Capítulo 5
-" Mãe, a senhora não precisa cozinhar. Você mal chegou de viagem, vá descansar ". Minha mãe insistiu pela terceira vez.
Deu até vontade de falar deixa a vovó cozinhar em paz. Mas não falei isso. Apenas fiquei de olhos fechados inalando o cheiro maravilhoso da sua sopa de minestrone. Por um momento me senti na Itália novamente. Todas as sextas-feiras eu e Janet íamos à casa da vovó com o restante de nossos primos. Eu contava os dias para chegar logo de uma vez a tão desejada sexta-feira. Assistíamos a filmes infantis e depois comíamos a pizza que minha tia Sarita e vovó faziam, mas já no frio, tomávamos sopa até percebemos que não havia mais espaço em nosso estômago. Era incrível.
-" Nonna, capricha na sopa e mostra pra esses americanos o que é comida de verdade ". Janet gritou do corredor. Evan estava junto a ela, adorei ver suas bochechas corarem de vergonha quando minha avó começou a falar italiano. Tenho certeza que ele não compreendeu nada.
-" Já faz um tempo em que não me sinto assim, sabia? ".
-" Assim como piccolo? ". Adorava quando ela me chamava assim. Ainda mais quando ela usava piccolo fliore. Pequena flor.
-" Sei lá, acho que italiana de novo ".
-" Mas quem disse que você não é mais italiana? ". Ela bufa. -" Não anda mais falando italiano mocinha? ". Minha nonnna arqueia as sobrancelhas e apenas sorrio.
Às vezes me sinto única quando estou com minha avó. Ela sempre me dá toda atenção, e adororava fazer ciúmes na Janet antigamente. Uma vez perguntei a vovó quem era sua favorita. Minha mãe brigou comigo e falou que a nonna amava eu e minha irmã igualmente e não existia isso de a preferida, mas ainda no final daquele dia quando todos estavam assistindo futebol na mini TV da cozinha, apenas eu e vovó Rosie estávamos na varando observando as flores do jardim. Eu estava aninhada a ela feito uma bebê, enquanto nossa cadeira balança pra frente e para trás. Me lembro de ter lhe dito que amava aqueles momentos, e então ela sorriu levemente e falou que eu sou sua favorita. Aquele foi nosso segredo desde então.
-" O jantar está pronto! ". Gritei assim que minha vó colocou a grande panela de sopa sobre a mesa.
Depois do jantar continuamos na mesa jogando baralho. Fizemos dupla e obviamente vovó foi a minha. Janet gritava com Evan sempre que ele jogava uma carta errada, minha mãe e meu pai como sempre fizeram seus truques para ganhar o jogo, mas quando se joga com uma senhora de sessenta anos completamente fluente em jogos de cartas, não importa qual a sua deixa, ela sempre ganha o jogo. E ganhamos em última hora.
-" Isso não é justo, vocês trapacearam ". Evan protestou.
-" Se você tivesse jogado ao menos uma carta boa uma única vez ". Janet resmunga e todos nós caímos na gargalhada.
Minha mãe se levanta e vem ao lado da vovó assim que ela diz que vai dormir. -" Então a senhora gostou do Evan? ". A escuto cochichar. E acho que todos nós escutamos pois vejo todos rirem. Mamãe nunca conseguiu ser discreta.
-" Então, nonna? ". Evan interrompe.
-" Você é melhor do que imaginei ". Vovó diz sorridente e vejo Janet sorrir e dar um selinho em seu namorado o que me trás uma pitada de ciúmes.
***
Desfaço as malas da vovó na manhã seguinte quando ela resolve ir no mercado com minha mãe. Janet ainda está dormindo ou já deve estar conversando com Evan por ligação em seu quarto. Meu pai já deve ter saído para trabalhar há algumas horas e passo pela cozinha e encontro seu prato acima da bancada com sobras de panquecas o que indica que ele saiu às pressas. Pego Júpiter no colo e o coloco sobre bancada para limpar a bagunça do papai. Ele apenas me encara com seus olhos castanhos e lembe a pata.
-" Nessas horas você faz questão de não ser útil ". Esbravejo.
-" Bom dia, flor do dia ". Minha mãe fala alto demais espantado Júpiter quando passa pela porta da cozinha com várias sacolas nas mãos, vovó vem logo atrás apenas segurando uma bandeja de ovos.
-" Esses mercados deveriam ser mais próximos. Na Itália tínhamos tudo por perto, não sei porque vocês decidiriam se mudar para os Estados Unidos ". Vovó resmunga enquanto usa o pé para empurrar a porta.
-" Bom dia para você também nonna ". Digo e ela abre um sorriso assim que percebe minha presença.
-" Advinha o que eu preparei para minha fliore? ". Ela afina a voz da mesma forma que fazia há muitos anos atrás quando eu ainda era uma criança.
-" Pra falar a verdade não faço ideia nonna ".
-" Chá gelado com mel ". Vovó pega o chá da geladeira e me entrega e espera até que eu dê um gole. Ela sempre me fazia isto quando ainda morava na Itália.
-" E advinha quem eu encontrei no mercado? ". Minha mãe pergunta.
