Chance For Romance


"We've stumbled on a view

That's tailor-made for two

What a shame those two are you and me

Some other girl and guy

Would love this swirling sky

But there's only you and I

And we've got no shot

This could never be

You're not the type for me (really?)

And there's not a spark in sight

What a waste of a lovely night"


"You say there's nothing here?

Well, let's make something clear

I think I'll be the one to make that call (but you'll call?)

And though you looked so cute

In your polyester suit (it's wool)

You're right, I'd never fall for you at all

And maybe this appeals

To someone not in heels

Or to any girl who feels

There's some chance for romance

But, I'm frankly feeling nothing"


Havia dois convites brilhantes em sua mesa, eles o julgavam silenciosamente pelo desprezo também silencioso que tinha pelas coisas o qual representavam. Como se debochassem do seu fracasso como ser humano sociável, o par dourado ficava parado em sua visão. E o pior disso tudo era que Harry nem poderia se opor, era realmente uma lástima nessa área de sua vida e só de estar nessa amarga conversa interna por causa de papéis, se sentia um fracasso.

Toda essa tribulação começou uma semana atrás, quando houve a distribuição de novos cargos e promoções no ministério, junto das listas de aprovações nos concursos. No geral, o ministério já era um caos, porém há um quê a mais de histeria nesse período de fim de ano, muitos novatos com brilho nos olhos e o orgulho com satisfação de trabalho bem feito de quem cresce em sua carreira, isso tudo é um dulçor a mais no ambiente.

Não foi diferente para Potter, quando recebeu a carta avisando que não era mais um supervisor, e que agora teria sua própria seção de aurores para comandar, mal pôde conter sua magia que formigava na pele e fazia alguns objetos da sua sala tremerem.

Quando entrou para o batalhão, bons anos atrás, de imediato queriam lhe dar um setor para liderar, mas ele era um moleque bem traumatizado e ainda assustado da guerra em vários sentidos, não queria comandar homens mais velhos e experientes que si. Mesmo que muitos não se opunham à ideia, Harry preferiu seguir as regras, aproveitando cada ano após ano nos diversos cargos o qual exerceu pelas diversas subdivisões dos aurores, e agora com quase vinte e sete anos, quase nove anos depois, por mérito próprio e de todo o batalhão vendo seu esforço, iria treinar do começo jovens aurores para pegar casos e ter sua própria divisão. Havia ganhado sua divisão, seu distrito!

Sua promoção veio com várias responsabilidades, reunião com líderes de distritos, treinamento especializado, teste de aptidão física, dentre outras obrigatoriedades; e alguns benefícios, aumento de salário, gratuidades, privilégios aqui e ali e os malditos ingressos dourados. Que eram uma formalidade disfarçada de troféu, como um buquê de flores.

O evento fazia parte de sua agenda mensal de aparições culturais, seu antigo chefe frizou para ele a importância de se estar nos lugares certos e ser bem quisto lá. E era por tudo isso que ele estava há uns dez minutos xingando os pequenos pedaços de papel brilhantes na sua mesa de jantar.

Mesmo odiando se arrumar, havia vestido uma calça de alfaiataria preta, muito cara para mais de um metro de tecido com um cós, colocado uma blusa de botões azul marinho tão escuro que beirava o preto, que se fosse ser honesto era uma das poucas peças caras que além de belíssima ao seu ver valia a pena o valor gasto. Ela estava totalmente fechada, mas para dar um toque seu arregaçou a manga, deixando-a três quartos, pondo à mostra seu braço tatuado e o relógio prata maior do que gostaria, o cinto de couro com fivela simples também amarrava a vestimenta junto do sapato estilo mocassim, que era seu item favorito junto da blusa de toda essa alegoria que usava.

Seu perfume amadeirado devia estar cheirando a casa inteira, e havia tirado um tempo para fitar os cachos rebeldes e consertar suas armações, agora mais quadradas e do tamanho de seu rosto.

