Prólogo • A fuga
Ilha de Nuvaris, Mar do Sul.
— Nós temos que fugir. Agora.
As palavras escaparam freneticamente da boca de Balthar Hazhur. O homem andava ligeiro de um lado para o outro na sua pequena cabana de madeira, jogando em um saco de couro apenas o essencial para uma viagem de tempo indeterminado. Na verdade, uma fuga. E uma completamente inadiável.
Segurando as lágrimas quentes, sua companheira, Serene, também arrumava em uma sacola as coisas das filhas que choravam na cama ao lado. Ainda que ela não se permitisse sucumbir ao medo, seu coração doía. Quando colocou o último pertence no saco, pensou até mesmo que a tristeza poderia a matar. Não importava o quanto havia se preparado para aquilo ou o quanto dizia a si mesma que tudo ficaria bem — sabia que estavam arruinados.
Amarrando seu pacote, ela fechou os olhos e respirou fundo, tentando controlar a própria mente. A voz de Balthar repetindo que deveriam ser rápidos e o choro das filhas quase a enlouqueciam, mas ela precisava se acalmar. Puxou o ar com força e após um segundo, levantou as pálpebras novamente, encarando a casa. Serene olhou tudo atentamente: os móveis de madeira, a decoração improvisada, as flores murchando num vaso sobre a mesa da cozinha. Ela memorizou cada pedaço do lar onde viveu os melhores anos da sua vida...
E também onde escondeu a maior das mentiras.
Por mais que tivesse realmente acreditado que podia mascarar quem era para sempre, uma parte da sua consciência sussurrava em seu ouvido que, uma hora ou outra, aquele dia chegaria. Serene podia ter um lindo rosto humano, a pele negra e macia de uma humana, olhos brilhantes, pacíficos e totalmente... humanos. Mas ela não era humana. Nada podia mudar o fato de que era uma níren, parte de uma raça massacrada e expulsa das ilhas de Dheia pelos homens e mulheres pelos quais tentava se passar.
Quando escolheu ficar nos mares humanos ao invés de seguir seu povo em busca de um refúgio contra a Guerra Sangrenta, Serene sabia que estava arriscando sua vida. No entanto, ela e Balthar se amavam tanto que era insustentável que se separassem, e ele não podia segui-la em sua jornada pelo mar. O homem não era um níren, não podia se transformar em nenhuma criatura marinha para nadar ao lado dela até os confins do oceano — ainda que com certeza tentaria, se pudesse. Ela, contudo, tinha uma forma humana que lhe permitia viver em terra firme pelo tempo que quisesse. Tudo que precisava fazer era ficar longe do mar, e justamente essa era a coisa mais difícil de todas quando era a ele que ela pertencia.
Como era inevitável, após longos anos em terra firme, Serene precisou voltar à água. Depois do nascimento da segunda filha, a níren ficou tão doente que nenhum remédio humano conseguia ajudá-la, e ela sabia que apenas uma alga especial poderia fazê-lo. Por isso, junto a Balthar e às filhas, arrastou-se da sua casa no meio das florestas úmidas da ilha de Nuvaris, indo para o perigoso litoral.
Estar tão perto da água não era seguro para Serene, especialmente quando era quase impossível achar um pedaço de costa que não fosse tomado por vilarejos, cidades e portos em qualquer ilha de Dheia. Porém, ela não tinha escolha, então selecionou o lugar mais inabitado possível, numa pequena praia a leste de casa, e esperou o anoitecer.
Quando não via mais ninguém, Serene apressou-se até seu destino com o resto das forças consumidas pela doença. Esquadrinhando os arredores com receio, ela e Balthar esconderam-se com as filhas entre as pedras grandes da praia acidentada. Sem perder tempo, a mulher tirou a roupa e se esgueirou até o mar. Por um segundo, ainda parou e virou para checar suas meninas, mas elas estavam quietas nos braços do pai, o que era um alívio quando seu choro podia denunciar a presença deles ali.
Logo voltando ao seu caminho, a níren continuou e quando estava à beira das ondas que varriam a areia áspera, respirou fundo.
