🧹Agnes 🧹 BÔNUS 25K

Voa, minha ave, voa sem parar
Viaja, pra longe, te encontrarei em algum
lugar, permaneço em ti, como sempre foi
mais perfeito e mais fiel, mesmo sozinho
sei que estás perto de mim, quando triste olho para o céu. — Ivo pessoa.

#AMarcaDaMaldição

Agnes Salém

Mil anos atrás.

Tu já ouvistes falar de alguma história de amor que acabou com o final triste, ou és um tolo que acredita no felizes para sempre todas as vezes?

Ora, por obséquio, sei que é atraente imaginar que um casal se apaixonou e viveu um lindo romance até o fim da eternidade. Mas na realidade em que vivemos não é sempre que o mais belo dos amores sobrevive, por isso, hoje irei contar uma história que envolve um ômega estupidamente forte e astuto, e um alfa teimoso que jamais viveu na sombra de seu amado.

Apollo, ou Hajun como prefiram chamar, foi o primeiro ômega lúpus existente de toda uma linhagem de betas e alfas. Um lobo forte e gentil que transbordava bondade e beleza por onde quer que passasse.

Tudo nele era luz, seu sorriso, sua fala, seus atos, não existia nada que não fosse atraente e bom, e com a chegada da adolescência, todas as suas qualidades só se intensificaram ainda mais deixando todos completamente fascinados.

Bastardo de um rei poderoso da época, Hajun chamava mais atenção do que qualquer outro ômega no reino em que vivia. Aos dezoito anos já era o mais cortejado, atraindo alfas e betas importantes de todo o leste e sul. Porém, tudo o que seu irmão beta Wonwoo conseguia enxergar era que todos os plebeus e pessoas importantes de seu mundo, só pareciam dar atenção ao jovem ômega, porque ele era mais fraco e tinha um cheiro doce que lembrava lírios e mel.

Naquela época onde o mais importante era bens e títulos, não podia existir alguém poderoso se casando com alguém considerado um qualquer. Porque apesar de ter um filho bastardo com uma de suas ômegas concubinas, o Rei não queria que seu caçula vivesse à mercê de um alfa imundo e sem escrúpulos. E por essa razão, ele acabou dando um grande baile na intenção de escolher os melhores homens de seu reino, e com ajuda da rainha — madrasta do Apollo — deixou que Hajun encantasse a todos ao seu redor.

O problema é que Hajun nunca gostou muito de seguir ordens, afinal, tinha princípios e opiniões formadas mesmo com tão pouca idade, não precisava que alguém lhes dissesse quem era bom ou quem não era, ele sabia com clareza dizer a quem entregar a sua pureza, e naquele baile não havia ninguém que pudesse ter a graça de tê-lo. Todos eram alfas medíocres e pobres de espírito, tinham enormes riquezas e também, uma ótima conversa para quem tenta comprar alguém consideravelmente frágil. Todavia Apollo não poderia viver submisso a alguém que o jogaria em um quarto durante anos e só entraria lá para satisfazê-lo em seu heat, não é? Ele queria mais, bem mais do que uma alfa e seu nó que não significava nada para ele.

Por isso, em meio a festa ele desapareceu misteriosamente deixando todos confusos, os ômegas escravizados da torre corriam de um lado para o outro seguindo a trilha de seu cheiro como se suas vidas dependessem daquilo — e dependiam, — mas não havia nada em meio aos corredores extensos do castelo, ele havia fugido e só restava esperar o seu retorno. A rainha tomada pelo ódio ordenou que encontrassem o bastardo em meio a floresta, colocou alfas o farejando na vila, no bosque, no povoado, nas matilhas vizinhas, por todo o lugar como se buscasse o mais precioso diamante, mas nada foi encontrado, apenas plebeus curiosos pelo o que havia acontecido, e felizes por poderem ajudar o Rei e ainda ganhar algumas moedas de ouro.

Entretanto, o Hajun estava completamente feliz por estar livre a alguns dias, seu olhar viajava pela beleza do campo onde vivia algumas matilhas perigosas considerando que era conhecidas por furtar ouro, mas ainda assim, uma bela miragem para seus olhos cansados. Ele não estava dormindo bem com medo que alguém o encontrasse ao Sul do palácio, mas precisava ter as suas próprias opções e encontraria sozinho, precisava fazê-lo ou morreria de desgosto consigo mesmo e isso não seria bom para os grandes negócios que o seu Rei tinha em mente.

