Camila

— Ahhh, que fome! — Susana reclamou, se encostando em uma árvore, enquanto ouvíamos sua barriga roncar alto.

Estávamos andando faz algum tempo e ainda não tínhamos comido ainda.

Na verdade, eu nem tinha percebido o quanto estava com fome até aquele momento.

Me sentei no chão, abrindo minha bolsa de folha, tirando algumas frutas para nós.

Sei que pode parecer besteira trazer frutas, com o tanto de árvores frutíferas que existe ao nosso redor.

Mas é sempre melhor estarmos previnidas.

Mordi a parte interna da boca, tirando esses pensamentos de minha cabeça, e me concentrei em comer minha maçã.

Susana

Período do dia?

Mais ou menos meia noite

Posição em que estou?

Deitada no chão, com os olhos fechados.

Estado em que estou?

Acordada, tentando dormir

Por que não estou conseguindo dormir?

Não sei. Insônia, talvez.

Suspirei frustrada. Não sei quanto tempo eu estava esperando o sono chegar, e até agora nada. Nem mesmo um fiapinho do sono eu encontrei.

— Camila? Julia? Estão acordadas? — Perguntei baixinho.

Eu queria que estivessem acordadas, mas não queria acordá-las, caso estivessem dormindo. Não por um motivo tão bobo quanto insônia.

— Sim — Julia sussurrou

— Eu também — Camila suspirou.

— Pelo jeito eu não sou a única sem conseguir dormir — Comentei, rindo baixo.

Ficamos um momento em silêncio.

Tudo estava tão silêncioso! Nem um mínimo barulho eu conseguia ouvir!

E isso já estava me irritando.

Dei outro suspiro de frustração.

Comecei a me levantar do chão. Não aguentava mais passar um minuto parada.

— Quem topa dar uma caminhada comigo?

Nem Julia, nem Camila responderam de fato, mas ver elas se levantando foi resposta o suficiente. Sorri.

Já que todas íamos caminhar, resolvemos pegar todas as nossas coisas.

Quando nos cansarmos, simplesmente dormiriamos no lugar em que estivessemos.

[...]

Eu realmente fico contente por elas terem topado essa caminhada. Eu acho que ficaria ainda mais nervosa se eu estivesse sozinha.

As nossas conversas eram a melhor parte dessa caminhada. Isso impedia de eu ficar ouvindo aquele horrível silêncio absoluto.

Acho que estou pegando trauma de silêncio absoluto.

— Admite, você chorou com o final de "O Poder Da Lua", né? — Julia perguntou para Camila com um sorriso malicioso.

— Como não chorar? Aquele final foi tão triste. Ainda não acredito que ele foi embora... Que eles nunca mais vão se ver — Sua voz ficava mais embargada conforme falava.

Revirei os olhos.

Retiro o que disse. Prefiro ficar em silêncio absoluto do que ficar ouvindo as conversas delas sobre animes.

Afe! Como as pessoas podem gostar tanto daqueles negócios? Tão chatos!

— Como vocês podem gostar tanto de "O Porar da Luna"? É tão chato! — Deixei escapar. Suspirei, arrependida. Já até sei o que viria depois disso.

— É "O poder da Lua", sua chata! — Julia me xingou, borbulhando de raiva. Não falei nada. Não queria atirar mais lenha na fogueira.

— Como alguém não pode gostar daquele anime?! É o melhor anime de toda a história dos animes!! — Camila gritou.

— Não grita, suas loucas — Sussurrei. Vai que alguma criatura do mal ouve os gritos dela.

Elas me ignoraram completamente.

—  Tem tudo que um ser normal gosta! Ação, mistério, magia, romance, terror! Tudo o que as pessoas gostam em um só anime!!

— E você ainda diz que você não gosta?

— Desculpa, mas acho que você é uma alienígena — Camila disse, mas eu nem estava mais prestando atenção nas conversinha delas.

Meio tampado pelas árvores, eu via brilho colorido. De várias cores.

— Vocês estão vendo aquilo? — Sussurrei. O brilho se destacava na noite escura.

— O quê? — Elas perguntaram olhando ao redor, confusas.

— Ali! — Apontei para o lugar de onde o brilho colorido vinha.

— Onde? — Julia perguntou, confusa

— Não estou vendo nada — Camila disse.

Bati a mão na testa. Não acredito nisso.

Elas estão cegas ou o quê?!

— Venham — Resmunguei sem paciência, puxando-as pelos braços, sem nenhuma delicadeza.

— Ei! Você tem um aperto muito forte — Camila reclamou, mas eu não estava com paciência alguma para respondê-la.

— Ali, olha! — Disse, parando de puxá-las. Estávamos muito perto. Muito mesmo.