Dou de ombros e tomo o primeiro gole do chá. Sinto o sabor doce do mel. Vovó olha para mim com tanta felicidade que até penso a falta que fazemos a ela depois da mudança.
-" Encontrei com a Julie ". Vejo minha mãe bater palminhas.
-" Ah ". Ela revira os olhos quando não disfarço minha falta de interesse.
Julie é a mãe de Margot. E graças a mim e a minha amiga, unimos nossas mães em uma bela amizade. Literalmente. Sempre que eu vou sair mamãe liga para Julie para saber se Margot vai também, e a mãe da minha amiga faz a mesma coisa. Sempre que nossas mães se encontram, na maior parte do tempo elas fazem fofocas. Não suporto ouvir minha mãe falando sobre alguém da vizinhança depois de ter se encontrado com Julie em algum lugar.
-" Você não vai acreditar quem está na cidade ". Me sento na cadeira e dou uma golado no meu chá. -" Josh ". Ela finaliza.
Me engasgo no exato momento em que escuto aquele nome. Cuspo um pouco da bebida sobre a bancada enquanto minha mãe apenas me encara de boca aberta.
-" Joshua Andrews? ". Pergunto.
-" Que nojenta ". Vejo Janet apoiada em uma das paredes da cozinha e me pergunto a quanto tempo ela está ali.
-" Você sempre gostou do meu chá. O que os Estados Unidos está fazendo com minha netinha? ". Vovó pergunta com uma cara que me faz sentir pena.
-" Não a nada de errado nonna, está incrível como sempre ".
Encaro mamãe e ela também me encara. Espero que ela me responda mas acho que o silêncio já é sua resposta. Fico intacta ao saber que ele voltou.
-" Qua-quando... Quando que ele voltou? ". Pergunto. E por um minuto me odeio por gaguejar.
-" Vocês não estão falando daquele Josh, certo? ". Janet olha da mamãe para mim.
-" Quem é Josh? ". Vovó pergunta.
-" Ele era um namoradinho da Blanca ". Minha irmã ri.
Me seguro para não jogar o prato do papai em sua cara.
-" Cala a boca. Ele não era meu namoradinho ".
-" Meninas, se acalmem ". A voz da mamãe sai baixa mas ainda a escutamos. -" Joshua era um " amigo " da Blanca, mãe ". Fecho a cara quando a vejo fazer aspas com os dedos.
-" Ele era o amor da vida da Blanca pra resumir ". Jogo um pedaço das sobras da panqueca do papai em Janet.
-" Ei! ". Minha mãe a segura pelo braço antes de Janet fazer o mesmo comigo.
Minha irmã mostra a língua e vira as costas e a vejo partir. De certo foi passar maquiagem e colocar uma das suas roupas de líder de torcida para bancar a popular na escola.
-" Blanca, quer explicar para sua nonna? ". Minha mãe pergunta. Queria poder dizer que não, mas não iria matar o assunto depois de já ter sido mencionado. Ainda mais para minha avó.
Sou rápida com resumos, e prefiro não dar muitos detalhes. Joshua Andrews é o mais velho e único irmão de Margot. Ele foi um dos nomes em minha lista. A diferença é que depois que ele partiu, passei corretivo na escrita do seu nome como se nunca tivesse estado lá. Me apaixonei por Josh, acho que quase cheguei a amá-lo. Nos conhecemos quando eu me tornei amiga de Margot. Pensei que talvez ele poderia apenas ser o irmão gatinho da minha amiga que já estava no ensino médio. Mas não foi só isso.
Maior parte das férias, minha amiga vai para New York com sua madrinha Paige. Margot fica por lá todo o verão e só volta no primeiro dia de aula. Mas teve um verão ao qual ela queria ficar aqui em Santa Monica para curtir a praia, mas como sempre é só sua madrinha mima-lá com roupas de marca que Margot pensa nas outras coisas caras que poderá fazer se for passar um tempo com Paige. Josh sempre preferia ficar na cidade para fazer as mesmas coisas das férias anteriores. Então quando eu ainda conhecia Margot a pouco tempo, havia me esquecido da sua viagem de verão e dei uma passada na sua casa. Obviamente ela não estava, mas encontrei Josh, que de costume ajudava o pai a pintar a casa. Eles pintavam a casa todo ano. Me lembro de ele estar todo sujo de tinta azul quando o vi, seus cabelos haviam crescido tanto naquele ano que as pontas quase batiam nos ombros. Josh me convidou para ir no píer com ele já que sabia que eu estava sozinha com minha única amiga longe. Acabamos fazendo isso em todos os próximos anos, já tinha criado uma amizade com ele que chegava a admirar Margot.
-" Por quê ele partiu? ". Escuto vovó perguntar. Se fosse uma garota da escola que era apaixonada por ele, diria que ele foi embora por ser um idiota.
-" Ele se alistou quando completou dezoito anos ". Minha mãe responde.
Me lembro do dia em que ele foi embora. Pensei que nunca mais iria parar de chorar.
-" Josh entrou no exército e foi pro Afeganistão. É isso ". Dou um beijo na testa da vovó e depois em mamãe. -" Tenho que ir, não posso chegar atrasada ".
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