Serene estava fraca, uma pilha de nervos e, ao mesmo tempo, ávida por aquilo. Há anos não visitava sua forma marinha e sentia falta dela, ainda que somente a ideia de ser pega transformando-se a aterrorizasse profundamente. Ela hesitou um segundo, mas cheia de saudade e medo, finalmente entrou na água. A sensação magnífica de estar no mar a tomou e fechando os olhos, ela abandonou o corpo humano e doente, mergulhando sob o luar e sendo engolida por espuma que sumiu com sua forma até se tornasse uma linda serpente marinha.
Balthar observou tudo completamente encantado. Após tanto tempo com Serene na forma humana, não podia evitar extasiar-se com a transformação que acontecera diante dos seus olhos. Entreabrindo os lábios, ele suspirou e segurou as filhas mais firmemente nos braços. A forma delgada, comprida e vividamente azul em que seu amor se transmutara surgiu e serpenteou até quase chegar na areia, como se o dissesse que estava tudo bem, mas logo desapareceu na água escura e na brisa fria da noite.
Ela era extraordinária, ele pensou. Era a mulher mais extraordinária do mundo.
Como serpente, Serene mergulhou até que, muito fundo e na maior das escuridões, avistou o que procurava: algas-da-lua. Impregnadas em pedras inertes, as fluorescentes e azuladas algas oscilavam na corrente fraca, vivendo tão distante da superfície que por não receberem luz do sol, acabavam criando sua própria luminosidade. Aquelas habitantes marinhas tinham um inestimável poder de cura, especialmente para os nírens. Elas eram a salvação de Serene e quando ela devorou uma, foi como receber um milagre.
A níren comeu todas as algas-da-lua necessárias para restaurar seu corpo, mas apenas o suficiente. Nunca devia tomar do mar mais do que precisava, e por mais que quisesse passar mais tempo ali, sabia que devia voltar logo para a superfície. Sua família a esperava e quanto mais ficavam na praia, maiores eram as chances de se depararem com outro humano — e possivelmente um que fizesse parte da imensa maioria que odiava os nírens.
Se despedindo do oceano e da sua forma marinha, Serene voltou às águas rasas e foi levada pelas ondas até a areia, sendo consumida por espuma novamente para retornar à forma humana. Sentia-se completamente revigorada agora, mas ainda demorou a levantar. Ela apoiou as mãos no chão fofo e encarou os grãos dourados. Estava tomada por um turbilhão de sensações entre o deleite, o medo e a saudade, completamente imersa em si mesma. Somente quando Balthar se aproximou e abaixou-se cuidadosamente com as filhas para vê-la, ela pareceu voltar definitivamente à terra firme.
Sorrindo, Serene confirmou ao companheiro que estava bem e apanhou o vestido largado numa pedra, o pondo outra vez. Seu cabelo encaracolado pingava e seu coração ainda palpitava, mas ela jogou tudo no fundo da mente. Sua filha mais velha agora chorava e se não partissem logo, alguém poderia ouvir, e mesmo na forma humana, ela não podia arriscar. Tudo que precisavam fazer para descobrir sua aparência marinha era jogá-la na água e então, seria queimada viva — esse fora o destino do último níren encontrado em mares humanos. Afinal, eles não precisavam cometer nenhum crime; o maior dos seus delitos já era ser diferente.
Batendo as mãos na saia do vestido para limpá-las da areia, Serene pegou a filha caçula dos braços de Balthar e eles viraram-se para ir. Mais uma hora de caminhada e estariam de volta à sua casa na floresta, seguros e felizes. Retornariam à vida de sorrisos, veriam as crianças crescerem e correrem ao redor das árvores, cuidariam um do outro até o fim dos seus dias. Só mais um pouco e voltariam para o lar...
No entanto, não era isso que o destino tinha os reservado.
Uma níren! Um grito longínquo ecoou pela praia. Serene e Balthar arregalaram os olhos, saltando de susto. Seus corações aceleraram e suas respirações quase pararam. Aterrorizados, eles apertaram as filhas nos braços, olhando ao redor em busca da fonte da voz e logo encontrando um homem escondido atrás de uma pedra distante. Todo o rosto dele estava contorcido de horror e ódio, e parecendo ter assistido toda transformação, ele largou a rede de pesca que trazia nas costas e correu em direção ao pequeno vilarejo próximo.