Estava bonito como não ficava há meses, depois do último caso que trabalhou não tinha tirado um tempo para si, em grande parte por culpa da burocracia que grandes crimes deixam para trás. Mas nesta noite, cada parte de si havia recebido um cuidado, até seu antebraço brilhava de leve pelo hidrante em cima da grande tatuagem de um leão com grifo, a imagem brincava com o realismo e o surrealismo misturando ambas criaturas.

Tudo isso para ir ao teatro acompanhado de Dália, a menina que vinha tendo um relacionamento nem um pouco sério. Ela era mais uma amiga colorida do que qualquer outra coisa, mas seria de mau tom não levar acompanhante e ela era a pessoa certa. Seria divertido assistir duas horas de algo com ela e depois jantar falando sobre, provavelmente rindo da falta de cultura de ambos; mas a mulher havia adoecido, estava ardendo em febre. Harry cogitou não ir, cogitou chamar Hermione, até mesmo Ron, talvez dar os ingressos para eles e ficar com o pequeno Hugo, mas não poderia, era sua primeira aparição pública depois da promoção.

E foi assim, que depois de muito ponderar e com certa raiva, pegou o par de entradas, jogou um sobretudo no corpo e aparatou para o enorme teatro mágico.

(...)

O tintilar de saltos contra o assoalho era o barulho mais alto, perdendo por pouco para as conversas amenas que rodopiavam o salão.

Potter não se atentou muito nisso, nas vozes, nos burburinhos, nem no vai e vem de pessoas, seus olhos pousaram no ministro, cercado das mais diversas pessoas que conversavam e riam, já havia visto poucas vezes o homem rir, no geral era uma ocasião especial. Se aproximou, cumprimentando todos e entrando em uma conversa exaustiva sobre vários temas entediantes de infraestruturas governamentais. Se arrependeu amargamente de ter lido sorrisos como algo além, no fim era só um elogiando o outro a fim de politicagem. Quase saltou de felicidade quando o primeiro sino do teatro tocou anunciando que iria começar a peça. E ele nem era fã de teatro, para início de conversa.

Seguiu andando em passos largos pelos compridos corredores, vendo brevemente cartazes da peça de natal que ocorreria amanhã, pouco importando. Pela numeração seu assento era um dos camarotes superiores, aquelas saletas fechadas nas laterais, de dupla, um dos assentos mais nobres dali. Caminhou até lá perdendo pouco tempo ao cumprimentar alguns conhecidos, já estava saturado de conversa fiada. Nem se estendeu ao entrar em sua cabine.

Seus olhos se demoravam, vira e mexe, ao pousar em um elemento do teatro. O local era uma enorme mistura de dourado com vermelho, tapeçarias antigas e grossas adornando o ambiente junto de pinturas perfeitas, a iluminação deixava o lugar quase místico com seus tons de ouro queimado. Cascatas perfeitas de luzes diluídas e o clima claro de amistosidade.

Era belíssimo, Harry mal podia conter seu deslumbre.

Se aproximando o máximo possível do batente, na divisão da sacada, pondo a cabeça para fora do parapeito, extasiado com trabalho de detalhes, o próprio batente que tocava era esculpido com perfeição, o lugar era um espetáculo do chão ao teto.

Duas batidas singelas foram dadas na porta que isolava a espécie de camarote.

— Perdão o incômodo, senhor. Ocorreu uma venda duplicada de ingressos para a cabine de um homem, e como não foi dado baixa no segundo assento desta, vim perguntá-lo se há incômodo de dividir sua locação. — O tom da jovem mulher era profissional mesmo que suave, e ela tinha um sorriso educado no rosto, suas roupas eram um uniforme formal padrão com o cabelo preso em um coque alto, porém meio solto.

— Não, imagine.

A mulher sorriu um pouco maior, maneou a cabeça e fechou a porta, poucos segundos depois ela fora aberta novamente, dando passagem para o tal homem de ingresso duplicado.

Ninguém menos que Draco Lucius Malfoy.

Potter conteve qualquer reação ao vê-lo adentrar o espaço, educação essa que o outro não teve ao torcer o lábio inferior e demorar seu olhar em si, analisando-o dos pés à cabeça.

