⚓ CAPÍTULO 03: A ida ao farol


   No dia seguinte, acreditavam estar no período da manhã, mas já estavam no meio de uma tarde ocultada pelo tempo. A missão agora era construir uma jangada, e isto demorou praticamente o restante de todo o melancólico e duro período de trabalho árduo.

   Barnes ordenou que todos ajudassem, exceto a única mulher da tripulação e o padre, que ficou rezando junto à moça de pele cristalina.

   Puseram-se mata adentro os outros quinze, divididos em três grupos de cinco. O trabalho fora tão custoso e cansativo quanto encarar a força da natureza como em dias passados... Padre Wilson teria dito que "Só Deus sabe como vocês fizeram aquela jangada". O plano inicial era montar a jangada em no máximo um dia, mas foram gastos quase três. A complicação em saber o horário era uma pedra no sapato, e assim aconteceu por toda aquela sequencia até a construção e toque final a nova navegação dos homens.

   No início do terceiro dia de montagem, haviam juntado de quatro a quinze toras de madeira. Colocaram-nas cuidadosamente próximas a água, na beirada, para ser preciso, onde a água não tinha potência para levá-la. Cada tora tinha tamanho semelhante e se encaixaram de forma sutil. No improviso, Brown optou por combinar os mastros danificados da antiga navegação, tirando, claro as partes quebradiças da mesma. Eles eram maiores que as anteriores toras e formavam uma cruz na parte inferior. O processo fora feito com todos os quatro ou seis mastros e sobras utilizadas. Nenhum vão grande foi deixado entre elas. Posteriormente, foi a vez de amarrar e entrelaçá-las. Optaram por utilizar somente cinco das dez cordas que possuíam no barco e as outras cinco foram cipós resistentes encontrados por Brown e o brasileiro Cláudio. Todas as pontas foram amarradas com total firmeza. Para complementar, utilizaram partes que soltaram do casco do barco anterior e acoplaram por baixo e pela parte superior da nova construção, não deixando que nenhum espaço vazasse. O toque final ficou por conta das velas basicamente amadoras feitas pelas mãos de Sullivan e do turco Burak Çakir. Os tecidos gastos e arrebentados pela chuva passada e poderosa foram reutilizados de forma saudável para o projeto, e assim foi finalizada.

   Ao término da construção, Barnes se juntou a todos no seguinte dia. A capacidade máxima era somente de duas pessoas. Ele e mais uma, apenas. Logicamente, nenhum tripulante inscrito tomou frente, em que pese o enxerido brasileiro ter cogitado levantar sua mão para se oferecer. Mas obviamente seria recusado, claro! Assim, o capitão optou por levar um de seus oficiais de confiança, e o escolhido foi Jimmy Brown, e todos concordaram firmemente com a ideia.

    Na noite seguinte, os quatro oficiais se reuniram dentro da antiga embarcação e exemplificaram a situação. O capitão tinha um baú guardado num dos compartimentos em que só ele utilizara. Quando abriu, havia algumas armas de fogo e munição. Larsson ficou boquiaberto, Brown e Sullivan soltaram bons palavrões. Os dois últimos andavam somente com facas e o sueco com canivetes. Aquilo era demais para eles!

   A ideia de irem armados até o farol não era muito ruim, claro, sequer sabia quem estava por lá, mas isto de fato pegou o trio de surpresa, e Barnes riu a toa do espanto de todos ali presentes.

   Ao amanhecer, comeram alguns peixes pescados em tardes anteriores. Era extremamente desagradável, mas não havia muitas escolhas.

   Eram pouco mais de seis horas da tarde quando Barnes e Brown ajeitaram suas vestes oficiais e se organizaram. O capitão carregara consigo um rifle Winchester e o outro oficial apenas uma Glock. Não conduziam munição extra consigo para a viagem até o farol.

   As armas de fogo deixaram a tripulação assustada, principalmente o padre Wilson, que fez uma breve prece para os dois marinheiros, que logo se puseram de pé na jangada. O grupo olhava atentamente ambos, e Barnes deixou claro que não demorariam mais de uma hora, e caso demorassem, fariam algum sinal, e caso não o fizessem, poderiam ficar preocupados de verdade. Os outros quinze assistiam o flutuar da jangada lenta e mansamente, o que eles não sabiam é que a noite estava para se aproximar, e não estavam por volta das duas horas como se imaginava.