O dono de um patriarcado sem fim planejava vender os ômegas como se fossem objetos. Deixava claro as suas intenções visto que os prendiam todas as noites em uma masmorra, e isso acontecia com todos os ômegas da região, logo que ninguém podia gerar filhotes sem que ele soubesse.

Os ômegas já nasciam com seus destinos traçados, e Apollo odiava ser um ômega com privilégios. É claro que ele jamais gostaria de passar por todo sofrimento que seu povo passava, visto que eram escravizados e tinham uma situação assustadoramente precária. Mas ainda assim, se sentia culpado por algo que ele nunca havia pedido. Passava noites chorando pedindo para os deuses mandarem algo ou alguém que pudesse acabar com aquele sofrimento, mas parecia que ninguém o ouvia.

Então, esse era o verdadeiro motivo de sua fuga.

O único contratempo no qual ele não esperava que o atrapalhasse foi o seu cio, que resolveu aparecer pela primeira vez em dezoito anos de vida, em uma cabana coberta de cenouras e maçãs em um vilarejo extremamente perigoso. Seu corpo tremia à luz do dia e seu ventre contorcia enquanto sentia sua lubrificação natural inundar sua vestes, ele queria muito gritar e pedir ajuda, mas ele imaginava que o seu pai — o rei — já havia oferecido várias moedas de ouro em troca de sua cabeça, tinha certeza que ninguém no castelo o perdoaria por tamanha vergonha que causou.

Porém não havia tempo para se lamentar, ele precisava de socorro, e antes que tentasse se levantar para ir atrás de alguém que ao menos desse algo para a dor passar, ouviu um barulho do lado de fora como se fosse um grande animal selvagem que farejava sem controle. Seus olhos dobraram de tamanho quando avistou um homem passar pela porta de seu esconderijo com as vestes surradas e os olhos vermelhos escarlate, completamente fora de si.

Ele tentou ficar de pé para fugir, mas uma pontada o atingiu em cheio e ele voltou a ficar no chão, seus olhos estavam cheios de lágrimas e seu corpo parecia que ia se partir no meio com tanta necessidade que sentia, algo que jamais imaginou que passaria.

O homem que até então estava na porta intensificou o seu próprio cheiro, Apollo sentiu o aroma gostoso de erva doce adentrar em seus sentidos e ali soube que estava seguro, sentia isso e seu lobo também.

— Quem és tu? — o alfa perguntou tentando manter a calma. — Diga-me e eu não o matarei. 

— Me chamo.. — ele ponderou. —  Apollo! — o ômega dolorido respondeu tentando soar convincente.

— Não conheço nenhum ômega por esse nome, quem é o teu dono?

Hajun quis gritar que não era uma propriedade, mas a quem ele queria enganar? Era o ômega filho do rei e pertencia a coroa. Era assim que os ômegas viviam, precisavam de um dono ou então eram mortos em meio a praça pública como traidores.

— Tu — ele respondeu com dificuldade. — Agora sou teu.

A resposta do ômega foi ingênua, ele não sabia se o tal homem era marcado, se era prometido a alguém, se odiava ômegas, ou se tinha uma boa índole. Todavia ele não tinha opção, tinha medo do que o alfa pudesse fazer naquele exato momento visto que o seu heat estava no começo, mas preferia mil vezes se deitar com um mero plebeu, do que com alguém da corte que maltratava ômegas e gostavam de sua dor.

— Não podes dizer isso, ômega, estou no controle agora mas o meu lobo pode acreditar em tuas palavras. Não tens ideia do quanto estou me segurando para não te atacar.

— Qual é o teu nome, senhor?

Jungkook.

Apollo prensou os lábios pois estava completamente ofegante, e olhou para os lados notando que tinha feno por toda a parte. A pequena tenda de madeira era um compartimento de alimentos para os cavalos, então imaginou que fosse daquele homem.