Fechei os olhos, com medo da resposta. Se elas não verem o que estou falando, juro que me atiro de um penhasco.

— Ahhh... Não tinha visto esse brilho antes. E você, Camila? — Julia comentou, me fazendo soltar um suspiro de alívio.

Que bom que não terei que me jogar de um penhasco. Isso não seria agradável.

— Nem eu. Nossa — disse Camila.

— Vocês não viram porque são cegas — Disse, rude.

— Tenho que concordar que fui meio cega. Mas não tenho culpa. O...

— Tá, tá! — Interrompi, nem ligando para o que ela ia dizer — Vamos logo ver o brilho — Disse voltando a andar.

— O que deu nela? — Ouvi Julia perguntar, atrás de mim.

— Mais um dos muitos surtos de mau humor dela — Ouvi Camila dizer.

— Admito que até já estava ficando com medo pela falta desses surtos de mal-humor — Ouvi Julia comentar.

Respirei fundo várias vezes, tentando me controlar. Eu não podia bater nelas agora. Mesmo que a vontade seja grande.

Julia, que acabou assumindo a liderança nesses segundos em que eu estava tentando me controlar, começou a passar pelos arbustos que nos separavam do que seja lá que esteja emitindo essas luzes coloridas.

Meu coração batia aceleradamente. Eu estava com tanta vontade de saber o que era!

Por fim, passei pelos arbustos, finalmente descobrindo de onde vinha aqueles estranhos brilhos.

Lá tinha uma clareira, com um monte de... Passarinhos luminosos.

— Ah, então é só isso — Murmurei, decepcionada.

— Isso é incrível! — Julia sussurrou, com os olhos brilhando. Fiz uma careta de estranhamento

Ela achava aquilo incrível? Era tão sem graça!

— Sim. Muito. — Camila concordou, também com os olhos brilhando. Olha! Outra maravilhada com algo tão entediante.

Suspirei, frustrada.

— Isso? Maravilhoso? Blé! É só uns passarinhos brilhantes. O que tem de tão interessante?

— Na verdade o termo correto seria passarinhos bioluminescêntes.

— E o que é isso?

— É quando produz luz própria. Que nem os vagalumes.

— Nerd — Bufei, fechando os olhos. Essa luz toda estava me incomodando.

Por que é que eu fui perceber o Brilho? Argh!

— Ohhh, tão bonitinhos — E lá voltaram a seu estado baba-ovo pelos passarinhos.

— Bem que a gente poderia levar algum para nos acompanhar nessa aventura, né? — Julia sugeriu.

— Não!! — Praticamente gritei. —  Nada de passarinhos chatos!

Por tudo que é mais sagrado, que elas não fiquem com essa ideia na cabeça!

— Ah, você tem razão — Tive vontade de abraçar minha irmã agora — não seria correto tirá-los daqui, seu habitat natural, para levarmos com a gente. O passarinho ia ficar triste — Bati a mão na testa. Era só o que me faltava.

Como se esses passarinhos sentissem sentimento...

[...]

Não sei quanto tempo levou para eu convencê-las a deixar aquela clareira, e os irritantes pássaros.

Mas eu não iria me surpreender muito se me dissessem que foi umas 5 horas.

Aquilo pareceu durar uma eternidade!

Parecia que elas iam dormir lá.

Bom, se é que conseguissem dormir, com todo aquele brilho.

De qualquer forma, consegui convence-las, e nos acomodamos em qualquer lugar longe daquele brilho estúpido. Rapidamente dormi.

Pelo menos essa caminhada horrível serviu para alguma coisa

Narrador.

O dia amanhecia na floresta, enquanto três garotas dormiam no chão. Mais precisamente na grama.

Céus, me pergunto como elas conseguem ficar confortáveis deitadas no chão.

Bom, uma a uma, elas foram acordando. Comeram rapidamente algumas frutas, e rapidamente voltaram a caminhar.

Não fazia nem 10 minutos de caminhada quando Susana, virou o rosto para trás. A garota de calça teve a impressão de ter visto alguma coisa.

— Ei Susana, o que foi? — Camila perguntou, percebendo a distração da prima. Susana balançou a cabeça.

— Não. Nada não — Murmurou.

[...]

As três garotas andavam. Camila e Júlia na frente, enquanto Susana estava atrás, pensativa.

Ela estava com uma forte sensação que estava sendo sentida.

Sua sensação de seguimento apitou de novo, e ela virou a cabeça para trás. Vendo um borrão luminoso se escondendo atrás de uma árvore.

Susana franziu os lábios

"ARRÁ! Sabia que não estava imaginando coisas" Susana pensou, mas ainda assim não sabia quem — ou o que — que a estava seguindo.

Deu de ombros. Uma hora ou outra iria descobrir

[...]