   A jangada já estava a uma boa distância, e Barnes se manteve de pé, encarando o farol. Em terra firme, Sullivan cochichou com Larsson.

   — Aquele farol me soa tão estranho. 

   — Marujo, confiemos em nosso capitão. Por muito duvidei de sua capacidade, mas ele é a esperança-mor para nos guiar. – finalizou o sueco, otimista enquanto acariciava seu cabelo áureo.

   Enquanto assistiam e acenavam para a dupla na jangada, Barnes e Brown viraram para o farol, agora ambos de pé. Seus olhares eram decisivos e buscavam por ajuda e só voltariam daquele maldito lugar com ela. Assim pensava o capitão.

   Após alguns quinze ou vinte minutos, a distância já era mais alta. Barnes empunhava sua arma para baixo e Brown tinha o mesmo posicionamento com sua humilde pistola. O sol estava desaparecendo. Em terra firme, os quinze não entenderam a dimensão do perigo e da situação do tempo. O que está havendo, pensou o brasileiro, ao ver a mudança tão ríspida no céu. Erramos o horário?

   Em alto mar, Brown e Barnes se entreolharam. Pela primeira vez, estavam com medo das águas. Barnes, então, entrou em um dilema. Recuar, e seria mais fácil, acredite, ou manter a viagem até o farol. Ele resolveu: vamos retornar, o caminho é mais curto. Porém, uma forte luz se fez acima de suas cabeças. Ela girava e girava sem parar. O alcance era enorme e clareava até mesmo o pedaço de terra onde os quinze estavam. O farol estava aceso! Havia sido acendido pela primeira vez. Barnes, então, estremeceu. Só pode ser um sinal! Brown abriu um grande sorriso. Existem pessoas lá! Elas podem nos ajudar!

   O riso contente do marujo se desfez em instantes. Sua felicidade virou pânico, e seu corpo fora puxado para dentro do mar num tranco terrível. Barnes virou de imediato, e viu seu companheiro tentando se manter na jangada. À distância, o resto da tripulação não entendia. O capitão segurou a mão do amigo. A pistola de Brown se juntou ao gigante azul, e Barnes prendeu seu rifle a roupa e utilizou as duas mãos com firmeza para puxar sua dupla, mas não era possível. Brown gritou em grande desespero, o que deixou seu camarada ainda mais nervoso. Algo puxava o oficial para baixo, até que seu corpo ligeiramente foi tomado pelas águas e nunca mais visto. Barnes, tomado por uma sensação de medo e domado pelo perigo, sentou-se. Ficou inerte por alguns segundos, até que as águas se acalmaram. O farol ainda rodava com sua luz. Silenciosamente, o capitão se ergueu e apontou sua arma para o fundo das águas, observando a calmairia do oceano. Ao brilho do farol que refletiu por criteriosos segundos no mar, ele viu algo escamoso, de tamanho colossal e um olhar hediondo. Seu coração quase saltou para fora e seu dedo foi ao gatilho num lapso de desespero. Disparou contra um inimigo sem ter conhecimento do mesmo. Foram inúmeras balas gastas, e logo o farol se apagou, tudo se tornou escuro.

   O capitão estava arrepiado por completo. Vou morrer de qualquer forma, não adianta. Não tenho o que fazer.

   Depois de alguns minutos, resolveu arriscar a voltar para a ilha. Em meia hora, sua jangada, pouco quebradiça pela briga de outrora, estacionou em terra firme. Os quinze vieram até ele e os oficiais Sullivan e Larsson o retiraram da embarcação. Estava ensopado, tremendo, mas não de frio. Suas mãos não paravam quietas e sua pupila estava dilatada. Ele não conseguia falar. Era como se tivesse se tornado um homem com doenças mentais claras. Permaneceu sentado em puro transe. As pessoas ao seu redor falavam sem parar, perguntavam inúmeras coisas. Muitas questões eram a respeito do que havia acontecido e onde estava Brown, mas o capitão simplesmente desmaiou em seguida.

📊 1375 palavras.

⏱ 06 minutos. 


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top