— Pois então senhor Jungkook, quero que saibas de duas coisas — ele voltou a atenção para o alfa que permanecia com os olhos escarlate. — A primeira é que eu não tenho um dono e quando digo que agora sou teu, não estou brincando. Por favor, não deixe-me morrer em meio a uma praça suja. A segunda é que o meu heat chegou e é a primeira vez. Sei que sairei do controle em poucos minutos quando a dor chegar ao ápice e depois disso estarei entregue ao meu destino, mas saiba que eu não tenho opções no momento.

— Está querendo que eu te ajude? — o homem bufou. — Não me conheces, e também, tu tem cara de ter dezesseis luas, não irei te tocar.

— Tenho dezoito — o ômega relutou em dizer. — E acredite, se eu voltar de onde vim será mil vezes pior. Não sei o que serão capazes de fazer comigo, tive sorte que o meu heat aconteceu aqui.

Aquele foi o instante onde se conheceram. Acreditem minhas pérolas, o destino as vezes pode ser bem perspicaz.

O alfa Jungkook não era um alfa qualquer, ele era um lúpus, coisa que não era comum na época. Ele liderava um grupo de ladrões, alfas e betas que roubavam os mais ricos para alimentar uma aldeia inteira, e por mais que fosse uma atitude até nobre possa-se dizer, ele não se orgulhava da vida que levava. O jovem de apenas vinte e sete anos odiava a forma como as coisas funcionavam. Odiava o fato de ser considerado alguém perigoso só por fazer aquilo que todos deveriam fazer, que era de importar com os mais humildes.

E ele já carregava peso demais, sua vida era uma grande batalha sem fim, pois quando não estava sendo ameaçado de morte, estava lutando para viver e salvar aqueles que quisessem o seguir.

Só que apesar de roubar e de se apossar de bens alheios, o alfa odiava se envolver com ômegas. Odiava ter que se sentir responsável por vidas tão frágeis, odiava saber o que acontecia com eles dentro de uma matilha que deveria os proteger, e odiava ainda mais não poder fazer nada. Ele nunca havia se deitado com um sequer, nenhuma fez que fosse. Preferia se isolar durante o rut para não correr o risco de se arrepender depois, pois os ômegas já eram judiados demais, ele não queria os tocar e fazê-los se sentir usados como já eram por séculos.

Bom, pelo menos até conhecer o ômega ruivo de olhos azuis que tinha os lábios fartos e pele aveludada como se fosse intocado. Ele achou aquilo no mínimo curioso. Como um ômega parecia ser tão cuidado assim? A maioria carregava feridas, cicatrizes enormes, receios de alfas, não chegavam perto de nenhum com medo de serem machucados ainda mais. E ali estava, um pequeno ser de corpo escultural e sorriso fácil, pedindo gentilmente para que o alfa o ajudasse como se fosse a coisa mais imaculada do mundo.

Em síntese, ele teve que decidir. Ajudaria o ômega de nome Apollo, ou o deixaria sozinho pelo os dias que se passassem?

— Fique — a voz tranquila do ômega o assustou de repente. — Tome-me, faça-me seu, não sinto cheiro de algum ômega em ti.

— Não sabes o que está pedindo — o alfa sentia que o ômega segurava seu próprio lobo para não assumir naquele instante, ele perderia totalmente o controle. — Nunca se deitastes com um alfa, e queres comigo? Não sou uma boa pessoa, procure por alguém que não te deixe morrer nessas terras insanas.

— Não me deixe morrer nessas terras insanas, alfa — ele repetiu as palavras sendo ardiloso, a dor que sentia era excruciante mas não o deixaria notar. — Prometo saciar a sua curiosidade quando meu cio acabar.

E assim, Hajun se entregou pela primeira vez a um alfa dentro de uma cabana de madeira em meio a muito feno.

Seu corpo foi tratado com extremo carinho mesmo que ele não fosse se lembrar, Jungkook foi cortês e paciente, perdendo vários dias ali dentro apenas para velar a sua vida, que para ele valia muito, como o de todos os outros ômegas.

Ao despertar depois de várias noites deitado em braços fortes, o ômega observou o alfa dormir e ficou curioso quando não sentiu seus dentes em sua pele. Ele alisou o pescoço com cuidado achando que encontraria algum tipo de ligação, mas não havia nada, e ele queria não ter ficado tão decepcionado.

