Do outro lado

Alexander abriu os olhos e estava novamente naquele lugar estranho. Porém agora havia um lago de águas escuras em sua frente. No meio do lago um portão de prata. Ele olhou em volta e viu Angeliny parada de frente para a orla.

Ela olhava para o grande portão com certa tristeza.

- Angeliny. - Alexander a chamou.

Ela se virou para ele, e sorrindo correu lançando se em seus braços com um abraço apertado.

- Alexander o que faz aqui? - Ela perguntou ao soltá-lo já que ele não lhe retribuiu o abraço.

- Na verdade eu não sei. Eu estava... - Ele tentava lembrar. Mas algo o impedia.

Ao olhar para suas roupas ele as estranhou. Usava uma camisa branca com babados na gola que deixava seu peitoral a mostra. A calça era de tom pastel como o vestido que Angeliny usava. Os cabelo dele estavam soltos, e ele descalço.

- Que estranho. - Ele sussurrou.

- Vosmicê está em descanso, não está?

- Como assim? - Ele perguntou confuso.

- Leva um tempo até recobrarmos a memória.

- Está querendo dizer que eu morri é isso?

- De certa forma.

- Não posso acredita que ele conseguiu. - Ele falou irritado.

- Quem conseguiu o que?

- Nada. - Ele tentou desconversar. - É difícil de explicar.

Ela voltou a olhar para o portão.

- Porque olha para lá com tanto interesse? - Ele perguntou.

- Ela está lá. - Angeliny falou com tristeza.

- Ela quem? - Ele perguntou ao se colocar ao lado dela.

- Nossa filha.

Alexander olhou atônito para ela. - Nossa filha? - Ele falou incrédulo.

- É. Eu a procurei por todo esse tempo que estou aqui. Eles me disseram que ela está lá. Mas não posso chegar até ela. O lago mata as almas que tocam nele. E aqui não temos magia.

- E que lugar é esse?

- Alguns o chamam de purgatório. Outros de véu. Mas só o que sabemos é que não é o céu ou o inferno. E um lugar de espera.

- E o que estão esperando?

- A hora de voltar para casa. Estamos mortos para as pessoas da terra mas não mortos aqui. Quando voltarmos teremos novos corpos, novas vidas.

- Fala de reencarnação? - Ele perguntou surpreso.

- Sim. Mas eu não sei o que será de mim.

- Porque diz isso?

- Eu não deveria te contar. Mas não gosto de esconder nada de ti. O feitiço que Cristian fez vai me mandar de volta porém pelo que soube terei o mesmo rosto e parte das minhas lembranças. Ele ligou nossas vidas uma na outra.

Alexander conseguia entender. Cristian era imortal agora. E Angeliny iria voltar. Talvez esse fosse o maior segredo dele.

- Acho que está feliz com isso não está? Afinal vão poder ficar juntos. - Ele falou com ódio.

- Alexander. Acredite estou feliz mas não só por isso.

- E pelo que?

- Nossa filha. Ela também vai voltar.

Alexander se surpreendeu, não sabia se estava feliz ou triste com a notícia.

- Então vão criar minha filha juntos.- Ele sorriu furioso. E passando as mãos  no cabelo, impaciente concluiu. - Ele não só me roubou a mulher como também o filho. - Ele tentava não chorar pois, estava cansado de derramar suas lágrimas.

- Não é bem assim. - Ela fez menção de tocá-lo, porém ao notar o olhar enviesado parou. - Eu não contei a ele. Sobre nossa filha. Não disse que esperava um bebê.

- Eu imaginei que não tivesse dito. Afinal era quase certo que ele não aceitaria. - Ele estava evidentemente irritado.

- Era. Mas também acredito que vosmicê não tenha dito.

- Eu jamais usaria a notícia de minha filha, como forma para irrita-lo. Isso era muito importante para mim. Na verdade era sagrado. - Ele falou ao abaixar o olhar.

- Obrigada. - Ela falou sorrindo.

- Não fiz por ti. - Ele suspirou exasperado. - Pelo menos não estarei lá para ver isso. O final feliz de vós. lamento por nunca poder conhecer minha filha.