De modo geral, a relação deles não era como na escola, atualmente se aturavam bem, e se fosse honesto, Harry diria que sentia até mesmo admiração pelo trabalho prestado ao ministério dele.

Draco se formou em direito mágico e direito trouxa, atuando como servidor público, até crescer na área virando juiz e ativista. Ele possuía um trabalho formidável com a promotoria para apreensão de itens para rituais mágicos e mudanças na jurisprudência bruxa. Harry nunca iria esquecer de um discurso que o homem fez na confraternização de natal:

"Não importa quantas guerras se ganhe pelo bem, se o bem não for regra e não exceção. Não adianta ensinar às crianças a bondade, se o sistema de justiça for visto como lento, burocrático e favorecido aos mais ricos. Jurisprudência é para estudo, não para decisão."

Naquele dia Hermione ofegou do seu lado e ela só fazia isso quando ouvia algo tão arrasadoramente bom que ela mesma teria dito. Então, Harry soube que o ex-sonserino havia evoluído ao seu modo. Mas era difícil demais não provocar ele, era algo como instinto.

— Boa noite, Malfoy. — Apesar do tom neutro na voz, seu olhar se alongou por muito mais segundos que o necessário, fazendo a mesma vistoria que recebeu, para categoricamente desviar o olhar ao infra teatro.

— Boa noite, Potter. — Maneou a cabeça em sua direção. — Nunca lhe imaginei vendo esse tipo de obra.

— Realmente não é meu tipo de lazer, mas fiquei instigado com os temas — Harry respondeu sem hesitar, mesmo não fazendo ideia do que se tratava a peça. Havia esquecido desse pequeno detalhe, como ler o informativo da obra.

— Não sinto verdade em você. — Uma risada suave veio ao fim, fazendo-o voltar o olhar para o homem, um olhar atento.

Draco Malfoy estava usando uma calça grossa de padronagem xadrez, em preto e branco, a blusa era de camurça preta, gola alta e mangas compridas, uma corrente prata adornando o pescoço coberto, o cinto preto simples de fivela arredondada, nos pés um coturno baixo fosco, em seus braços descansava um sobretudo preto e grande. Estava bonito e jovial, algo que era pouco comum aos olhos do ex-grifinório, visto que sempre que via o outro pelo prédio do ministério, envolvia ternos super finos, roupas sérias e a pesada toga de júri.

— Pare de me olhar assim — Malfoy reclamou arqueando a sobrancelha. — Sei que sou obscenamente bonito, mas tenha decência.

Quando Harry abriu a boca para responder a explícita provocação e a baixa insinuação, quando tocou o segundo sino e as luzes douradas se apagaram deixando apenas uma iluminação periférica e específica, o teatro ficou amaldiçoadamente silencioso, e o moreno não teve coragem de quebrar aquilo.

Ambos se arrumaram nas cadeiras acolchoadas e pomposas olhando para o palco, apenas uma parte dele aparecia, o resto ocultado pela enorme cortina aveludada vermelha.

Potter olhava fascinado para toda a estrutura, não era alguém muito cultural, seja por falta de hábito ou tempo, mas digamos que peças teatrais, concertos musicais, exposições de artes dentre outras atividades do tipo não eram sua forma de diversão, um bom jogo de quadribol era seu tipo de entretenimento. O que não parecia o caso de Malfoy, a postura relaxada e a sombra de um sorriso frívolo no rosto indicavam que esse era o tipo de entretenimento dele.

O terceiro toque do sino rasgou o silêncio.

Casa toda escura e sons de passos pelo assoalho.

A grossa cortina vermelha abriu, revelando o mais puro breu.

Então, do puro nada, surgiu um enfoque de luz em cima de uma poltrona de couro marrom escuro, um homem esguio entrou em cena, e a peça tinha começado.

O tom da obra era melancólico, quase um monólogo de um homem abatido, remoendo seus defeitos, amarguras e sendo piegas. Era doloroso ver esse tipo de retrato, de alguém machucado pela guerra, era muito além de estranho. De várias formas, ficava impossível não se identificar com a culpa, a maneira crua de analisar os acontecimentos, até mesmo o humor piegas tinha sua vez. Estava estranhamente familiar, mas cativante, Harry não conseguia tirar os olhos do palco.

