capítulo 17
A calma e serena manhã de terça-feira fora interrompida por um grito profundo e devastador. Não era um grito de medo ou de dor. Não era como se alguém tivesse se cortado sem querer. Era como se alguém tivesse visto os pais serem mortos em sua frente; como se toda a sua felicidade tivesse sido sugada para fora de seu corpo. Era terrível. Terrível para quem sentia aquilo, e terrível para quem ouvia.
Sara sentia; sentia do fundo de sua alma, mesmo que também já quase não a sentisse mais. E os outros ouviam. Ouvir aquilo era como se estilhaços de vidro voassem na sua direção, mas pior. Estilhaços de vidro cortam a pele, mas aquele grito poderia cortar almas.
O grito se desfez, mas o som não acabou. Do grito fez-se choro, que se espalhou por toda a mansão de maneira muito mais rápida que o grito. Em poucos segundos, todos já estavam na sala de estar para averiguar a situação.
— Não! Não pode ser!
Sara se encontrava ajoelhada no chão, com o rosto completamente vermelho e úmido e as mãos na boca. Seu celular estava ao seu lado, com a tela rachada após ter caído de sua mão.
Inicialmente Arthur pensou ter sido esse o motivo do grito de Sara, mas então imaginou que ninguém jamais faria tanto escândalo por causa de uma tela quebrada.
Havia algo a mais ali.
— Sara, o que está havendo aqui? — Anton surgiu como se houvesse se teletransportado do quarto até lá.
Não houve resposta em palavras, apenas mais soluços e prantos.
Arthur levantou Sara e a levou até a cozinha. Encheu um copo com água gelada e deu a ela para beber.
— Você quer me contar o que aconteceu? Eu posso te ajudar de alguma forma?
Anton observava os dois de longe, extremamente confuso com aquilo tudo. Leslie, Alex e Guilherme estavam ainda na sala, tentando manter os olhos abertos — acordaram por causa do grito, mas o choque repentino não for capaz de fazê-los acordar de uma vez — e com olhares confusos entre si.
Sara olhou para Arthur como se não tivesse mais motivos para viver. As lágrimas embaçavam sua visão, e ela tentava fazer seus lábios pararem de tremer para conseguir falar.
— Minha irmã — disse, e então novamente levou as mãos ao rosto para impedir sua visão do mundo e abafar o som de seus soluços.
— O que tem com a sua irmã? — perguntou Arthur, quase impaciente, e então percebeu do que se tratava. — Ela...
Arthur não precisou terminar sua pergunta. Sara confirmou com a cabeça.
— Sinto muito pela sua irmã — disse Anton. — Imagino que agora você precise... ir ver sua família, certo?
Sara novamente fez que sim com a cabeça, e se levantou para caminhar até o quarto. Arthur resolveu auxilia-la ao perceber que ela estava cambaleando, e provavelmente iria cair.
O caminho até o quarto foi ausento de palavras, mas não silencioso por conta do constante choro de Sara. Assim que chegaram até seu quarto, Sara olhou ao redor e, ao constatar que estava sozinha com Arthur, o empurrou para dentro e trancou a porta.
— HÁ! Finalmente! — gritou ela, e de repente suas lágrimas haviam sumido. — Toca aqui!
Sara esticou sua mão para Arthur, esperando que ele respondesse ao seu "bate aqui", mas ele estava confuso demais para isso.
— O quê? Como assim? Sara, a sua irmã...
— Arthur — Sara abaixou sua mão e encarou Arthur com desprezo. — Você às vezes é tão... ah, sei lá.
Arthur continuou parado, confuso, sem entender absolutamente nada.
— Homem, a minha irmã não morreu! Eu nem tenho irmã.
— Como assim?
— Cara, eu vou te dar um murro. Isso lá embaixo foi desculpinha pra poder sair daqui e fazer a denúncia. Já esqueceu?
E então, como num passe de mágica, Arthur compreendeu o que havia acontecido.
— Por isso você queria as filmagens.
— Exatamente
— Você é maluca.
— Só quando eu preciso.
Sara abriu a porta do closet e pegou uma mala, em que começou a enfiar todo e qualquer tipo de roupas e utensílios que ela julgou serem necessários.
— Eu não preciso de planta no meu quarto — disse ela de repente. — Você vai me ajudar ou não?
Arthur, mesmo que levemente ofendido com o comentário, levantou-se e ajudou Sara com a sua mala, em completo e absoluto silêncio, até que resolveu quebrá-lo.
— Você vai denunciar exatamente o quê? Ou... quem?
— Você não precisa saber de nada por enquanto. Eu só quero que você cuide desses adolescentes enquanto eu estiver fora — Sara tocou o queixo barbudo de Arthur e direcionou seu olhar para ela. — Eles são tudo pra mim, e se você não cuidar deles... bem, você vai se ver comigo.
Arthur não respondeu. Apenas permaneceu olhando nos olhos de Sara, sem saber o que dizer ou fazer.
— Para de me olhar desse jeito. Parece um idiota.
— Vou fingir que essa não foi a terceira ofensa desnecessária que você me fez hoje.
Sara se concentrou por alguns segundos, tentando pensar em coisas tristes para refazer o choro de antes. Ela fechou os olhos, respirou fundo, e abriu a porta do quarto para ir até a sala.
As lágrimas então voltaram. Sara não sabia exatamente no que estava pensando para que isso acontecesse, mas ela sabia que teria que manter os pensamentos, fossem eles quais fossem.
Anton estava falando ao telefone, chamando um helicóptero para buscar Sara. Leslie, Alex e Guilherme estavam sentados no sofá, assistindo à TV, mas ainda assustados e ao mesmo tempo preocupados com o ocorrido daquela manhã.
Ao ver Sara chegando, Leslie foi até ela para lhe abraçar. Leslie ainda não havia percebido que tudo aquilo era parte do plano que Sara havia lhe dito no dia anterior, então realmente sentia a dor da perda da babá, mesmo que fosse falsa.
— O helicóptero vai chegar em pouco menos de uma hora — anunciou Anton ao encerrar a chamada. — E, novamente, sinto muito pela sua irmã.
Leslie novamente abraçou Sara, e disse a ela em seu ouvido:
— Eu te entendo muito bem, você sabe.
Sara então respondeu, mas cochichando bem baixo para Leslie.
— Não, meu anjo, isso faz parte do plano, lembra? Minha irmã não morreu, eu só precisava de uma desculpa pra ir ao Brasil.
Sara puxou o rosto de Leslie para si ao perceber que a garota iria repetir aquilo em voz alta e entregá-la.
— Mas o que você vai fazer? — perguntou Leslie.
— Nada mais que o necessário.
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