A Casa Na Árvore
Camila
Passamos por mais alguns estabelecimentos, e então voltamos para a pousada, já que estava escurecendo.
Amei essa vila. Todos são tão gentis!
... Às vezes me vinha uma vontade de ter nascido nessa vila. Para ficar lá para sempre.
Mas eu não nasci. E eu quero voltar para o meu mundo.
Infelizmente esse mundo não é nosso.
Suspirei e , já no quarto, me joguei na cama, exausta.
Eu estou fazendo mais caminhadas nessas... Semanas de aventura do que já fiz em meus 17 anos.
Semanas...
Foi só então que eu percebi. Eu não sabia quantos dias que estávamos nessa aventura.
Quanto tempo fazia que tudo tinha começado?
Nós não contamos os dias. Então... Nunca saberemos.
Suspirei, e tentei me concentrar em dormir.
Apenas dormir... Nada de pensamentos... Apenas dormir...
[...]
Eu tinha acordado há algum tempo. Mas ainda estava dormindo.
Estou em um estado de meio acordada meio dormindo.
É difícil de se explicar.
— ACORDA! — Ouvi Susana gritar, em seguida um travesseiro foi jogado em minha direção.
Me virei na cama, abraçando o travesseiro.
— Só mais uns 5 minutinhos, mãe — Murmurei, pensando que quem falou aquilo era minha mãe.
— Que mãe o quê?! Sou muito nova para ser mãe! E é impossível, já que sou mais nova que você.
Murmurei alguma coisa parecida com " Batata frita é maracujá com iogurte", e em seguida coloquei o travesseiro na minha cabeça.
— O que ela disse? — Susana perguntou.
— Não sei — Julia respondeu.
— De qualquer forma... ACORDA, SUA DORMINHOCA DE PRIMEIRA!!! — Susana gritou, tirando o lençol de cima de mim.
— Quero churros com recheio de hambúrguer — Murmurei.
— Meu Deus, esse sono está a deixando louca. & Susana murmurou — Preciso acordá-la! Mas como... Ah, já sei!
Em seguida fiquei me contorcendo.
Por quê?
Porque uma Susana estava fazendo cócegas em mim.
Essas cócegas foram o suficiente para me acordar.
Me levantei rapidamente da cama, dando um tapa sem querer na testa de Susana.
— Ah!! Cadê o incêndio?! — Gritei, ouvindo Susana murmurar um "ai"
— Não precisava ser tão bruta, sua louca. E não tem incêndio algum! Acho que você está ficando meio louquinha.
— Você acha? — Murmurei bocejando, enquanto me espreguiçava.
— É! Acho que terei que te internar em um hospício. Vamos lá falar um pouco com Junior. — Susana disse, e ela e Julia foram sair do quarto. Logo fui as acompanhar — Ei! O que você está fazendo?!
— Ué, vou ir com vocês falar sei-lá-o-que com o Júnior. — Respondi com uma cara de "Não é óbvio?"
— Nananinanão! Com esse cabelo aí não! Parece um ninho de passarinho!
Passei a mão pelo cabelo, já que o quarto não tinha espelho. Realmente, parecia que meu cabelo tinha se transformado em um monte de palha.
— Vai dar um jeito nesse seu cabelo aí. Iremos te esperar lá em baixo — Em seguida ela saiu do quarto.
Suspirei, pensando em como caramba eu ia arrumar esse cabelo.
[...]
Depois de revirar o quarto à procura de algo, achei um pente.
E como bônus, um espelho.
Encarei-me no espelho.
Eu parecia um zumbi.
Suspirei e comecei a pentear aquela coisa que antes era um cabelo.
[...]
Cabelo decente, fui lá encontrar Julia, Susana e Júnior.
Nem sei como consegui deixar meu cabelo relativamente aceitável. Milagre, só pode.
Ou talvez magia.
Eu sou uma feiticeira!