Ainda mais quando outra figura masculina entrou em cena e com uma tensão sexual cortante ambos conversavam de forma amarga sobre a vida, variando em seus passados e presentes, sem perspectivas de futuro.

Uma obra de arte realista, dolorosamente verdadeira. Mas fascinante.

Potter estava totalmente vidrado, nem notando o olhar intrigado de Malfoy para si.

E assim se passou o espetáculo, um ato completo entre dois atores de meia idade, que em uma perfeita de animosidade, calor e frieza contavam uma história. Não parecia roteirizado, houve um momento o qual se sentiu invadindo o espaço deles, como quem escuta uma conversa privada atrás da porta.

O teatro aplaudiu de pé, e o moreno só não assobiou alto pois não achou de bom tom ao ambiente, mas faria, seu corpo inteiro ovacionou a obra.

— Vejo que admirou a peça. — A voz timbrada de Malfoy surgiu assim que os aplausos cessaram e vozes começaram.

— Ela é incrível — respondeu ao loiro sem nem pestanejar.

— Potter, sanando minha curiosidade, você não chegou a ler os informes antes de vir ao teatro, correto?

— Claro que fiz — respondeu com falsa ofensa, recebeu um olhar cético e uma sobrancelha arqueada. — Certo, não o fiz, eu nem cogitei direito vir, mas seria falta de educação.

— Recebeu o convite pela promoção, suponho. — O loiro cruzou os braços e em seu rosto havia um sorriso divertido desenhado.

— Sim, o mesmo para ti? — Harry não quis entrar na leve provocação, apenas mantendo a conversa.

— Sim, mas eu viria de qualquer maneira. — Draco sorriu triste, seu olhar divagando levemente antes de ele se recompor. — Deveria olhar quem idealizou essa obra, vai se surpreender.

Dito isso, o loiro ergueu o braço com o papel em mãos, Harry pegou o informativo do teatro, ali continha o resumo da obra, elenco, processos. Com o olhar ágil, passou os olhos por tudo, pulando resenhas e provocações de críticos, Potter foi diretamente para os direitos e agradecimentos, vendo algo que girou em sua mente.

Manuscrito original: Príncipe Mestiço (pseudônimo).

— Deve ser brincadeira? Você está brincando com a minha cara? — Sua afirmação saiu como um questionamento, a feição confusa caindo no homem loiro.

— Ele entregou muitos desse tipo após a morte de Dumbledore a alguns amigos artistas. Meu padrinho era um homem das artes, deixou cartas, poemas, manuscritos e até mesmo um livro escrito para seu legado.

— E um homem egocêntrico — resmungou, casando com exatidão o protagonista da peça com o próprio Severus, entendendo muito mais as semelhanças e familiaridades.

— Então, assim como eu supõe que não seja uma obra ficcional — Draco afirmou categoricamente.

— Não fui tão próximo de Severus Snape, Malfoy, mas entrei em sua mente, ele obviamente fez um retrato de uma vivência sua, agora as coisas fazem ainda mais sentido.

— Não pensei que ia ficar com saudades de Snape vendo uma peça teatral onde ele se pega com possivelmente, e falo possivelmente para lhe deixar respirar, pois tenho certeza, Remus Lupin.

— Sem chances. — Os olhos verdes arregalados, e de repente, Harry sentiu que deveria voltar a sentar, o fazendo dramaticamente.

— Acha mesmo? — As sobrancelhas quase transparentes se juntaram, encarando-o. — Pense bem, a ambientação me lembra o escritório dele em Hogwarts, eles citam a data de morte dos seus pais, o interesse romântico fala do seu passado citando cicatrizes e um relacionamento fadado pela prisão do dito, e calculadamente o nome de ninguém é citado.

— Me recuso a acreditar que eles tiveram um caso durante a guerra. — Harry sacudiu a cabeça como quem limpa fisicamente os pensamentos.

