Capítulo II
Olhe para o carvalho, meu caro. Assim como ele não se curva. Eu também não me curvarei na vasta impunidade que aqui há[...]
Aillard Lykaios
- Eu pensei que somente era um roubo e pronto, mas vejo que a edacidade anda mais que acompanhada por essas terras. – disse Aillard na frente de Agnes, cortando o caminho. Sentindo o beliscar dos galhos que pinicavam em seu rosto. Um rosto que guardava uma cicatriz próxima aos olhos. Instantemente vociferou algumas maldições.
- Estamos nos aproximando. Fique quieto! Não quero atrair visitas inoportunas. – disse Agnes fazendo um gesto que Aillard conhecia bem. O de silêncio. "Mas nós somos as visitas inoportunas" concluiu e deu um leve sorriso ao vento, observando as estrelas, enquanto se inclina entre os arbustos, mantendo a cautela para evitar confrontos que podem ser poupados.
Ouviu um assobio distante e concluiu que era algum animal, continuou caminhando, quando percebeu que algo estava vindo em sua direção, ao sentir os olhos o observando, instantaneamente tocou as duas mãos em uma palma e disse as palavras no idioma dos encantos do resplendor dos magos negros "Lietin'nievi" e ao estala as palmas a sombra saiu de seu corpo e foi vorazmente ao encontro da pessoa que se aproximava. O alívio veio ao ouvir entre a plantação baixa um grito agudo semelhante ao de uma criança. Desejou que tivesse sido apenas sutil, e em passos largos se aproximou da pequena pessoa que estava de cócoras o observando com os olhos marejados. Os olhos de Aillard discorreram por todo o corpo da garota buscando algum possível ferimento. Nada. Apenas marcas semelhantes ao risco de grilhões pesados contra a pele exposta da criança. "O ferro maldito dos escravos" e o assobio se repetiu, porém agora, Aillard não deu a mínima.
O farfalhar foi ao encontro do ouvido de Agnes, havia mais alguém ali. E se pôs a correr para encontrar, os passos eram nítidos e bem gravados, a lama das terras a auxiliava e a experiência ranger lhe credenciava a encontrar com facilidade quem estava ali, suspeitava ser mais uma criança, mas viu de relance apenas uma capa marrom que se afastava. Correu se sentindo débil pela perda do sangue, mas precisava pegar a criatura antes que fosse tarde demais.
O ser saiu correndo em direção a uma construção antiga, que lembrava um olho gigantesco, a lente refletia a lua, e se não estivesse ofegante buscando o ser do manto, admiraria. Subiu as poucas escadas, "degraus, sempre aparece um maldito desse quando estamos correndo" e se viu em um lugar similar as cavernas dos contos manacoitianos que sua mãe lia em sua infância. O pano quente que Aillard depositou em sua mão, forçava o fluxo e impossibilitava das gotas de sangue de caírem no chão.
A respiração estava entrecortada e por fim gritou. Torcendo para que a sua intuição não errasse.
- Criança, estamos com a sua amiga. Não precisa fugir. Viemos em paz. – disse levantando as mãos, e correndo os olhos por cada detalhe daquele lugar. Até que saindo de uma escuridão, a pequena coisa de manto se apresentou e tirando o capuz se revelou uma criança Tielfling. A pele rosada e os pequenos chifres, prontos para crescer.
- Isso, não irei lhe fazer mal. Qual seu nome? – perguntou expondo um sorriso compassivo.
- Sou Greta. Eu pensei que você fosse uma das governantas do Barão. – disse com as mãos espasmódicas e entre os dentes.
- Mas eu com certeza não me visto como uma. – disse abrindo um sorrio.
- Nem tampouco cheira como uma. – disse a criança que era recíproca com o sorriso. As maçãs dos rosto não exibam marcas, mas os pulsos pareciam ter passado por uma prensa.
- O que houve com as suas mãos. – mordendo o lábio inferior em plena torcida para que a reposta não fosse o...
- Foi o barão. – aquilo foi horrivelmente preciso. A mão sem o corte, cerrou. O punho tremia em um balanço que todos os inimigos de Agnes conheciam. Ela estava irada.
- Esse maldito te tocou de maneira indevida? – perguntou, com medo da resposta que poderia sair daqueles pequenos lábios.
- Sim. – disse apontando para a genital.
