capítulo 16

— Às vezes eu tenho medo de você, sabia?

— Não é de mim que você precisa ter.

Quando Sara chamou Arthur para uma conversa em particular, ele imaginava que fosse sobre o trabalho dos dois, ou sobre as aulas dos irmãos. Mas o assunto era muito mais complexo do que parecia, e Arthur rapidamente entendeu o porquê do sigilo da conversa.

— Para de me olhar com essa cara de sonso e me responde!

— Hã? O quê?

Impaciente, sara levou as mãos ao rosto e apertou os olhos.

— Você consegue pegar algumas gravações das câmeras da casa ou não?

— Ah, isso, bem... eu... eu posso tentar.

Sim ou não?

— Argh, tá bom! Consigo.

— Muito bem. Eu quero as gravações da sala de estar e da piscina.

— De qual dia?

— Quinze de novembro.

Arthur estremeceu ao ouvir aquelas três palavras.

— O dia em que o Tom morreu.

— Exatamente — os dois ficaram em silêncio por um tempo. — Bom. Preciso disso pra amanhã.

— Amanhã?!

Sara inclinou a cabeça levemente para o lado e sorriu com falsidade.

Amanhã. Você consegue, cara. Eu distraio o Anton pra facilitar as coisas, ok? Mas, por favor, você precisa me ajudar com isso. É muito urgente.

— Tudo bem. Amanhã.

— Eu não sei o que acontece, já está assim há dias.

Sara mostrava a Anton a pobre macieira que estava apodrecendo no jardim. As maçãs, antes de cor vermelho-vivo e suculentas, agora estavam pretas, murchas e podres.

— Ah, Sara — Anton respondeu indignado. — É sério que você me chamou aqui pra isso? A solução é óbvia: vamos cortar a macieira.

O homem se virou para retornar à mansão, mas foi impedido por Sara.

— NÃO! Não, por favor, é que... não, eu não quero cortar.

Anton bufou raivoso.

— Por quê?

— Porque... ela é muito especial pra mim, sabe? Eu nunca compro maçãs quando vou ao Brasil, porque eu sei que as melhores vêm daqui — Sara apontou para a árvore. — E também porque, quando eu cheguei aqui, quinze anos atrás, ela era tão pequena. Eu a vi crescendo. Não quero cortar ela, Anton. Eu quero salvar ela.

Sara riu mentalmente de sua desculpa esfarrapada, mas se sentiu orgulhosa por ter interpretado tão bem. Anton bufou ainda mais alto e voltou para debaixo da árvore, analisando-a.

— Onde está o Arthur?

— Ocupado — respondeu Sara, e se xingou mentalmente por ter dito isso rápido demais. Para sua sorte, Anton não demonstrou desconfiança. — Ele me disse que ia trabalhar duro hoje, e que não quer ninguém atrapalhando.

— Entendi. Bem, eu sou formado em botânica, então vou dar o meu melhor para salvar sua querida árvore. Vai buscar uma garrafa d'água para mim.

— Claro.

O dia estava quente, e o sol raiava com toda a sua glória sobre a ilha. Nenhuma nuvem ousava passar por debaixo dele e ofuscar seu brilho, nem o vento parecia ter coragem de aparecer a amenizar seu calor. Era um dia quente que não era costume de acontecer na ilha.

Sara jogou para fora todo o seu medo e ansiedade gerados por aquela situação através de um suspiro. Era um alívio imenso.

No entanto, quando pegou a garrafa d'água da geladeira, Sara pensou no pior: e se Anton precisasse pegar algum tipo de equipamento no escritório? Então ele flagraria Arthur, e os dois seriam demitidos, desta vez sem perdão.

Penando nisso, Sara rapidamente pegou também um copo e correu para o jardim, e, por sorte, Anton ainda estava lá. Ela parou ainda distante dele e respirou fundo para manter a calma. Quando seu coração voltou ao normal e ela não estava mais agitada, se aproximou.

— Precisa de algum equipamento de jardinagem ou algo assim? Eu posso pegar para o senhor.

— Guilherme estava passando por aqui, então eu pedi para ele pegar algumas coisas no meu escritório.

Ah, não, pensou Sara, o Guilherme não sabe das coisas, não faz ideia do que está acontecendo.

Ela olhou para a mansão, ainda pensando no que deveria fazer.

Se eu for atrás dele, vou causar muitas suspeitas. Tomara que o Arthur saiba o que fazer.

Sara teve a sensação de uma tonelada ter sido tirada de suas costas ao ver Guilherme retornando ao local com tranquilidade exalada no rosto. Guilherme caminhava tranquilo como sempre, e Sara percebeu que nada de ruim havia acontecido.

Guilherme entregou ao avô as coisas que ele havia pedido, e então viu a situação em que a macieira se encontrava.

— Credo, que nojo. Dá pra consertar isso?

