🦊 Chapter Ten 🐺

Olá queridos leitores, como estão?
Gostaria de pedir para que vocês
olhassem as notas finais, certo? E também, deixassem o votinho pois ajuda muito de verdade, assim como comentários, adoro
ver a reação de vocês <3

Boa leitura!

🐺

Me sinto só, mas sei que não estou
pois levo você, no pensamento.
Meu medo se vai, recupero a fé,
e sinto que algum dia ainda vou te ver,
cedo ou tarde — Nx zero.


N A R R A D O R A

Horas antes do retorno
de Apolo.

Por favor, vá embora! Por favor, tu não precisas ver isso, soldado. Me deixe ir!

O clamor de Hajun — Apollo — ecoava pela mente conturbada de Jimin, que estava ajoelhado no chão com ambas as mãos na cabeça conforme permanecia na floresta. Seu cabelo ruivo estava bagunçado caindo por cima de seus olhos, esses que brilhavam na cor lilás, entregando que o que a Agnes fez, havia dado certo.

As lembranças invadiam Jimin de uma forma arrebatadora, a cada contato que a bruxa emanava em sua cabeça, fazia a dor irradiar por todo o seu corpo até se centralizar em sua mente. Seus olhos rolavam sempre que lembrava de algo de sua vida passada, e a bruxa só torcia para que ele desmaiasse logo, pois sabia que a dor das lembranças era algo que manchava a própria alma.

Jungkook morreu, ele se matou! Isso é obra tua, Ares? — o corpo de Jimin tremeu agressivamente conforme suas lágrimas caíam, ele lembrava agora de sua pós-morte — Onde está a alma dele? Eu quero vê-lo!

Tu és uma divindade, Apolo. Se apaixonantes por um alfa? Não seja tonto! — o homem alto de cabelos pretos e cacheados, vestia uma bata branca e estava sentado em uma rocha, que ficava em uma espécie de ilha quando olhava para o Deus — Tu fostes enviado à terra, a fim de salvar os ômegas, foi um pedido teu. Agora choras por um alfa? Tens concepção do reboliço que tu causastes quando resolveu se deitar com um deles?

Eu o amo! — o jovem ruivo que carregava uma espada nas costas gritou ao léu, notando a água da praia cobrir a areia da ilha — Tu não podes fazer isso, eu fui a terra, dei a minha vida pela vida dos ômegas, fui sucumbido em praça pública no meio de tantos que me julgavam, para no fim, Jungkook falecer e eu não poder vê-lo? Deixe-me falar com Eros, ela irá me compreender. Ele é o Deus do amor, afinal!

Ele deu fim à própria vida, achas que a alma dele está no paraíso? — a risada do homem de músculos fartos fez Apollo grunhir — Ele está vagando por aí, sua alma não terá paz.

Pois encontre-o! Eu o quero, não me faça causar uma rebelião, porque tu sabes que eu faço.

— Na terra eles acham que tu se tornasse um Deus por ter salvado os ômegas, tens conhecimento dos problemas que isso causará? Vários deles irão tentar fazer o mesmo, só para buscar a divindade.

E isso é um problema, Ares? Foi por essa razão que eu morri, para que eles protegessem os ômegas. Se a mentira fará com que eles parem de subjugá-los, então estarei eternamente satisfeito. Porém não tente mudar de assunto, eu quero Jungkook, eu preciso dele.

Jimin chorava copiosamente pela dor que se alastrava aos poucos.

Agnes mordia o lábio inferior se sentindo culpada por aquele tormento, mas não havia outra saída. O ômega precisava recordar de tudo o que lhe aconteceu em vida e também após a morte. Ele era o único que poderia acabar com a escravidão de toda uma raça, o deus precisava retornar para consolidar aquilo que já havia iniciado, mesmo que o quebrasse por dentro.

Jungkook? És tu, meu amor? — Jimin conseguiu avistar nitidamente quando uma luz amarelada flutuou próximo a faceta do Deus, conforme seus olhos se enchiam de lágrimas — Soldado, eu senti tanto a sua falta..

O corpo de Jimin sucumbiu, tão forte que Agnes se ajoelhou em sua frente para segurá-lo. A aura de Apolo era tão poderosa que uma ventania impiedosa atingiu a mata em poucos segundos. Seu corpo tremia e suava mesmo que o inverno estivesse no ápice, era como se algo celestial tomasse posse de sua alma, Agnes sabia que seria difícil.

Os ômegas voltaram a ser torturados, estão sendo escravizados e onde Apolo está? Está atrás de uma alma quebrada, obscura, não está fazendo nada enquanto seus súditos clamam pela sua presença! Ares gritou em meio a ilha depois que Apolo se afastou para longe.

Ele só retornará se o homem pelo qual ele se apaixonou, regressar também, Ares. Ele foi bem claro — Hefesto refutou, este que estava sentado tocando harpa, no topo mais alto da fortaleza de pedras que ficava em meio às árvores.

Ótimo! Vamos tratar dessa situação como se fosse algo habitual — o Deus resmungou — Se Apollo retornar a terra será como alfa, assim, ele não ficará com Jungkook. Não quero Deuses metidos com eles, sabemos que isso não acabará bem.

Por telepatia Apollo ouvia a reunião de seus irmãos. Seus olhos estavam presos na alma de Jungkook que vagava pela terra, tão infeliz e sozinho quanto o próprio Deus.

Jimin rosnou alto e abriu os olhos, fixando-os no céu, sentindo sua cabeça pesar feito o inferno. Sua respiração estava ofegante, seu peito doía pelas novas descobertas, e tudo o que conseguia ver, era o cinza claro que deixava óbvio que o dia havia amanhecido.

— Agora, o toque final — Agnes avisou tendo a atenção dele sobre ela — Tu dormirá por algumas horas, e quando acordar irá me procurar. Estou com a sua espada Apolo, a espada das almas. Não tema, Jimin, quando tu despertar entenderá tudo o que está acontecendo. Por enquanto.. — a jovem bruxa tocou novamente na cabeça do ômega e o viu desfalecer de imediato, esgotado e totalmente fatigado por tudo o que havia sucedido — Descanse. Terá um trabalho árduo daqui para frente.

J U N G K O O K

— Te reencontrei, meu amor.

Todo o meu corpo arrepiou, mesmo que eu estivesse emergindo em água quente. Sua voz profunda e seu toque despretensioso me deixou entorpecido por alguns instantes, até que eu entendesse o real significado de sua frase.

— Reencontrou? Ficastes fora somente por algumas horas — meus olhos encontraram os seus e a sua íris estava cor de ouro, um sinal claro de proteção que me fez desconfiar subitamente — Tu estás bem? Descansamos por um tempo desde tudo o que aconteceu.

— Estou bem — o observei fitando meu peitoral onde ele ainda mantinha o contato, e eu desejei considerar o que ele pensava naquele momento.

— Quer me relatar o que aconteceu na floresta?

Eu não me incomodei com a nudez, afinal, seria uma grande estupidez dado que passamos o cio inteiro juntos. Mas a resposta que o ômega teve foi de fato curioso, visto que ele começou a se despir lentamente sem quebrar o contato visual naquele mesmo instante. Havia me chamado de amor?

— Te contarei o que quiser, desde que permita-me tomar banho contigo — sua voz era sugestiva e ele deixou evidente o que viria a seguir.

Seus olhos apertados e seus lábios presos entre dentes lhe concediam uma figura excessivamente sexy e decidida. O que me lembrava que ele antes queria distância, o que havia mudado?

— Não precisas pedir algo assim, podes ficar à vontade comigo e sabes disso.

A resposta pareceu satisfazê-lo logo que ele não demorou a adentrar na banheira. Suas pernas tocaram as minhas assim que ele se sentou de frente a mim, me deixando completamente hipnotizado como de praxe. Sua língua passou sorrateiramente pelo seu lábio conforme umedecia obtendo toda a minha concentração, e suas mãos seguravam firmes na beirada da tina sem nem sequer hesitar em me defrontar.

