⚓ CAPÍTULO 11: História
Já se passava do meio-dia, e os sobreviventes se erguiam. Muitos sequerhaviam pregados os olhos naquela noite posterior a morte de Cláudio. Poucolamentaram, já que não se tinha tempo para isso. O sol se fazia presente, e eles sepreocupavam com a localidade atual. A noite passada fora vivenciada em alguma região do Brasil, na América do Sul, como bem disse o falecido. Entretanto, não se sabe se havia um padrão ou uma linha a se seguir dos movimentos da ilha. Se o próximo local seria na Europa, África ou em algum país vizinho ainda na América.
Após uma curta caminhada, o céu se tornou escuro, e num lapso, um vento gélido recaia pelo leste. O grupo se preocupou, e bradando suas armas feitas na selva, aceleraram o passo, ainda estavam distantes da outra ponta da ilha. Ieyasu parecia sempre o mais calmo, conduzindo seus passos levemente e com a cabeça erguida, como se não houvesse problema algum topar com alguma criatura desconhecida pelo homem. Assim, era sempre o último na ordem, e logo a sua frente Wilson. Barnes e os marujos eram os primeiros da fila, seguidos por Watson e Evelyn, por exemplo.
Ainda que seus passos fossem ainda mais rápidos a essa altura, sempre pausavam-o, para dar tempo ao velho padre. O gesto fora repetido desde o primeiro momento em que saíram das areias da praia. Quanto menos se esperava, operou-se uma repentina mudança no clima novamente. O vento, agora, vinha do sul, e parecia mais forte, dado momento em que uma garoa desceu dos céus, mas logo passou. Assim, voltaram a viagem, que agora a frente de um emaranhado verde e coleções de árvores similares e próximas umas as outras, era ainda mais difícil de caminhar sem que tropeçasse em raízes colossais que cortavam o caminho coberto por mato, tão alto quanto suas canelas, que num trajeto, era feito por um completo cheiro de macadamia, despertando a curiosidade de Evelyn, questionando-se a respeito de que lugar era aquele. Em seguida, o aroma de gardênia, com suas pétalas brancas e um delicioso perfume tranquilizante. Em meio a noite, pararam para um breve descanso, e a inglesa se separou por um mísero instante, admirada pela beleza de outras flores como rosas, cravos e lírios. Ao se aproximar de outras árvores, mal percebeu que já estava a alguns metros do restante, tateando as mais belas obras da natureza. Ao fundo, em plena noite que se pusera, um reflexo esbranquiçado e azulado caminhou a sua frente, e seus dedos se soltaram ao lírio que tocava. Seus olhos estáticos, e nenhum movimento brusco fora feito do momento em diante. Segurou-se para não gritar e chamar a atenção do que se punha a sua frente, mas o que quer que estivesse, a olhou de prontidão. Era alta, de pele variando do prata ao azul marinho. O cabelo umedecido e negro. Trajava uma veste branca, quase transparente onde seus seios por pouco não apareciam, e a roupa rastejava o chão. As unhas eram como aço, e a criatura lhe olhou por um mísero segundo. Evelyn suou. Seu corpo paralisado. O ser, aparentemente do sexo feminino, voltou o olhar, e desapareceu no negrume da floresta. Evelyn ainda observou aquele lugar sem mover um músculo, e retornou de costas para onde os amigos estavam. Watson esbravejou com ela a respeito do sumiço, e ela não se segurou a contar-lhes o que havia acontecido.
— Nós voltamos. Nós estamos na Inglaterra de novo.
Barnes, então, se aproximou da moça com ferocidade, o que espantou o ex-militar.
— Como sabe? O que quer dizer com isso, mocinha?
— Eu vi a Bruxa de Leicestershire.
A turma inteira arregalou os olhos. Impactados e surpresos.
— Se ela está aqui, significa que o Gytrash não está. A Bruxa pertence ao condado de Leicestershire, na zona leste.
— E por qual motivo você ainda está viva? – perguntou Allen, sem conhecer a história britânica.
— Nos contos, ela devorava crianças. Não adultos. E vivia em uma caverna perdida.
— Do Brasil para a Inglaterra. Da América do Sul para a Europa. – disse prontamente o capitão. — Vamos dar no pé e descansar na manhã.
No dia que se seguiu, por muito andaram, até que um sol escaldante colocou sua vontade em cheque. Havia acabado também a água, a sobravam apenas frutas. O corpo humano já não resiste. Os professores pensavam em desistir, mas Barnes queria continuar. Lutava para isto, para sobreviver, para saber o que há do outro lado da ilha. Se realmente estavam em uma ilha, ou seja lá o que era aquilo. O capitão, além de tudo, ainda buscava por respostas. Seu amigo Hill gostaria que ele tentasse, tinha certeza disso.
Com uma boa distância para os outros, Louis e Charles eram os mais cansados, até mesmo que o velho padre. O professor de Geografia estava para desabar a qualquer instante, e a lança que carregava consigo ainda pesava para lhe atrapalhar. Não só ele como Charles, que conduzia outra daquela arma, sentiam falta de lecionar. Sentiam faltas de seus alunos, dos quadros, da escola e das universidades em geral. Não era fácil, nem mesmo para o primeiro, que já havia passado por acampamentos e cursos sugestivos. Isso estava em outro patamar, em outro nível. Um em que a humanidade jamais entenderia, e tampouco saberia o que acontecera por aquelas bandas. A ilha os levava a uma loucura inatingível por qualquer outro ato que o homem conhece.