No castelo era ensinado para ômegas da alta sociedade que quando fosse sua primeira vez, o alfa deveria marcá-lo. Por isso, era estritamente proibido deitar-se com alguém antes do casamento, e naquele instante ele entendeu a razão. Era pelo sentimento de rejeição.

O ômega esperou Jungkook acordar naquela noite e contou absolutamente tudo para ele. Sentia que o devia algo, então lhe deu um voto de confiança. Não sabia quem ele era, ou se ele o venderia por algumas moedas de ouro, mas ele precisava de alguém, alguém de confiança para colocar seu plano em prática e naquele instante ele não tinha absolutamente ninguém.

— Então tu queres libertar os ômegas da lei de teu próprio pai? — o alfa parecia se divertir com os sonhos altos que o ômega tinha. — Não sei se irá dar certo, pequeno, mas farei o que tu me pedir.

O problema era que as palavras eram soltas ao vento.

Dias se passaram desde o acontecido e Apollo seguia Jungkook para todos os lugares que o alfa ia. Aprendeu a empunhar uma espada, a ameaçar sem parecer fraco, a grunhir assustadoramente e a usar o seu poder de cura que foi extremamente útil. O ômega não sabia de onde vinha tal coisa, ele jamais havia visto um ômega com poderes desse tipo, afinal, eram lobos. Mas ele descobriu no dia que Jungkook chegou na aldeia onde estava vivendo, completamente machucado, com uma facada profunda que o fez chorar pela primeira vez em sua vida. Hajun foi rápido em tocá-lo em cima do ferimento enquanto se lamentava compulsivamente com medo de o perder, e aquilo foi o suficiente para verem a marca em sua pele sumir por completo, como se nunca tivesse existido.

Mas então caro leitor, é aí que eu entro. Muitos conhecem e se interessam pela história incrível de Apollo, o rei dos ômegas. Mal sabem que para todo ômega poderoso na época, existia uma bruxa ainda mais, velando pela sua vida a cada segundo.

Eu, Agnes, fui criada no mesmo castelo que Apollo. Minha mãe Catherine Salém era a bruxa que ajudava a rainha, então eu vivia amigavelmente com o ômega que vos falo, conversando sobre seus sonhos e promovendo a paz entre nossos povos.

As bruxas estavam extintas, o rei havia ordenado que matassem todos os seres que usassem magia pela floresta. Não importava se era para o bem ou para o mal, ele não aceitava a existência de pessoas com mais poderes do que sua alcatéia.

Dessa maneira, a rainha ordenou que eu e minha mãe pudéssemos viver seguras no castelo. Não deveríamos sair das barreiras de proteção, então, teríamos que viver presas naquele lugar, sem nenhuma ajuda da natureza e sem poder encontrar com ninguém além de nós mesmos.

— Precisas proteger teu amigo — ela me dizia sempre enquanto caminhávamos sob a luz da lua. — Mas não exagere, lhe dê poder para nos libertar aos poucos, e ele saberá o que fazer no futuro.

E foi isso que fiz durante anos de sua vida. Vi Apollo crescer e se tornar um ômega doce e gentil, amante de livros e de histórias de amor, alguém que eu pensava que não conseguiria lutar por ter dó de machucar uma pequena borboleta.

Lembro-me de lhe dar o apelido de Apollo quando o vi maravilhado com os deuses e suas histórias fascinantes. Apollo foi um dos mais importantes deuses da Grécia Antiga, sendo conhecido como deus do Sol, das artes, da música, da profecia, medicina e etc. Era filho de Zeus com Leto e era conhecido por sua beleza e por ser um exímio arqueiro, cabia totalmente ao que precisávamos que ele fosse. Alguém forte e destemido, que não temesse a morte e sacrifícios.

Quando enfim o momento chegou, ajudei-o a fugir deixando claro que sempre lutaria por ele. Nossa amizade era tão forte quanto ferro, e eu jamais o abandonaria na hora da necessidade.

Pude ver em seus olhos a determinação que precisávamos, sabia que apesar de muito jovem ele carregava consigo a força de um Deus tão poderoso quanto poderia ser. Ele só precisava descobrir esses poderes, e como uma boa vidente, eu sabia que iria aparecer alguém em sua vida que iria o ajudar a chegar onde queria, até que todos os ômegas conseguissem assumir o controle de suas ações.