— Estou vendo o que eu posso fazer.

Guilherme então apenas deu de ombros e voltou para dentro de casa.

Um tempo depois, Sara sentiu seu celular vibrar três vezes no bolso. Era o sinal de Arthur.

Uma mensagem: deu tudo errado; duas mensagens: preciso que você venha aqui; três mensagens: está pronto.

Sara agradeceu aos céus por ter dado tudo certo, e permaneceu lá no jardim observando Anton a estudar a árvore.

Ah, querida macieira, pensou ela, você apodreceu no momento certo. Obrigada.

Mais tarde naquele dia, Sara já estava com as filmagens que Arthur conseguira em mãos. Ela também pegara o frasco de veneno que encontrara no quarto de Tom e a lista de compras que encontrara na despensa. Ela só precisava de mais duas coisas: um caderno de anotações de Anton Puckett e o veneno para rato que ela havia comprado em sua última viagem ao Brasil.

Sara tinha sorte que seu quarto ficava mais perto do final do corredor, logo, mais perto do escritório. Naquela noite, depois que todos já estavam dormindo, Sara entrou em ação.

Usando a lanterna de seu celular, Sara caminhou lentamente e sem fazer barulho até a porta do escritório, que estava fechada. Ela se decepcionou por um segundo, imaginando que estaria trancada, mas tentou mesmo assim. Pousou a mão na maçaneta e a girou levemente, fazendo a porta se abrir. E então entrou.

Sara quase sentiu seu coração parar de bater ao entrar no cômodo escuro, que era iluminado apenas pelo seu celular. Ela tremia de medo, e conseguia sentir a adrenalina percorrendo seu corpo de cima a baixo, fazendo-a suar e sentir-se no mais puro estado de perigo que já presenciara.

— Espero que eu saia viva daqui — murmurou ela para si mesma.

Começou a fuçar nas gavetas, e logo encontrou uma das coisas que queria: a agenda de Anton do ano de 2016. Ela folheou para ver se estava completa, para garantir que o seu dono não iria procura-la, e estava.

— Ótimo. Isso vai comprovar que a letra da lista é dele.

Sara fechou a gaveta e colocou a agenda sobre a escrivaninha, contendo-se para não pular e gritar de felicidade.

Ela olhou para a porta, que estava entreaberta. Nada. Ninguém. Nenhuma luz vindo de fora. Concluiu que ainda tinha alguns minutos para encontrar a outra coisa que queria. Ela passou a luz de sua lanterna pelo cômodo, apenas olhando superficialmente, mas não conseguiu achar nada.

— Merda. O desgraçado esconde bem as coisas.

Então Sara começou a mexer nas gavetas, revirando lentamente todas as coisas que encontrava, na esperança de ter o seu "momento detetive" e finalmente encontrar o que procurava.

— Eu tenho que pensar como ele. Em que lugar eu esconderia uma arma do crime depois de matar alguém?

Um arrepio percorreu Sara por inteiro. Não, ela não tinha certeza, mas sabia que podia ser verdade. Se estivesse errada, ela seria demitida, e então voltaria para a sua vida miserável e nunca mais veria os irmãos Puckett, que também ficariam sem a sua proteção. Anton arranjaria outra pessoa para ficar em seu lugar, e ela logo seria esquecida.

Mas se Sara estivesse certa, e ela sentia que estava, ela simplesmente salvaria Leslie, Alex e Guilherme da loucura e insanidade de Anton, e poderia fazer com que os três retornassem à sociedade e pudessem viver vidas normais, e era isso que a motivava. Foi isso que a manteve naquele cômodo durante a madrugada, tendo como único guia a luz de seu celular.

Sara se agachou e iluminou o chão debaixo da escrivaninha, mas não encontrou nada lá. Seria óbvio demais, até. Ela emitiu um som de raiva, baixo para que ninguém ouvisse, e então se jogou no chão.

— Merda. Argh! Que inferno! — resmungou ela. — Anton, Puckett, do fundo do meu coração, eu quero que você vá tomar bem no meio do seu...

Sara parou ao perceber que havia um relevo na parte de baixo da escrivaninha. Ela pegou seu celular e se virou, ficando embaixo da mesa como se escondesse. Iluminou o relevo e teve uma surpresa ao constatar o que era.

— Que conveniente.

Era um pacote de veneno para ratos, preso à escrivaninha por uma fita crepe. Sara sorriu, mas então teve um choque repentino ao perceber que encontrara o que queria, tentando se levantar, mas batendo a cabeça na mesa.

Ela rapidamente pegou o veneno e enfiou em um de seus bolsos, e então desligou a lanterna de seu celular e voltou para o quarto, tentando não dar de cara com uma parede. Quando chegou, ela guardou as coisas que havia pego e foi dormir, tranquila, sabendo que no dia seguinte iria por seu plano em prática.

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