Capítulo XII
O preconceito é o reflexo da ignorância que nos cerca [...]
Apreides
Entre as arvores das terras altas, havia o corpo de um Halfling, que tinha pequenos espasmos e um sono pesado, os sonhos profundos e que sempre o atormentavam estavam ali.
Remexeu-se inquieto em uma sela, sentindo o suor tomar a suas mãos, que se apoiavam no pito do ornamento, enquanto, o arrepio escorria em uma forma de suor. Suas mãos estavam repletas de feridas que ardiam.
A cena horrorosa era como se fosse algo solido, tangível. Os seus pensamentos estavam distantes do abstrato. O débil desdém que se referia aos cadáveres na taberna era pela experiência na dor.
Sentia seu corpo pesado, como se as lapides dos castelos das terras altas estivessem em suas costas.
Não se mata a sede bebendo água dos oceanos, Maccaus.
O sonho cinza, repleto de dor e sofrimento, instigava e fazia com que o seu pomo de adão subisse e descesse. O mundo estava mudando em uma constância alucinante.
— Hey! — sentiu uma mão firme em seu tronco. — Acorde!
Maccaus aos poucos foi tendo conhecimento do que estava ao seu redor e por um movimento abrupto agarrou o braço de quem o interrompia em seus pesadelos.
— Quem é você? — com os olhos entrecerrados buscou, com pequenos tapas em suas têmporas, se recordar daquele rosto. Mas o que diabos aquela Tielfling queria com ele? Os olhos sincronizados em um pensamento de vingança.
Ela deve ser uma amiga ou parente dos Tieflings que matei... O ciclo vicioso Tolkien, você me avisou.
— Se busca vingança, eis um bom momento. — monologou sem avidez e nem presunção.
— Não busco por vingança. — disse a jovem. — a necessidade do sangue de outro não me apraz.
— Então por que está aqui?
— Eu vivo aqui, pode parecer estranho para um guerreiro em uma caixa, mas o mundo é vasto. — disse com um olhar altivo e com um sorriso que trazia a sensação de segurança.
— É... — buscou a expressão certa. — não estou acostumado com Tieflings que não queiram cuspir ao ver meu tom de pele.
— O mundo não é apenas a placa fria dos túmulos. Existe cor. — disse erguendo o braço com o proposito de ajudar Maccaus se levantar. Ele correspondeu.
— Você parece um ser assustado e perdido. — falou com um tom tranquilizador.
— Talvez... — disse buscando novamente uma palavra. — eu esteja.
— Todos ficamos assim, não é algo exclusivo. não tenha vergonha e não se sinta o melhor por isso. O Universo não conspira e nem tem seus favoritos. — sorriu novamente.
— Como você faz?
— O que? Não entendo.
— Eu não sinto hostilidade em nada do que você faz ou diz. — a expressão de Maccaus o condenava. O Halfling estava se sentindo envergonhado pelo sangue que estava em suas mãos.
— Nem todos tem a estrutura de carregar o cheiro de sangue de seus inimigos. — deu um tapa no ombro do Halfling. — e meu nome é Apreides. Inclusive.
— Gostaria de dizer que é um prazer, mas... — abaixou a fronte.
— Sei que os dias não são os melhores, lamento pelo peso de carregar uma rivalidade anos a fio. — disse Apreides, buscando os olhos de Maccaus.
— Você realmente sabe como dizer as coisas. — sibilou.
— Vamos sair daqui. — disse dando um soco carinhoso no ombro do Halfling.
— Uma vez minha avo me contou que, embora não saiba se verdade, mas que as terras já foram unidas. Que ser um Halfling ou um Tielfling não nos afastava. Todos tinham sombras e alguém para confiar. As aves celebravam o amanhecer e lamentavam o escurecer e iam para uma região aonde o repouso era certo.
— O que aconteceu com esses dias? — disse Maccaus se esforçando em se levantar, segurando o ombro, com o receio de ser pesado demais.
—agora nos vilarejos os Lapreons raptam crianças, quanto mais crianças à sua disposição, maior é o banquete dos malditos. Os espectros do moicanos batem nas portas com impostos. Reis gordos e plebe magra.
O mapa do mundo estava abarrotado de penumbre em sua metade, penumbre densa e desencorajadora.
— Já esteve nas terras baixas? — disse arfando, realmente Maccaus não era dos mais leves.
— Nunca.
— Agradeça por isso, há Tieflings e Halflings lá, eles não têm sombra e são rancorosos. Dizem que a pele cai e que a coisa mais comum é ver ela pendendo sobre os tocos nodosos.
Os olhos de Maccaus quase saíram das órbitas.
— Definham? — disse se sentindo ingrato por ter os membros do seu corpo muito bem, obrigado.
