida mãe, no segundo andar, uma área que por pouco não foi atingida. Fazia tempo que aquele lugar não passava por uma manutenção, o cheiro de poeira era no mínimo, suportável, teve que vestir uma das roupas escuras que encontrou enfurnada no armário para vestir, fora de moda, folgada, mas ao menos não estava queimada.

    Sempre fazia um penteado de coque trançado, gostava desse contraste extremo de sua aparência, cabelos tão negros que quase chegavam a refletir a cor azul, pele pálida, provavelmente por doença, e seus olhos ametistas.

    Os valeirianos costumavam ter essas características únicas espalhadas por aí, cores espeluzantes, que claramente não deveriam ser normal de se ver em um ser humano comum.

— Menas, chame a carruagem, vamos sair — disse assim que pisou no salão, recebendo um olhar de julgamento da mulher que checava algum assunto com outra servente.

— Qual destino devo informar ao cocheiro? Considerando suas roupas, uma boutique? — sua expressão séria natural era de deboche, o que fazia Lilith se irritar toda vez que a olhava, mas como sua própria feição não era uma das mais simpáticas, preferiu deixar de lado.

— Exatamente, e você virá comigo — Menas suspirou desolada, mas ao lembrar de seu pagamento, saiu sem hesitar.

    Depois de ontem, Lilith não havia tido nenhum outro sonho estranho ou vozes do além falando com ela, apesar disso a chama do ódio permanecia ali, de certa forma isso a deixava um pouco inquieta, mas o que poderia fazer? Se fosse ao templo questionar sobre isso, aí sim concluiriam que estava louca.

— C-céus, a lady Lilith está aqui!? — a baronesa deixou os tecidos que estavam em suas mãos caírem assim que grudou os olhos na entrada de sua boutique, completamente assombrada.

— Senhorita — Lilith corrigiu com desgosto.

— O-oh, certo, certo. Agora é uma senhorita, peço perdão por minha minha ignorância, lhe saúdo em nome da casa Perrie, que a deusa ilumine seu caminho. Demonstro meus profundos sentimentos pela perda do Marquês, no que essa humilde senhora pode lhe ajudar hoje? — a baronesa Perrie se curvou visivelmente nervosa, todas as funcionárias da loja imitando seu gesto de imediato.

— No que mais? Roupas! mostre-me seu catálogo, principalmente de peças prontas.

    Lilith se sentou no sofá da recepção, vendo cada peça com exigência, enquanto a baronesa sorria desconcertada, tentando se desvencilhar a cada crítica que ouvia da jovem.

    Até que surgiu uma ideia em mente.

— Baronesa, tem frequentado os círculos sociais nesses últimos tempos? — amaciou seu tom de voz, se inclinando em direção a mulher com expressão curiosa.

— O-oh, bem, tenho ido em algumas reuniões da viscondesa Lynch e da baronesa Castillo, mas nada comparado a alta sociedade — disse um pouco sem graça, porém pareceu se lembrar de algo em seguida — Ah, certo! Recentemente fui a festa do chá da condessa Marshall, de repente ela convidou todos as casas do oeste, apenas a condessa Payne que sequer lhe enviou uma resposta, imagine? A possibilidade de ver sua filha se tornar uma princesa lhe subiu a cabeça, tamanha grosseria — balançou a o rosto em negação.

    Era óbvio, de forma alguma que uma senhora como a Baronesa Perrie, que lida com clientes todos os dias, seguraria sua língua para proferir rumores.

— Um desrespeito até mesmo com quem foi até lá, as normas de educação realmente estão decaindo — Lilith suspirou, lhe dando mais corda — Mas a senhora disse que a condessa reuniu os nobres do oeste? Oh, céus. Será que posso ter causado algum tipo de dor de cabeça a minha tia durante o tempo que fiquei afastada? — cobriu a boca exasperado, fingindo sentir um peso no peito.

— Não diga tal coisa, senhorita! Como a condessa poderia lhe considerar uma dor de cabeça quando acaba de perder seu pai?

    A baronesa se sentou ao seu lado, segurando suas mãos como uma forma de consolo, enquanto a olhava com preocupação — Me senti tão desolada quando meus pais faleceram, que pensei que sequer conseguiria prosseguir o negócio da família, mas graças aos meus parentes e esposo que pude me manter firme. Não tenha ideias tão deprimentes, a condessa expressou abertamente sua preocupação pela senhorita, estava cogitando até mesmo chamar um sacerdote para ver seu estado, mas graças a bondade da deusa, vejo que está muito melhor. A senhorita sabe o quão caro é um chamado do templo, certo?

    Não caro o suficiente para cobrir o rombo financeiro que havia feito em seus fundos, ainda mais considerando que esse sacerdote a levaria a força para um mosteiro.

— Muito obrigada, baronesa. Me sinto muito mais tranquila ao ouvir suas palavras, fico com receio de preocupar ainda mais minha tia, já lhe causei tanto trabalho... sou tão jovem, mas de repente tendo que assumir uma responsabilidade tão grande, fico sem rumo do que fazer — tentou fazer que uma lágrima escorresse, mas vendo que não iria conseguir, apenas fez uma expressão lamentável, que atingiu em cheio o coração da mulher.

