⚓ CAPÍTULO 05: Planos de retomada
A manhã posterior se iniciou num solavanco para todos. E com o pé esquerdo, claro.
— Venham ver! Venham ver isto! – gritava aos montes o brasileiro.
Todos se puseram de pé, um tanto quanto sujos de areia. A turma que havia ficado na embarcação estava distante, mas também se ergueram. Watson saiu do convés segundos depois, segurando a metralhadora alemã. Logo, todos já estavam a postos e olhavam diretamente para onde a ponta dos dedos de Cláudio apontavam. O farol havia desaparecido.
Houve um grande burburinho, e o Capitão Barnes tomou frente em seguida. Deu um passo adiante e encarou aquilo friamente. Não havia mais nada. A elevação rochosa na qual se erguia a torre do farol, já não estava mais ali. Apenas o oceano. Seus lábios tremeram, mas ele foi firme. Recuou.
— Para o inferno com essa ilha maldita. Vamos consertar o barco, rapazes. Vamos dar o fora daqui. Todos nós. – decidiu rispidamente. Seu uniforme oficial sequer era usado, agora vestindo uma regata branca, salpicada por grãos de areia.
Sullivan e Larsson caminharam junto a Barnes, mas logo o primeiro se recordou do repentino sumiço de Smith.
— Para onde foi mesmo o detetivede São Francisco?
Watson, então, trocou olhares frios com Evelyn, e tomaram frente a falar. Perante a todos ali, sem papás na língua.
— Sullivan, você não se lembra da busca pela floresta ontem a noite? Você, Petersen e Louis. Eu fiquei com a inglesa.
— Bem, agora que você falou, eu realmente me lembro de algo.
— Do que, exatamente? - questionou a moça ao entrar na conversa.
— Bom, lembro-me vagamente que saímos mata a dentro, é verdade. – logo, o professor e o detetive juvenil concordaram. — Depois, lembro de deitarmos nas areias e dormirmos.
A dupla se encarou novamente, e Evelyn se propôs a contar o que houve com Harrison Smith.
— O detetive Smith está morto.
Ossussurros se alastraram. O turco Çakir segurou o choro, enquanto o Padre Wilsonabraçou fortemente o brasileiro Cláudio, que vestia uma camisa da seleção futebolística de seu país tomada por sujeira. Manoel Gonçalves, um estudante português de pouco mais de 20 anos e que também estava entre os inscritos, levou suas mãos a cabeça. Seus dedos morenos se enrolando ao cabelo cor de chocolate. O restante se tomou por silêncio em seguida. Era um medo avassalador, e posteriormente, ao serem questionados com mais profundidade, Evelyn e Watson disseram não ter cabeça para falar agora. Nas palavras do ex-militar, em um momento mais propício, explicariam melhor o que houve.
Na noite que se aproximou, Watson e Evelyn se reuniram na ponte de comando da embarcação junto a Barnes, Sullivan e Larsson. Esclareceram o que de fato havia acontecido e como se deu a morte de Harrison Smith. Realmente fora suicídio, mas houve toda uma cirscunstância obscura por trás. Precisamos contar isso para o restante da embarcação, cogitou Sullivan. É loucura! Imaginou Larsson, e Barnes se manteve eretil e olhando para o maldito horizonte que se punha adiante.
Gytrash era nada mais, nada menos, que uma antiga criatura do folcore inglês, mais precisamente do norte. Por isso Evelyn logo deduziu do que se tratava. O animal, ou entidade, costuma ser retratada em formas de cachorro, cavalo ou até mesmo mulas. Naquele dia, a inglesa pôde perceber que o conto de sua região natal, não era nada fantasioso. Watson se viu encucado com a situação e sem saber o que fazer. O capitão, ainda em silêncio, logo retornou aos trabalhos. Planejava consertar o barco e zarpar daquele lugar com sua tripulação.
Já os outros oficiais, Larsson e Suvillan, passaram a tarde concatenando. No que o fim do dia se aproximou, em mais uma roda de discussão, desta vez, Barnes solicitou que Evelyn, mais cautelosa que Watson, contasse o que realmente aconteceu com Smith. Na cabeça do capitão, sua tripulação deveria saber a verdade, pois ela está acima de tudo. Ele de fato sabia que a notícia causaria pânico, e faria com que muitos sequer dormissem, afinal, havia um cão similar a um demônio por aí afora, induzindo pessoas a morte e ao suicídio.
