capítulo 3
Anton estava sentado à mesa do restaurante aguardando por Sara. Pediu apenas um suco de maracujá para se acalmar. Estava muito nervoso. Tomou quase todo o líquido do copo, mas resolveu manter um pouco para depois. Checou o seu relógio de pulso, começando a pensar que ela não viria. Talvez a maneira como ele contou tudo o que tinha acontecido não foi a mais adequada, e ele tinha medo de ter espantado a confeiteira.
Levantou a cabeça. Olhou para os lados. Nada. Levou as mãos ao rosto, cobrindo os olhos e respirando fundo. Ela nunca vai aceitar, repetia para si mesmo.
Para sua surpresa, ao colocar as mãos na mesa e possibilitar novamente sua visão, viu a mulher de pele escura e cabelo cacheado vindo na sua direção segurando uma bolsa simples, de uma marca barata, uma regata azul escura e calça jeans de mesma cor. Era Sara.
— Bom dia, senhor Puckett — disse ela, colocando sua bolsa em uma cadeira desocupada e sentando-se em outra.
— Por favor, Sara, apenas Anton. Já lhe disse isso antes — Anton tentava não transparecer o seu nervosismo, mas nitidamente não estava conseguindo.
— Uma água com gás, por favor — respondeu Sara ao garçom que veio até ela imediatamente após vê-la sentar. — Então... — ela direcionou seu olhar a Anton, que parecia estar prestes a enfartar. —, a que devo este convite de almoço? Vejo que o senhor... você não está muito bem.
Anton tirou o canudo de seu copo e engoliu o resto do suco virando tudo de uma só vez.
— Aliás — continuou Sara —, sinto muito por... aquilo. Não imagino como deve ser a dor de perder alguém tão próximo.
— É sobre isso que quero falar. Sobre os quadrigêmeos — Anton tirou os óculos e apertou os olhos. Em seguida, os colocou de volta. — Eles estão sozinhos. E... em perigo. Você sabe. Não tem como garantir cem por cento de segurança a eles.
Sara concordou com a cabeça, em silêncio.
— Você sabe que eu tenho uma ilha, certo?
— Perfeitamente.
— Vou levar as crianças para lá.
Sara se engasgou com a gás da sua água. Aquela era uma informação importante demais para ser contada tão rapidamente. Sara pegou um guardanapo para se limpar enquanto tentava parar de tossir e Anton pedia repentinas desculpas pelo modo como tinha contado a notícia.
— Não entendo como eu me encaixo nisto. Sem querer ser grossa, claro.
— Eu preciso de alguém para me ajudar a cuidar deles — Anton suspirou, envergonhado. — Não sei se conseguiria cuidar de todos esses bebês sozinho.
Ao ver a pergunta se formar na mente de Sara, Anton falou antes que ela pudesse perguntar:
— Eu te daria um salário, claro. E você viveria normalmente lá.
— Numa... ilha?
— Isso.
— Tipo... sobrevivência selvagem?
— Não, temos uma mansão lá.
A informação despertou um interesse imediato em Sara.
Ela baixou a cabeça para pensar. Parte dela gritava "Sim, sim, eu quero! Por favor, me salve dessa vida miserável que eu tenho", mas outra parte dizia que não era uma boa ideia.
Mas Sara estava falida. Alguns anos atrás, sua confeitaria era o seu sonho realizado. Ela trabalhava fazendo o que amava e ganhava muito dinheiro com isso. Seus doces, bolos e sobremesas eram um sucesso. Mas ela não soube lidar com isso e investir corretamente todo esse dinheiro. Seu negócio faliu.
No momento, Sara estava desempregada. Ela morava sozinha. Era solteira e precisava sustentar apenas a si mesma, mas nem isso ela conseguia. Era uma batalha para conseguir pagar suas contas o final de cada mês. A oferta de Anton foi tentadora.
