Ultima Esperança
Júlia
No começo eu só ouvia os gritos meus e de Susana, sem nem entender muito que que diziam, enquanto colocava Camila em sua cama. Em algum momento as palavras começaram a fazer sentido.
— O QUE VAMOS FAZER?!! — Gritou Susana olhando desesperada para a poça, cada vez maior, de sangue que manchava as cobertas da cama de Camila.
— PEGA ALGUM TECIDO!! — Gritei, mordendo os labios, e tentando me lembrar de alguma coisa que se faz em situações como essa.
Susana assentiu, parecendo não compreender muito a minha ordem, e rasgou um pedaço de tecido da colcha de minha cama — O que em outra situação teria me deixado irritada.
Enquanto pensava em mais algo que podíamos fazer, tentava não olhar para o sangue de Camila, manchando a sua cama de vermelho, o que me deixava estranhamente enjoada. Passar mal não era uma boa opção.
Não tínhamos recursos medicinais algum, o que reduzia drasticamente nossas opções, que já eram quase nula.
— AQUI!! — Gritou Susana de repente me sobressaltado, jogando um pedaço de tecido em minha direção, que peguei por puro reflexo. Tinha até me esquecido que tinha pedido ele, de tão imersa que estava em meus pensamentos, mas logo voltei ao mundo e amarrei o tecido em seu machucado, tentando ser gentil, mas ainda assim firme, pretendendo parar o sangramento.
Isso não estava funcionando muito.
— E AGORA?!!
— Eu não sei!! — Gritei, meus olhos lagrimejando pelo profundo desespero que sentia. Não tínhamos opções. Não podíamos fazer mais nada. Nada!
"Não é hora de entrar em pânico" Lembrei a mim mesma.
— Pega mais tecido!! — Instrui-lhe, em seguida virei minha cabeça para olhar o rosto desacordado de minha prima — Você vai ficar bem — Sussurrei, tentando mais a convencer a mim mesma.
Mas... Uma parte de mim gritava que... Não... Ela não vai ficar bem.
Susana novamente jogou o pedaço de tecido de minha colcha em minha direção, a qual eu agarrei rapidamente e, como na vez passada, amarrei esse novo tecido em seu braço, que parecia estranhamente frágil, fazendo uma segunda camada. Como dizem, dois é melhor que um
Mais esse princípio não parecia se aplicar muito bem nessa situação.
— O que a gente faz? — Perguntou Susana me olhando, o pavor estampado em seu rosto. Parecia que eu estava vendo meu próprio desespero nos olhos vermelhos de minha irmã.
— Eu... Não sei — Sussurrei, caindo ajoelhada no chão, meus olhos úmidos. Eu não tinha idéia alguma do que fazer. Camila vai...
Não me permiti terminar esse pensamento. A dor que eu sentia com esse simples pensamentos era horrivel. Estremeci ao pensar na dor se... Esse pensamento se concretiza-se.
— Ela vai ficar bem — Sussurrou Susana me abraçando. Que ironia do destino, eu que devia estar confortando ela, e não o contrário
Suas palavras não me convenceram. Se suas palavras não convencia nem à ela, como iria me convencer?
— É, acho que sim — menti, minha voz falhando uma vez, enquanto limpava as lágrimas, que começavam a transbordar, com a costa da mão.
Eu tinha que ser forte. Eu não podia chorar. Não tinha escolha. Mesmo que essa tristeza a cada segundo insistia em transbordar em forma de lágrimas.
Tinha que aguentar, por Susana, minha irmã mais nova.
Tentando não pensar na situação horrível que estávamos passando... Rezei. Rezei para Camila ficar boa. Rezei para que esse pesadelo acabasse.
Como eu queria que tudo isso não passasse de um pesadelo! Que há qualquer momento eu acordaria em minha cama, em minha casa, onde tudo é puramente comum.
Me imaginei contando à elas sobre o sonho. Elas ririam do meu sonho doido, claro, e provavelmente me achariam uma completa maluca. Naquela situação eu não ligaria para o que achariam de mim. Estaria aliviada de mais para me importar.
" Acho que comeu chocolate de mais ontem, Ju"
" Minha nossa! Que sonho doido"
Provavelmente seria algo assim que diriam
"Ah, eu não tenho culpa do que eu sonho" Era o que eu diria, com um sorriso. Sorrir era a última coisa que eu queria fazer nesse momento.
Apesar desse pensamento, sorri tristemente por esses pensamentos.
Uma mancha branca me chamou a atenção, distraindo-me de meus pensamentos tristes.
Pisquei, confusa. O que será que é?
Me levantei da cama, mal ouvindo o barulho que tal ato provocava, e caminhei a passos lentos em direção do bloco de madeira que usávamos como cômoda — lugar de onde eu teorizava que vinha o brilho.
Era um frasco, notei depois de dar cinco passos.
Caminhei mais lentamente, desconfiada e confusa. De onde que veio esse frasco?
Ele não estava ali até alguns minutos atrás. Ou então eu não tinha notado — O que era mais provável.
Parei em frente a cômoda examinando o frasco. Mas examinar era muito útil. O frasco era tão pequeno!
