capítulo 2

Victor era infértil, portanto não poderia gerar filhos com Aline. O choque com a notícia foi maior no início, os dois desesperados para arranjar uma solução. Iniciaram vários processos de adoção, mas não conseguiram nenhuma aprovação.

O casal tentou manter suas vidas normalmente, conformando-se de que seriam apenas os dois. Por mais que quisessem muito trazer mais membros à família, não havia muito o que se fazer naquele momento.

A maior tristeza perante tal situação não vinha de nenhum deles, mas de Anton. Queria ter netos. Queria mimá-los. Queria dar doces para eles escondido dos pais, é o que os avós fazem, pensava, mas que infelizmente era algo que ele não poderia fazer.

Já perdi o amor da minha vida, e agora perdi os netos que nunca tive nem poderei ter.

No início dos anos 2000, um casal sem filhos ainda era muito mal visto em alguns círculos sociais. Victor e Aline eram tidos como amaldiçoados, um destino horroroso sem descendentes. A pressão social teve um grande papel no desenrolar da história dos dois.

Quando mais um pedido de adoção foi negado, Anton passou a analisar, secretamente, outras soluções que poderia realizar. Decidiu revelar suas intenções durante um jantar casual:

— Eu pagarei uma inseminação artificial para vocês.

O casal se entreolhou naquele momento. Eles tinham um conhecimento muito vago do termo, portanto não souberam o que dizer.

Anton explicou todo o processo, como seria feito, quanto tempo duraria e quais eram os possíveis resultados. Victor não era estéril. Era preciso apenas um impulso para que a fertilidade ocorresse, e a inseminação artificial era a solução desse problema.

— Não estou obrigando vocês — desabafou Anton. — Estou dando-lhes esta chance de escolha. Não quero que façam algo que vocês não têm vontade, mas, por favor, pensem no que eu estou dizendo. Crianças alegrariam esta casa, que parece tão pálida e recaída nos últimos tempos. É um pedido o que faço, e vocês decidem a resposta.

Após o final do jantar, todos se retiraram e o casal conversou sobre o assunto. Após um longo debate, ambos concordaram que não havia motivos para recusar. Eles fariam o processo para tentar uma última vez.

Meses foram necessários para que fossem feitos todos os exames e testes até que finalmente tudo desse certo. Quando a gravidez de Aline foi confirmada, chorou de felicidade e emoção. Anton e Victor também se emocionaram, sabendo que, no final, tudo valeu a pena.

Foram várias ligações para absolutamente todos os parentes e amigos contado o fato. Houve um jantar em família, reunindo os Puckett brasileiros e ingleses para comemorar, no ponto de encontro da família, a mansão da ilha, que continuara firme e forte após todos esses anos. Todos estavam muito felizes com a chegada da criança.

Duas semanas depois, em um exame de rotina, numa ultrassonografia, foi revelado que não havia uma criança no ventre de Aline. Não uma, pelo menos, mas quatro. Não duas. Não três. Quatro. Victor quase caiu duro no chão ao ouvir essas palavras saindo da boca do médico.

Tudo mudou depois disso. O casal ficou extremamente preocupado, pensando que não seriam capazes de cuidar de quatro bebês ao mesmo tempo. Aline sentia muito medo de ter que dar à luz a todos eles de uma só vez. Ela pensava que não iria dar certo, que ela e os bebês iriam morrer. Anton então percebeu que ele teria que tranquilizar os dois. Com muita paciência e serenidade, ele explicou que várias pessoas já tinham feito esse processo e no final ficou tudo bem. Ele manteve a positividade, e, aos poucos, foi tranquilizando o casal.

Aline também teve sua fase de "desejos de grávida". Todos os dias ela queria comer alguma coisa diferente ou dar um passeio em algum lugar completamente aleatório. E, se não conseguisse o que queria, ficava de cara amarrada pelo resto do dia. Anton e Victor ficaram prestes a enlouquecer naqueles meses.

Após alguns meses, descobriu-se o sexo das crianças: uma menina e três meninos. Mas ainda não dava para saber se os meninos seriam idênticos, isso só seria revelado no nascimento. No entanto, já acostumados com a ideia de terem quadrigêmeos, Victor e Aline ficaram muito felizes com a notícia e começaram a organizar o quarto das crianças. Decoraram com um papel de parede azul cobalto com estrelas amarelas, um carpete preto e quatro lindos bercinhos, alinhados lado a lado. Havia também uma cômoda de madeira de pinheiro, um baú de brinquedos e um abajur grande, em um dos cantos. A vista da janela dava para os fundos da casa: um enorme quintal, com uma enorme piscina e algumas árvores espalhadas. Havia também um canto com uma mesa de piquenique.

Foi quando, numa manhã de segunda-feira, Aline começou a sentir contrações. Naquele momento o pânico se estabeleceu pela casa. Victor correu até o quarto de Anton e o acordou, que rapidamente levou o casal até o hospital.