— Senhor — Anton fez uma cara feia de brincadeira, e Sara riu levemente. — Anton. Eu te conheço há pouco tempo, mas sem dúvida vejo que você é um homem excelente, e muito generoso. Fico bastante feliz com a sua oferta, mas imagino que você saiba que não é uma decisão muito fácil de se tomar.
— Entendo perfeitamente, Sara.
— Por mais que eu não tenha nada a perder, sinto que não seria boa o suficiente para desempenhar essa tarefa.
— Mas que bobagem, Sara. Você é maravilhosa. Não consigo imaginar ninguém melhor para me auxiliar.
Sara corou e pegou o cardápio para tentar esconder seu rosto avermelhado. Anton fez o mesmo.
— Não estou lhe obrigando a tomar essa decisão agora. Quero que faça tudo no seu tempo.
— Prometo que te darei uma resposta em breve.
Anton concordou com a cabeça.
— Posso chamar o garçom? — perguntou Anton, já decidido do que iria pedir.
— Espere um pouco, ainda estou escolhendo.
Após pedirem seu almoço, os dois pacientemente comeram e conversaram sobre diversos assuntos, deixando o antigo para trás. Pouco depois de terminarem, Anton recebeu uma ligação.
— Alô? — ele se levantou e seguiu caminho para fora do restaurante barulhento para conseguir ouvir. Pouco mais de um minuto depois, retornou. — Um amigo meu está cuidando das crianças, mas ele tem um compromisso agora. Preciso ir.
— Tudo bem — Sara se levantou e se despediu de Anton com dois beijos no rosto.
— Pense na minha proposta.
Sara esboçou um leve sorriso amarelo.
— Vou pensar.
Ela então pegou sua bolsa para pagar a conta. Após Anton perceber e dizer que ele pagaria pelos dois, ela deu meia volta e seguiu até o ponto de ônibus para voltar para casa.
Sara entrou no ônibus e viu que não tinha lugar para sentar. Teve que seguir o caminho todo para casa em pé, segurando-se nas barras e espremendo-se com os outros passageiros. Ao chegar em casa e destrancar a porta, deitou-se no sofá marrom velho e rasgado e começou a pensar. Talvez não fosse tão má ideia aceitar aquela proposta.
— Eu teria um salário, cuidaria de quatro lindas crianças, e moraria numa mansão — disse ela para si mesma. — Mas sei lá, isso é tão...
Ela se levantou e foi até seu quarto para se deitar na cama. Ao abrir a porta, o trinco simplesmente se soltou, e Sara lutou para conseguir firmá-lo de volta. Ela então se deitou na cama e observou um mofo na quina da parede, no teto. Aquilo só podia ser um sinal do universo para ela.
— Não dá mais. Eu tenho que aceitar.
Ela então correu até a sala e pegou o telefone, discando o número de Anton. Após três toques, ele atendeu.
— Alô, é a Sara — ela apertou os olhos e os lábios e respirou fundo. — Eu aceito sua proposta.
Sara arrumou suas malas alguns dias depois. Ela se esforçou para colocar tudo o que pôde nelas, pois sabia que não poderia voltar a fazer compras no shopping tão cedo. Ela temia que a ilha fosse um cativeiro que ela não poderia sair, mas Anton explicou que ela retornaria a Curitiba todos os meses para reabastecer a casa, e que poderia até tirar algumas férias de vez em quando.
Sentada no chão de seu quarto observando a mala e mais duas mochilas cheias, Sara se perguntava se não estava esquecendo de nada. Volta e meia ela tirava tudo das mochilas para verificar se tudo estava lá. Quando percebeu que estava tudo pronto, ela pegou suas coisas e andou em direção à porta da frente, despedindo-se de sua casa. Ela avistou Anton parado em frente ao seu carro, no outro lado da rua. Ela acenou para que ele atravessasse. Assim que veio de encontro a Sara, Anton a abraçou.
— Fico feliz que você tenha aceitado. Não faz ideia de como estou aliviado por não ter que passar por isso tudo sozinho.