Passado-se três luas, recebi uma carta de Hajun completamente escrita em grego. Havia o ensinado antes de deixá-lo ir para que pudéssemos nos comunicar como sempre fazíamos. No papel escrito com sangue, ele avisou que a luta iria começar. O sangue que tocava as folhas era o seu próprio, e deixava transbordar a sua força de vontade e desejo, mesmo que aquele fosse o seu fim. O jovem contou-me seu plano, avisou que tinha uma alcateia com trezentos alfas e duzentos e setenta betas que estavam dispostos a libertar todos os ômegas encarcerados. Avisou-me também que pediria ao rei um pacto por escrito, queria entregar a si mesmo em troca de todas aquelas vidas, já que parecia que a rainha o achava bem mais valioso.

De início não achei uma boa ideia, a dor de imaginar o ômega nas mãos cruéis da rainha me deixava completamente enojada. Mas não havia escolha. Apollo era a única chance de todos os ômegas que viviam sob nossas terras, não sabíamos o que iria acontecer, mas tínhamos certeza que poucos iriam sobreviver.

Então aos poucos preparamos tudo, Apollo pediu mais duas luas e foi tempo suficiente para acalmar a rainha. Inventamos todo tipo de boatos falsos, que iam de Hajun grávido à morto, porém ela acreditava por poucos dias, logo voltava a procurá-lo prometendo acabar com sua geração de uma vez por todas. O rei deixava nas mãos de sua esposa encontrar seu próprio filho, prometeu a cabeça do ômega em uma bandeira de ouro e ele cumpriria a sua promessa mesmo que aquilo fosse o tornar um monstro.

Enquanto isso, Hajun deixava todos deslumbrados com a sua força e seu poder.

Em pouco tempo, ele havia aprendido a controlar seu cheiro, o seu próprio heat, sua força e seus dons que seria útil diante de uma luta tão grande. Jungkook estava com medo, seu peito apertava só de imaginar o que aconteceria e aquilo o tornava cada dia mais fraco.

Desde que se conheceram, Jungkook e Hajun se deitavam como um casal marcado, apesar de não estarem verdadeiramente. O sentimento de amor cresceu e se tornou recíproco, porém Apollo se preocupava com o que iria acontecer no castelo, tanto, que havia implorado para o alfa não o marcar. O plano era salvar os ômega, libertá-los e os manterem seguros, porém ele sabia que não era tão fácil assim, por isso iria se entregar sem que Jungkook soubesse daquela parte em específico.

Ele não podia o contar, afinal, ele iria acabar atrapalhando, deixando seus sentimentos o dominar, e assim, tudo iria dar errado. Hajun nasceu para aquilo, era seu destino. Antes mesmo de sua mãe lhe dar a luz, nós prevemos que isso iria acontecer e por isso, cuidamos dele com tanta devoção. Ele seria alguém que nos libertaria de todo sofrimento, não poderia se entregar verdadeiramente ao amor.

— Tu foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida — um dia antes da batalha, Jungkook sussurrava em seu ouvido enquanto estavam deitados na cabana onde viviam. — Tu és tão lindo, meu Hajun.

— Sentes o meu coração batendo rápido por ti? — o ômega olhou em seus olhos. — Eu amo tudo em ti, meu soldado.

O sorriso brotou nos lábios do alfa e Apollo quis se entregar pela última vez ao lobo que ele tanto amou. Não foram necessários anos de convivência para entender que era tão dele, quanto ele era seu, apenas algumas luas e eles já estavam completamente apaixonados como se o destino brincasse com a vida dos dois em um jogo inteiramente injusto.

No outro dia, no dia em que a batalha ocorreria, Jungkook sentiu um aperto forte em seu coração no momento em que viu os olhos de Jimin se abrirem pela manhã. Eles se conectaram naquele exato instante, e o imprinting ocorreu naturalmente como se aquele dia precisasse ser marcado. Os olhos de Hajun atingiram um verde cintilante tão forte quanto o de Jungkook, e enquanto seus lobos se encontraram pela primeira vez, o alfa sentiu a dor do ômega, a dor de quem não poderia ficar.