Parei no corredor de repente, tentando assimilar o que eu acabara de pensar.
Acho que Susana tinha razão, eu devo estar ficando doida.
Ou talvez eu ainda esteja bêbada de sono. Sono faz a gente não pensar muito bem.
Suspirei, voltando a caminhar.
Encontrei Susana e Julia conversando com Júnior. Sua esposa estava do seu lado.
— Ah, finalmente! — Susana disse se virando para mim — Pensei que nunca chegaria. E aí, Camila, demorou tanto assim para arrumar aquele negócio que você chama de cabelo?
Ignorei o que ela disse
— Do que vocês estão falando?
— Quem mandou demorar tanto? Vai ficar na curiosidade. — Susana respondeu com um sorriso maldoso estampado no rosto.
— Não queria saber mesmo — Murmurei, mas a verdade é que eu queria sim.
— Então, pessoal, — Júnior falou, trazendo nossa atenção para ele. — hoje eu estou com o dia livre, quero que vocês...
— Conheçam nossa casa — A esposa de Júnior completou, com um sorriso.
As pessoas dessa vila são tão bem-humorada que às vezes me dá medo.
— Ah... Por quê? — Perguntei, surpresa.
— Só queremos que vocês nos conheçam mais. — Ana Clara deu de ombros.
- Ah... Camila... - Susana me olhou.
Afe. Afe! AFE!!
Tudo eu que tenho que tomar a decisão. Tudo eu.
E elas ainda reclamam de vez em quando que eu tomo muito as decisões por elas. Afe!
— Tudo bem, vamos — Disse por fim.
Assim que terminei de dizer, percebi uma coisa. Até agora eu não disse um "não".
Será que eu sou muito liberal?
Talvez eu devesse ser mais dura.
Dei de ombros. Gente dura não tem graça alguma.
— Iê! — Ana Clara comemorou, animada.
Eu não disse que às vezes as pessoas dessa vila me assustam por serem tão animadas?
Quem caramba fica tãooo animado por causa de um simzinho para ir na casa dele?
Novamente dei de ombros. Às vezes é meio impossível entender certas pessoas.
Andamos até a porta da pousada, logo saindo dela, eu, que estava atrás, fechei a porta atrás de mim.
[...]
...
Quando eu aceitei que íamos conhecer a casa deles, eu não pensei que ela era tão longe.
Tá, não tãoooo longe, mas estava além da vila.
Estávamos na floresta.
É.
— Por que vamos na floresta? — Perguntara assim que percebi que nosso caminho se direcionava para a floresta.
- Nossa casa é lá... Não é tão longe. Em 10 minutos chegamos.
Dez?!!
— Por que caramba alguém ia fazer uma casa numa floresta, sendo que pode ser na vila? — murmurei, desconfiada.
— Vamos dizer que... Lá na vila não daria muito certo. — Ana Clara respondeu
Já me xingava por ter aceitado aquela proposta.
Vai que, sei lá, eles são sequestradores... Ou vão nos entregar para o Hell... Ou vão nos...
Acho que estou ficando meio paranóica.
Talvez eles sejam apenas pessoas honestas e boas, e eu fico aqui enchendo minha cabeça com lolóta a toa.
E, talvez seja isso.
Tem que ser.
Apesar de eu ter tudo isso na minha cabeça, não pude impedir que meu coração ficasse levemente acerelado, enquanto eu os seguia temerosa por aquela floresta.
Mas como eles disseram, a caminhada não durou muitooooo. Tive a certeza que chegamos quando eles subitamente pararam.
- É aqui. - Ana Clara disse, em seguida apontou para uma enorme árvore. Sério, ela é grande mesmooo. Enormeee.
Voltando ao assunto, Ana Clara apontou para uma árvore gigante, e finalmente começamos a entender o porquê de a casa deles serem na floresta.
Eles moravam numa casa na árvore.