— Sim, sim — Sara desfez o abraço. — Agora, espere um pouco. Poderia cuidar das minhas coisas? Eu preciso entregar a chave da casa para a dona, ela mora aqui perto. Não vou demorar.
— Sim, claro. Sem pressa.
Sara largou suas coisas na calçada e andou depressa algumas quadras até chegar na casa de Ivete, a mulher que alugou uma de suas propriedades a Sara, e bateu na porta. Alguns segundos depois, ela se abriu.
— Oi Sara, querida — Ivete a recebeu com dois beijos no rosto. — Tudo bem? Já vai ir?
— Sim, vim deixar a chave com a senhora.
— Claro, claro, muito obrigada. Obrigada também por me vender sua mobília. Sabe, vai facilitar muito a vida de algum estudante ou universitário que vai morar sozinho pela primeira vez.
— Eu que agradeço pela senhora ter alugado a casa para mim. Mas agora preciso ir — Sara a abraçou rapidamente. — Tchau.
— Tchau, querida.
Ao retornar, Sara avistou Anton a esperando pacientemente. Os dois então foram até o carro e Anton colocou a bagagem de Sara no porta-malas,
— Foi difícil colocar quatro bebês num carro que só tem espaço para três pessoas na parte de trás, mas eu consegui.
Anton fechou o porta-malas e entrou no carro, e Sara em seguida. Ele dirigiu até a mansão de um amigo, onde estava seu helicóptero. Sara arregalou os olhos ao vê-lo.
— Não se preocupe — disse Anton ao perceber o incômodo de Sara. — Os bebês ficaram bem, não serão importunados pelo barulho. Eu lhe garanto. E eu tenho um motorista profissional que não vai deixar que nada de ruim aconteça.
Os dois desceram do carro. Enquanto Sara levou suas coisas até o helicóptero, Anton foi tirando os bebês das cadeirinhas e levando-os até o helicóptero. Em alguns minutos, estava tudo pronto.
Aflita, Sara tentava conter o nervosismo. Ela nunca havia voado de avião, quem dirá de helicóptero. Ela pensou que fosse desmaiar quando saiu do chão, mas logo se acostumou. Ela estava em frente aos quadrigêmeos, todos dormindo, e sorriu ao pensar como seria cuidar deles.
No caminho, de vez em quando algum deles acordava de vez em quando e chorava, mas logo Sara os acalmava e tudo voltava ao normal.
Em algumas horas, o helicóptero chegou na ilha. A vista era incrível. Sara só conseguiu pensar que tinha feito a escolha certa. Aquele lugar parecia ser mágico. As águas azuis entrando em contato com a areia, que por sua vez se desfazia em gramados e florestas. E, claro, na mansão. Era enorme, muito maior que a que Anton morava em Curitiba. Sara não estava conseguindo acreditar que iria viver lá. Parecia um sonho do qual ela jamais desejaria acordar.
O helicóptero pousou numa área exclusiva para isso, e logo Anton e sara foram descarregando as coisas e os bebês. Ao entrar na mansão, Sara ficou ainda mais admirada. Com a cor predominante branca, parecia valer mais dinheiro do que ela ganharia em três reencarnações. Não dava para acreditar.
A sala de estar por si só já era quase do tamanho de sua antiga casa, e as paredes eram ofuscadas pelas enormes janelas de vidro, que favoreciam a maravilhosa paisagem do lado de fora. A escada para o segundo andar ficava junto à uma das paredes a fazia uma curva até chegar ao segundo piso, que levava até os quartos e banheiros.
Já a cozinha era o sonho que Sara teve desde que descobriu sua paixão pela culinária. Enorme, completa e planejada. Já era seu novo lugar favorito da vida.
— Nossa, Anton... Eu estou maravilhada.
Anton sorriu.
— Pois este agora é o seu novo lar. E deles também — completou, indicando os quadrigêmeos deitados no sofá da sala de estar. — Esta é a nossa nova vida.
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