Capítulo 12. No instante em que o céu desmorona e a terra se abre
Como estão peixinhos?
Capítulo 12.
No instante em que o céu desmorona e a terra se abre
Com a sensação de estar acima das nuvens, acordei aos poucos com o vento agressivo fazendo meus cabelos dificultar a visão, esfreguei os dedos sobre uma cama de penas e me levantei no instante vi as nuvens.
Merda! Puxei as penas daquela ave e tremi com a altura.
O chiado da ave que me carregava pareceu tremer os céus, era uma fênix!
Sua longa cauda de tons em uma mistura de vermelho, laranja e amarelo balançavam com graciosidade conforme seu voou. Suas penas entre meus dedos seguiam o tom vermelho, suas asas eram enormes e pareciam pegar fogo!
Sobre as nuvens, ela mergulhou ao avistar uma ilha e o vento parecia que iria arrancar meu rosto fora.
Sobrevoou sobre as terras abundantes, fez aos poucos surgir imagens de pessoas... não, aquela população eram de bestas, em diferentes formas.
Parecia como as histórias de origem de onde surgiu todos os seres ditos como malignos, as criaturas que aprisionamos.
Em cada sombra da fênix apareciam mais cenas, famílias, agricultores, fazendas, comerciantes, animais correndo como cavalos selvagens. Tudo surgia como uma miragem e sumia com o vento.
A fênix não falava comigo, imaginei não ser o momento, até ela pousar nos jardins de um palácio e lá me tirar de sua garupa.
As ruínas se transformaram em um lindo palácio, vida surgiu com algumas crianças brincando, os risos delas ecoando, algumas com chifres na cabeça, outras seus cabelos pareciam ser de penas nas pontas.
A sombra de um dragão anunciava sua chegada e arregalei os olhos ao reconhecê-lo.
Tianlong. Ele estava mudando sua forma e seus cabelos brancos como as nuvens balançaram, seu olhar era metálico e pareciam me ver ali, mas o contato não durou com as crianças correndo para suas pernas e gritando pelo pai deles.
A criatura que vivia dentro de mim foi um pai?
Era claro que foi, ele deveria ter milhões de anos.
O céu escurecia em um prelúdio de temporal, mas foi o sangue que banhou a terra e os gritos soaram, humanos prendiam as criaturas, algumas morriam no processo, outras eram tão selvagens que os cultivadores se protegiam com suas espadas.
Sangue e mais sangue deixou a terra com o cheiro da podridão e tapei o nariz.
Todos foram mortos ou capturas e esse foi o começo da história que ninguém contava.
A família de Tianlong foi presa, um por um. A fênix tentou proteger o último filho e sem êxito, ela fez Tianlong escapar. Seu grito e asas dilaceradas não suportariam perder por completo todos, seus filhos não pertenciam mais a ela, mas se um deles escapasse talvez um dia poderiam se reencontrar.
Ela se usou como escudo e o dragão, conhecido como o único que não foi domável, soou para os céus.
Virei para a fênix e seu olhar estava marejado com atenção presa nas cenas.
— O que você quer me falar com isso? — perguntei e não obtive resposta.
Tianlong estava dentro de mim e a fênix presa com o imperador Liàn, qual era o objetivo dela estar me mostrando cenas do passado?
— Não vai falar nada? — Gritei para ave gigante.
Não objetive nem seu olhar até toda a lembrança sumir e só restar as ruínas de um palácio sendo tomado pela natureza. Até a fênix sumir, virei para todos os lados, isso só podia ser um pesadelo!
Huang me tire daqui...
Alguém tocou meu ombro e achei que era a porta para sair daquele sonho horrível, o dono das mãos era uma "humano" com roupas vermelhas cheia de penas como da fênix. Seu sorriso era pequeno, e não soube dizer se era uma fêmea ou um macho.
A Fênix era pouco mais baixa, com um corpo delicado como de um ômega e em seus cabelos só a presilha da sua imagem bestial jazia.
Seus dedos acariciaram meus fios e só foi aquele momento que notei minhas madeixas brancas por inteiro.
A Fênix estava achando que sou Tianlong?
Como se lesse meus pensamentos, ela balançou a cabeça com delicadeza. Seu olhar se ergueu e entre as nuvens notei as escamas azul prateado de Tianlong, seus longos chifres como galhos de freixo, suas garras escuras. Ele deslizava pelo ar sem nos notar e o sorriso da Fênix se abriu mais.
Ela apontou para ele e depois para mim para depois colocar suas mãos sobre seu coração.
Não compreendia a linguagem, só pedi para tudo isso acabar enquanto me afastava dele.
