capítulo 15

— Eu não acredito que ele fez isso com você — disse Sara, irritada. Leslie entrou no embalo de revelações e contou a ela que Anton a havia trancado no escritório para obriga-la a limpar e arrumar a bagunça que ele mesmo havia causado propositalmente. — Que vontade de enfiar a cabeça dele no vaso sanitário e segurar até...

Leslie não pôde deixar de conter a risada, mas logo se preocupou, com medo de que Sara contasse aquilo a alguém, quem quer que fosse.

— Por favor, Sara, isso precisa ficar só entre a gente.

— Eu não sou louca, querida. É lógico que eu não vou contar pra ninguém — sara se aproximou e cochichou de brincadeira no ouvido de Leslie. — Guardei aquele segredo por uns treze anos. Se você não tivesse descoberto, ele teria ido ao túmulo comigo.

Sara se calou imediatamente ao ver Arthur descer, percebendo que não havia feito nada na cozinha até então. Ela se levantou e, olhando para trás, fez um sinal de dedos cruzados e piscou para Leslie, que repetiu o gesto e sorriu.

Quando Alex e Guilherme também acordaram e desceram, todos tomaram o café da manhã e em seguida foram para a mesa da sala de estar para a aula do dia. Os irmãos sentavam-se lado a lado e de frente a Arthur, que explicava o conteúdo das aulas com o auxílio de um quadro negro móvel.

— Raiz negativa não tem solução, né? — perguntou Alex durante a aula de matemática, em que os irmãos estavam fazendo exercícios.

— Se for raiz quadrada, não — respondeu Guilherme, se mostrando por ser excelente em matemática.

Enquanto os dois focavam nos exercícios, Leslie viajava em seus pensamentos. Ela pensava em seu avô, e no castigo extremo que ele havia dado; pensava em Sara, em como ela sabia de tudo há anos a mesmo assim continuara trabalhando para Anton; pensava nos nativos da ilha, no seu triste fim.

E, mais do que tudo, pensava em Tom, e em como sentia sua falta.

Leslie conseguia até vê-lo em sua frente, prestando atenção na aula, como se nada nunca tivesse acontecido.

— Tom?

Ele estava lá. Estava atrás de Arthur, olhando para Leslie. Ela conseguia vê-lo. Sim, ele nitidamente estava lá.

— Leslie? O que foi? — Arthur a tirou de seus pensamentos. Em um instante, Tom desapareceu.

— Eu... preciso ir. Desculpa — Leslie levantou e rapidamente correu para o seu quarto, causando confusão e estranheza nos seus irmãos e em Arthur.

— Ela com certeza sabe — comentou Alex baixinho no ouvido de Guilherme, e os dois concordaram em silêncio.

Leslie bateu a porta do quarto e se afundou no travesseiro, mas sem chorar daquela vez.

— Não, não, não — repetia ela para si mesma. — Não é real. Não é.

— Você já descobriu tantas coisas — Leslie ouvia sua voz. Ele estava lá de novo. — Tanto é que já se esqueceu de mim.

— Para — Leslie ordenou, levantando-se e olhando fixamente para o seu irmão, ou quem quer que estivesse lá. — O Tom de verdade jamais diria isso. Você... não é... real.

— Você realmente pensa assim?

A figura de Tom se movimentava lentamente, andando pelo quarto como se analisasse algo. Usava o pijama de Tom, de camisa azul escura e calça estilo xadrez, também com tons de azul, e estava mais pálido que Leslie se lembrava de tê-lo visto vivo pela última vez.

— Você... não é... real!

Leslie puxou o abajur de cima da sua mesa-de-cabeceira, tirando-o da tomada a força, e o jogou contra a figura de Tom, que desapareceu instantaneamente, tão rápido quanto havia aparecido.

O abajur chocou-se contra a parede e partiu-se em centenas de pedaços, e o seu barulho não pôde ser evitado pelos outros membros da casa, principalmente com o grito que Leslie desferiu ao lançar o objeto.

Segundos depois, lá estava Arthur no quarto de Leslie para averiguar o que havia acontecido.

— Eu... — Leslie tentou pensar em uma desculpa para não ter que dizer a verdade e ser tratada como louca. — Tinha uma aranha! Enorme! — Leslie gritou, tentando fazer parecer que era real. — Ai, meu Deus! Eu não sei aonde ela foi! Mata! Mata! — a garota se agarrou desesperadamente a Arthur, abraçando-o com força e correndo para fora do quarto, levando o professor junto.

— Tá bom, se acalma — Arthur a afastou levemente, um pouco assustado com a reação da garota. — Depois eu vejo isso melhor. Vamos voltar para a aula. Aliás, por que você saiu?

O coração de Leslie parou, e ela disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça no momento.

— Só a Sara poderia me entender. Sabe? Coisas... papos de garotas.

— Ah — Arthur entendeu imediatamente do que se tratava. — Bom, se você quiser... pode... sei lá, descansar hoje.

Tentada a aceitar, Leslie pensou que precisava descansar mais do que nunca na vida, mas logo ela desviou esse desejo, pois estaria enganando a todos para conseguir realiza-lo, e isso não era algo que Leslie fazia.

— Não, tudo bem. Já estou melhor.

E então Leslie voltou para a mesa e se juntou de volta aos irmãos para estudar e resolver os exercícios de matemática.

Ao sentar-se, ela percebeu que os irmãos olhavam assustados para sara, que preparava o almoço com puro ódio percorrendo-lhe as veias. Ela descontava toda a sua raiva nas pobres panelas, que pareciam desejar tudo de pior na vida daquela doida que lhes batia com força.

Algo havia acontecido para que Sara ficasse daquele jeito, Leslie sabia, mas ela não conseguiu deixar de rir quando seus irmãos olharam para ela, ambos os três com expressões de quem tentava ao máximo não dar risada, mas que, assim que seus olhares se cruzaram, caíram na gargalhada.

Arthur olhou para os três com reprovação, mas também acabou sorrindo. Da cozinha, Sara lançou um olhar de fúria para os quatro, que cessaram instantaneamente.

Quando o relógio marcou onze e meia da manhã, os irmãos foram liberados da aula, e Leslie logo foi falar com Sara na cozinha para descobrir o que havia acontecido.

— Leslie, presta atenção — Sara puxou a garota para o canto da cozinha e falou com ela de voz baixa, olhando-a no fundo dos olhos. — Eu vou fazer uma coisa drástica amanhã, mas você precisa manter a calma, tudo bem?

Leslie confirmou com a cabeça, assustada.

— Você não precisa ter medo. Apenas faça o que eu fizer.

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