— Oh, céus. Não fique dessa forma, a senhorita pode me enviar cartas ou me visitar sempre que algo lhe afligir, vendo dessa forma, os rumores sobre a senhorita agora parecem tão absurdos, sequer posso imaginar como minha filha reagiria estando em seu lugar — com as lágrimas se acumulando, Lilith se aproveitou para ceder em um abraço da senhora, que a acariciou com pesar.

    Claro, ignorando o olhar perfurante de Menas, que expressava de forma descarada o que pensava naquele momento — "Essa garota estava criticando seu trabalho poucos minutos atrás, em que exatamente os rumores sobre ela estão errados?"

— Eu não poderia ser mais grata em ser acolhida por uma pessoa tão bondosa quanto a baronesa Perrie — segurou as mãos da mulher, a olhando com um falso brilho nos olhos.

— Oh minha nossa, quão terrível seria para ignorar o sofrimento de uma jovem? Por favor, pode me chamar pelo meu nome — disse com um sorriso — Venha, deixe esse catálogo aí, lhe mostrarei pessoalmente os melhores designs da loja! Não há nada melhor do que fazer compras para afastar a tristeza.

    A baronesa Marli se levantou em êxtase, convicta na missão de ajudá-la, e mesmo contra sua vontade, Lilith se deixou ser arrastada por ela em um tour pelas roupas da boutique, se esforçando em não cortar o seu repentino ânimo de ser uma salvadora da pátria.

— Saiba que não irei descontar o valor das roupas que me deu de meu salário — Menas comentou, enquanto entregava as pilhas de caixas ao cocheiro para levar até a carruagem. Lilith fez sinal com a mão para que não se preocupasse com isso, afinal, acabou saindo com mais peças e encomendas de vestidos do que planejava inicialmente e não sabia o que fazer com aquelas coisas bregas que foram empurradas nela, que por algum motivo, pareceu encantar muito Menas — Não se sente mal por desconsiderar os sentimentos da baronesa daquela forma?

— Sentimentos? Pfft- só cai na lábia dela quem não a conhece, no momento em que outra pessoa comentar sobre mim ela trocará de lado, não sabe como comerciantes funcionam? — disse com escárnio, ajeitando o pequeno chapéu na cabeça.

    O importante, era que havia conseguido duas coisas úteis: informações do movimento de sua tia, já havia começado a tentar colocar os nobre do oeste ao seu favor, possivelmente para apoiá-la quando tentasse tomar o controle do território Colaines, e a única casa que se expressou abertamente contra tinha sido a Payne.

    Seria uma dor de cabeça se os nobres sobre sua atual jurisdição apoiasse o boicote daquela velha prejudicada.

    Entretanto, conversando com a baronesa Marli, sua língua nunca que iria segurar a informação de que Lilith não só estava bem, como já havia voltado a circular pelo oeste, gastando dinheiro de uma forma considerável a primeira vista e ainda agindo de tão dócil.

    Dois rumores conflitantes começariam a se chocar, ou ela estava histérica e incapaz, ou ela estava bem e sociável.

    Apesar do prejuízo financeiro do dia, tinha sido uma viagem muito produtiva, foi uma troca equivalente.

— Suas habilidades de atuação são invejáveis — Menas comentou em um suspiro cansado.

— Está me chamando de falsa? — virou a cabeça para olhá-la, arqueando as sobrancelhas.

— Longe de mim proferir tais palavras.

    Lilith cerrou os olhos tentando capturar alguma outra expressão além do deboche habitual no rosto da garota, mas desistiu, voltando a olhar para frente enquanto seguia para carruagem.

— Até porque, para ser falsa ainda lhe falta.

    Pôde sentir seu olho tendo um tique de nervoso.

🥀"O rosto enganador deve ocultar o que o falso coração sabe."
- William Shakespeare.🥀

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✿*:・RECADINHO DA AUTORA・:*✿

O império de Valley é inspirado no Reino de Prússia, talvez uma mini-aula de história da moda agora?

Esse reino durou de 1701 até 1918 (sim, ele existia até pouquíssimo tempo) e o território dele era composto por algumas partes de países que conhecemos hoje como: Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Lituânia, Polônia, República Tcheca e Rússia.

A principal influência dele que vamos ter aqui na história, é a moda! Diferente dos tão conhecidos vestidos da época vitoriana, esses ainda se abstinham de mostrar os ombros, e sua montagem de tecidos não era tão redondinha quanto os ingleses (considerando meados de 1850), por conta da camada extra que era colocado por cima da blusa e da saia (sim, elas não usavam tecnicamente vestidos🗣🗣), quase como um casaquinho, por isso acabava tendo muito mais volume na parte de trás.

Então podemos considerar que as roupas usadas aqui pelas mulheres de Valley, são muito mais "cheinhas" e com uma pegada mais elegante e menos romântica, como era usada na era vitoriana.

Rainha Vitória - Inglaterra (1845).

Princesa Luise Ulrike - Prússia (1720-1782).

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