Segurei meus cabelos, eles não podiam ficar assim ou Tianlong tomaria o controle, isso poderia ser um aviso? Não importa o caminho, o meu destino era perder o controle para o dragão dentro de mim.
Cerrei os punhos em torno dos fios e quis arrancá-los.
Huang... me tire daqui!
Fechei os olhos esperando que o sonho acabasse.
Huang...
— Yu'er! — Acordei com a voz de Huang e seu toque quente. — Pesadelos?
Pisquei, observei em volta até ter a certeza de que não estava envolvido naquele sonho estranho. Me tremia ao me jogar para frente e abraçar Huang como se fosse perdê-lo se não o segurasse.
Seus braços retribuíram o abraço, e suas mãos acariciaram minhas costas.
— Onde estamos? — balbuciei contra seu pescoço.
Aquele não era o nosso aposento, muito menos o pavilhão do palácio do príncipe herdeiro.
— Estamos no pavilhão Huánglóng, do palácio do imperador. — Me arrepiei em saber que aquele doido estava por ali perto.
Talvez em sua sala de reunião, que não deveria ser muito longe, geralmente eram sempre no mesmo pátio.
— Minha mãe ajeitou o aposento para você descansar e não... — Um pigarreio atrapalhou Huang.
Sem mostrar irritação pela falta de cortesia, meu alfa se afastou da cama no mesmo instante para dar espaço a um beta, talvez uns dois anos mais velho que Huang. Ele se apresentou como o médico do palácio interno, e pediu para verificar meu pulso.
Pelo que entendi ele ficou o tempo todo ali para poder verificar-me quando acordasse, o motivo ele não havia falado.
Os minutos passaram e o médico continuava tocando todos os pontos do meu braço.
A imperatriz apareceu algum tempo depois e ficou com seu filho próximo à porta, ninguém além dela e o eunuco Sisi entraram, no entanto, notava que havia mais alguém do lado de fora, um deles tentava espiar.
Enxotei o médico cansado de ficar com o braço para fora da cama, e meu mau-humor veio seguido de um ronco de fome, deveria ter comido melhor antes. Huang se aproximou com um sorriso e fiz birra como uma criança, meu único momento de ser mimado por meu alfa, não perderia tempo com um médico.
Minha saúde estava perfeita, mesmo que doenças pudesse me assolar, e alguns venenos pudessem criar reação em meu corpo, quase me tornava um imortal graças a Tianlong.
— Vou pedir para trazerem algo para você. — Huang tocou em meu queixo ao falar baixo.
— Quero cordeiro! — Estava com muita vontade de carne de cordeiro com vegetais.
Fiz o pedido do meu desejo para Huang e ele atentou como sempre fazia, suas ordens eram lei para os servos que saiam correndo para executar.
— Quando estava inconsciente senti um segundo batimento, mas não encontrei mais, nem mesmo agora. — O médico, apresentado como Xiaolu, comentou. — Um segundo batimento pode indicar uma gravidez, e não é raro ela se "perder" quando se está bem no começo. — Ele sorriu.
Parei meu pedido de comida na metade e meu queixo caiu.
Do que aquele beta maluco estava falando? Ele havia bebido antes do trabalho?
— Como posso estar buchudo se nem tive meu cio desde que me casei! — Joguei os braços para cima.
Meu nervosismo fez o pesadelo ser esquecido, o que era um sonho maluco quando você estava de frente do assunto mais assustador para um ômega. Algo em que não me achava preparado para embarcar.
Filhos era responsabilidade, era estar pronto para tê-los.
Como um ômega poderia engravidar fora do cio? Gritei meus pensamentos para o alto e pela reação das pessoas na porta, elas ouviram tudo.
O médico trocou um olhar com Huang.
— Não é incomum, ômegas engravidarem fora do cio. — Ele balançou a cabeça ao falar. — É muito comum conforme é a atividade sexual do casal. Além disso, o cio faz o ômega ficar ainda mais fértil e aumentar a probabilidade de ficar gravido, enquanto para uma mulher alfa é extremamente difícil durante seu cio. E fora, os ômegas, é uma questão de... — Ele não terminou a frase e nem precisava.
Uma questão de fazer o ato sexual.
Por alfas machos da nobreza sempre tinham uma esposa ômega, para ter a certeza de ter um herdeiro caso a esposa alfa não consiga engravidar. Não era estranho o fato dos príncipes, quem deu filhos boa parte era ômega.
A outra metade de um alfa. Um completava o outro conforme a natureza nos criou.
A gente dava a vida, e eles protegiam a nós. Ou era para ser assim...