Ele quebrou imediatamente a conexão e olhou para Hajun assustado, sabendo naquele exato instante o que ele realmente planejava fazer. O ômega não tinha palavras de conforto para lhe dar porque também não queria deixá-lo, mas não tinha opção, então ficou de pé e foi reger o povo a fim de começar logo o que tanto queria.

No caminho foi puro silêncio, Jungkook cavalgava com Hajun em seus braços estando no mesmo cavalo, e ouvia o choro baixinho do ômega que se despedia a cada metro em silêncio. Não queria que doesse tanto, não queria que o alfa soubesse o que iria acontecer, mas parecia que tudo estava contra o seu objetivo, e Jungkook se odiava por ter o colocado naquela situação. Ele não sabia o que fazer, como agir, o que sentir. Seu peito martelava quando imaginava o seu pequeno se entregando a alguém que claramente iria matá-lo, e a sua sede por sangue aumentava cada vez mais.

Hajun sabia disso, conseguia sentir pela ligação que o alfa buscava saídas. Saídas essas que ele já havia procurado, porém não existia uma. E ele se sentia machucado por não poder tirar aquilo da cabeça de seu soldado, não teria tempo.

Foi quando eles chegaram no castelo com um exército enorme que vimos que não teria mais volta. Minha mãe correu para trancar todas as entradas de nosso cubículo e me abraçou forte enquanto estávamos sentados na cama, no entanto, não foi aquilo que eu escolhi para mim. Momentos antes eu havia colocado algo em sua bebida para que ele dormisse por algum tempo, e assim que aconteceu, coloquei uma barreira de proteção no quarto e saí no intuito de ajudar na luta.

Foram várias mortes, Jungkook era implacável. Todos que tentaram encostar em Hajun morreram dolorosamente, e foi assim que conseguiram entrar no castelo dando de cara com o rei e rainha que permaneciam sentados no trono, mesmo depois de terem todos os seus soldados mortos.

Eu apareci correndo e Hajun foi rápido em ir até mim e me abraçar. A rainha me olhou feio, e soube naquele instante que sempre estive do lado mais forte. Ela havia abrigado uma traidora.

Jungkook e todos os seus lobos foram rápidos em exigir suas condições, enquanto o rei gargalhava em cada uma delas pois ele não iria entregar todos os ômegas de sua aldeia. A rainha sorria assustadoramente com seu batom vermelho que dava um toque ainda mais hediondo, eles sabiam que não iriam ser mortos pois eram a soberania do país, então, foi ali que Jungkook entendeu o sacrifício de Apollo.

— Eu fico — o ômega disse atraindo a atenção de todos. — Entregue os ômegas a Jungkook, e eu ficarei e pagarei pela a minha fuga.

— Não — Jungkook rosnou.

Seu corpo inteiro tremeu e todos se afastaram sabendo que o líder perderia o controle, e a transmutação aconteceria. Em poucos segundos o alfa havia se tornado um grande lobo negro de olhos amarelos assustadores. O rei não se surpreendeu porque desde sua entrada ele sentiu que o rapaz era diferente, seu poder era esmagador até para ele que era da realeza.

— Jungkook — Hajun gritou e se aproximou do lobo sabendo que ele não iria o atacar. Levou ambas as mãos a pelagem macia e acariciou sem se importar com a plateia que assistia. — Não faça isso, alfa. Ele irá matar todos os ômegas, é isso que queres? Estamos tão perto, tu podes salvá-los.

Não posso ficar sem você — ele encarou o ômega esperando que ele entendesse.

— Também não quero, meu soldado — o menor deixou uma única lágrima escorrer pelo seu rosto bonito, e o lobo foi rápido em lambê-lo para capturar sua dor. — Mas será necessário, acredito que iremos nos encontrar em breve, por favor, salve-os.

Naquele instante eu me lembrei de algo que a minha mãe falava constantemente sobre o amor. Ela dizia que o amor não era egoísta, mas as pessoas sim, e por essa razão quase sempre os humanos abriram mão desse sentimento genuíno. Jungkook estava em um dilema que ele jamais conseguiria resolver. Ele teria que escolher entre deixar o amor da sua vida morrer para salvar milhares de pessoas, ou salvar apenas aquele que ele amava, e deixar com que todos os outros morressem.