Níren! Monstro! Ele berrava enquanto se afastava, tão alto que podia ser ouvido de muito longe.
Tomados pelo desespero, Balthar e Serene também correram, mas direto para o caminho das árvores. De todas as coisas, a pior havia acontecido: ela havia sido descoberta.
Estava morta. Toda sua família estava morta, era tudo que Serene pensava enquanto disparava entre os troncos largos com uma das filhas chorando nos braços, tropeçando em cascalhos. Ao seu lado, os mesmos pensamentos terríveis tentavam tomar a cabeça de Balthar, mas ele os reprimia com intensa veemência.
Ele as protegeria a qualquer custo. Ainda que precisasse queimar numa fogueira ou ser cortado em pedaços, ele as defenderia. Ninguém as machucaria, o homem repetiu incansavelmente para si mesmo até que, quase derrubando a porta, entrou em casa outra vez — e pela última vez.
Agora, com os sacos de pertences prontos, Balthar colocou tudo nas costas e se aproximou da companheira que encarava o lar. Apesar da pressa e da aflição, ele suavemente repousou uma mão no ombro dela. Sabia que, àquela altura, todo o vilarejo da praia em que estiveram e mesmo os vizinhos já deviam saber que uma níren habitava entre os humanos. Eles os seguiriam e os encontrariam ali. Precisavam partir o quanto antes.
— Meu amor... — Ele chamou muito baixo, a voz quebrada. Serene virou para olhá-lo. A pele clara dele estava ainda mais pálida e o cabelo escuro, suado. — Temos que ir agora. — Balthar repetiu, talvez pela milésima vez desde que haviam entrado em casa.
— Eu sei. — Ela somente respondeu, respirando fundo e reprimindo as lágrimas. — Eu sei — repetiu firmemente, agora tentando conformar a si mesma.
Com um aceno de cabeça, eles apanharam seus sacos, suas filhas e saíram da moradia. Nenhum dos dois se atreveu a olhar para trás, para a vida que haviam construído, e não conseguiram falar também. Apenas tomaram rumo em direção a um pequeno porto ao norte, distante o suficiente da casa e pouco frequentado, exceto por alguns pescadores e navios piratas. Com sorte, os boatos ainda não haveriam chegado lá e eles escapuliriam no primeiro barco que saísse da ilha, para qualquer que fosse o destino.
Ligeiros, Balthar e Serene seguiram muito temerosos que o choro das filhas denunciasse sua localização para os perseguidores. Entretanto, nada podiam fazer para silenciar a criança maior de dois anos e muito menos a mais nova, de apenas um mês de idade. Eles somente rezavam para conseguirem chegar ao porto a salvo, atentos a qualquer outro ruído além do crepitar do bosque e do pranto das meninas. E, por muito tempo, isso foi realmente tudo que ouviram, até que outro som ecoou na floresta:
Passos. Muitos passos.
Ao longe, numerosas pisadas fortes e vozes raivosas surgiam de todos os lados. Os vilarejos já estavam no seu rastro. Não podiam despistá-los enquanto as filhas choravam e o pânico logo tomou seus corações. Parando de correr, o casal olhou ao redor em busca de qualquer lugar que lhes servisse de refúgio, mas tudo que encontraram foi uma grande pedra distante e coberta de musgo, e sobre ela, parte de um tronco de árvore caído.
Era tudo que tinham. Correndo para trás da pedra, eles encolheram-se perto do tronco e aninaram as crianças até que parassem de chorar. Não muito tempo depois, luzes de tochas perturbaram a escuridão da floresta e dezenas de falas surgiram completamente claras, uma verdadeira algazarra.
— Eu sei que escutei choro vindo daqui. — Um homem disse.
— Não tem nada aqui! — Outro retrucou, impaciente. — Nos colocou no rastro errado, seu idiota! — E mais resmungos e brados surgiram, muitos de uma só vez.
— Nós nem procuramos direito! — O primeiro rebateu. — Eu sei o que ouvi e a níren não pode ter ido longe. Vamos cobrir toda área, até embaixo das pedras, se preciso — mandou, a voz distorcida pelo ódio.