- Velho filho da puta, eu vou esfolar aquele maldito! – disse nitidamente alterada. Os traços das curvas do seu rosto enrijeceram e o compasso das batidas de seu coração se alteraram nitidamente. As veias na fronte e o zumbido nas têmporas indicavam que aquilo era imperdoável.
- Venha, vamos nos juntar ao Aillard. – disse tentando tocar nas mãos de Greta.
- Vocês não vão me machucar? Estou cansada de acreditar em adultos. – disse exibindo um olhar lamentável.
- Eu prometo, ninguém ousará te tocar. – disse esticando os braços.
- O que te faz diferente dos outros?
- Eu sou idiota o suficiente para não mentir e boa o suficiente para não ser como os outros. – disse sorrindo e ao sentir a mão pequena tocando em sua mão, se sentiu aliviada, mas o ódio pelo maldito barão estava cravado em seu ser.
Os soluços espasmódicos brotavam no fundo da garganta de Greta, que aos curtos passos, nada parecidos com a sua corrida, tropeçavam em alguma raiz vistosa.
A mata estava mais escura e densa, ouvia o farfalhar de outros seres menores passando pelos seus pés, mas não se sentia bem. Era como se algo estivesse lhe puxando para um abismo perverso ou que alguém tivesse deixado cair uma bola gigante de ferro em seu ombro e eles tivessem se rompido em pequenos fragmentos. A sensação de um cotoco nodoso tocando em sua canela em cada passo que dava lhe arrancou um sentimento de raiva. Raiva de tudo que a cercava, menos a criança.
Aillard estava com a outra garota, era uma humana de olhos puxados e pele morena. Dentes incisivos balançando. O sorriso daquela criança o envolvia e percebeu um anel no mindinho da menina, uma pedra de citrino. Bela e amarela. A pedra de sua família.
- Que anel lindo. Quem lhe deu? – perguntou
Apenas o silencio. Que foi quebrado por sons de vogais, deduziu que a garota tinha dificuldade em falar, surda não poderia ser. Talvez algum problema na garganta, língua. Não sabia ao certo.
Os pensamento fluíam em um compasso cruel. E as questões de como o maldito barão poderia ter machucado aquela adorável garota. Observou os pulsos. "Maldito".
Ao perceber que Agnes não retornava, colocou a mão no vácuo e puxou o seu apito de batalha, embora essa não tenha sido a primeira função dele. Expos um sorriso na expressão que favoreceu ao um sorriso aberto da pequena.
O som do apito foi alto e agudo.
- Com certeza ela ouviu isso. - e olhou para a garota que se dispôs a rir.
- É engraçado né. Ganhei da minha avó. – disse observando o queixo fino da criança. "como alguém pode tratar essas meninas como objeto?"
- Quantos anos você tem?
Ela fez um seis com os dedos. E alargou o sorriso em direção ao rapaz.
Quando se preparava para mandar o barão novamente para os diabos, a silhueta escura dançando enquanto caminhava na direção deles fez com que ficasse em posição de combate.
- Vai me atacar? – disse Agnes que estava com uma convidada ao lado, tão pequena quanto a nova amiga de Aillard.
- Cara, chega avisando que é você! – disse o jovem que se sentia aliviado por não ser nenhum monstro.
- Aillard. Fique tranquilo! – disse Agnes mostrando a pequena que estava ao seu lado.
- Qual seu nome, princesa?
- Greta. – disse sorridente mostrando os molares para Aillard que agiu de maneira recíproca.
- Precisamos terminar essa missão o mais rápido possível. – disse Agnes. – Matamos o barão e roubamos o tesouro.
- Concordo com você. – disse tocando na resta com a intenção de secar. A tensão nos membros de Aillard o incomodava. O ar pesado e a neblina que se encaminhava até eles o deixava com a sensação desesperadora de estar preso.
- Agnes, qual foi o preço que o barão pagou pela magia do labirinto?
- A própria vida, quando ele morrer os demônios acabam com o acordo e vão buscar a alma do infeliz. – disse olhando para as duas garotas. – mais um motivo para matarmos o infeliz.
- Greta, você pode ficar com a sua amiga nesse lugar? – disse apontado para onde estavam. – precisamos que fique quieta aqui.