Ergui o olhar para Huang, seus lábios não conseguiam esconder o sorriso de raiar, seu olhar esverdeado parecia ainda mais brilhoso. Isso era um alfa babão.
— Caso seu cio atrasar ou adiantar um mês, me avise para voltar a verificá-lo.
E caso ficasse normal? Indicaria que poderia existir outra coisa com segundo batimento dentro de mim, como Tianlong?
Seria possível? Na seita sempre verificaram meus meridianos e pulso quando acabava doente, e nunca comentaram sobre segundo batimento, no final podia ser só o prenúncio de uma gravidez mesmo.
"Você precisa parar de ficar temendo esse poder, ou ele realmente vai consumi-lo, pirralho."
O médico partiu assim que a imperatriz pediu para ele ir verificar o imperador, ela se retirou sem delongas e por algum motivo notei nem um pouco de felicidade sobre a notícia de ser vovó.
Era o filho dela, seu primogênito e único filho homem, não faria ela ficar feliz mesmo que fosse só uma especulação?
— Descanse bastante! — Huang me deu várias ordens e se questionava logo depois se era uma boa escolha para alguém prenhe.
Torci os lábios com a décima quinta ordem e dúvida seguida.
— Huang! — berrei e o puxei para a cama. — Se acalme, e primeiro quero minha comida, estou com muita fome. Depois quero um cafune e ficar abraçado com meu alfa.
Ou qualquer um que pudesse conversar para não relembrar o sonho.
Se a fênix quis me falar algo, falhou em tentar se comunicar de um jeito mais simples. Uma história trágica cheia de sangue e a aparição da criatura que temo dentro de mim, não era uma boa escolha para me dar recado.
Isso só ocorreu por chegar tão perto do imperador...
— Existe algum lugar com registros sobre as criaturas que a cada família imperial teve ou possui?
Huang franziu o cenho. A pergunta com a mudança de assunto chamaria sua atenção, mas não me importava.
— E tem algo que fale sobre as criaturas ancestrais e sua história?
Qualquer informação envolvendo Tianlong e a Fênix seria útil naquele momento.
— Na biblioteca imperial tem registros sobre membros da família imperial com seus familiares, não é muito atualizado, e sobre as histórias, tem de várias versões. — Ele me avaliou e sorri. — Sisi pode levar você antes do por-do-sol, mas volte antes de escurecer!
Existiam fantasmas no escuro? Qual era o problema de voltar depois do cair do sol.
— Quero ver meu pai e com seu estado talvez a reunião matinal de amanhã eu precise assumir. Enquanto resolvo isso, se divirta na biblioteca. — Ele apertou meu rosto e resmunguei. — Tão fofo meu Yu'er.
Desviei o olhar, que alfa irritante!
— Pedi para trazerem seu presente para cá, espero que goste dele.
Além dos doces, havia mais presentes. Tudo que ele viu e imaginou-me gostando, Huang trouxe consigo, em questão de menos de uma vara de incenso, os doces caiam de meus braços e encarava uma estatueta de açúcar em formato de tigre.
Raiju achou um insulto a sua imagem e o ignorei.
Era tão gostoso e devorei a cabeça primeiro para fazer meu familiar ficar quieto, isso o fez sair e se atirar em um ataque de fúria felina sobre Huang, Raiju só parou ao ver Bake e assim voltou a se comportar como a criatura superior de sempre.
Sisi avisou que o médico havia deixado os aposentos do imperador naquele momento e foi a deixa para Huang partir antes do outro presente chegar.
Pedi ajuda para o beta arranjar algum local para os doces e uma vasilha foi enchida de tanta sobremesa embrulhada. Ele ia me deixar com cáries assim!
Preferi ir primeiro para o salão de registros, não era tão longe do palácio do imperador e da imperatriz, porém, andei um bom tempo até entrarmos em um pavilhão com uma placa simples anunciando a chegada em nosso destino. Sisi falou primeiro com o encarregado e mostrou um selo de jade branco, era o mesmo que sempre ficava pendurado no cinto de Huang.
Isso me deu passagem para as fileiras de registros, era uma sala bem grande, o cheiro era de mofo e papel, nem mesmo incenso queimando em dois pontos conseguia amenizar. Pela falta de iluminação, uma lamparina foi acessa e o bibliotecário me guiou.
Sua idade deveria beirar aos setenta, cabelos bem brancos, presos em um coque simples, a largura dos ombros parecia ser de uma mulher, a falta de feromônios deixava claro ser um beta.
— Posso saber seu nome? — pigarrei atrás da pessoa quase espirrando.
— Pode me chamar de Lingli, alteza. — Ela fitou sobre seus ombros e voltou andar. — Qual seu interesse nos registros da família imperial para o príncipe herdeiro autorizar? O imperador sabe disso?