Mais queixas e vozes surgiram, mas elas novamente foram substituídas pelo barulho de passos por todo lugar. Serene e Balthar escutavam aterrorizados enquanto as pisadas pareciam se aproximar cada vez mais.
Eles estavam perdidos. Não podiam lutar com todos aqueles homens, não conseguiriam fugir deles e se continuassem ali, seriam encontrados. Seu plano de fuga havia sido arruinado e segurando as lágrimas nos olhos, a mulher cerrou as pálpebras, tomada pelo desespero.
Suas filhas, eles a matariam. Eles matariam todos.
Tremendo, Serene clamou aos deuses que lhe enviassem algo que pudesse salvá-los. Qualquer coisa, implorou.
Nesse momento, encolhendo-se, ela sentiu um volume no bolso da saia do vestido. Abrindo os olhos rapidamente, Serene deslizou os dedos dentro da roupa, lembrando-se do pertence mais importante que trouxera da sua cabana na floresta. Podia mesmo gritar quando puxou do vão um fino cordão de prata, observando a grande pedra azul pendente nele — a Joia Abissal. Ao redor da gema, gravadas na moldura prateada, escrituras no idioma níren ditavam um encantamento poderoso; um que Serene esperou jamais precisar usar... mas ela também não esperava estar a um passo da morte com sua família. Se não podia evitar o destino, ao menos não seria refém dele.
— Balthar. — Ela chamou de repente, a voz tão baixa e trêmula que o homem mal ouviu. Aflita, ela tocou o ombro dele. — Meu amor — falou novamente, e dessa vez, ele virou o rosto desesperado para encará-la. — Eu tenho um plano.
Franzindo o cenho, Balthar esquadrinhou o rosto da sua amada e logo depois, avistou o colar em sua mão. Ele arregalou os olhos e seu sangue quase congelou nas veias. Sabia o que aquela joia fazia e não estava disposto a usá-la.
— Nós não vamos...
— Por favor, me escute. — Ela logo o interrompeu, já sabendo o que diria. As lágrimas esmurravam seus olhos. — Se ficarmos aqui, vão nos encontrar. Se corrermos, nos alcançarão. Não vai demorar até que a ilha inteira saiba que há uma níren fugitiva, e depois a notícia vai se espalhar por toda Dheia — disse, a voz tão baixa que ressonava. O choro já escorria pelos olhos de Balthar sem freio. — É a mim que eles querem. Se me verem partindo, isso acaba aqui e você poderá fugir com elas — terminou, meneando a cabeça na direção das filhas.
— Eu não vou deixá-la. — Balthar murmurou, relutante. — Não posso deixá-la. Não vou. — E encostou a testa na da mulher, sentindo o salgado do seu choro se misturar ao amargo que subia do estômago para sua boca.
— Você precisa fazer isso. — Ela choramingou. — Nós precisamos.
Serene fungou, apertando a filha nos braços e o colar nas mãos. Aquilo doía como uma faca apunhalada no seu peito, mas faria qualquer coisa para salvar as crianças e Balthar; mesmo que isso significasse nunca mais vê-los novamente.
Um segundo de profundo e doloroso silêncio se fez entre eles, mas sempre maculado pelo som de passos cada vez mais próximos.
— Prometa que cuidará delas. — Serene pediu, se afastando para encarar o companheiro desolado. — Prometa que as amará por nós dois — emendou.
Balthar fechou os olhos, seu coração despedaçando-se em milhões de cacos no chão da floresta. Ele amava aquela mulher tanto que doía em todos os seus ossos, mas sabia que precisava proteger as filhas. Além disso, ele nunca conseguiria impedir Serene. Ela faria o que precisava com ou sem sua ajuda. Então, engolindo o choro, ele reuniu toda sua força para relutantemente abrir os olhos e dizer:
— Eu prometo.
Assim, assentindo com um sorriso triste, Serene o entregou a criança mais nova. O bebê se aconchegou nos braços do pai junto à irmã e suspirou no sono leve. Não podendo mais conter o choro, a mãe beijou a testa das filhas, molhando o rosto delas com suas lágrimas. Se despedir machucava tanto que chegava a ser insuportável. Seu coração latejava. Queimava em carne viva. Ainda assim, nada seria pior que vê-las morrer sem tentar impedir. Precisava dar-lhes uma chance de crescer, viver e amar.