— Pode chamar de affair — Draco satirizou categoricamente e da mesma forma Harry o ignorou.

— Me recuso a acreditar que eles tiveram um caso durante a guerra — repetiu fingindo um arrepio.

— Me recuso a pensar que ambos terminaram mortos — Draco murmurou mais para si do que para o acompanhante, mas visto o anfiteatro praticamente vazio a esse ponto, a frase chegou aos ouvidos de Harry.

— Conseguiu definitivamente pesar o clima, Malfoy — Potter resmungou finalmente se levantando. — Eu nem ia jantar, mas você me obriga a aproveitar o jantar gratuito como forma de voltar a ser feliz.

— Devo dizer que seu apetite aflorado ao falar dos mortos me assusta? — comentou risonho, uma mudança estranha que fez o moreno sorrir involuntário.

— Guarde para si. — Abriu a porta do local, dando passagem para o loiro, que agradeceu com um aceno ao passar. — O vejo no restaurante? Ou ele é uma escolha muito ruim do parlamento?

— Não faço ideia de onde irá jantar o diretor, Potter, pelo visto mudar a maior área do direito mágico lhe dá apenas um aumento bem irrisório, seu próprio escritório e um par de ingressos ao teatro. — Apesar do sarcasmo não havia maldade no comentário.

— Parabéns, inclusive, foi uma mudança significativa — o moreno inteirou a parabenização, aproveitando a brecha.

— Agradeço, parabéns também pela promoção, ganhou um batalhão, em. — Malfoy sorriu pequeno, sendo honesto em sua fala.

— Tudo que eu mais queria, jovens eufóricos sem senso de responsabilidade virando aurores ou por acharem legal ou porque suas mães os queriam sendo servidores públicos — falou pingando sátira, sabia que pior que isso apenas as aparições culturais de politicagem.

— Comentário ácido para um novo contratado. — A frase veio acompanhada de uma expressão caricata de desprezo.

Harry riu com vontade da fala, atraindo alguns olhares de quem comentava a peça no corredor do teatro.

Talvez... — Havia ainda a sombra do sorriso quando continuou. — Gostaria de ir gastar dinheiro público comigo?

Potter não sabia o que o fez convidar Malfoy para ir jantar consigo, mas a conversa estava boa, e tinha algumas perguntas sobre essa veia artística de Snape, talvez fosse uma chance interessante.

— Acho que essa foi a pior frase direcionada a um juiz da face da Terra, mas estranhamente irei aceitar.

Harry riu novamente, dessa vez levando Draco consigo na diversão, e ambos caminharam para fora do teatro entre comentários pontuais sobre a estrutura do local. O juiz sabia muito sobre a história da arquitetura, e quando via o olhar do auror se demorar em algum detalhe lhe contava uma curiosidade do tema, o que foi uma forma agradável de sanar suas curiosidades.

Usaram a aparatação para ir até a frente do restaurante chique que havia lhes sido oferecido. Draco quis rir com a careta resignada de Harry ao pousar os pés, pelo visto ele ainda não era muito fã de transportes mágicos.

Malfoy passou os olhos pelo ambiente e depois olhou para Potter como quem diz "nada mal" e isso o fez rir consigo mesmo enquanto esperava a sua mesa.

O jantar passou em um sopro, a conversa indo de tópicos mais pesados, como o que fizeram após a guerra, para coisas mais leves, como a roupa dos garçons estranhamente elegante demais para o ambiente. Era fácil ao extremo manter o papo fluindo, ainda mais quando apreciavam uma boa garrafa de vinho e depois a segunda.

Potter se encontrava agradavelmente satisfeito com seu impulso de convidá-lo a vir consigo. Nunca imaginou que sua noite iria tomar esse rumo, mas ao rir de um comentário sagaz e levemente maldoso do loiro, não pôde imaginar um lugar melhor para estar.

Muito tarde daquele dia, quase no dia seguinte, depois de terem sido convidados a sair do lugar, ambos andavam pela rua principal do restaurante com o rosto corado pelo frio e álcool no organismo. Várias casas brilhavam com brilhos de natal que pouco importavam para a dupla.