- Eu sei que você acha que iremos atrapalhar. – disse em resposta, a pequena tinha os olhos marcados nos olhos de Agnes, que tentou desviar, mas não conseguiu.
- Não sabemos o que virá. Entenda o nosso lado e prometo buscar vocês. – disse Aillard, sorrir com tamanha frequência não era do feitio do rapaz. Contudo, ele precisava demonstrar gentileza. O sorriso amargurado que foi extraído de sua face foi devido às lembranças, aquelas meninas lembravam-no de seu irmão que morreu. "Quantos anos ele teria agora?" "Apenas malditos levantam as mãos para crianças inocentes".
O olhar compassivo de Agnes foi assertivo e convenceu as garotas de ficarem ali. "Vai ficar tudo bem!"
E assim os dois foram seguindo a frente, deixando a marca de sangue maldito, Agnes sentia que tudo daria certo. E que finalmente aquelas crianças seriam tratadas como crianças. O sorriso compassivo de sua filha veio em sua mente. Restaurando as dores que deveriam ficar no passado. A eternidade é uma maldição terrível, e levar a sua filha com as mucosas do rosto murchas, enquanto você exibe marcas mínimas do tempo. É cruel e nada natural. Olhou para a marca que tinha feito para cobrir o solo com seu sangue e buscou voltar ao maldito trabalho.
Sentiram que outra pequena criatura os seguia, pararam. Agnes fez um sinal de silencio e tirou uma outra adaga de cabo dourado. Quando o barulho se aproximava. A silhueta pequena foi apresentada e enfim, mais uma criança. Era um garoto pequeno. De olhos azuis, de pele caucasiana e sem os dentes da frente.
O pequeno estendeu os braços espasmódicos e em meio a tentativa de se comunicar falou palavras desconhecidas.
- Você quer ir com a gente? – perguntou Aillard. Que logo foi repreendido por Agnes.
- Não tem como, rapazinho. – disse o homem. – É muito perigoso, foi quando observou entre os arbustos e a plantação seca, embaixo do luar, pequenos casebres de paus. Aquilo lhe rendeu muitos pensamentos. Não se recordava de ver no mapa a existência de uma vila. Quando se deu conta, sentiu as pequenas mãos em seus ombros. A criança relutava em perceber que a mente do adulto estava distante.
- Você sabia daquilo? – o homem ainda sem entender questiona.
- Não. – disse em seco. Agnes não compreendia. – devemos dar uma conferida.
- Sim esse é o caminho. – e o garota ainda o empurrava, mas os ombros largos de Aillard não exibiam nenhuma preocupação.
- E esse rapazinho aqui. – apontou para a cabeça do garoto.
- Achou que vai ter que ir com a gente. – disse isso, mas sentia que estava cometendo um erro. O primeiro lema de um ranger é não se colocar em risco por tolice, nem a si e nem aos parceiros, se o fizer, não serve para uma patrulha.
Os olhos altivos buscavam um caminho em meio a lama, a chuva do dia havia castigado o caminho, e as plantas ornamentais chicoteavam o rosto dos dois adultos e deslizava no pequeno garoto que estava com eles. O maldito gramadinho estavam escorregadios e fizeram com que Aillard fosse deslizar para baixo, em direção a pequena vila improvisada. As pedras que encontro no caminho marcaram os seus pulsos. Ciente da vegetação herbácea, Agnes cautelosamente desviou de possíveis armadilhas naturais.
- Você tem muito que aprender Aillard. – disse exibindo o tom de superioridade que era algo intrínseco a sua chefe. Tentando se limpar, viu que a posição não era das mais agradáveis ao perceber quem o observava com uma áurea negra, de maneira paralisada tentou não demonstrar nenhuma ação estupida.
Orcs enormes. Mais de dois metros e meio e de constituição rochosa. Os membros eram rígidos e de um tom semelhante ao das pedras escuras do cerrado de Lim. Uma aparência medonha. E um odor nauseabundo que lhe exigia esforço para não por para fora o suco gástrico.
O Orc não se incomodou com a presença de Agnes e de Aillard, muito pelo contrário, a áurea negra indicava que gostariam de conversar. Porém, o cenho se fechou ao ver a criança e os gritos ululantes inundaram todo o ambiente.