Ela fazia perguntas demais.
Afinei meu olhar e ela parou, suas costas curvadas se endireitando para erguer a luz em frente de nossos rostos.
Um rosnado soou no escuro, seguida por uma piada de Raiju sobre a limpeza desse lugar. Seus dedos percorreram por uma sessão antes dele erguer um livro e estender para mim, mas seu olhar nunca saia da beta.
Lingli deu um passo para trás e as sombras ocuparam mais do rosto de Raiju e seu olhar dourado brilhou. Ele era um felino predador, o escuro era seu ambiente.
— A maior das bestas milenar... — Ela balbuciou.
Algo em seu olhar era de admiração e não medo quando voltou a dar alguns passos a frente. Raiju a achou interessante por essa reação.
— Espero que tudo que for dito aqui fique entre nós, Lingli. — Sorri sem gentileza em meus traços.
— Siga-me. — Ela mudou de direção.
Fitei o livro em mãos, era sobre Tianlong e isso fez um arrepio percorrer minha espinha.
A beta me guiou até uma mesa nos fundos e sumiu entre as prateleiras de madeira.
Passei o dedo pela pilha de registros que ela trouxe, alguns escritos em bambu, outros encadernados, e a torre conseguia tirar meu campo de visão do outro lado.
Teria algo resumido?
Comecei pelo mais interessante, saber sobre a família imperial.
— Algo em específico que procura? — A beta preparava chá ao perguntar.
— Sobre a Fênix... — balbuciei ao ler um dos livros.
Ela poderia ter as respostas para meus sonhos frequentes, se ela foi a rainha de Tialong, precisava haver conexão.
— Quando cheguei perto do imperador... ela invadiu meus sonhos, me mostrou histórias. E sinto que exista um pedido... — Não deveria estar confiando essas informações com quem mal conhecia, mas elas simplesmente deslizavam pela língua.
Se Lingli fosse uma ameaça para minha vida com essas informações, Huang cuidaria disso, ou Raiju.
Ela ofereceu chá e deixei ao lado de Raiju, uma tática para ele farejar alguma erva venenosa, o bom de ter um felino era a habilidade de faro deles. E duas mexidas de orelhas era sinal negativo.
— O imperador carrega uma Fênix, realmente. — Sua voz era quase em um sussurro.
Ela bebeu um pouco de chá e voltou sua atenção para os registros como se perdesse nos pensamentos.
— Assim como sua alteza que faleceu há muito tempo.
Que príncipe carregava uma Fênix...? Peguei o registro familiar e folheei até a dinastia atual. Príncipes que não herdavam o trono faziam parte do ministério em sua maioria, era tudo conforme o desejo do imperador atual, suas ligações na corte e seus talentos.
Assim como Huang teve 13 irmãos, o imperador Liàn tem que ter tido também, além de tios e primos jovens.
Huang Li. Huang Yuexiang, Huang Jun, Huang Lien.
Desci o olhar até encontrar o imperador atual, ele teve três irmãos, todos da mesma mãe. Um deles era vivo ainda, o mais novo. O falecido e primogênito era um...
Arregalei os olhos.
Ômega. Huang Junjie, o príncipe herdeiro e portador da Fênix. Seu poder era gigante, liderou tropas contra o reino inimigo e saiu vitorioso mesmo com os números pequenos em comparação ao adversário.
Junjie foi o príncipe mais amado e admirado pela capital. O ômega que herdaria o trono conforme o imperador na época decretou, e pouco após assumir ao trono, ele morreu.
E seu segundo irmão assumiu o trono, Huang Liàn.
Huang Liàn capturou a Fênix que antes pertencia ao irmão mais velho e a tornou um familiar, o marido de Junjie é o marechal mais influente de Yùhua, no entanto, não tem muita informação, além disso.
— Você chegou a conhecer o príncipe Junjie? — Com os livro em mãos, ergui o suficiente a atenção para a beta com seu chá.
Precisava tomar cuidado com a beta, ela era esperta e me empurrava para seu jogo.
Sua cabeça meneou em um assentir leve.
— Quem o matou?
Ela continuou a beber seu chá com tranquilidade, e a vela ao nosso lado balançou, mesmo o sol brilhasse lá fora e o vento bastasse contra as janelas fechadas, lá dentro era escuro e quente demais.
Suas órbitas eram de um castanho-claro, frios e sem vida.
— O quanto você confia no príncipe a qual é casado? — Ela nem se importou em ignorar a pergunta que havia feito.
Suspirei ao largar o caderno ao lado de Raiju.