Todavia o poder de escolha não estava em suas mãos, pois Apollo apesar de ter falado calmo e sereno tentando acalmar o seu amado, não estava pedindo para que ele levasse os ômegas embora, e sim ordenando, e o alfa sabia disso. Sabia que a sua escolha já estava feita, e sabia também que o ômega não ia desistir, passou algumas luas conhecendo a forma que o Apollo agia e ele eu conhecia o suficiente para entender que ele era tão destemido e corajoso como nenhuma outra pessoa que eu já havia conhecido.

Por essa razão, ele escolheu fazer aquilo que o seu coração pedia. Sua mente sabia que o melhor a se fazer era obedecer e acatar as ordens de Apollo, até porque o jovem sabia o que estava fazendo, e sabia também que aquela era a única forma daquilo acabar.  Mas ele não podia deixar o seu amor partir sem lutar, e foi por isso que ele rosnou alto deixando sua íris se tornar inteira dourada. Hajun entendeu que Jungkook iria defendê-lo até a morte se necessário, e por isso, ele me olhou dando o sinal que eu, Agnes, precisava.

" Essa é a última carta que te escrevo, Agnes, pois a nossa luta se inicia amanhã. Sei o que preciso fazer e sei também que tu estará ao meu lado como sempre fizestes. Mas enquanto estou aqui deitado com Jungkook, olhando-o atentamente enquanto ele dorme, sinto seu coração apertado visto que acabamos de ter um imprinting, então devido a isso, sei o que ele está planejando fazer. Lhe peço, como um último pedido antes de me entregar ao meu destino que impeça Jungkook de me defender. Sei que será doloroso e que possivelmente ele nunca irá me perdoar, mas ele morrerá por mim nesta batalha, uma batalha que não é dele. Morrerei pelo os ômegas e pela liberdade de meu povo, é preciso que isso aconteça, ou então tudo será em vão. Por favor, se certifique de deixá-lo inconsciente até que o rei assine o tratado que troca a vida dos ômegas pela a minha, e não o deixe me ver morrer. Após o meu sacrifício os ômegas irão precisar dos dois, não os deixe sozinhos.
E antes que eu me esqueça, diga-lhe o quanto eu o amava, e que se um dia o universo for bondoso como o nosso amor, iremos nos encontrar novamente. Espero que seja sem guerras e traições, para que eu possa amá-lo por inteiro, até que sejamos um só novamente.

Com amor, Hajun.

Com apenas um estalar de dedos eu consegui apagar o lobo de Jungkook, fazendo todos ao redor grunhir pela forma que o líder foi apagado. Hajun acalmou os lobos e explicou o que aconteceria, enquanto isso, a rainha e o rei esperaram o momento que tomariam a decisão.

— Todos os ômegas libertados, em troca de tua vida? — o rei gargalhou. — Achas que vale tanto assim?

— Acho que tu não tens escolha — ele rebateu. — Tenho lobos espalhados por toda província, e eles estão agora matando os seus guardas e abrindo os calabouços — os olhos de Hajun estavam roxos, coisa que ninguém jamais havia visto antes. — A minha vida é apenas uma segurança, irei ficar e tu terás a mim, e então deixará para sempre os ômegas em paz.

— Os ômegas serão livres, Hajun? É isso que tu queres? — a rainha ômega sorriu pequeno mantendo o olhar vingativo à espreita. — Levarão todos embora?

— Sim — o ômega lúpus respondeu com tamanha certeza que assustou até a mim. — Não haverá mais guerras e nem escravidão. Os ômegas viverão como iguais até o fim dos tempos.

— Não posso prometer isso — o rei respondeu agora mantendo a expressão fechada. — Outros reis virão depois de mim, posso prometer apenas no meu reinado.

— Então ensine desde já ao meu irmão beta, princípios. Wonwoo é mais velho e deverá assumir o teu posto um dia, deixe-o ciente dos seus acordos.

Após isso, não teve mais conversa. O rei aceitou trocar a vida de milhares de ômegas pela a vida do filho.

O tratado foi assinado depressa contendo o sangue dos dois envolvidos, e eu fiquei responsável por guardá-lo e mantê-lo em segurança. Hajun dispensou os lobos pedindo para que eles levassem Jungkook e cuidasse para que ele não fizesse nenhuma loucura, e assim eles fizeram, tendo em mente que sairiam vitoriosos do lugar levando consigo todos os ômegas que pertenciam a coroa.