— Mal me lembrava que estamos em época de natal.

— Não suporto essa época — respondeu amargo.

— Tenho um sentimento agridoce, não chega a ser bom, mas não é horrível.

— Não há um sentimento bom para mim, sempre acabo sozinho em casa, ou sendo um peso na casa de um dos meus amigos, é definitivamente uma merda — Draco soltou parando de andar do nada.

— Pode vir passar o natal na toca, comigo. — Conforme as palavras iam saindo, o horror no rosto de Malfoy fazia o sorriso de Potter aumentar ainda mais, os fazendo rir como crianças no lugar vazio.

Uma rajada forte de vento bateu no rosto da dupla, que se encolheu em seus casacos. Draco observou o céu em uma mistura de roxo e azul profundo, pela posição da lua sabia que deveria ser umas cinco da manhã, no máximo. Harry encarava com curiosidade o ex-sonserino.

— O sol sumiu faz tanto tempo que daqui a pouco volta — Malfoy soltou ao nada.

— O quê? — Franziu a expressão.

— As luzes estão acendendo; um brilho prateado que se estende até o mar.

— O que você está falando, Malfoy? — Harry riu, achando um tanto adorável a situação.

— Nós tropeçamos em uma visão; Isso é feito sob medida para dois; Que pena que esses dois somos você e eu; Algum outro garoto e cara; Adoraria este céu rodopiante; Mas há apenas você e eu; E nós não temos chance; Isso nunca poderia ser;

Malfoy cantou a letra suavemente, fazendo gestos mais teatrais do que Potter imaginava, enquanto andava e pulava pela rua deserta, e em resposta só conseguia olhá-lo fascinado. Até ele parar e o olhar sorridente, como uma criança travessa que faz algo errado.

— Vai me dizer o que foi esse rompante? É algum tipo de histeria pós álcool?

— Essa música se chama A Lovely Night, de um musical trouxa chamado La La Land. — Ele fez uma pausa na fala voltando a andar, só que dessa vez na direção do auror. E Harry quis aproveitar o silêncio para dizer que Hermione amava esse filme, porém ele se impediu. — Conhece?

— Não de fato.

— Imaginei... — Ele sorriu, e mesmo sendo uma clara crítica à sua falta de cultura, Harry não se sentiu ofendido. — Eles cantam sobre a noite perfeita, o encontro perfeito e como tudo estava acontecendo naquele momento, mas era uma pena ele ser ele e ela ser ela, o desperdício de uma noite adorável. Tudo isso, o teatro, o jantar, o papo, até mesmo essa caminhada pela madrugada, me lembrou disso. Me sinto dentro do filme.

— E eles realmente não são feitos um para o outro? — Sua curiosidade era verídica. Pelo pouco que lembrava de Hermione falando, aquele filme era um romance, como a maioria do entretenimento que ela consumia.

— Não, eles são perfeitos um para o outro e se amam mais do que você poderia mensurar. — Draco sorri docemente, como se visse e sentisse eles, era bonito de ver, mas com um suspiro dramático a expressão murchou.

— Pela sua cara esse filme não termina bem. — Potter não entendia bem o conceito de ver filmes de romance onde não havia o final feliz do casal, era se maltratar por prazer. — Algum deles morre?

— Não é por aí, mas eu gostaria que assistisse, fica minha recomendação. — Ele sorriu fino e jogou seu corpo para frente na intenção de voltar a andar, mas Harry segurou seu braço o pondo à sua frente.

— Não, me conte! — exigiu de forma birrenta, na brincadeira. — Esse filme é de quando?

— Tem uns seis anos, sei lá — Malfoy chutou, fazia bons anos que vira o filme, vira e mexe assistia, deu de ombros.

— Então não existem spoilers depois de tanto tempo.

Draco riu, riu mesmo, não o meio sorriso ou sorriso fino, era um riso aberto, quase infantil. Harry se aproximou ainda mais, observando quase em êxtase, nunca havia presenciado aquilo nele. Era viciante. Quis tocar seu pescoço para sentir a vibração da garganta, mas se conteve.