Foi impossível não olhar para a árvore e não ficar com inveja. Desde que eu era uma garotinha queria uma casa na árvore.
Mas eu nunca tive.
Triste 😭.
- Bom, você, Camila, perguntou o motivo de nossa casa ser na floresta, e não na vila. Eu te pergunto: você acha mesmo que seria permitido ter uma casa como essa na vila? Ou possível... - Ana Clara disse.
Franzi a testa, entendendo. Tudo fazia sentido.
Mais ou menos
Foi então que uma pequena animação começou a crescer no meu peito. Eu ia entrar em uma casa na árvore.
- Vamos logo! Quero muitooo ver como ela é por dentro - Disse, mal conseguindo me manter parada, por tamanha a animação que eu estava.
Júnior e Ana Clara riram baixinho, logo começando a subir pela escada, logo fizemos o mesmo
Iiiiiii eu vou subir pela escada até a casa na árvore.
Então estupidamente eu resolvi virar minha cabeça para olhar a floresta.
Péssima ideia.
Eu estava alto. Alto demais. Muito alto.
Virei rapidamente minha cabeça para frente, minha respiração irregular, enquanto eu me sentia tremer levemente.
- Camila, tá para continuar a subir a escada, por favor? - Susana pediu, meio rude.
- T-tá - Disse meio fraco, logo voltando a subir a escada.
É só não olhar para baixo. Não olhar para baixo. Não olhar para baixo.
- Camila, você está bem? - Julia perguntou, rompendo minha concentração, fazendo-me olhar para baixo.
- T-tô.- Disse, trêmula
- Tem certeza? Você não parece bem - Julia notou.
- Já disse que estou bem!!! - Gritei, irritada.
- Tá, se você diz - Julia disse, pelo seu tom de voz percebi que estava meio magoada.
Ótimo! Magoei ela.
Respirei fundo, começando a subir mais rápido, tentando desesperadamente sair daquela tortura.
[...]
Depois de um milhão de ano, aquela tortura acabou.
Sério, parecia que a escada não acabava nunca.
- Ahh, finalmente. Já estava cansada de subir essa escada - Susana disse, se espreguiçando. Sorri trêmula. Senti o olhar de Júlia sobre mim
- Me desculpem por fazê-las subirem tudo aquilo - Júnior se desculpou, olhando para baixo, levemente envergonhado.
- Nosso elevador infelizmente quebrou ont... Temos que usar esse modo meio primitivo então - Ana Clara disse.
- Pera, cês tem um elevador para subir até aqui? - Susana perguntou
- Sim, mas como eu disse, ele está quebrado.
A vertigem passou por um instante, sendo substituído pela raiva.
Tantos dias para o elevador pifar, ele resolve pifar justo ontem. Que raiva! Meu azar parece não acabar nunca
Logo a vertigem voltou e a raiva evaporou.
- Nossa, e como eu não vi nada que tenha a ver com elevador? - Susana perguntou, pensativa.
- Ele fica atrás da árvore, nós estávamos na frente. A frente da árvore tampa o elevador... Por isso que não viu - Ana Clara explicou.
Minha vertigem diminuiu o bastante para eu poder disser:
- Então... Vamos explorar a casa? - Perguntei, sorrindo levemente, enquanto sentia minha visão, enfim, parar de rodar um pouco.
- Claro - Disseram em uníssono, tanto minhas primas quanto Júnior e Ana Clara. Então começamos a passear pela casa.
Nós estávamos tendo muitos tour desde ontem
Só que dessa vez era pela casa de Júnior e Ana Clara.
Seus filhos... Ághata e... Como o nome do menino mesmo... Ah... RAPHAEL!!! É, é esse o seu nome.
Enfim, seus filhos, Ághata e Raphael, estavam sentados no sofá, ora conversando, ora mexendo no celular, ora jogando video-game.
Isso que eu chamo de fazer várias coisas ao mesmo tempo...