— O suficiente para destruir qualquer um por ele.
Ela não esboçou nenhuma reação com a resposta, e achei estranho, ela esperava então isso? Minha lealdade a Huang.
— Não sei quem é você exatamente ou se está envolvida nos desastres. — Apontei para o livro. — Mas não ache que vai tocar no meu Huang e sair viva, não compre essa briga.
Mirei no canto vazio da sala, logo atrás da beta e afinei o olhar até um baque invisível soar. Jorogumo eram ótimas em se esconder, assim como letais pelo veneno de aranha. A criatura apareceu e Raiju lambeu os lábios.
Como ele adorava uma luta e se deliciar com os poderes que se alimentava.
— Podemos voltar para o outro assunto? — Sorri ao estender o registro em sua direção. — Me fale mais do príncipe ômega.
— A resposta está bem debaixo do seu nariz. — Ela respondeu ao se virar em direção ao seu familiar.
Os livros teriam ela?
Não, era os livros.
— Você está dizendo que irmão matou outro irmão?
Ela ficou em silêncio com sua atenção sobre a vela maior na mesa, com suas chamas balançando conforme o balançar da cauda de Raiju enviava uma rajada de vento.
— Por qual motivo? — Se isso fosse verdade, indicaria seu jeito com os ômegas.
Ele se preparou para ser o próximo herdeiro para perder ao irmão ômega, na visão dele, uma criatura mais frágil e dependente de um alfa. Era raro não encontrar um alfa que aceitava baixar a cabeça para um ômega, e ainda mais um que aceitasse perder mesmo em uma batalha justa.
Alfas acreditavam ser acima de todos, ou metade deles acreditavam.
— Jogo pelo trono não é incomum.
Irmãos se matando por um trono...
— E nesse jogo nunca é um contra um. — Ela apontou para o nome do imperador atual onde começava sua árvore ao lado do nome da imperatriz.
— Você não me respondeu uma pergunta. — Ela parou ao se levantar pela metade. — Você conhecia o príncipe Junjie?
Um nome tão bonito, e se ele era tão incrível, teria adorado conhecê-lo e lutar em um duelo.
Huang saberia sobre esse seu tio? Pela data do falecimento, Huang nem era nascido, e duvidava que teriam contado alguma história, o imperador Liàn deve ter feito o nome do irmão desaparecer da boca de todos e dos pensamentos.
Um guerreiro formidável sem história nos livros. O primeiro imperador ômega apagado da boca do povo por inveja.
— Ele era meu genro que esperava meu neto. — Ela respondeu em sussurro sofrido.
Seus passos eram silenciosos ao se retirar com os ombros caídos.
Cruel demais, um pai alfa aceitar colaborar na morte de um ômega carregando seu próprio filho, e para ganhar o que no final?
Continuei a ler por algum tempo, não encontrando o que precisava.
Huang Junjie teve a Fênix como familiar desde pequeno, era um prodígio nas artes marciais e no estudo, um amante de poesia, talentoso na música. Ele ficou quase um ano próximo das fronteiras, mas não havia indicio de invasão no período, e seu único feito foi na liderança contra o inimigo, quase um ano antes dessa viagem.
Para que os nobres viajam para próximo das fronteiras além de lutar na guerra? Férias? Fugir de algo ou alguém? Viver um romance escondido?
Nenhuma resposta veio.
Dois meses depois do seu retorno para a capital, ele se casou com o atual Marechal comandante do exército, e menos de um ano depois seu pai imperial adoeceu e ele assumiu o trono, reinando por um ano e meio.
Huang Liàn não podia matar ele tão rápido, era óbvio.
Um pigarreio tirou minha concentração e ergui a atenção para o eunuco próximo. Sisi sorria com gentileza ao anunciar precisávamos voltar.
Segui meu olhar para a janela e o sol sumia atrás dos telhados dourados e escuros.
Fiz birra, mas não adiantou muito, era de se admirar ele trabelhe com Huang desde meu alfa era uma criança. As minhas táticas não funcionariam, na verdade, só funcionava em Huang e amava isso!
Ser mimado era ótimo.
— Vou obedecer por que estou com saudades do Huang. — Me levantei ao jogar um caderno sobre Raiju e o acordar.
A beta não dirigiu nenhuma palavra, só um baixar de cabeça.
Sisi carregava uma lanterna e notei nenhuma da rua foi acendida, as sombras davam um ar assustador ao percorrer a pedra branca do chão, as arquiteturas e muros grandes bloqueavam o restante da luz do sol.
Cantarolei ao saltitar ao lado de Sisi.