— A vida afasta eles — ele fala depois de quase um minuto de silêncio depois de rir. — Podemos pôr as coisas assim, acaba que as diferenças que fizeram eles começarem o relacionamento são uma das causas do fim.

— É um péssimo filme — Harry resmungou.

— É um filme realista — Draco argumentou.

— A vida não precisa ser amarga para ser real, Malfoy. — Potter cerrou os olhos, deixando sua mão cair ao lado do corpo.

— Irônico você dizer isso, de todas as pessoas — respondeu com certa descrença.

— Pelo contrário, eu mais do que ninguém preciso acreditar que as coisas podem ser boas ao fim, senão do que adiantaria viver depois da guerra? — A pergunta veio como um tapa na cara de Draco, mesmo com o sorriso simples que Harry direcionava para si.

Draco se calou ao ouvir isso, incapaz de discordar ou até mesmo concordar, seria difícil até formular uma frase, e Harry tomou a liberdade de avançar mais um passo, deixando um espaço mínimo entre eles e ficou ali, dando tempo para que ele pudesse se afastar ou afastá-lo se a proximidade incomodasse.

— Eles têm uma música que não seja se xingando? — Harry sussurrou e viu quando a respiração de Malfoy engatou, e ele engoliu em seco movimentando o pomo de adão.

— Eles não estão tecnicamente se xingando nessa mu...

— Tecnicamente é um sim. — Cortou o discurso. — São xingamentos velados.

— Mas sim, eles têm, City of Stars — o loiro respondeu baixo, visto que o outro estava quase colado em si.

— Canta para mim? — Harry colocou sua mão no dorso dele e murmurou no seu ouvido.

Passaram longos segundos até a voz baixa de Draco começar a cantar a música.

"City of stars. Are you shining just for me?

Cidade das estrelas. Você está brilhando só para mim?


City of stars. There's so much that I can't see

Cidade das estrelas. Há tanto que eu não posso ver


Who knows? Is this the start of something wonderful and new?

Quem sabe? Este é o começo de algo maravilhoso e novo?"


Harry olhava as íris pratas dilatadas que estavam fixas em si, as palavras cantadas soprando contra seus lábios e sua mão mantida no rosto esguio fazendo uma suave carícia. Se aproveitando do tempo da música, deixou um selar terno nos lábios alheios, preferindo que seu eu sóbrio lidasse com aquela situação depois, no momento só era impossível não beijar Draco.

Harry se afastou um pouco, dando mais uma abertura para que ele se fosse, ou o xingasse, porém Draco o segurou pelo ombro e terminou a canção:


"Who knows? Is this the start of something wonderful and new?

Quem sabe? Este é o começo de algo maravilhoso e novo?


Or one more dream that I cannot make true?

Ou mais um sonho que não posso realizar?"


Era isso, não havia dúvidas, Harry precisava mesmo beijá-lo naquele momento, e com um movimento brusco puxou o corpo grande contra o seu, iniciando um beijo intenso. As mãos de Malfoy o seguravam com firmeza, como se tivesse medo que ele fosse embora, mas Potter apenas o segurou ainda mais firme, dedicando tudo de si ao outro. Tudo parecia ter parado, menos a brisa congelante da noite que antecede o natal, as estrelas e a lua naquela linda noite.










Notas finais:


Esse foi meu especial de natal, não tão natalino, pois não sou muito chegada nessa data, e não dava tempo de transformar em um de virada, temos que manter nossa relação franca k

Gente, feliz natal para vocês! Que tenham comido muito na ceia, desejo a toda e qualquer pessoa que esteja lendo isso muita paz, tranquilidade, amor, e dinheiro (pq eu sempre desejo dinheiro a todos), como não terei especial de réveillon, já deixo minha felicitações e pré medições para 2023, o qual espero que seja um ano incrível, cheio de sucesso (e dinheiro k) ✨✨

Boas festas, meus amores, beijo da fadas!💙🦋

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