Continuamos o nosso tour.
Essa casa da árvore era enorme. Eu não sabia que poderia existir uma casa da árvore tão grande como essa.
Mas quando é que existe lógica nessa aventura doida?
Eu estava aproveitando o máximo do tempo em que passeavamos pela casa, porque eu não queria voltar para aquela escada traiçoeira.
Odiava com todas as minhas forças o que quer que engano dado errado no elevador, por me fazer passar por essa tortura.
Sei que se Julia e Susana souberem disso, vão me zoar. Principalmente Susana
*Ah, você tem 17 anos, mas se comporta como um bebê medroso." Ou algo assim iam dizer.
Na verdade eu acho que a Julia já deve ter desconfiado do que está acontecendo. Ela não para de me encarar.
Humilhante... Saber de alguém que você conhece saber( ou suspeitar) de uma fraqueza sua
Bom, melhor Julia saber do que Susana. Susana sim ia me infernizar. Júlia não... Eu acho.
Mas é a vida. Todos nós temos nossas fraquezas e pontos fortes. Sem esses defeitos não seríamos humanos.
Nossa... Isso foi meio filósofo.
De qualquer forma, o tour chegou ao fim.
- Casa Maravilhosa a sua. Praticamente uma mansão - Julia comentou.
- Pois é. Tivemos sorte de encontrar uma árvore tão grande quanto aquela, a poucos minutos da vila. - Ana Clara disse, com um sorriso no rosto, como sempre.
Senti um embrulho no estômago, repentinamente
Estava quase na hora de descer as escadas. Eu sentia isso.
- Sim, foi realmente uma sorte - Julia disse.
- O único problema é que as escadas são muito grandes. Leva um esforço e tempo enorme para subi-las - Susana comentou. Pela visão periférica, vi Julia me olhar de canto de olho.
- Sim. - Júnior suspirou - Mil desculpas por isso.
- Mas vocês não tiveram culpa do elevador ter estragado - Julia disse.
- Sim... - Júnior concordou, meio relutante - Mas acho que deveríamos ter convidado vocês para nos visitarem quando o elevador estivesse concertado. Isso não foi muito legal...
- Nós nem sabemos quando tempo vamos ficar e com certeza não seria tempo suficiente para o elevador ser concertado antes da nossa partida - Julia disse.
Um momento de silêncio.
-... É... Talvez... - Júnior disse por fim - Consideramos vocês nossas amigas... Vai ser meio triste quando partirem...
- Ohhh, obrigada. Também consideramos vocês nossos amigos. E ficaremos triste quando nos despedirmos. - Julia agradeceu, mas em seguida ficou séria - Mas temos uma vida inteira em Belo Mar... Amigos... Familiares... Não podemos abandoná-los. Eles com certeza devem estar preocupados com nossa ausência.
- Sim... - Suspirei - Estou com saudades dos meus pais... Da Katrina...
- Quem é Katrina? - Ághata, que estava ouvindo nossa conversa, perguntou.
- Minha melhor amiga - Sorri para a criança.
- Hmm... - Foi só isso que ela disse, e em seguida voltou os olhos para a televisão.
- Ághata, não é certo ouvir as conversas dos outros, sua intrometida - Ouvi seu irmão, Raphael, lhe dar um sermão.
- Ué, você sabe que eu tenho o costume de espiar a conversa dos outros - Ághata respondeu.
- Sim... Sei bem.- Raphael suspirou.
Fiquei imaginando se alguma vez ele já tinha sido alvo da intrometisse da Ághata...
Minha atenção voltou para a conversa entre Júnior, Ana Clara, Julia e Susana.
- ... Sério, Ju? Você sente saudades dela? - Susana perguntou, abismada.
- Sim, Su. Apesar de ela me odiar e tal, eu sinto saudades de coisas irritantes como essa - Julia suspirou.
- De quem vocês estão falando? - Perguntei confusa.