— O que queres saber, Jungkookie?

— Jungkookie? — sorri ao reparar seu flerte descabido — O que aconteceu contigo naquela floresta? Agnes deve ter batido a sua cabeça com força.

— Ora, não gostastes do apelido? — o ômega fez um bico enorme assim que cruzou os braços frente ao corpo — Tenho outros então, posso te chamar de Guk, amor, meu alfa…

— Não brinca — resmunguei notando seu sorriso lascivo — Me dissestes que jamais serias meu e eu acreditei nisso.

— Eu disse? — Jimin estalou a língua fingindo falso desgosto e descruzou os braços passando a lavá-los lentamente — Se eu não lembro, eu não fiz — o ômega acabou dando os ombros com sua constatação.

— Estás me enrolando, ômega.. — novamente seus olhos encontraram os meus e eu pude constatar que a sua força fazia a própria presença pesar dentro da cabana — Conte-me o que aconteceu com a Agnes, prometo te ouvir e não sentenciar qualquer ação tua.

— O que achas que aconteceu, hum? — seu pé deslizou pela minha coxa parando rente a minha cintura, e eu quase engasguei com seu ato profano — Achas que eu pedi para me tornar um alfa mais uma vez, Guk? Achas que eu pedi a ela ouro? Uma viagem? Um novo alfa?

Rosnei com a sua fala e ele gargalhou jogando a cabeça para trás.

— Não seja ciumento, meu doce.. — ele voltou a lamber os lábios de forma sensual e o meu membro fisgou com aquela visão devassa — Irei te narrar tudo, mas o essencial é que.. — o ômega pausou olhando para ambos os lados do casebre e sussurrou como quem conta um segredo — Eu consegui as minhas lembranças de volta, todas elas.

Meus olhos se abriram em surpresa pela sua declaração e deixei aquela informação me consumir para compreender o que houve. Ele lembrava de tudo em relação a Apollo? Sobre a vida passada, sobre sua morte.. sobre.. nós?

— Oh — pigarreei um tanto inquieto e quebrei o contato visual deixando os meus olhos passearem pelo aposento — Lembrastes de tudo? — ouvi uma risadinha abandonar seus lábios mas não ousei olhá-lo — Lembrastes de Apollo, de tua vida passada?

— Sim — ele voltou a roçar o pé em minha coxa — Me lembrei de ti também, se é isso que queres verdadeiramente saber.

Molhei os lábios por pura ansiedade e notei seus olhos presos nos meus movimentos. Ele soltou um rosnado baixinho quase imperceptível, e eu adorei fazê-lo se sentir daquela forma, sem controle algum, como ele sempre fazia comigo.

— Poderia me contar detalhes?

Seu sorriso que antes era apenas provocativo, se tornou ainda maior no final de minha pergunta. Suas mãos buscaram seus cabelos os deixando úmidos, e seus olhos voltaram a divagar pelo meu corpo sem pudor algum.

— Eu te conheci no pior momento de minha vida, alfa. Tu tinhas a mesma aparência que tem agora, e eu era um pouco mais delicado por ser um Ômega lúpus, mas ainda me parecia muito com o que sou agora. Naquela época eu também era o único Ômega lúpus que existia, e acabei sendo morto pelo meu próprio pai, enforcado no meio do reino inteiro por ter salvado todos os ômegas da escravidão. Antes disso tu me ajudaste a ter poder suficiente, reunistes alfas que estavam dispostos a guerrear ao meu lado e assim conseguimos invadir e massacrar vários soldados para chegar até a rainha. Agnes me ajudou muito também, eu não teria conseguido sem ela. E momentos antes de minha morte, tivemos um imprinting, nossos lobos se conectaram e poucas horas após tivemos que nos separar.

Sua voz era melodiosa e um tanto ressentida.
Por isso o olhei, notando que sua íris havia voltado ao normal, mas seus olhos estavam marejados como se odiasse aquele assunto mencionado.

— Quando morri a primeira coisa que busquei no mundo dos vivos, foi a ti. Mas descobri que tu havia tirado a própria vida um tempo depois. Segundo fontes, tu não aguentaste a dor da perda e por mais que não tivesse me marcado, a ligação de almas foi forte o suficiente para te enfraquecer. E durante séculos eu sofri a tua dor. Encontrei tempos depois o teu espírito vagando solitário em meio a terra, me cortava o coração ver aquela imensidão negra em tua alma e não poder fazer nada. Me culpei por bastante tempo até ter coragem de te arremessar novamente na terra, eu não sabia se iria funcionar, se eu iria te encontrar outra vez. Mas ainda assim eu arrisquei quando fiquei sabendo que os ômegas estavam sendo maltratados novamente, e assim, tu poderias se recuperar e ascender para um plano mais alto em sua próxima morte.

— Tu.. — engoli a seco e pisquei atordoado com a sua revelação, como ele poderia fazer algo assim com o espírito de alguém? — Tu tinhas autoridade para tal feito? Podias simplesmente dominar esse tipo de situação?

— Eu sou um Deus, bobinho. E além disso, és a minha alma gêmea, tu fostes feito para mim.

Minha boca se abriu novamente pela sua revelação e eu suspirei tentando entender a sua última frase. Como assim eu fui feito para ele? Feito para um Deus?

— Não entendi — refutei — Eu fui feito para ti? Tipo, eu iria te amar em qualquer vida que fosse? Como se eu fosse um presente ou algo do tipo?

— Todos os alfas, betas e ômegas tem suas almas gêmeas predestinadas, Jungkook, a começar de sua criação. Isso acontece com todos.

— Tu és um Deus, oras — resmunguei notando sua ansiedade — Não se encaixa nessa categoria, te tornastes um Deus depois de tua morte ou eras antes disto? Desculpe-me Apolo, mas não entendo nada disso — o ômega suspirou frustrado, parecia com temor de falar algo errado.

— Não se torna um Deus do nada, Jungkook. A verdade é que eu permito que pensem isso, pois assim eles podem querer se igualar protegendo os ômegas e isso não seria algo ruim. Mas não, eu sempre fui um ser divino, só não lembrava nesta vida.

— Na primeira vida, tu sabias? — o questionei.

— Não, lembrei no momento da minha morte. Vivi como hajun e nunca desconfiei em momento algum que eu pudesse ser um Deus. Agnes também não faz e nem fazia ideia. Ela sabe que o meu espírito se tornou luz, mas acredita que isso foi pelo meu sacrifício em vida.

— E tu não pensas em contar a verdade?

— Não — ele novamente deu os ombros — Não por hora, ela não precisa saber dos planos que temos. Confio nela, mas também sei como funciona a sua maldição, vigiei ela por muito tempo, estava lá no instante em que sua maldição foi selada.

— E tu podes relatar essas coisas?

— Não — ele sorriu grande deixando seus olhinhos ainda menores — Mas confio em ti, meu líder. Incondicionalmente.

— Confia? — deixei minha confusão aparente e ele voltou a ser provocativo, deixando o pé escorregar pela minha pele até o meu estômago — Porque tu me odiava a poucas horas atrás.

— Não te odiava, eu só tinha princípios diferentes.

— E o que mudou? Ainda és o Jimin, não entendo..

— Eu lembro de ti, lembro do sentimento, lembro do quanto te amava e lembro do quanto eu sofri por não ter conseguido viver contigo, Jungkook. Sim, ainda sou o alfa que se tornou um ômega, mas agora eu entendo que era essencial, eu nasci para ser ômega, e estar aqui na terra como alfa deve ter sido um equívoco, ou ao menos gosto de pensar assim.