Voltamos pelo mesmo trajeto, e não havia percebido como havia tantas árvores em alguns locais, nem mesmo quando a voz de Raiju sessou.
Sisi foi o primeiro a parar e meu assovio de música cessar. Observei o velho eunuco percorrer sua atenção para os muros e árvores e sua lanterna tremer rapidamente.
Vislumbrei um homem, pelo porte só poderia ser, pular o muro, e depois outro e outro. Mascarados e trajados de preto, o olhar deles correram até mim e suas lâminas foram desembainhadas.
— Isso tudo é para mim? — Apontei para os...
Eles pararam quando me viram contando as cabeças. Dez, dez alfas e betas pela falta de feromônio e outros com a presença massiva que os alfas adoravam expelir para intimidar ômegas.
Amadores.
— Fiz inimigos na corte, que divertido. — Bati as mãos ao mostrar animação.
Será que era um adversário forte? Alguém me daria uma luta boa ou quem sabe não se curvaria com a libertação de todo meu poder espiritual, seria divertido.
Puxei Sisi ao vê-lo querer me proteger, ele nem tinha cultivo, a menos que fosse um mestre em artes marciais, seria inútil contra dez matadores, e não deixaria um assistente leal de Huang morrer por ser uma isca.
Não fugiria.
— Vocês não falariam se eu perguntasse quem os mandou, certo? — Nenhuma resposta só o tilintar de pedras sendo colocadas no chão.
Brilhosas, elas pareciam emitir uma luz fraca.
Seladoras de familiares e atributos, também conhecidas como pedras anti-magia, uma besta não poderia aparecer ao ser chamada por um cultivador, assim como ele não poderia usar seus tributos na forma de conjuração.
Isso para quem seguia a natureza.
Sem poder brincar com um bando de matadores para não ter perigo contra a vida de Sisi, estalei os dedos e joguei a energia espiritual contra os dez. Eles foram jogados contra muros e árvores e assim ficaram.
— Patético — respondi indiferente.
Esperei que se levantassem para continuar a brincadeira. Nada.
Torci os lábios, eles realmente eram patéticos, isso era o melhor que podiam fazer.
Ouvi um estalo de ganho e me virei com a empolgação de volta, mas meu adversário tremia ao tentar fugir na espreita, com uma espada curta em mãos, ele a colocou para frente como se isso o protegesse.
— Você não é um ômega! — Não sabia se ele perguntava ou afirmava.
Dei de ombros. Isso não era nem um aquecimento.
— Tem medo de um ômega? — Provoquei com um sorriso.
Isso fez sua tremedeira parar, ego de alfa. Ela segurou com as duas mãos sua espada antes de avançar, ele era um amador, sua postura anterior já o revelava.
Alguém me subestimou e não me conhecia.
Cravei as unhas no braço que me agarrou por trás me girando, não havia sentido Huang aparecer, nem mesmo seu cheiro.
O outro alfa foi chutado para longe e só assim Huang me soltou.
— Você está bem? — Huang me apertava todo preocupado, isso era tão fofo.
— Eles que não estão. — Apontei para alguns corpos atrás de mim.
O coitado do eunuco continuava paralisado com sua lanterna a alguns passos de nós.
Huang suspirou e abriu um sorriso pequeno, mas se ele queria ser meu herói, tudo bem. Era bom ser mimado por ele.
— Me protege, Huang. — Pulei para frente, o desestabilizando. — E depois me dê comida, estou com fome! — Ele riu.
Sou um pobre ômega sem comida.
— Quem você irritou para mandarem tantos... assassinos? — Huang sussurrou ao passar o olhar por todos os caídos.
O único homem de pé se levantava enrolando suas pernas e quase caindo de novo. Ele tremeu com sua atenção em Huang, como havia imaginado, eram só amadores contratados para aparentar serem assassinos, e pela reação ao ver Huang, tudo aquilo foi para mim.
Lingli... A beta teria motivos para me silenciar, minha lealdade estava com Huang mesmo que desgostasse do imperador Liàn, mas onde ela conseguiria tantas pessoas em uma questão de menos de duas horas.
Teria que ter outra pessoa envolvida para ajudá-la.
— Quem o mandou? — Huang caminhou até o alfa assustado.
Se fosse leal ao seu subordinado já teria cometido suicídio, as pessoas por trás não eram influentes a esse ponto.
Sua reação ao olhar duas vezes para as árvores não passou despercebido. Fiz o mesmo, era difícil de distinguir uma pessoa vestida de preta com a falta da luz do sol, nesse momento só a lanterna de Sisi dava luz para o ambiente, e a lua nem brilhava em seu auge para dependermos dela.