Angeliny sabia o quanto havia destruído ele com a notícia e sentia que pagaria por isso.

- Me perdoe eu não deveria ter contado. Só não sei. - ela gaguejou. - senti que não era justo esconder de ti.

Alexander deu de ombros. - Eu acho que eu não preciso dizer como me sinto, não é? Sabe bem.

- Eu lamento que as coisas tenham chegado a esse ponto. Eu nunca deveria ter... - Ela chorou. - Eu lamento.

Ele riu em escárnio. - Que bom que lamenta. Mas isso de nada adianta agora. Eu só me arrependo de uma coisa.

- De que?

Ele olhou nos olhos dela, e com seriedade concluiu. - De tê-la conhecido.

Ele deu as costas para ela, e caminhou firme para qualquer lugar que o levasse para longe dela.

Angeliny sentiu o quanto tais palavras   lhe machucaram. Sabia que diferente dele. Não podia e se quer conseguia odiá-lo.

- Alexander! - Ela gritou o nome dele.

Alexander não queria mas se virou para olhá-la a tempo de ve-la correr em sua direção. Angeliny se lançou nos braços dele novamente e sem esperar retribuição o beijou.

Apesar de toda dor e mágoa , ele retribuiu, pois sabia que seu corpo jamais iria repelir o toque dela. Seu coração se aqueceu e ele sentiu como se por aquele curto período tudo se encaixasse. Estava completo de novo.

Ele segurou nos fios da nuca dela entrelaçando os dedos nos cabelos macios. Angeliny o enlaçou pelo pescoço para em seguida segurar nos fios negros dos cabelos sedosos dele.

As bocas se ligaram em perfeita sincronia. Ambos não saberiam descrevem com palavras a perfeição que era estar ligados um ao outro. Como se o tempo parasse e toda dor sumisse. Conforme os lábios se moviam e as línguas travavam uma batalha sem vencedores.

Angeliny lentamente afastou seus lábios dos dele, porém ambos não se soltaram. E ainda com os olhos fechados ela encostou sua testa na dele, e sussurrou:

- Eu não me arrependo disso. Estar contigo foi a melhor coisa que fiz. - ela  se afastou.

Alexander abriu os olhos e a encarou.

- Porque faz isso? Por que brinca assim comigo? - uma singela lágrima escorreu pelo canto de seu olho.

Angeliny estendeu a mão e acariciando a face, recolheu a lágrima.

- Não estou brincando. Pode não acreditar. Mas eu o amei. E ter estado contigo foi sublime. Porém eu sei que não o verei de novo. E precisava me despedir. - ela também chorou.

- Eu não entendo. Se me ama. Porque ficará com ele?

- Porque de certa forma. Eu também o amo.

- Eu... - Ele não tinha nada para dizer diante de tal afirmação.

- Sei que deve me odiar agora.

- Não. - Ele respondeu. - odeio o fato de ter escolhido ele, odeio que tenha me traído. Mas por mais que eu quisesse não posso odia-la. Porque a amo mais que tudo.

Ela sorriu, apesar dele estar chorando.

- Eu prometo a ti. Se houver alguma possibilidade de nos encontrarmos de novo em outra vida. Vou reparar meu erro.

Ela com as duas mãos segurou no rosto dele o fazendo olhá-la. E sem esperar que ele dissesse qualquer coisa que fosse. O beijou.

Alexander sentiu uma dor aguda em seu peito. E quando abriu os olhos o ar lhe faltou. Ele se sentou e tocado seu peito estranhou o lugar onde estava, era escuro e cinza. Talvez fosse uma cripta. Só sabia que estava vivo. Suas roupas era as mesma de quando estava com Angeliny. O ferimento em seu peito havia sumido. Ele desceu da mesa de pedra a andou com dificuldade até a porta de pedra. Alexander sentiu a frieza do chão em seus pés descalços.

Ele usando o que lhe restava de suas forças usou magia para abrir a porta, rolando a pedra para o lado. Permitindo que as luzes das chamas invadisse o lugar.

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