Acabei suspirando pesado e inclinando a cabeça para trás, parecendo um tanto derrotado. Sabia que em qualquer altura eu teria que lidar com as lembranças de Jimin voltando subitamente, mas ninguém havia me preparado para ouvir de sua boca que ele me amava, mesmo que eu já desconfiasse de tal fato.

E o meu lobo pareceu apreciar saber daquilo, ficou tão satisfeito que não parou de remexer frenético, queria reivindicar o ômega no mesmo instante, mas não era tão fácil assim e eu sabia disso.

Observando a minha desordem, o Deus voltou a mover o pé pela minha pele por baixo d'água. Deslizou pela minha coxa e até que tomasse atrevimento suficiente para ressoar onde queria, e não demorou para apreciar meu falo rijo em seus dedos inferiores que estavam mais atrevidos que o comum. Queria dizer que não estava gostando de seu lado audacioso, mas ainda me assustava saber que o Jimin que parecia ansiar me assassinar o tempo inteiro havia deixado aquele plano de uma vez.

— Não me quer? — ele questionou atraindo a minha atenção para si — Achei que tu gostasses de mim..

— E gostava — respirei fundo ao notar o que havia falado e ele removeu o pé de minha virilha me olhando um tanto atônito — Gosto aliás. Tivemos um imprinting. Só estou apavorado pela mudança repentina, não podes me julgar. Estava habituado contigo me renegando, estava pronto para te ver despertar e começar a falar que gostaria de se tornar um alfa de novo e sobre aquele monte de maldições e tudo mais, agora tu me falas que aceitou o fato de ser ômega? Fico contente, mas não deixa de ser assustador.

— Entendo — ele encolheu os ombros, talvez por se sentir rejeitado — Desculpe-me, não quis parecer um intruso.

— E tu não és um — fui rápido em cortar seus pensamentos — Só preciso de tempo para me acostumar com essa ideia. Essa coisa de amor de vidas passadas, tu sendo um Deus todo poderoso que me jogou a terra novamente, sacrifício e poderes que nenhum outro tem, sua presença está forte aqui dentro.

Jimin pareceu um tanto entristecido por alguns segundos e o meu lobo se segurou para não puxá-lo para mais perto e acalentá-lo. Em minha cabeça o ômega não gostaria de tal contato físico, mas como Apolo eu verdadeiramente não tinha como saber. Odiei ver a mágoa transparecer em seus olhos, sabia que um dos piores sentimentos que um ômega poderia sentir era a rejeição, contudo não podia negar que precisava de tempo para me acostumar. Meu corpo pedia por ele, mas a minha razão falava mais alto, não podia ultrapassar os limites.

— Ei — chamei assim que o vi se levantando depressa — Onde vai? Nós não terminamos aqui — seus pés tocaram o piso da cabana e ele caminhou em direção aos armários que havia em nosso quarto. Nosso. Esse pensamento me assustou mais do que o esperado.

— Preciso ver a minha mãe — ele desconversou escolhendo um par de roupas sem se dar o trabalho de se secar — Quem trouxe as minhas roupas para cá? Iremos ficar aqui agora?

— Essa é a melhor cabana do teu aldeamento, achei justo que fosse nossa.

— Entendo — ele em nenhum momento me olhou, talvez estivesse envergonhado e o anseio me atingiu — Bom, irei até a minha mãe ver como ela está. Se incomoda?

— Não, eu irei contigo — fiquei de pé achando melhor acompanhá-lo — Não seria melhor aguardar amanhecer? Tu podes dormir mais se quiseres.

— Estou bem — ele passou a camisa branca de botões pelo torço e começou a abotoar lentamente, antes de pegar a peça de baixo e começar a vesti-la — Não precisas ir comigo, podes ir tomar conta de teu povo, não demorarei.

— Está de noite, não irei te deixar sozinho depois do que aconteceu na floresta, Jimin. Deixe-me acompanhá-lo.

— Eu sou um Deus, Jeon — o ômega me fitou de repente com um ar descontraído — Não preciso de proteção.

— Teus poderes voltaram junto com as lembranças? — ele mordeu o lábio um tanto reflexivo e foi o bastante para que eu soubesse a resposta — Exatamente, ainda não. Então, até lá, irei te proteger com a minha vida.

— Preciso de um tempo sozinho — ele suspirou voltando a colocar a calça bege.

— Eu sei, não te sintas rejeitado. Eu te quero e tu sabes disso, sentes o cheiro da minha excitação quando estou perto de ti, mas eu não tenho as minhas lembranças do passado. É difícil saber que o ômega pelo qual eu me atrai não terá a mesma personalidade assassina de antes. Tu me rejeitou desde o início, agora as coisas parecem ter mudado.

— Eu sei, é muita informação — ele refutou arrumando as mangas da camisa ainda sem me olhar — Podes ao menos ficar do lado de fora da cabana dela quando chegarmos lá? Gostaria de lhes falar a sós por um instante.

— Como quiser.

Caminhei em direção a cama e busquei a toalha seca para me enxugar, o cheiro de lírios e mel estava mais forte pelo cômodo e o meu lobo gritava para que eu desse o que ele queria. Jimin deixou o quarto sem nenhum aviso prévio, sabia bem que ele queria me dar espaço mas odiei ver a dúvida passar pelo seu rosto bonito e sem expressão como se duvidasse da conexão que tínhamos.

— Merda — resmunguei conforme me preparava.

As peças escuras foram deixadas em minha frente para facilitar o processo antes que ele decidisse sair sozinho, e eu temia pelos seus pensamentos visto que eu não tinha me expressado direito naquele instante. Eu o queria, e queria mais do que qualquer coisa, mas antes eu teria que aprender a conviver com a sua nova versão, sem esquecer claro que ele agora era o ser mais poderoso presente na terra.

Um Deus, alguém que poderia facilmente extinguir todas as linhagens de lobos evidentes no universo inteiro, sem executar qualquer esforço.

J I M I N

Eu estava inteiramente tomado pela vergonha.

Não só pela desonra, me sentia rejeitado e estranhamente chateado com o comportamento de Jungkook poucos minutos atrás. Soube na altura em que tive as minhas recordações de volta que seria embaraçoso visto que ele não se lembraria de nada, nem dos meus sentimentos, nem dos dele, então eu seria a parte que amaria sozinho por um tempo, e eu precisaria me acostumar com isso sem me sentir rejeitado daquela maneira ou enlouqueceria em uma bagatela de tempo.

Andei em passos rápidos até sair de dentro daquela tenda e respirei pesado quando a brisa gélida da noite me atingiu, o cheiro da excitação de Jungkook estava me deixando embriagado, então acabei fechando os olhos para abrandar os meus batimentos que estavam totalmente descompensados.

Olhei para os lados a fim de encontrar alguém, mas todos pareciam recolhidos em seus aposentos. A única coisa que conseguia ver eram as lamparinas acesas de frente a cada cabana, e as árvores logo atrás dando início a floresta.

Jungkook não tardou em sair da cabana e logo seguimos em silêncio até o centro da aldeia. O cheiro da comida era atrativo e eu soube que a maioria dos alfas estavam reunidos e espalhados pelas mesas, para defender as nossas terras de futuros ataques como tivemos anteriormente. Seokjin servia alguns deles ao longe e observamos Yoongi ao lado de Hoseok conversando animadamente. Como sempre sua espada estava presa em suas costas, e ao que meu cheiro o atingiu, ele se virou com um sorriso no rosto parecendo alegre em me ver.

Os lobos que estavam reunidos se levantaram apressadamente ao notar a forte presença de Jungkook. Fizeram uma reverência em respeito e tornaram a se sentar para comer, betas também estavam espalhados pelas redondezas, o que passava uma sensação de segurança que não existia, visto que o Oeste ainda era uma ameaça, e todos sabiam bem disso.