Uma questão de desatenção foi o suficiente para o balançar de um galho e o disparo de uma flecha.
Não sabia se poderia ter o reflexo de Huang para reagir, uma questão de segundos ela teria se cravado em mim, mirado diretamente em minha cabeça e pego no ombro de Huang.
O segurei pelo impacto e desabei com ele no chão.
O sangue encharcou meus dedos e meu coração se apertou com gemido de dor de Huang, sua única preocupação era me proteger para nenhuma outra flecha me acertar, quando era ele quem deveria se preocupar com sua vida, ele era o príncipe herdeiro!
Outra flecha estava sendo puxada.
Cerrei os dentes. Não dessa vez...
Parei a flecha escura no meio do caminho com a pressão espiritual sobre ela, um arqueiro experiente saberia que precisaria ser rápido se quisesse atirar uma segunda flecha, ou precisaria mudar seu local.
Girei os dedos e a flecha fez o mesmo, não importava se ela acertaria o dono, esmagaria todas as árvores para matar aquela barata.
Ela voou e seu dono se jogou para frente para se defender, isso o fez se desequilibrar e cair do galho, o muro abaixo dele, só piorou a situação e algo foi quebrado com o impacto. O macho, um beta por conseguir se esconder tão bem, tentou arrastar sua perna machucada e fugir enquanto o outro soldado dava cobertura.
Muitos dos dez que derrotei estavam só inconscientes, não precisávamos daqueles dois.
Ninguém machuca meu alfa.
— Morram... — balbuciei e os esmaguei de dentro para fora.
Como agradecia essa energia espiritual de Tianlong, ele me trazia muito benéfico e iria aproveitar.
O sangue pingou pela boca deles, foi o suficiente para caírem de joelhos e aos poucos morreram em agonia. Esmagar órgãos que não fosse o coração e o cérebro dava uma morte mais lenta e deliciosa de se assistir.
Isso seria o aviso para não acertarem mais meu alfa.
— Nunca vou pensar em irritar meu ômega. — Huang riu e graniu com a dor.
Sorri de leve.
Não sabia tirar uma flecha e poderia piorar tudo, com Sisi em pânico não sabendo se chamava alguém ou socorria Huang, o eunuco não ajudaria na questão, e Huang não conseguiria tirar algo que veio pelas costas.
— Não sei ajudar... — sussurrei ajoelhado em sua frente. — Posso ajudar a curá-lo, mas não com a flecha aí.
Na verdade, não sabia se poderia ajudar, sempre me curei durante as lutas, não importasse o tamanho do ferimento, só existia uma regra, precisava ter atributo magico envolvido. Aquela flecha não estava emitindo energia magica, a melhor solução era levar Huang até o médico.
O barulho de metal e botas contra a pedra soou e me preparei para derrubar quantos viessem, o som chegou mais perto em conjunto com a luz alaranjada das lanternas. O grupo era liderado pelo príncipe Yan e ao seu lado estava Hǎiyáng.
Yan correu até nós, suas ordens foram gritadas e mais soldados apareceram em volta para ajudar Huang, ninguém ousou retirar a flecha, apenas quebrar a ponta onde a pena ficava.
— E você? — Yan me puxou para si e percebi não ter reagido quando levaram Huang para longe.
Ele ficaria bem, certo?
— Todos estão... mortos? — Yan continuava.
Hǎiyáng tocou meu ombro, meu único amigo me puxou para seus braços mesmo que nem conseguisse fechar seus braços em torno de mim, ele era mais baixinho, uma altura padrão de ômegas.
Suspirei.
Havia deixado Huang se machucar pela minha desatenção.
Sisi ficou para trás explicando o que havia ocorrido e quais estavam mortos, por todo o caminho, tentei fugir dos meus pensamentos com atenção em meu torno, as reações dos soldados me ajudava um pouco.
Muitos baixavam a cabeça, outros cochichavam com seus colegas próximos.
O aposento ficou lotado com a chegada de médicos, empregados e irmãos de Huang, todos estavam lá, até mesmo o imperador Liàn. Não quis entrar e Hǎiyáng veio logo atrás confuso.
— Está fugindo dele...? — Como ômega, que já esteve sob a atenção do imperador, Hǎiyáng conseguia me compreender bem quando a questão era sobre Huang Liàn.
Pouco me importava com um imperador suicida, ele sabia que a Fênix o matava aos poucos e mesmo assim não libertava a besta, preferia morrer com o queixo erguido por algum motivo. Tudo deveria estar ligado ao seu irmão ômega.
Procurei um lugar para ficar escondido, a sensação de ter fracasso esmagava meu amago, Huang poderia estar ainda pior, tudo por culpa minha, algo que Shifu sempre chamava minha atenção.