Estendi a mão para pegar o frasco, mas hesitei, minha mão parando na metade do caminho.
E se o frasco fosse alguma espécie de armadilha? E se quando eu o tocasse ele, sei lá, explodiria?
— O que você está fazendo? — Sussurrou Susana. Ignorei-a, presa em minha própria bolha. Tudo fora dessa bolha não me importava.
Mas a pergunta de Susana me distraiu o suficiente para que minha mão se mexesse sozinha e pegasse o pequeno frasco.
Assim que esse ato foi completo, me arrependi e xinguei mentalmente minha irmã. Fechei os olhos com força, esperando pela explosão.
Nada aconteceu. Abri lentamente os olhos, temerosa. Mas minha cautela era desnecessária, tudo continuava da mesma forma.
"Bom, só o que mudou foi que agora eu estou com um frasco na minha mão" Me corrigi em meus pensamentos.
Movi minha mão, para que o frasco misterioso ficasse mais perto de meu rosto, com o intuito de ler as pequenas e brilhantes palavras que estavam escritas numa letra elegante no rótulo
Com as esperanças renovadas, caminhei até a cama onde Camila estava deitada.
— O que é isso? — Perguntou Susana ao ver que eu segurava um frasco.
— Nossa última esperança — Respondi sem olha-lá
Segundo o rótulo, esse frasco era um remédio que curava tudo.
Então, se ele cura qualquer coisa, quer dizer que ele também pode curar o ferimentos de Camila, né?
Suspirei e pinguei duas gotas do remédio — O remédio tinha um conta-gotas — sobre o machucado de Camila
Nada pareceu acontecer. Pinguei mais 5 gotas. Nenhuma mudança que pude perceber.
Com um suspiro de frustração, joguei o resto do remédio no machucado de Camila, tomando cuidado para nenhuma gota seja desperdiçada — E me surpreendendo com o tanto de líquido que tem em um frasco tão pequeno.
Sim, o remédio estava curando o machucado de Camila. Mas bem pouco.
Só cerca de 10% do machucado sumiu, com o frasco inteiro.
O alívio que eu sentia foi substituído por um profundo pânico. Maior do que eu sentira há alguns minutos.
Não tinha mais o que podíamos fazer.
Minhas pernas começaram a tremer, ao eu ver a verdade nessas palavras. De repente foi requer uma grande força para conseguir ficar em pé. Minhas pernas estavam bambas, não conseguindo suportar direito o resto de meu corpo.
Que remédio ruim!
— Última chance — Sussurrou Susana por lábios que mal se mexiam — destruída
Tive que arranjar uma parcela de força que eu não sentia, para conseguir abraçar minha irmã.
— Tudo vai ficar bem no final — Sussurrei, tentando convencer mais a mim mesma.
— Será? — Perguntou Susana. Isso me machucou. Ultimamente era Camila que deixava as perguntas no ar, perguntas que nenhuma de nós queria nem ouvir.
Me esforcei para manter a expressão neutra, tentando não demonstrar o quanto aquela única palavra me atingira.
— Claro — Menti forçando um sorriso.
Ficamos em silêncio. Eu conseguia sentir a tensão que se instalou no ar. Tensão tanto presente em nós, quanto no ar. Tensão, medo e tristeza eram os sentimentos que prevaleciam em nós.
— Primas... — Uma voz fraca cortou o silêncio. Olhei em volta e vi quem era que falou.
Era Camila. Fraca e parecendo a beira da morte, mas era Camila.
— Camila... — Sussurrei, meus olhos lagrimejando.
— Gente, eu queria agradecer... Por tudo que fizeram. Tudo. Obrigada por serem minhas amigas — Sussurrou Camila num fio de voz.
— Não... — Começou Susana, mas parou, e continuou após pigarrear — Não fala assim como se fosse o fim.
— Mas é...
— Não irei permitir que termine essa frase — Interrompi Camila, olhando-a séria. — Nada vai acabar por aqui
— Mas vai.
— Não vai — Retruquei, um nó se formando em minha garganta. Engoli em seco para me livrar desse nó — O fim só vai chegar quando a gente derrotamos o Hell. Nós três. O fim dessa aventura maluca.
Camila deu uma sorriso fraco de dor.
— Até nesses momentos vocês conseguem me fazer sorrir.
Foi então, nesse momento, que a ficha caiu definitivamente. Esses eram os últimos momentos que eu teria com minha prima.
Esse pensamento fez com que as lágrimas começassem a escorrer de meus olhos.
— Camila...
— Xiu — Interrompeu Camila colocando fracamente uma mão em minha boca, para me calar. Não fiz nada para afastar a mão. Ela parecia tão frágil... — Só me prometam uma coisa.
— O que você quiser — Prometeu eu e Susana. Como eu poderia recusar seu último pedido?
— Nunca se esqueçam de mim — Então sua mão caiu, seus olhos se fechando.
Para sempre.
Desabei no chão, deixando as lágrimas que vinha replimido escorrer livremente pelas minhas bochechas
Nada mais importava
Camila tinha ido.
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......
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