— Onde vão? — nos parando em meio a matilha Seokjin apareceu sustentando um sorriso colossal e segurando uma tigela de comida, meu estômago roncou e ele parecia satisfeito com tal feito — Tome, tu precisas comer.

— Vamos até a casa da senhora Park, quem está com ela agora?

— Um beta chamado Jaebeom, ele tem sido prestativo com a ômega. Tem alternado com Taemin e Yujin, ela está segura e bem. As dores não foram tão fortes quanto pensávamos, a ligação deles quase não existia mais.

— Pelo menos uma notícia boa — suspirei pegando um dos bolinhos de carne e levando a boca.

— Estás bem, Jimin? Estava preocupado.

— Estou, não quero que te preocupes — sorri tentando passar tranquilidade e olhei para os lados estranhando a ausência de alguém — Onde está Taehyung?

— Dormindo — o ômega sorriu e buscou Hoseok e Yoongi com os olhos — Ter dois alfas deve ser difícil, sugou toda a vitalidade do menino.

— Pelos deuses, Seokjin — Jungkook resmungou e eu sorri com sua fala.

— Às vezes ele esquece que eu sou um Deus — comentei e vi Seokjin arregalar os olhos deixando o sorriso morrer aos poucos.

— Tuas lembranças voltaram? — confirmei ainda mastigando e ele olhou para Jungkook assombrado — E tu está bem com isso, filhote? Sua cabeça deve estar confusa.

— Ele não mudou tanto assim — o líder cruzou os braços esperando que eu terminasse de comer — Esperava que ele deixasse de ser quem é, mas ele continua se melando ao comer e falando demais como antes.

— Eu não estou me sujando! — me defendi e o vi sorrir quase que de imediato.

— E isso aqui? — seu polegar deslizou pelo meu lábio e ele sugou o próprio dedo me limpando de uma forma erótica que me deixou completamente desnorteado. Seokjin notou.

— Vão para um quarto, quem aguenta tanta tensão sexual? Céus.

O ômega nos deixou a sós ainda sorrindo e foi até o seu alfa que estava sentado próximo a uma árvore. Jungkook balançou a cabeça parecendo o comprimentar, e Namjoon sorriu de forma acolhedora parecendo contente por ver seu líder.

— A cabana da minha mãe fica a exatamente vinte passos, fique aqui conversando com eles, eu volto logo — anunciei o entregando a tigela.

— Estarei te observando daqui, por favor não demore, devemos conversar mais sobre o que aconteceu na floresta.

— Não demorarei, amor — sorri ao fim da frase e ele engoliu a seco, possivelmente por ouvir novamente aquela palavra pela qual não estava acostumado — Desculpe-me, preciso me acostumar a te chamar de Jungkook.

— Preciso me acostumar com sua nova personalidade ou vou enlouquecer.

— Continuo sendo o mesmo, Jungkook, a diferença é que meu lobo te deseja mais do que antes.

Um sorriso oblíquo surgiu em seus lábios e ele segurou o meu pulso me puxando mais para perto.

— Não me provoque, me arrependi de não ter te tomado na cabana, e estou a ponto de te levar para a cama como tu querias — seus olhos fixaram em meus lábios e eu deslizei a língua por eles, o ouvindo rosnar momentaneamente.

— Tu mudaste de ideia rápido, não é? Lide com a frustração que eu senti quando tu me negastes o teu nó, alfa, eu poderia estar rebolando em ti agora, mas escolhestes estar aqui, então.. — puxei o meu pulso e dei as costas indo em direção a cabana de minha mãe, ouvi Jungkook rosnar mas não ousei olhar para trás sabendo que ele possivelmente carregava uma expressão raivosa. Sorri com o pensamento, ele poderia negar que sentia algo, mas seu lobo com certeza não sabia disfarçar as coisas.

E eu adorava como isso parecia familiar.

[...]

— Entre — Jaebeom abriu a passagem assim que me viu, seu sorriso era amplo e eu confessei para mim mesmo que senti saudades daquele beta irritante — Que ômega esbelto, tão formoso quanto a lua.

— Não me irrita — revirei os olhos e adentrei na cabana notando de imediato que havia uma lareira improvisada — Ela está sofrendo com o frio? — o questionei ele confirmou balançando a cabeça lentamente.

— As dores estão brandas agora, mas o frio continua, Taemin e Eubin já tentaram de tudo, mas nada ajuda.

— Onde ela está? — olhei em volta e senti o seu cheiro muito mais fraco do que era antes.

— No aposento, pode ir até lá. Volto depois.

Parecendo perceber que eu gostaria de conversar com ela a sós, o beta me deixou sozinho no cômodo, saindo da cabana para nos dar privacidade. Aproveitei para olhar em volta deixando as lembranças me atingirem com força, coisas que me faziam mal visto que meu pai nunca foi exemplo de amor e carinho, os tempos de fato mudaram, e eu me questionava se aquelas mudanças seriam de fato boas para o futuro dela.

— Filhote? — sentindo a minha presença e o meu cheiro, minha mãe me chamou de dentro do quarto sem ao menos me ver. Sua voz era frágil e entregava que ela vinha passando por tempos difíceis, sabia que a perda de um alfa não era fácil de superar, mas eu esperava dia após dia, que ela se recuperasse dessa dor imensurável.

Segui em passos firmes até o cômodo onde ela se encontrava, e assim que abrir a porta, a vi deitada na cama coberta até os ombros deixando claro que o frio a castigava. Seus lábios estavam roxos e a pele do seu rosto mais pálida do que o normal, a dor que ela sentia era algo que pela qual eu já passei na vida passada, não consegui imaginar coisa pior, era como sentir a morte.

— Desculpe-me por não vir antes, aconteceram tantas coisas.

— Eu sei, Jaebeom me contou — ela sorriu fraco — Não te preocupes, eu vou melhorar. Agora, sente-se aqui e me conte tudo sobre seu imprinting com o Jungkook. Preciso saber como o meu bebê está, e como ele está te tratando.

Nos minutos seguintes eu contei absolutamente tudo o que havia ocorrido nos dias que se passaram. Ela pareceu feliz por eu não estar sozinho, e nem sequer escondeu que gostava do atual líder apesar dos pesares. Seus olhos brilhavam sempre que eu ousava falar sobre ser ômega e os benefícios de ser lupino — sem frio e com promessa de filhotes —, e ela quase chorou com o pensamento de ser avó, o que me deixou aliviado por hora.

— A Marca da maldição em seu pescoço está preta, o que isso significa?

— O que? — perguntei chocado com sua fala.

— Em seu pescoço, tu não vistes?

Os meus dígitos buscaram a marca e eu deslizei a ponta dos dedos sentindo que não estava mais superficial. Ela parecia impregnada em minha pele, o que me fez lembrar que a Agnes havia afirmado que se um dia existisse amor da minha parte em relação ao Jungkook, primeiro a marca iria escurecer, para logo depois sumir e a maldição nunca mais ser quebrada. E de fato existia amor agora, eu sabia que isso iria acontecer, e não poderia me importar menos.

— Tu será ômega para sempre, não é? — minha mãe sussurrou como se tivesse receio de tocar no assunto.

— Nasci para ser ômega, e acredito fielmente nisso agora. Não tema, estou satisfeito e aceitei o meu destino.

Ela apenas concordou cansada demais para questionamentos.

Sabia bem que a minha mãe me apoiava e me aceitava de qualquer forma, afinal, ela foi a primeira pessoa que me recebeu de braços abertos após tudo o que ocorreu na floresta. Todavia seria custoso explicar naquele instante que eu sempre fui um Deus, e que ela foi escolhida a dedo para me dar à luz em meio a tanta gente de coração puro. Deixaria esse assunto para depois, tinha certeza que seria uma longa conversa.

— Mas e então, tem visto a bruxa que te fez isso?