Nem mesmo o frio relaxante que chegou naquela noite. Nem mesmo a bela lua minguanteque surgiu. Allen teria dito que era quatro horas da manhã, e eles estavam com pouco gás. Evitavam fazeruma fogueira. Perigo seria chamar a atenção do que vivia as escuras daquelatenebrosa ilha desconhecida. No dia seguinte, encontraram um curioso riacho queescorria em um possível centro local, lambendo as rochas as suas laterais. Comoaquele riacho estava localizado e até onde ele chegaria, ninguém arriscou um palpite. Seria insanidade tentar opinar algo em um lugar tamanho absurdo acontece, como um barco cair do céu ou uma mula sem cabeça surgir. Naquele dia em especial, eles também descobriram algo ainda mais nebuloso. Quando Wilson tocou seus pés em algo frouxo e amolecido, avisou aos companheiros que, ao retirarem as folhas da região rochosa com suas lanças e facas, encontraram uma espécie de porta no chão. Uma entrada para o subsolo. Será que a saída está aqui? Pensou Larsson, e Sullivan foi o primeiro a arriscar abrir o portal. Não conseguiu, assim, Larsson, Barnes e Watson se juntaram a ele, e após muita força puxando uma elevação enferrujada ao centro, destamparam aquilo. Quem teria coragem para entrar ali... Somente Ieyasu, que desceu a escadaria de pedra com água escorrendo. Sem nada a temer! Disse o japonês, e logo todos o seguiram. Por último, Larsson fechou a entrada. Era muito escuro, logicamente - mas não era impossível de se enxergar, além do mais, o grupo ainda gozava de algumas laternas, o que facilitou por muito a estadia provisória.
— Podemos dormir por aqui. – sugeriu Louis.
— É muito duro. – respondeu Sullivan, e o capitão deu um fora no amigo.
— Sullivan, você não está num hotel cinco estrelas que o governo nos oferecia, nem num cruzeiro.
Após a generosa troca de farpas entre os companheiros, todo o grupo despachou suas armas e tralhas ao chão. Caminharam para o fundo do local, embora sem saber a real dimensão e até onde aquele lugar terminaria. Com as lanternas acesas e bem agrupados, o subsolo - que se assemelhava também a uma enorme caverna milenar, parecia ainda maior, mas aparentemente não levava a lugar algum. Até aquele momento. Após o sinuoso caminho que realizaram, adentraram a uma região ainda maior e com pilastras que se erguiam a metros de altura. O maldito lugar seria de grande valia para estudiosos e entusiastas daquela área, mas para os sobreviventes, apenas a loucura e a mediocridade de nossa esdrúxula existência se escancarava a cada passo. A localidade oca possuía de seis a oito metros de profundidade e se prolongava indefinidamente em quatro direções com direito a uma corrente de ar maquiavélica. O teto e o chão estavam tomados por estalactites e estalagmites, com muitas delas se tocando ao encontro de se tornarem uma grande colunata assustadoramente terrível. Ao final do que seus pobres olhos alcançavam, percebia-se por muitos metros uma descarga d'água em uma fenda colossal ao chão. De onde surgia e o limite da mesma eram as questões que se passavam pelo grupo. Resolveram então debater a respeito e retornarem, mas Evelyn se esgueirou pelos degraus que se punham a sua esquerda, levando-a a uma estatura acima do restante do grupo. Havia, de forma oculta, dois totens de madeira sobrepostos a uma construção rochosa similar a uma mesa de éons passados. A inglesa avisou os outros sobreviventes, que caminharam até onde a bela moça estava. Ao sopro de Barnes e a subida empoeirada de eras antigas, o que se pôde observar acima daquela construção foram gravuras rupestres. Eram petróglifos, e Charles tomou frente, passando seus olhos experientes e analisando os desenhos de formas curiosas. Em suas palavras, o restante das obras pertenciam as populações neolíticas ou cacolíticas. O que fazia ali, era um mistério para ele. O professor então, tomou coragem a tentar decifrá-las. Ainda que receoso do que poderia acontecer com uma suposta descoberta mítica, pediu silêncio e espaço para o restante, e por quase meia hora, analisou com paciência para concluir o que havia encontrado.
"Aos homens que vieram até aqui, tenham cuidado. O local de descanso Dele jaz por toda a eternidade. A santidade destas paredes devem permanecer imaculadas. Jamais o selo cósmico deve ser rompido e sua divindade, em seu descanso, violada. Muitos desceram ao abismo do inconsciente, mas somente os escolhidos serão capazes de relatar o que há por trás da verdadeira loucura."
Ao término da tradução, o silêncio que se fez presente foi pior do que qualquer gritaria. O que poderia ser uma resposta, agora era um pesadelo ainda maior, adornando as mentes humanas com adereços de uma festa diabólica infinita. Seria a ilha pertencente a alguma civilização antiga? Por qual motivo nunca fora descoberta antes? A parte subterrânea da ilha, movida por alguma região, havia passado por períodos diferentes da história da humanidade? O grupo decidiu por unanimidade retornar ao início do subsolo.
Em uma imensa quietude, todos guardaram para si mesmos seus pensamentos, ideias ou argumentos a respeito do que havia acontecido em horas atrás. A quem o texto se referia com "Dele", em qual período as escrituras foram feitas e quem era o autor das mesmas. Mas só Barnes imaginou algo diferente: e se foi Jonathan Hill?
📊 1812 palavras.
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