- Maltine'criatire Gritni'mjin – dizia o orc em palavras cada vez mais fortes, o tom de voz gutural fez com que Aillard enrijece. O desespero naquela voz fez com que o pomo-de-adão de Aillard subisse e descesse de uma maneira insana, os olhos buscavam algo no vazio, e fez com que Agnes engolisse em seco.
A sensação veio como uma explosão nos ouvidos de ambos, menos o da criança. Que olhava da maneira mais seca e penosa possível.
O Orc pulou em direção ao pequeno corpo quando um barulho de múltiplas costelas estourando chegou em seus ouvidos.
E lá estava Agnes com os dois grandes olhos semelhantes a jabuticaba do campo. Destruindo toda a caixa torácica do ser, os pequemos estalos semelhantes à galhos se rompendo, com um repudio expressivo apertava as vísceras. As mãos apertavam cada órgão gerando múltiplas hemorragias.
- Uuuuuuuuuggggggg. – os gritos do orc era gutural, tenebroso e de uma dor excruciante.
- Pode urrar sua coisa nojenta! Eu não falo a sua língua. – vociferou buscando a espinha dorsal e guando a encontrou cerro a mão e puxou e o estalo latente foi a última coisa que o orc escutou. Os braços abertos conseguiram arranhar as costas de Agnes. Mas aquilo não era o suficiente.
- Pensei que vocês estavam extintos. – disse cuspindo na carcaça que caiu ao seu lado.
Mais um orc se aproximou e foi nitidamente morto por Aillard que estava com a sua foice. Cortou a cabeça do ser. A sensação de estar cortando o tronco de uma arvore foi tenebrosa. Aquilo lhe pareceu perverso, mas imaginou a perversidade que passava pelos lábios e pensamentos daqueles seres. As lembranças do tio sendo morto por um orc passou pela sua mente que se tornou escura. Nada mais brotaria daquele lugar, não naquele momento e com uma velocidade alienada seus pés saltaram tendo como alvo o primeiro casebre e a foice suja de sangue foram a sua sina. Os corpos caíram um a um e o sangue espirrava no rosto, no ombro, no antebraço, tórax e bacia. Em cada parte profunda dos nobres revolucionários que estavam ali. Até a sua base. O cheiro de morte estava alucinante. A criança presenciou tudo aquilo e por um momento, como por um lampejo, Aillard sentiu um breve sorriso daquele garoto.
Sentiu um firo em sua espinha e o cheiro nauseabundo por cada parte do seu corpo. O sangue podre escorria de suas vestes. Verdadeiro significado de nojo. Se estivesse sendo o alvo do vomito dos demônios se sentiria menos atordoado.
A paisagem era de um verdadeiro vale de carcaças. Um prato aconchegante para os abutres. Agnes não perdeu tempo, tirou toda a sua roupa e ateou fogo. Aillard fez o mesmo. Ambos estavam nus.
- Você não tem nenhum manto no vácuo? – perguntou Agnes, que ainda exibia uma palidez sombria. A batalha exigiu uma força que lhe faltava.
- Claro. – e assim o fez.
Andaram pelo local. O cheiro de terra molhada vinha junto com a chuva, o cheiro de sangue estava presente também. Um orc tentou se levantar, Aillard atravessou o crânio sem piedade.
- Essa foi pelo meu tio, infeliz. – cerrando o dentes. A cabeça do orc se agitou com violência, parecia dançar. A sensação de nojo se apossou de Aillard que encerrou com mais um golpe com a foice.
Conforme continuava a suar em bicas, levou a palma da mão até a testa.
Perto deles havia mais um, ele estava com os olhos marejados e pequenos soluços. Tentava dizer algo.
- Fale a nossa língua ou eu irei cortar a sua glote! – os Orcs foram extintos por ser intoleráveis pelas outras espécies. Então decididamente se opunham a usar as mesmas palavras que os seus caçadores. E assim lamentavam em seu opróbrio. Assim como aquele ser fez.
- Eles te odeiam tanto que não querer ter nada em comum com vocês, adultos. – disse o garoto que estava a poucos metros de distância.
- Os nobres revolucionários fazem exatamente o que um aristocrata boçal faria. O dilema de não se curvar é realmente a sua realidade em um conto de fadas. – uma voz ecoou. Uma voz gutural como um trovão. – Vocês não fazem ideia do que fizeram, do que fazem e do que irão fazer.
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