Sua pergunta me fez ter um djavu abrusco que me fez fechar os olhos pela rapidez dos meus pensamentos. "Tu dormirá por algumas horas, e quando acordar irá me procurar." Sua voz surgiu como uma recordação de mais cedo. Sabia bem que ela estava com a minha espada, espada essa que seria muito importante nas nossas batalhas futuras. Mas sabia também que com todos os acontecimentos recentes, Jungkook não permitiria que eu fosse até a mata encontrá-la, apesar de que não havia opção.

— No que está pensando? — me puxando de volta a realidade, a minha mãe me remexeu na cama tendo os olhos presos em mim.

— Preciso sair agora, mas antes quero pedir um favor. Vou sair pela porta dos fundos, Jungkook não pode me ver, se ele questionar onde eu fui, diga apenas que eu volto em breve, pode fazer isso?

— Jimin.. — ela suspirou pesado parecendo detestar a ideia — Onde tu vais e por que o teu alfa não pode saber? Isso não é uma boa ideia, confie na mamãe. Tenho um mau pressentimento.

— Não tenho escolha, preciso resolver algo que ele não vai gostar de saber.. e ele não é meu alfa, não ainda.

— Tens certeza que é uma boa ideia ir sozinho? Não quer chamar o Jaebeom ou o Yoongi? — ela tentava disfarçar o desespero conforme falava, mas sem sucesso, conseguia sentir sua aflição.

— Vai ficar tudo bem, confie em mim. Eu voltarei tão rápido que Jungkook nem notará que eu sumi. Se ele entrar aqui, apenas diga que eu voltarei em segurança.

Ela não pareceu acreditar muito, mas confirmou me dando sua benção para que eu corresse pela porta dos fundos.

Agnes precisava me entregar a espada e me explicar algumas coisas que pra mim ainda não faziam sentido, como por exemplo: por que diabos o meu poder estava preso em uma arma que ela guardava por todos esses anos? E por que só agora ela me contou sobre ela?

[...]

A coisa mais ridícula que eu já fiz em todos esses anos como Deus, foi sair de dentro da vivenda de minha própria mãe escondido de um alfa, sendo que eu conseguiria derrubá-lo em apenas alguns segundos.

A questão é que eu deveras não gostaria de bater de frente com ele, por inúmeros motivos e razões, mas o principal era que eu o respeitava. E por mais que eu francamente fosse mais forte, não queria impor soberania sobre ele, até porque esse tempo inteiro a única coisa que ele quis foi me amparar, mas lamentavelmente ele não poderia fazer isso o tempo inteiro.

Talvez fosse bom o alfa não se recordar do passado, ele com certeza não iria conseguir sair de perto de mim se isso acontecesse, visto que da última vez que ele saiu, eu fui morto em praça pública. A proteção dele iria acabar nos atrapalhando de alguma forma, e agora nós precisávamos do líder coerente que ele sempre foi, por mais que eu tivesse o intitulado de bárbaro e cruel ainda quando era um Alfa, ele provou ser absolutamente o oposto daquilo que eu pensava isso me deixava de certa forma um pouco orgulhoso.

Entretanto, por hora, eu continuava correndo em meio à floresta a fim de encontrar a Agnes. Deveria ter marcado algum ponto de encontro com ela, mas a minha situação naquele momento não era das mais favoráveis. Havia acabado de recuperar minha memória, tanto da vida passada quanto pós morte, e embora fosse um ômega valente e destemido, isso não deixava de ser assustador. Lembro-me de ser morto pelo meu próprio pai que me jurava amor em seus melhores dias, e também do sacrifício de Jungkook que não aguentou viver sem mim.

— Me procuras? — parei de correr no instante em que reconheci a sua voz. A jovem bruxa agora usava um vestido vermelho um pouco desbotado, e seus cabelos lisos estavam caídos sobre os seus ombros lhe dando um aspecto mais tranquilo e bem falso, visto que ela era explosiva.

— Tu ainda vais matar, Agnes.

— Quem sabe um dia — ela gargalhou deixando sua face contornada em deboche, parecia feliz acima de tudo e era bom vê-la e reconhecê-la depois de tantos anos — Onde está Jungkook? Achei que conversaria com ele também. Ele te deixou sair sozinho?

— Desde quando preciso de autorização? — refutei e ela apertou os lábios em uma linha fina tentando conter o sorriso.

— Aí está o ego de um Deus, tu mudastes.

— Lembro-me do dia que tu fostes amaldiçoada, eu apareci em forma de lobo branco. Lembras? — seus olhos lilás que exalava poder fixaram em meu rosto, e aquilo me deu um estranho sentimento de impotência, mas não iria contestar no momento.

— Lembro bem — ela sorriu se aproximando pisando em alguns galhos secos — Achei que os Deuses iriam me salvar, mas me enganei.

— Tua mãe ligou a maldição a mim, não havia nada que pudéssemos fazer. Enquanto eu vivesse como espírito, tu estaria viva e eu achei que seria melhor assim, esperar o meu retorno. Só que então tu mexesse com a força da natureza, se ligando a um alfa, e daí os Deuses se afastaram de ti como punição. Não nos culpe pelas suas escolhas, lide com as consequências.

— Falastes como um Deus agora. Seja bem vindo, Apolo.

— Obrigado — sorri quando a vi fazer uma reverência segurando o vestido — Minha espada, onde está?

— Sabe que ela armazena o seu poder, não sabes?

— Sim, lembrei disto quando recordei a minha memória — a bruxa confirmou e balançou a mão para que algumas folhas que estavam grudadas no chão levantassem. Em questão de segundos, a espada surgiu saindo de dentro da terra, como se tivesse sido armazenada no solo por anos, e isso sequer me surpreendeu. Era um ótimo lugar para escondê-la.

— Tu sabes da história dessa espada? — ela segurou forte a arma afiada e na coloração prata, e esperou que eu a desse informações que era óbvia.

— Não — dei os ombros notando sua fisionomia confusa — A espada não era minha em vida, ela se tornou após a morte visto que o meu poder ficou totalmente preso a ela. Sempre tive curiosidade em saber o que aconteceu, não imaginava que ela alojaria o meu poder.

— Ótimo, que bom que eu conheço a história completa — Agnes sorriu grande e deu alguns passos à frente para me entregar aquilo que eu tanto queria — Talvez tu fiques confuso de início, então te contarei com cautela. Consegues distinguir que desenho é esse no punho? — segurei firme a arma que obtinha meu poder e olhei para a coroa desenhada contendo a marca real da família de Hajun. Era horrível lembrar que em minha primeira vida, minha morte foi causada por alguém que dizia me adorar, não que hoje eu me importasse verdadeiramente, logo que o homem foi punido ainda em vida.

— É uma das espadas que os soldados do rei usavam há mil anos atrás.

— Exato. Quando tu morrestes em meio a todos como um traidor, Jungkook te encontrou assim que destes o último suspiro. Ele te pegou no colo e chorou copiosamente sem se importar com a presença de vários alfas ou qualquer pessoa que assistia a atrocidade que fizeram contigo, um ômega tão jovem sacrificado era quase um pecado mortal de tão cruel — ela suspirou deixamos os ombros cair um pouco — Lembro-me que tu me pedistes para não deixá-lo vê-lo pois seria angustiante demais, porém eu fui levada até a floresta para ser presa antes mesmo de tu sucumbir, não tive escolha alguma em relação a isso, mas soube a história dias depois. Quando o choro de Jungkook passou, os guardas tiraram o seu corpo de perto dele afirmando que o rei iria decidir o que fazer contigo, Jungkook sequer contestou porque sabia que tua alma não estava mais naquele plano.

— Ele era sábio e corajoso.