O barco, com grandes perfurações e destroços derrubados, não suportava e sequer tinha lugar para todos, acredite. O capitão, então, organizou os dias de longo trabalho para os embarcados. Todos ajudariam na tentativa de consertos, afinal, todos gozariam da viagem de retorno. Entretanto, durante as noites, teriam de revezar. Sete pessoas dormiriam dentro do barco, enquanto duas ficariam acordadas fazendo a ronda e o restante dormiria pela areia, como sempre fora feito.
Sobre o mistério do farol, ninguém deu uma palavra sequer. Padre Wilson, entretanto, não conseguiu dormir naquela noite, e logo pediu para trocar com o português Manoel, que foi a dormir nas areias. O senhor realizou a tarefa com Watson, o que gerava uma curiosa imagem. De um lado, um humilde idoso de batina, carregando consigo a Bíblia Sagrada. Do outro, um sujeito robusto, másculo e com olhar beluíno, empunhando uma metralhadora.
Foram completadas mais uma semana na ilha desconhecida. Nada havia acontecido. O farol, não mais voltara. O cão negro não tocou as areias, e nunca mais ninguém ousou adentrar a selva, somente focando em colheitas menores logo na entrada e tendo vista para o mar, afim de não encontrar o que não deve ser cutucado ou chateado.
Barnes estava mais radiante do que nunca, de modo que demonstrava grande felicidade e gratidão. O motivo, estava observando como cada um estava dando o máximo para sobreviver e reconstruir o barco para viajar novamente de volta. Até mesmo Thomas Wilson, no auge de seus 73 anos de idade, estava suando para ajudar. Dava nós, ajeitava as cordas, auxiliava Evelyn e Cláudio ao içar correntes. A estibordo, Watson levantava Çakir nos braços para que pudesse ajeitar as velas, tudo isso com as dicas de Sullivan, que estava nas areias e afastado das águas. Sabe-se lá o que pode aparecer por aqui, pensava! Até então, quem pouco demonstrava emoções era Gilbert Charles, um professor de história que fazia parte dos inscritos. Tinha a pele clara, um pescoço longo e cabelos desgrenhados – agora ainda mais. Estava na popa e indo a proa de minuto em minuto junto ao demonologista Nielsen, que já havia largado sua blusa e sapatos pelas areias.
O japonês Ieyasu formava um trio com Cláudio e Louis, e tentavam ajudar da forma que podia. Na maioria das vezes, na condução de madeiras e organizando e guiando Barnes, que do lado de fora, conferia cada falha no casco. O restante dava duro da forma que lhe era possível.
O capitão, entretanto, preferiu manter todos os entulhos e pertences do lado de fora da embarcação. Amanhã à tarde colocamos o restante, disse ao entardecer.
Exaustão era a palavra que definia a todos. O suor escorria pela testa de cada um, e por mais que receosos a respeito das águas, uma parte da tripulação tomou coragem ao ir ao mar se banhar. Barnes ficou distante, mas Evelyn deu o pontapé inicial que o restante necessitava, elogo as águas tinham pelo menos cinco ou seis pessoas.
Ieyasu sentou-se durante a noite em direção ao local que ficara o antigo farol. Sua espada, na bainha, próxima ao seu queixo e cravada a areia. Ele observava como um sábio enquanto seu manto de dragão sacolejava ao vento noturno. Será que um dia retornarei ao meu país... Pensou. A Terra do Sol Nascente ainda me espera.
Naquele dia em específico, Larsson e Cláudio realizaram a vigia, e o sueco teve de ouvir o brasileiro listar casos e casos a respeito do país sul-americano. O jornalista de 31 anos passou boas horas da madrugada relatando seus trabalhos jornalísticos, de modo que, inconsequentemente, fez com que o sueco Larsson se mantesse de pé e sem desabar em sono. Se ele gostou? Acredito que não...
Quando acordaram, tiveram um dia de totaldescanso, já que os consertos na embarcação estavam praticamente finalizados,mas logicamente, não partiram de imediato. Foram tantos dias de trabalho, que incrivelmente optaram por arriscar mais um dia de vida nas areias. Estavam em estado de completa esgotamento e cansaço. O dia sequer foi aproveitado, embora tenha pouca coisa a se fazer em uma ilha deserta, claro.
Barnes, em um dado momento, cogitou se aventurar nas matas. Larsson fez a cabeça do capitão, e ele desistiu. Mas não por completo.
📊 1420 palavras.
⏱ 07 minutos.
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