Aproximando o rosto do de Balthar, Serene beijou seus lábios ternamente. Ele sorveu cada nota do gosto da mulher em sua memória, cada pedaço dela. Sentia como se estivesse perdendo uma parte de si mesmo e quando ela se afastou, encostando seus narizes, ele quis definhar no chão da floresta. Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo.
— Eu te amo. — Balthar sussurrou, a voz quebrada.
— Eu te amo — Serene murmurou, acariciando a bochecha dele com o polegar. — Eu as amo, minhas meninas — disse, agora alisando a cabeça macia das filhas. Levantando os olhos encharcados para Balthar, ela reuniu suas últimas forças para o pedir: — Por favor, não as deixe esquecer quem são. Por favor.
— Nunca. — Ele a assegurou, chorando.
Após um segundo, Serene assentiu e respirando fundo, acocorou-se e segurou a pedra azul em suas mãos, engolindo o pranto. Era chegada a hora e precisava ser forte.
— Não temos muito tempo. — Ela sussurrou. O amargo em sua garganta a fazia querer vomitar. — Quando eu disser as palavras e correr, eles me verão e me seguirão. Não vai demorar até que o mar venha me buscar, então terá dois ou três minutos para escapar com elas — emendou.
Se ajeitando na terra fria, Balthar concordou com a cabeça e reprimiu o próprio coração. Se precisavam fazer aquilo, faria dar certo. Preparando-se com a mulher, viu quando ela apertou a Joia e fechou os olhos, suspirando.
— A grande joia azul... — Ela cantarolou. — abre as portas para o Reino Abissal.
Estava feito.
A respiração de ambos embolou, mas abrindo os olhos, Serene emaranhou o colar na manta da filha mais velha e fitou Balthar, um segundo antes de correr em direção aos seus algozes. Logo a avistando, um homem gritou e todos a perseguiram enquanto seu companheiro saía furtivamente pela direção oposta com as crianças. Eles as cobriu com as mantas, rezando para que não chorassem. A cada passo que dava, sentia como se estivesse sendo apunhalado. Nada nunca havia doído tanto.
Do outro lado, Serene correu até sentir suas forças se esgotarem e a terra encharcar embaixo dos seus pés. Água brotava do chão ao seu redor, a cercando com a magia poderosa do colar que deixou com a filha; um presente que recebera para caso decidisse abandonar os mares humanos. Ela nunca quis pensar que o usaria, mas quando parou numa clareira e ajoelhou-se, completamente exaurida, percebeu que só ignorou o inevitável todo o tempo.
Resfolegando, Serene observou os homens que a perseguiam se aproximarem de onde estava, mas não se afetou. A água jorrava da terra bruta, envolvendo seu corpo como uma manta. Ali, ela sentia tudo intensamente: a dor, a tristeza... o amor. No fim, quando lembrava das filhas e de Balthar, não se arrependia de nada. Faria tudo exatamente igual para ter a chance de estar ao lado deles pelo tempo que fosse.
Sorrindo com o pensamento da sua família, ela largou as mãos ao lado do corpo. As últimas coisas que escutou foram gritos de "besta", "monstro" e outras atrocidades que saíam das bocas dos justos humanos, mas não se importava. Eles nunca entenderiam o amor e, por isso, suas vidas seriam vãs e vazias.
No último segundo, antes de ser completamente engolida pela água, Serene encarou a multidão. Então, levantando o braço para que todos vissem, ergueu o dedo do meio para eles. No instante seguinte, uma lança foi jogada em sua direção, perversa e afiada. Tudo não durou mais que um piscar de olhos. Logo, água e espuma marinha sumiram com seu corpo no meio da floresta, como se ela nunca tivesse existido.
Tudo que restou de Serene foi uma grande poça de água no chão.
• • •
Oi, docinho! 😍
Aqui começa nossa aventura e espero que você tenha gostado do nosso ponto de partida! É muito importante para a autora que vos fala saber o que achou, então não esqueça de deixar seu voto e seu comentário preciossísimos. 🥰
Muito obrigada pela leitura e espero te ter por aqui nas cenas dos próximos capítulos! 💙
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top