— Sim, ele era. Poderia ter lutado para te enterrar em algum lugar digno, mas estava fraco demais pela quebra da ligação, então te entregou de coração partido. Quando o rei foi perguntado sobre a sua sepultura, ele respondeu que tu seria enterrado como indigente, sem túmulo ou cemitério. E então, alguns soldados foram até às terras vizinhas onde jogavam os corpos dos ômegas escravizados, e cavaram um buraco para te colocar dentro, sem dignidade alguma. Estava junto de ladrões também, betas e alfas que foram mortos por crimes hediondos, e nenhum deles se importaram com isso, estavam seguindo as ordens do rei, fizeram exatamente o que ele mandou. Mas na hora que colocaram seu corpo dentro do cubículo, lembraram que não tinha nada que sinalizasse onde tu estaria. Eles tiveram medo que um dia o rei viesse a perguntar onde era exatamente o lugar que te colocaram, e acabaram tendo a brilhante ideia de fincar essa espada no solo para que se lembrassem onde o teu corpo estava.

— Sinalizaram a cova com essa espada?

— Sim, eles queriam melar a lâmina com o teu sangue antes disso. Mas o tempo fechou completamente, com raios e trovões depois de tua morte, e eles ficaram com medo. Aquela espada carregava o sangue de Jungkook, que havia sido ferido ainda na luta onde tomaram posse do castelo. Foi uma coincidência incrível, pois foi por essa razão que a terra sugou todo poder que havia se acumulado em teu corpo humano, transferiu para essa espada assim que ela foi colocada no solo próximo a ti. Não existem explicações para tal feito, porém, talvez as forças da natureza soubessem que um dia tu retornaria, e precisaria do teu poder novamente em vida.

Voltei a olhar novamente para a espada que estava em meus dígitos, lembrando mais uma vez que eu não fazia ideia de como tomar posse novamente de todo poder. Eu poderia sim canalizar o meu poder de Deus tirando de outro lugar, mas o meu corpo de ômega não sustentaria tamanha força, precisava ser aquele poder da vida anterior que era o que eu conseguiria suportar sem colocar minha vida em perigo.

— Sabes o que fazer? — ela questionou notando a minha confusão — Se não souber, eu não posso ajudar muito. Tentei por anos canalizar a força que estava presa nela e nunca consegui.

— Nunca conseguistes porque o teu poder não se compara ao meu, Agnes. Se a terra te puniu, ela não deixaria que te tornaste ainda mais poderosa. Sem falar que só eu conseguiria tal feito, preciso apenas descobrir como. 

Ela revirou os olhos com a minha constatação.
Não deixava de ser verdade, claro, mas ela odiava lembrar que atualmente existia alguém mais poderoso que ela depois de tantos séculos.
Devia ser irritante, até.

— Agora que tem a espada das almas, preciso te perguntar. Tens um plano para libertar todos os ômegas que vivem sob o poder do Oeste e das quatro cidades vizinhas?

— Eu sou o Deus dos ômegas, Agnes. Tu achas mesmo que eu retornaria a terra sem algo realmente grandioso? — a bruxa sorriu sarcástica e negou repetidamente como se desacreditasse de minhas palavras.

— Podes me contar então, Jimin? O que tu pensas em fazer agora?

A sua questão me fez sorrir um pouco, visto que ela realmente acreditava que eu confiaria depois de tudo que vi e ouvi enquanto a observava durante o milênio. Todavia, seria bom ter uma aliada que também buscava a liberdade dos oprimidos. Ela poderia ser útil, e eu saberia com certeza aproveitar.

— Irei agora até a ilha Apollo, Agnes. Retornarei ao meu lar a fim de encontrar os meus irmãos.

Minha afirmação fez a bruxa franzir o cenho instantaneamente. Ela seria ingênua se achasse que aquela luta seria vencida de forma fácil e pacífica. Eu precisaria de no mínimo o poder de três Deuses para aniquilar qualquer alfa ou beta que ficasse em nosso caminho, e era exatamente o que eu iria buscar de agora em diante.

— Tu és o Deus dos ômegas, quem é o Deus dos alfas e betas?

— Ares é o Deus dos alfas, e Hefesto o Deus dos betas. Porém, para ser sincero eles não ligam de fato se os ômegas são escravizados ou não, cada um toma conta de uma linhagem.

— Entendo — ela olhou em volta sentindo a brisa da noite nos atingir — Talvez eles ajudem se sentirem que a ameaça envolve a todos. Seja perspicaz, confio que fará a coisa certa.

Deixei uma risadinha escapar e dei as costas para seguir o meu caminho. Sabia que tinha muitas coisas para ser conversado com ela, mas por ensejo daria atenção ao que efetivamente importava. Eu precisaria chegar na Ilha o quanto antes e isso seria difícil, especialmente porque eu planejava ir imediatamente e sem Jungkook, sem ao menos ter uma data de retorno.

— Apollo — ouvi a bruxa chamar assim que dei passos adiante — Cuidado, lembre-se que tu tens um alfa nesta vida que também busca a mesma coisa que tu. Proteja-se acima de tudo, e não o deixe fora de seus planos.

Não ousei olhá-la novamente e segui o meu caminho sem levar suas palavras em consideração. Meus passos eram firmes e eu não voltaria atrás para colocar a vida do líder em perigo apenas por puro capricho. Precisava resolver aquilo tudo sozinho mesmo que Jungkook não gostasse, afinal, a ilha Apolo era um lugar que só os Deuses iriam, ou alguém de coração muito puro, o que não é o caso do alfa, visto que ele matou diversas pessoas durante sua vida.

Não iria voltar para a aldeia para me despedir, logo que sabia qual seria a reação de Jungkook. Então, segui em direção a fronteira a fim de pegar o barco e navegar até o meu destino, que era  conhecido como lar dos puros.

J U N G K O O K

O meu lobo estava possesso de ódio.

Poderia explodir facilmente a qualquer segundo e transmutar sem sequer me importar com as consequências disso. O Jimin estava maluco? Ele ousou sair sozinho depois do ataque que sofremos a poucas horas, como se sua vida não fosse imprescindível, e ainda disse a sua mãe que voltaria em segurança? As lembranças afetaram a sua mente?

Rosnei frustrado em meio a matilha vendo a movimentação frenética que Apollo havia criado. Todos os alfas e betas do leste, Norte e Sul buscavam por ele de cabana em cabana, até a entrada da floresta. Meus olhos ardiam pelo suor que escorria em minha testa, não conseguia imaginar para onde ele poderia ter ido, mas sabia que ele planejava algo grande, e eu não estava envolto em seus planos dessa vez.

— Jungkook — ouvi a voz sonolenta de Taehyung me atingir e logo me virei dando de cara com o ômega abraçado ao próprio corpo pelo frio — Eu ouvi que o Jimin sumiu, posso ajudar?

— Não — passei a mão pela testa tentando controlar meu temperamento — Seus alfas estão buscando por ele, e vários outros lobos, tu podes ficar com Seokjin por enquanto, é mais seguro ficar junto aos outros.

— Mas Jungkook-

— Taehyung, de verdade, não é uma boa hora — o cortei para que ele soubesse da minha falta de controle. Conseguia claramente sentir cada parte do meu corpo ferver em puro rancor, seria horroroso perder o controle no meio da aldeia mas não era algo que eu pudesse intervir.

— Tudo bem, eu só ia dizer que suspeito para onde ele possa ter ido, mas vou te deixar respirar, Hoseok e Yoongi te mataria se me machucasse.

— Espera! — o chamei quando ele deu as costas para ir embora e ele voltou a me olhar confuso — Suspeita? Conte-me, irei atrás dele agora mesmo. Por favor, Taehyung, eu estou desesperado.

— Fiquei calmo, se ele estivesse em perigo tu irias sentir — ele pediu com a voz branda, me fazendo respirar pesadamente ainda enfurecido — E eu imaginei que ele estaria conversando com a Agnes depois do que aconteceu. Ele lembrou de tudo segundo Yoongi, e isso traz dúvidas que só ela poderia tirar. Acho que é meio óbvio ele ir até ela, Jungkook, começaria procurando por lá.