- Carmentina, quem mais seria? - Susana respondeu.
-Carmen... Que?
- Francamente, Camila! - Susana exclamou- Clamentina. Cla-men-ti-na. Já mencionamos ela mil vezes! Onde sua mente estava quando a mencionamos
- Ahhh. Ah tá. Me lembrei - Menti. Querer dizer, nem tanto. Eu me lembrava vagamente de elas mencionando como essa Clamentina era irritante e tal.
Mas na época eu estava mais concentrada jogando jogo ou lendo...
- Lembrou mesmo? - Susana perguntou me olhando desconfiada.
- Claro. - Mais ou menos.
- Hmmm... - Murmurou.
- Então, Júnior e Ana Clara, acho que está na hora de a gente descer de sua casa. Ainda pretendemos explorar mais um pouco a vila - Julia disse.
Agradeci mentalmente por ela me livrar daquela situação.
Mas o agradecimento logo foi embora quando eu me lembrei que eu teria que descer aquelas escadas
Meu estômago voltou a ficar embrulhado.
- Sim... - Ana Clara suspirou - Também temos umas coisinhas para fazer... Vamos descer.
Caminhei meio perdida até a escada, sendo a última a começar a descer.
Era só não olhar para baixo... Se concentrar na escada... Nos ricos que existiam no tronco enorme da árvore...
Pensar em coisas como... Ah... Sei lá, gatinhos dançando dançando balé. Ah?
Gatinhos dançando balé? Bom, isso seria bem fofinho. Gatos são fofos... Imagine com um tutu de balé.
Principalmente se for uma animação. Gatinhos de animação em geral são fofos. Mais fofos que da vida real
Versões cuties de gatinhos dançando balé! Uma animação!
Quando dei por mim, já tinha descido muita parte da escada, enquanto pensava nos gatinhos de animação cultural dançando balé.
Isso! Manter minha mente ocupada estava dando certa?
Meus olhos se viraram para baixo, no mesmo segundo voltaram para a escada.
Ah não, comemorei cedo demais.
Vai, Camila, pensa em coisas banais, ou estranhas... Ah...
"Nossa, mente!! Obrigada por ser tão prestativa num momento como esse!!" Pensei irônica " Bem que poderia ter um Google por aqui... Pena que não tem internet... Mas nossa... Imagine se o Google saísse da internet e passasse por aí?"
Aí uma coisa idiota, que ocupa a mente! Sem perceber eu estava imaginando o Google saindo de um celular, passeando por uma cidade... Tomando milk shake... Passeando pelo parquinho... Indo para a escola... Brincando com cachorrinho... E no final do dia pular de volta para o celular.
- Vamos logo, Camila! Vai ficar parada aí como uma mané? - Susana gritou trazendo minha atenção ao mundo real.
Olhei para onde ela estava - a umns 3 metros a minha frente, junto com Julia, Júnior e Ana Clara -, e pisquei 3 vezes, meio desnorteada.
- Ah? - murmurei, confusa.
Isso que eu chamo de viajar pela sua imaginação. Eu nem percebi o que estava acontecendo no mundo real.
A parte boa é que eu não tive que sofrer tanto na descida pela escada. Eu agora estava no chão.
AI MEU DEUS!! EU DESCI A ESCADA DE BOA E AGORA ESTOU NO CHÃO!!!
Corri para onde eles estavam, praticamento saltitando.
- Vamos logo! A vila nos espera!
Escutei risos atrás de mim. Provavelmente são de Júnior e Ana Clara.
- O que aconteceu com ela? - Ouvi Julia perguntar.
- E eu que sei? Camila é meio doida - Jurava que Susana dava de ombros, mesmo sem eu estar olhando eu sabia disso.
Meu sorriso se alargou um pouco mais. Eu definitivamente não estava muito normal hoje.
Mas o que que tem? Pessoas meio louquinha a são legais!
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