Só que nada de bom poderia sair daquele acordo e tínhamos em mente isso. A rainha se apressou em prender Hajun com correntes de ferro, enquanto o ômega pedia para que eu não me metesse. Coisa que eu faria se não fosse lançada para longe pelo poder de minha mãe que havia saído do quarto a fim de ajudar a rainha. Sua força foi tão grande que atravessei uma parede de concreto, desmaiando imediatamente e perdendo o que veio a acontecer a seguir.

Quando acordei confusa e machucada, estava no meio da floresta na presença da rainha e de minha mãe. Elas me contaram que era um plano desde o início das duas, fazer com que eu ajudasse Apollo a aparecer no castelo e salvar a todos, para que ela o tivesse em suas mãos. A rainha me informou que Hajun estava morto, havia sido enforcado em praça pública como um traidor que era.

Chorei copiosamente deixando as lágrimas lavarem a minha alma ainda ajoelhada em meio a folhagem, a dor de perder Apollo foi tão grande que pela primeira vez em tempos me senti humana outra vez.

— A parte mais bonita da morte de Hajun, foi quando seu alfa apareceu e o viu morrer dando o último suspiro — ela gargalhou maldosa enquanto a minha mãe me encarava. — Ele não pôde fazer nada, além de chorar sob o corpo frio daquele ômega inútil e sem escrúpulos.

Um trovão cortou o céu e a chuva caiu forte após suas palavras. Minha mãe se assustou por ter sido de repente e ela sabia que não era algo natural, não poderia ser. Meu corpo se arrepiou inteiro e ao longe dentro da floresta eu pude ver um lobo branco que brilhava intensamente com uma luz clara ao seu redor, em sua testa tinha um símbolo grego e raios de luz iluminavam sua cabeça. A rainha imediatamente olhou para o lugar onde estava a minha atenção e pareceu não enxergar nada, já a minha mãe, caiu de joelhos ao notar que aquele enorme lobo branco era a alma do ômega lúpus que haviam matado, porém agora muito mais forte como um Deus, Apollo se tornou alguém que os ômegas poderiam contar. Tão poderoso como sempre foi.

Logo após ele sumiu, deixando o conforto que eu precisava. Corvos voaram sem rumo em nossa direção, o que fez a rainha correr desesperadamente para fora da floresta. Minha mãe ajoelhada e ainda assustada me olhou com repulsa antes de ficar de pé.

— Eu te amaldiçoou hoje, Agnes, tu viverá presa nessa floresta, dia após dia, amaldiçoando ômegas que tentarem fugir de seus destinos cruéis. Serás a bruxa má que marcará cada um deles sendo inocentes ou não, e teu nome será pronunciado com nojo por aqueles que tu ajudastes. Tua marca será preta em teu pescoço, uma lembrança constante do dia de hoje, e a tua maldição só será quebrada quando Apollo retornar à vida. Terá que esperar ele morrer, e assim, estará liberta de tua punição.

Na mesma hora senti a ardência em meu pescoço denunciando que estava feito, e desde então, vivo presa entre a floresta do Sul e do Norte, precisando amaldiçoar cada ômega que tentar fugir sem os deixar o mínimo de escolha.

Durante os dias que se passaram após a morte de Apolo, acabei descobrindo que o alfa que o ajudava não aguentou e acabou cometendo suicídio. A ligação que tinham era tão forte que ele não aguentou a morte de seu amado, e acabou deixando tudo para trás. Jungkook não sabia na época, mas estavam predestinados a ficarem juntos. Podia não ser naquela época, mas agora, eles com certeza teriam uma chance de fazer dar certo.

Isso se Apollo não escolher se sacrificar mais uma vez.

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Deixe seu surto aqui:

Gente sério, a Agnes foi amaldiçoada pela própria mãe, pqp sendo que ela só fez o que ela mandou QUE ÓDIO

Pensando se gosto dela ou não, ainda estou em análise, e vocês?

Próximo capítulo será a continuação do capítulo passado, certo? Esse foi apenas um bônus da rainha pelo os 25k

Obg pela assistência, por cada votinho :(
prometo voltar rapidinho tá?

Amo vcs

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