E assim, eu dei as costas e chamei todos os lobos possíveis para tal tarefa.
Namjoon, Hoseok e Yoongi me acompanharam junto de Yuri, Yujin, Mingyu e Yeosang, enquanto o restante rondavam os arredores para ver se o encontravam em algum lugar.

Não demorou muito para que nós estivéssemos na floresta esperando um ataque da Agnes a qualquer instante. Sabíamos o quanto inconstante ela era, e com o Jimin sob seu poder ela poderia muito bem atacá-lo ou nos ferir.
Eu não conseguia parar de pensar que ela era a vilã de toda essa história, mesmo sabendo que a maldição dela consistia em prender todos aqueles que desejavam fugir, ainda assim eu não consegui sentir pena visto que ela parecia querer se favorecer de cada pequeno ato que fazia. E com pequeno ato me refiro a maldição de Seokjin, essa que me assusta até hoje.

Quem seria capaz de amaldiçoar uma criança antes mesmo do nascimento?

Não dava para confiar em alguém com tamanha maldade.

— Sinto o cheiro dele — Yoongi avisou quando passamos pelo riacho que corta Norte e Sul — Porém está fraco, acho que ele esteve por aqui a no mínimo uma hora.

— Quando eu o encontrar, vou prendê-lo no pé de minha cama e ele nunca mais sairá de lá sem a minha ordem — rosnei as palavras deixando as mãos fechadas em punho.

— Jimin é um Deus, Jungkook. Ele faria a cabana levitar e te jogaria na povoação vizinha — Hoseok brincou deixando escapar uma risadinha.

— Ele tem esse tipo de poder? — Namjoon perguntou confuso e Hoseok deu os ombros.

— Não sei, deve ter. 

O silêncio se instalou enquanto andávamos e cada passo que dávamos eu me irritava mais. Não fazia ideia do porque ele havia decidido sair sozinho, muito menos depois de notar que o Oeste não estava brincando quando disse que queria matá-lo.

Mas uma coisa era certa, no momento em que o encontrasse, uma briga iria se iniciar até que ele aprendesse que ao meu lado era onde ele deveria ficar. Acima de qualquer coisa, e em qualquer situação.

— O que fazem aqui? — paramos os passos bruscamente quando encontramos a Agnes sentada em um balanço que ficava preso na maior árvore da floresta. Ela balançava para frente e para trás, e seus cabelos soltos ao vento lhe dava um ar ainda mais assustador, principalmente porque o seu sorriso vitorioso nunca morria.

— Onde está Jimin? — perguntei iniciando alguns passos mas ela logo me parou, fazendo meu corpo ficar petrificado no mesmo lugar.

— Não te aproximes mais, consigo ouvir os teus pensamentos e sei que queres me machucar. Tu achas que eu estou com ele, mas não estou. Ele veio até mim como um pedido meu, e saiu daqui a pouco tempo. Eu achei que ele iria voltar à aldeia para te buscar, mas pelo visto ele decidiu ir sozinho.

— Ir? — perguntei amedrontado. — Ir para onde?

— Ele me disse que lugar se chamava ilha Apolo, não sei muito bem o que significa pois nunca ouvi falar. Mas pelo nome acredito que seja o lugar onde o espírito dele viveu depois de sua morte.

Fechei os olhos por alguns segundos e tentei sentir a sua presença em algum lugar. Entretanto, como ainda não havia o marcado, a única coisa que podia sentir era que ele estava bem e que não estava assustado, meu peito apertava em angústia, ele iria retornar?

— Pode desvendar onde fica esse lugar? — Yoongi a questionou. — Sei que tu certamente não quer que ninguém atrapalhe seja qual for os seus planos, mas Jimin ainda é um ômega. Se ele tiver ido em direção ao rio para algum lugar, alguns dos alfas das cidades vizinhas podem querer fazer o mal ou matá-lo. Vamos protegê-lo, só diga-nos.

A bruxa pareceu pensar um pouco, e aquele ar de superioridade dela me irritava. Ela estava alheia aos nossos pedidos, e completamente despreocupada com o ômega, o que me deixava também intrigado. Por que ele iria sozinho?

— Eu posso te dizer a localização exata da Ilha, mas não sei se tu poderás chegar perto dela. Não sei se tu conseguirá enxergar pois é um lugar sacro, e acredito que até quem já navegou por todas as cidades nem sequer chegou perto do lugar dos divinos.

— Diga-nos ao menos em qual direção a ilha fica, precisamos tentar encontrá-lo de qualquer maneira, não podemos ficar de braços cruzados esperando acontecer alguma desgraça — refutei esperando que ela aceitasse o nosso pedido.

— Tudo bem, eu irei dizer-lhe, Jungkook. Mas apenas porque eu acredito que foi burrice de Apolo achar que não precisava de ti. Quero que tu o encontre, e o deixe em segurança, porque ele não pode morrer antes de cumprir o seu destino.

Rosnei pelo pensamento de perdê-lo novamente. Mesmo que eu não fosse capaz de lembrar da vida passada e de tudo que nós vivemos, me doía saber que a minha vida chegou ao fim porque ele se sacrificou por toda uma linhagem. Doía ainda mais saber que ele não tinha opção, que nenhum outro Deus tentou ajudar quando o seu povo mais precisava, e a história não iria se repetir de novo, mesmo que fosse necessário batalhar com Deuses e seus infinitos poderes.

— Segundo a energia que brota do rio, a ilha fica entre Tikvá e Colosis. Tu só precisas pegar um barco na saída do Sul, e seguir em linha reta, Jeon. Todavia, sabes que os alfas e betas rondam por ali direto, se Jimin estiver por lá e eu sei que ele está..

— Algum alfa pode pegar ele — Namjoon completou.

— É, acho bom irem agora mesmo — ela nos alertou com um semblante obscuro que me deu arrepios. Jimin estava em perigo? Precisávamos saber imediatamente.

— Tem algum plano? — Namjoon se virou para mim e Agnes me soltou de seu feitiço — Achas que eles irão nos atacar?

— Acho que vão estranhar a nossa presença pelas águas nesse horário — conclui — Não temos escolha, sabes disso.

— Eu sei — ele soltou o ar — Yeosang é bom com barcos e caravelas, ele pode nos guiar enquanto observamos atentamente o caminho.

— Vamos — Yujin chamou nossa atenção — Na saída do Sul ficam três barcos para emergências. Ele deve ter pego um, temos mais dois sobrando.

— Eu acho que não.. — a jovem bruxa de cabelos negros arqueou a sobrancelha olhando de um lado para o outro. Estava prestes a soltar sua metáfora, e eu sabia bem disso — Não estão sentindo cheiro de nada? Se gabam tanto de serem alfas fortes, e o olfato nem funciona direito.

— Do que está falando? — Yoongi rosnou se sentindo atacado — O único perfume que sinto é o teu de alfazema, está por toda parte.

— Sério? Eu sinto algo mais, alfa — ela sorriu maquiavélica — Algo como.. maçã e cravo?

Hoseok rosnou de imediato e deu um passo à frente, seus olhos brilharam na cor dourada assim como a íris de Yoongi que arregalou os olhos em puro choque.

— Taehyung? — Namjoon estranhou — Ele ficou na aldeia com Seokjin, está seguro lá.

— Ele estava aqui ouvindo nossa conversa o tempo inteiro, senhor Kim. Tem certeza do que falas? — Hoseok olhou para Yoongi, vendo o alfa já pálido — Taehyung tem uma ligação com Jimin que é quase inexplicável, mas todos saberão um dia. Ele estava preocupado com o ômega e os seguiu, deixei que ele ouvisse onde encontrá-lo e acredito que ele deve estar chegando próximo aos barcos, logo que ele foi correndo a alguns minutos.