Ambos caminharam, um silencio bateu por um tempo. Mas não era um silencio inconveniente, era um silencio necessário. O barulho dos chocalhos estavam cada vez mais altos. A alavanca da entrada de um pequeno vilarejo tinha dizeres que para Maccaus nada representavam, sentiu se curvar, mas não entendia bem o motivo. Os pés falharam ao perceberem a terra que pisava.
Terra sagrada.
O sorriso apareceu ao ver Halflings e Tieflings confraternizando. Era algo inconcebível em sua vila, não apenas ali, mas na sua vida como um todo. Aquilo era surreal.
Desvencilhou-se de Apreides e atormentado pela sede correu até um pequeno lago. Caiu de joelhos e bebeu tudo que podia.
— Vai se afogar desse jeito. — disse sorrindo.
As mãos espasmódicas sentiam a necessidade de se lavarem, tirando todo sangue que herdara da taberna. Quando Maccaus fechava seus olhos sentia os portões dos pecados se abrirem para si, mas com pequenas batidas na testa afugentava o temeroso momento de sua morte.
Os tempos foram complacentes ao afugentar da memoria de Maccaus os pecados que acometera. Sendo lapidado pelas palavras do sábios, se tornou honrado.
Mais tempos passaram, e ao fechar e abrir dos olhos, a jovem envelhecia ao seu lado. Apreides e Maccaus se apaixonavam cada vez mais.
O sorriso de canto se tornou em uma necessidade impetuosa da presença do outro em seus dias.
Tielfling e Halfling se amaram. Gerando filhos. Pequenos que não conheceram a família de seu pai, mas que ele não fazia a mínima menção e nem tinha a pretensão de apresentar.
— Lá fora, os pecados estão querendo entrar dentro de nós. Não há nada que seja belo e que pudesse valer o preço do que seria perdido aqui. — dizia sempre que um dos filhos questionava demais.
Sempre que se lembrava das palavras de Apreides sobre as terras baixas seu coração doía, como se as veias explodissem e as náuseas vinham em seguida. Se sentia bem ao se esquecer disso.
Até que o dia de sua morte se apresentou.
Maccaus Zajac foi sepultado com glorias e acolhido dentro do coração de cada morador daquele vilarejo. Levou para o sepulcro seus pecados e pesares.
Os jovens foram desobedientes e fugiram da admoestação da mãe, logo os filhos de Maccaus saíram das florestas. Queriam conquistar o mundo.
Foram vítimas de charlatões com estrelinhas no gorro e um cajado de madeira arcaica, sem previsões já estavam deitados em um sarcófago gelado. Sem luz e distantes da alegria dos cânticos.
— Quero a minha mãe... — choramingava o mais novo com o rosto entre os joelhos. — isso aqui fede.
Um morcego morto estava estendido ao seu lado. Além de inúmeros cadáveres de pequenos ratos na escuridão do canto do lagar.
— Fomos tolos em não ouvir nosso pai. — disse o mais velho. — mas temos que arcar com as consequências.
Ambos eram garotos, os mais novos da geração de Maccaus.
A porta se abriu. Um som que não estavam acostumados. E uma figura engraçada apareceu. Um homem om uma volumosa barba e que assoviava com um jeito egocêntrico.
— Qual dos dois, qual dos dois? — dizia de maneira engraçada. — qual dos dois?
Os olhos confusos entregavam que não entendiam ao certo o que aquilo dizia.
— Tenho um convite único para dois! — falava com gracejos. — Um vínculo há. Que não posso tirar, mas não posso prometer o que não posso dar.
E o "qual dos dois" se repetia.
O homem não parecia ser dos mais acolhedores, mas era uma luz em meio a trevas, realmente parecia ser algo a se confiar.
— Leve meu irmão mais novo. — disse o mais velho. — Eu consigo conviver com o meu erro e desobediência trancafiado sem a luz, porém poupe o meu irmão desse sacrifício.
Os olhos do pequeno marejaram, observando os gestos do irmão com os braços cheio de escoriações, escoriações mais fundas que as suas.
—Não. — o mais novo balbuciou.
— Ele é jovem e aprende rápido. — continuou o irmão mais velho.
— Não... — disse o pequeno.
— Ele nasceu talentoso — afirmava o mais velho, com os olhos roxos e com as mandíbulas machucadas.
— Não! — gritou o mais novo.
— O acordo fechado está, garanto que não se arrependerá. — e o mais velho foi retirado do sarcófago.
— Eu disse para salvar meu irmão. — vociferava com as lagrimas escorrendo pelo vão dos olhos muito machucados.
— Eu não quero o seu irmão, braços curtos e voz fina, quero aquele que abre mão da sua luz pelo outro. — disse sem os gracejos e o jeito bobo.
— Seja bem-vindo, a minha tripulação.
E os gritos agudos do irmão de fundo foram escutados.
— Zajaaaac. — e os portões se fecharam.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top