E essa hora não demorou muito para chegar.

Quando o sentimento de seguimento de Susana chegou ao máximo, ela teve certeza. Teve certeza que quem quer que seja que a estava seguindo, agora estava atrás dela

Respirou fundo, se preparando para virar.

— Ah?!! Mas é você?! — Susana encarou o passarinho bioluminescênte. Ele era a pessoa que a estava seguindo. No caso animal.

Ops, quero dizer, passarinho!! É, passarinho!

— Ah? O quê? — Camila perguntou confusa, se virando para a prima, que olhava com desgosto para o passarinho bioluminescênte.

— Ohhhh. Oi amiguinho — Julia disse, com uma voz fofa, se aproximando do passarinho.

— Que bonitinho ele é de dia. Quase tão bonito quanto à noite — Camila disse, examinando o passarinho.

— Bonitinho? — Perguntou Susana, perplexa. Mas aí se lembrou do assunto mais importante — Esse aí estava me seguindo!! — Acusou. E com razão.

— Sério? — Camila perguntou surpresa — Por que ele teve que seguir logo você? E não eu?

— É! Você tem razão. Vai, passarinho, vai seguir a Camila. Ela vai adorar isso. Ou a Julia talvez — Susana disse, apontando para as duas garotas, que apenas a observavam com um sorriso divertido no rosto.

Rapidamente Susana se sentiu ridícula. Ela não acreditava que estava falando com um passarinho!

E odiou ainda mais o passarinho por fazê-la se sentir ridícula

Mas o passarinho fez exatamente o contrário do que ela pediu. Ele foi para mais perto de Susana, se esfregando em sua bochecha, em um ato de carinho.

Rapidamente Susana afastou o passarinho.

— Afe!! Eu... Ahh! — Gritou, meio que em choque, meio que em raiva.

— O que deu na Susana? — Camila perguntou para Julia.

— Não sei — Julia respondeu.

— Cai fora, seu passarinho chato! Vai voltar para a sua clareira — Susana ordenou, mas o passarinho tentou voltar a se aproximar dela, tentando novamente se esfregar em sua bochecha — Ah! Sai! Se afasta! — Disse, novamente tentando afastar o passarinho.

Camila deixou um riso baixo escapar entre seus lábios.

— Isso está sendo engraçado — Comentou com Julia.

— Ei! Vocês! Tirem ele de mim — Disse, tentando afastar o passarinho, que insistia em tentar se aproximar dela.

— Não! Vamos ficar com ele. Ele é tão bonitinho e fofinho — Julia disse, olhando com carinho para o passarinho.

— Não! De jeito nenhum! Ele não vai ficar com a gente! — Susana reclamou

— Sim, ele vai ficar — Julia insistiu.

"Principalmente porque eu quero ver mais cenas como aquela" Julia acrescentou mentalmente, se esforçando para não rir.

— Não! — Susana gritou, fitando Camila, que apenas a observava com uma cara de "Meu senhor dos passarinhos luminosos, o que tá acontecendo aqui?" — Camila! — Gritou de repente, se aproximando da prima. — Você que vai decidir isso!

— Eu? — Camila indagou.

— Se você realmente me ama, por favor deixe os passarinhos ficarem — Julia implorou, também se aproximando se Camila.

— Por que eu que tenho que decidir? — Camila perguntou indignada.

— Por que não tem mais ninguém para resolver isso? — Susana perguntou com uma sobrancelha arqueada, com uma cara de "Não é óbvio, sua boba?"

Camila balançou a cabeça indignada, fechando os olhos. Não queria que sua decisão fosse influenciada pelas caras de cachorro sem dono que suas primas estavam fazendo.

— Ok... — Camila suspirou — Eu decido que... — Camila se interrompeu.

Júlia e Susana esperaram por alguns segundos, mas a resposta não vinha.

— Ué, por que parou? — Julia perguntou, cansada de esperar.

— É para dar suspense hê hê — Camila respondeu, olhando divertida para as primas. Susana deu um tapa na sua testa.

" Nossa, estou fazendo muito isso nas últimas 24 horas" Susana notou.

— Tá! Fala logo! — Susana ordenou, sem paciência.

— Tá, tá bem. — Camila levantou os braços em um sinal de se rendimento — Susana, por favor não me bata. Eu escolho que o passarinho fica com a gente.

— Yatta! — Julia gritou dando um pulinho.

Susana suspirou, encarando o passarinho bioluminescênte que voava, parecendo alegre

"Era só o que me faltava"

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Ararinha_Azul, foi quem deu a ideia para o capítulo. Ararinha, o que achou?

Todos vocês, o que acharam?

Chega de serem leitores fantasmas! Se pronunciem!

Bye bye