— O quê? — Hoseok gritou tomado pela raiva — Taehyung não seria ingênuo a esse nível, sabe que Junseo está no Oeste e ele poderia bem estar navegando a esse horário. Não tente nos ludibriar, Agnes. Não temos motivos para confiar em ti.

— Não tenho razões para enganar, alfa. Mas se preferes pensar assim, que seja. Só saiba que momentos de desespero pedem medidas desesperadas. Taehyung tem o coração puro e bom, ele jamais deixaria um amigo em perigo sozinho, ainda mais Jimin que o banhou e cuidou de suas feridas assim que ele chegou ao Sul.

Hoseok e Yoongi me olharam com o semblante totalmente tomado pelo terror. Jimin ao menos era um Deus que por ser lúpus tinha os sentidos apurados, já Taehyung, não tinha tantos benefícios ao seu favor. Se ele caísse nas mãos erradas durante seu trajeto, uma das cidades poderiam escravizá-lo e nunca mais conseguiríamos encontrá-lo, isso se não fosse morto apenas por ser um ômega.

Com isso decidimos ir à fronteira de qualquer forma. Se Taehyung ainda estivesse por lá seria sorte e poderíamos mandá-lo de volta para a alcateia, se ele não estivesse, e já tivesse saído em direção à Ilha, ao menos tínhamos a direção e o seu cheiro possivelmente ainda estaria forte, então não seria tão trabalhoso encontrá-lo.

Assim a gente esperava.

T A E H Y U N G

Meus instintos estavam apurados e eu não entendia bem o que estava acontecendo, mas sabia que precisava ir atrás de Jimin imediatamente antes que ele se machucasse.

Era como se fosse uma necessidade, mesmo sabendo de todo o risco que eu corria, praticamente entrando na cova dos lobos, o meu ponto de vista continuava o mesmo. "Não posso deixá-lo sozinho, ele iria atrás de mim se soubesse que eu estava em perigo e era o mínimo que eu poderia fazer.

Minhas pupilas estavam dilatadas e eu não conseguia enxergar direito pela adrenalina que irradiava em meu corpo. Corri com toda força que tinha nas pernas, para chegar primeiro até os barcos que ficavam na fronteira, e quando consegui, respirei aliviado sabendo que era questão de tempo até Hoseok e Yoongi me alcançarem, mas eu iria trazer Jimin de volta, sabia que ele retornaria se me encontrasse sozinho em meio a travessia.

Em síntese, fui rápido em adentrar dentro de um dos barcos. Segurei os remos e tentei manter a calma para não acelerar demais e acabar afundando, o céu estava totalmente escuro e tomado por estrelas, o que denunciava que o inverno estava chegando ao fim, e por essa razão, as águas já se encontravam em estado líquido. As remadas começaram ritmadas e eu tentei seguir aquilo que a Agnes falou em alto e bom som. Só precisava ir em linha reta até encontrar seja lá o que fosse, e eu esperava encontrar o Jimin ao invés de qualquer outra coisa.

Se passaram alguns minutos até que eu já estivesse longe o bastante das terras do Sul. A brisa estava calma e eu não conseguia sentir o cheiro de Jimin por lugar nenhum, o que era estranho.

Seu cheiro de lírios e mel era algo bastante forte e marcante, fora que conforme a ventania no mínimo deveria perceber a sua presença em algum lugar. E isso começava a me deixar aterrorizado, não o fato de estar sozinho em meio às águas durante a noite, mas o fato de imaginar que ele poderia estar em apuros e eu sequer conseguia achá-lo. Era assustador saber que estávamos literalmente no meio de duas cidades que escravizavam ômegas, mas por alguma razão meu coração continuava a pedir que eu fosse atrás dele, então apenas segui os meus instintos.

Mais à frente eu consegui avistar uma pequena luz acesa como um candelabro, estava dentro de um barco, claro, mas eu não conseguia enxergar ninguém dentro dele. Por ser um ômega sem gene lupino a minha visão no escuro não era tão boa, contudo de uma coisa eu tinha certeza, ninguém abandonaria um barco no meio das águas a troco de nada.

Meu corpo inteiro se arrepiou em um aviso certo de perigo. Tentei ponderar brevemente uma saída, mas não havia nada que eu pudesse fazer além de seguir em frente. Se eu virasse o barco para a direita acabaria indo em direção a Tikvá, se eu virasse para a esquerda chegaria a Colosis. Sem saída eu diria, e eu só torcia para que de fato não houvesse ninguém ali.

Entretanto, foi só eu começar a remar mais depressa para notar que existia um certo alguém dentro daquele barco, e ele estava deitado, por essa razão não consegui avistar muito bem. Quando me atrevi a chegar mais perto para ultrapassar, já começando a suar de nervoso, o cheiro do Alfa me atingiu, e era um aroma que eu nunca havia sentido antes.

Bambú, excepcionalmente enjoativo.

O alfa pareceu sentir a minha presença e apressadamente se pôs de joelhos, fixando os seus olhos imediatamente em mim. E para a minha surpresa, seu sorriso imenso e amarelo me fez ter a certeza de uma coisa.

Ele estava esperando uma presa, e aquela presa, seria eu.

J I M I N

Algo estava errado.

Algo estava extremamente errado, e eu podia sentir pelo ar diferente na atmosfera.

Eu estava próximo a ilha, conseguia sentir o poder que aquele lugar me trazia.

Conseguia sentir também a espada vibrar para expandir todo o seu poder, mas não era isso que estava errado. O que estava errado era o meu olfato que insistia em sentir o cheiro do pânico de Taehyung, por todos os arredores de onde eu me encontrava e isso era quase impossível.

Eu sabia que era absurdo, afinal, ele estava protegido junto dos seus dois alfas, e francamente aquilo não fazia sentido nenhum.

Só que ao mesmo tempo que não fazia sentido, meu lobo ficava inteiramente agitado e atormentado com a possibilidade dele ter me seguido e se perdido em meio aquele breu. Coisa que se acontecesse, iria me aniquilar por dentro. Eu me sentiria culpado se colocasse a vida de outro ômega em perigo, por essa razão eu parei de remar e comecei a farejar o ar atrás de alguma pista.

Fiquei de pé no barco e olhei para as quatro direções, deixando a minha visão mais aguçada. Não tinha absolutamente nada por perto, nem lobos, nem terras, completamente nada. O que só me deixava mais alvoroçado. Taehyung estava efetivamente por perto, ou seria uma emboscada? Conseguia pensar em centenas de situações diferentes, e todas elas acabavam com o ômega sendo sequestrado e abusado até a morte, e só o pensamento me fez rosnar em profunda irá.

Taehyung havia passado por coisas demais. Era um ômega do Leste que a vida inteira foi tratado como um objeto. Não permitiria que ele fosse machucado novamente por negligência minha. E por esse motivo, comecei a remar para a direção Leste de onde estava.

Sabia bem que se virasse à direita, eu iria acabar chegando em Tikvá, todavia, era de lá que o cheiro do ômega estava vindo.

E eu não tinha escolha.

Precisava ir atrás de seu paradeiro, mesmo que fosse morto no processo.

🐺

Deixe seu surto aqui:

Gente eu juro próximo capítulo é só ação e emoção, amaram?

Como estão? Estava com saudades :(

Queria avisar que vem fic nova por aí, e é um clichê gostoso. Vai se chamar Ballet de Lances, e irei postar o prólogo ainda essa semana.

Vou deixar uma imagem abaixo da divisão das cidades pra vocês, aumentem a luz do celular pra ver todos os detalhes, vale a pena.  Gustavo que fez, te amo amor obrigada por toda divulgação incrível.

Volto em breve.

A tag no twitter é #AMDM #AMarcaDaMaldição

Amo vcs


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