Quando se estava no meio de um ataque, a desatenção poderia custar sua vida. E mesmo que isso ele repetisse dezenas de vezes, falhei e deixei Huang se machucar por meus erros...
Hǎiyáng ficou comigo em silêncio, com atenção em mim e no local que dava a visão para as portas do pavilhão. As lanternas de pedras estavam todas acesas e clareavam todo o pátio, se esconder bem estava fora de questão, pelo menos ali só ouvia se algum servo passava.
Não sei quanto tempo fiquei encolhido em meu canto, com os joelhos contra o peito e a cabeça escondida, mas a lua brilhava em seu alto.
— Saia da frente! — O timbre agressivo era de Huang.
Ele se aproximava com passos fortes e outros se afastavam.
— Onde ele está? — Huang parecia perguntar para alguém. — Yu'er.
Ergui de leve a cabeça para bisbilhotar, Hǎiyáng partia ao lado de um dos assistentes betas, em poucos segundos, o som da natureza era ouvida em conjunto da respiração ofegante de Huang.
Ele suspirou e se sentou ao meu lado.
— Você está se culpando, não é? — Seus dedos tocaram o topo da minha cabeça.
Resmunguei como uma criança com a presilha caindo e Huang fazendo uma bagunça em meus fios.
— Só queria proteger você, sei que você é incrível na luta, porém, deixe-me salvar você às vezes. — Seus dedos escorreram pelo meu rosto até pousarem em meu queixo. — Você não precisa carregar tudo sozinho, sou seu alfa e marido, também quero proteger você.
Ter alguém me protegendo... sempre lutei para sobreviver, não importa o ambiente ou pessoas que estivessem em minha volta, só poderia confiar em mim. Soube o que era parceria com Raiju, mas ter uma pessoa não ligada a mim indo para a batalha para me proteger, era...
Bom.
— Minha desatenção fez você se machucar... — balbuciei entre os joelhos. — Se eu não tivesse... — Esfreguei a testa contra meus braços.
Ele me empurrou com força e me desequilibrei. Pisquei ao apoiar o cotovelo no chão, isso fez meu casulo se desmanchar. Encarei Huang e pela primeira vez notei a falta de brilho em suas gemas ao fitar-me.
Sempre caloroso e gentil, era como se estivesse vendo o alfa a quem a matriarca uma fez descreveu.
— Não somos perfeitos, Yuan! — Sua voz era firme e grave. — Não cobre algo desse nível, todos falham em algum momento e está tudo bem. Falhar não é o fim, é o começo para um novo parágrafo.
Ele me puxou para seu peito, sem formar alguma palavra em meus lábios, baixei a cabeça me escondendo em seu pescoço.
Huang estava enganado, ele era o alfa mais perfeito.
— E você precisa tomar cuidado, se estiver mesmo grávido tudo pode ser um perigo... — Ele sussurrou.
A corte era perigosa demais.
Irmão contra irmão, família contra família. Um jogo por poder e para ser a maior figura do reino, pelo prazer em estar sobre os outros.
— O que acha sobre o ataque? — perguntei com a cabeça descansando em seu ombro bom.
Desde que ele chegou, deixou seu ombro ferido a mostra, as bandagens estavam ruins, como se tivesse sido feita as pressas. O importante era não infeccionar, mas ele havia deixado tratá-lo mesmo?
Cutuquei a bandagem e Huang chiou.
O sangue manchou rápido as bandagens e dei um pulo, ele não havia tratado aquilo!
— Huang! — Estapeei seu ombro bom.
O fiz se levantar, iria carregá-lo se fosse preciso até o médico.
— Estou bem, e você sumiu por isso não deixei o médico continuar.
Tudo isso só para me seguir? Suspirei para não sorrir, é meu alfa grudento mesmo.
— Vamos voltar, nesse estado, como vai me proteger, alfa? — O provoquei ao ajudá-lo a se levantar.
Huang riu.
Não sabia se o ataque foi direcionado a mim ou foi para atingir Huang, se ainda existia um irmão vivo, ele poderia também querer o trono. Um herdeiro de Huang só faria as coisas se complicarem para esse terceiro.
Não importava muito nesse momento, agora precisava fazer Huang ficar quieto até o médico cuidar desse ombro. Por sorte, alfas carregavam uma benção da natureza e se curavam muito mais rápido.
Bando de sortudos.
Notas da autora:
Yuan: Ai eu desmaiei, mas já quero ir aprontar e achar informações. E ser mimado pelo meu alfa kkkkkk
Esse Yuan.
Até proximo capítulo!
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