E então, no dia 25 de outubro de 2004, após oito horas de operação, os quatro irmãos nasceram. Alexander, Guilherme, Thomas e Leslie. Estes foram os nomes escolhidos pelo casal, Dois nomes mais "brasileiros" e dois mais "internacionais", representando a família de ambos. Eram todos iguais. Não por serem gêmeos, mas sim porque todos os recém-nascidos são exatamente iguais. Tinham olhos azuis, como os do pai, e cabelo preto. Mas, algumas semanas depois, a cor do cabelo mudou para castanho.

Aparentemente, tudo estava perfeito, apesar que nas primeiras semanas após o nascimento dos bebês, foram torturantes. Alegres, claro, mas muito desgastantes e exaustivas. Os bebês choravam de se acabar, principalmente à noite. Os quatro.

Nada poderia acabar com a felicidade da família naquele momento. Aparentemente.

Anton, Victor e Aline estavam sendo vigiados. Um grupo de criminosos planejava uma maneira de tirar dinheiro da família, da qual julgavam tê-lo de sobra.

Certa noite, quando saíram em uma caminhada rotineira em um parque perto de casa, os pais dos quadrigêmeos foram abordados por três homens encapuzados, e obrigados a entrar em uma vã. De lá, foram amarrados, amordaçados e levados a um local afastado. Um dos homens ligou para Anton e pediu uma quantia de quinhentos mil reais para o resgate.

— Você acha que eu sou idiota? — respondeu ele ao escutar o que a pessoa do outro lado da linha lhe dissera. — Vá tentar enganar outra pessoa.

Quando estava prestes a encerrar a chamada, os outros dois homens retiraram as mordaças do casal, que, em pânico, gritaram implorando para que Anton acreditasse. O homem, em choque, ficou paralisado sem saber o que fazer.

Em prantos, começou a negociação ainda por chamada, anotando todas as informações sobre o local e a maneira que a troca deveria ocorrer. A polícia foi acionada, acompanhando Anton secretamente até o local.

Chegando lá o dinheiro foi entregue, mas então a vã partiu em velocidade máxima. Não conseguiram alcançá-la.

Naquele momento, cães farejadores levaram os policiais até a entrada de uma reserva florestal, onde foram encontrados dois corpos completamente carbonizados. Victor e Aline foram brutalmente assassinados na mesma noite de seu sequestro relâmpago.

Mais tarde a necropsia revelou que ambos ainda estavam vivos quando tiveram seus corpos dominados pelo fogo.

Os sequestradores, agora assassinos, nunca foram identificados ou localizados. 

O mundo de Anton desabou no momento em que soube. Já havia perdido o amor da sua vida, seus pais, e agora o filho e a nora. As únicas pessoas que ele tinha eram os seus netos. Que agora não tinham mais pais.

O que será dessas crianças sem os seus pais, meu Deus do céu?, pensava ele.

O funeral do casal foi o dia mais melancólico da vida de Anton. Sentia mais ódio que tristeza; ele sabia que os culpados não seriam penalizados. Até aquele momento, nada na investigação foi capaz de achar alguma evidência que chegasse aos assassinos.

Parado em pé em frente aos túmulos, Anton começou a pensar. Se os assassinos daqueles jovens foram capazes de fazer tudo aquilo, com certeza iriam atrás de mais. Era uma questão de tempo até que conseguissem invadir a mansão e o fazer de refém, juntamente com seus netos recém-nascidos. Era um perigo enorme, e ele não sabia o que fazer.

Instalou alarmes e câmeras de segurança na mansão; aumentou as travas e cadeados das portas e janelas; aumentou os muros e instalou cercas elétricas; mas ainda não se sentia seguro. Anton pensava que iria deixar escapar alguma coisa mínima que fosse, e aí seria o fim. Não tinha mais como viver lá, e só havia uma solução: a ilha.

Primeiro de tudo, não teria como invadi-la. Era uma propriedade privada, além de ter um acesso superdifícil somente a barco ou helicóptero. Segundo, Anton não teria que se preocupar em sair da rua e ser pego, como aconteceu com o casal. Ele iria para o Brasil apenas algumas vezes ao mês para comprar comida e outras coisas. Além disso tudo, a mansão tinha seu próprio sistema gerador de energia, reservatórios de água potável, despensa com comida e tudo o que uma casa precisa ter. Não seria nenhum sofrimento morar por lá.

Pensando nisso tudo, Anton decidiu jogar a toalha. É o único lugar seguro em que podemos ficar, concluiu ele.

Em uma atitude drástica e de puro desespero, Anton abandonou a sociedade. Vendeu a mansão e todas as suas outras posses. Pegou os netos e mudou-se definitivamente para a ilha. A mansão, que antes era apenas uma casa de férias, acabou virando seu novo lar. Junto com ele, somente os netos e uma babá que contratara para auxiliá-lo.

Era o recomeço de sua vida, e ele faria de tudo para proteger a si mesmo e aos netos que ele tanto amava. Ele não precisava mais acordar pensando que poderia não terminar aquele dia vivo. Não precisava mais sentir medo ao fazer coisas simples do dia a dia. Ele finalmente estava seguro.

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