Capítulo 20

- Ajuda! Aqui! Rápido! – Marcos gritou enquanto Julia ancorava o barco no porto.

Ele e Fred levantaram Mônica e a carregaram para fora da embarcação.

- Chamem uma ambulância! - Paula gritou.

Alguns pescadores que estavam por perto se aproximaram para ajudar e ligaram para uma ambulância que após alguns minutos chegou ao porto.

- Eu vou com ela – Paula se adiantou, entrando na parte de trás do carro para acompanhá-la ao hospital.

Marcos via a ambulância partir e só conseguia pensar que o pesadelo havia chegado ao fim. Estava livre e agora queria encontrar seu João e dona Ana que já deveriam estar desesperados com seu sumiço. Ele se aproximou e pediu um telefone emprestado a um dos pescadores.

- Alô? – disse seu João com uma voz desanimada.

- Seu Jão?

- Essa voz...

- Sou eu seu João.

- Marcos? É, é você? – disse eufórico dando um salto de onde estava sentado.

- Sim. Sou eu - disse respirando fundo para não chorar.

- O-onde você está? Você está bem? O que aconteceu? Eu fiquei muito preocupado!

- Sim eu sei. Eu estou aqui no porto da cidade, daqui a pouco eu chego no bar. Eu estou voltando. Depois explico o que aconteceu.

- Tá bom filho. Vem logo!

Eles desligaram. Marcos enxugou os olhos ainda marejados. O pensamento de que não ouviria mais a voz de seu João e dona Ana passou pela sua cabeça o deixando assustado e, no mesmo momento, aliviado por ele não ter se concretizado.

Julia pediu o celular do pescador e se afastou para ligar para alguém. Marcos ficou esperando, estava tão ancioso para reencontrar seu João e dona Ana que mal conseguia pensar em outra coisa.

- O que você vai fazer agora? - perguntou se virando para Fred que estava parado perto do barco.

- Vou para casa.

- É bom mesmo. Sua família deve estar bastante preocupada sem ter notícias suas.

- Eu não apostaria muito nisso - respondeu indiferente. - Como falei, eu moro sozinho mas não visito muito meus pais.

- Sei... Parece que você tem problemas que precisam ser resolvidos...

- É.

Julia devolveu o telefone e retornou para perto deles. Sua expressão era cansada, mas ela tentava não deixar isso transparecer.

- Eu já vou. Tem umas pessoas muito preocupadas comigo me esperando - Marcos se aproximou dando um abraço de despedida em Fred.

Terminando o cumprimento ele se virou e se deparou com Julia os olhando. Por um momento não soube o que fazer exatamente. Oscilou entre a ideia de ter o total direito em não querer cumprimentá-lá e o pensamento de que seria uma atitude fria demais depois de ela ter arriscado a própria vida para salvá-lo. Tudo bem que ela tinha certa responsabilidade desde o começo, mas mudar de ideia e ajudá-lo tinha sido uma atitude muito corajosa. Seus olhos desviaram para Fred que o encarava a espera do que ele faria a seguir. Marcos se lembrou do conselho do amigo, mas decidiu o deixar de lado. Pelo menos por enquanto. Meio desajeitado ele olhou fixamente para o olhos de Julia e pronunciou um 'obrigado' que foi seguido por um 'sem problema' dela meio sem jeito. Seus olhos desviaram um do outro e por um instante o silêncio pareceu que não teria fim.

- Então... Já vou. Fique bem - disse se virando para Fred.

- Vocês também - ele respondeu.

- Espere - Julia disse antes que ele se afastasse. - Eu vou com você.

- Você vai?

- Sim. Prometi a seu João que traria você de volta, ainda não terminei minha missão.

Marcos não contestou, apenas se virou e continuou caminhando. Seu João sem perder tempo ligou para casa avisando a esposa que Marcos havia ligado e que estava vindo para o bar. Dona Ana Imediatamente saiu às pressas para também encontrá-lo.

No bar, os minutos pareciam durar uma eternidade, seu João estava aflito, dona Ana mais ainda. Estavam começando a pensar se aquilo não tinha sido um trote ou um engano do seu João quando a porta se abriu e Marcos entrou dando um abraço apertado em cada um.

Julia apareceu por trás mas ficou parada a uma certa distância.

- O que houve? Onde você estava? - perguntou dona Ana preocupada, eles se afastaram um pouco. - Isso é sangue! Você se machucou?

- Não. Está tudo bem, foi só de raspão – Marcos abraçou os dois novamente. – Achei que não fosse mais vê-los.

- Onde você estava? – perguntou seu João franzindo o cenho. - O que houve para você desaparecer desse jeito todo sujo? Se meteu em alguma briga? Foi sequestrado?

- Ah... – Marcos limpou os olhos por um instante. – É uma longa história que depois, com mais calma, eu conto. O mais importante é que eu estou vivo, e bem. Depois conversamos sobre isso.

Seu João desviou o olhar por cima do ombro do rapaz e observou Julia parada mais atrás perto da porta.

- Muito obrigado – ele se aproximou lhe dando um abraço de agradecimento.

- Não sei como poderia te agradecer pelo que fez – dona Ana também se aproximou lhe abraçando.

Marcos se escorou no balcão observando a cena. Há alguns dias atrás, em outras circunstâncias, ele estaria rindo como um bobo ao observá-los. Porém agora, ele não estava rindo. No momento, essa cena não o trazia muita coisa.

- Não se preocupe com isso – respondeu Julia se afastando.

- Espera! – interrompeu seu João curioso. – Como foi que você o encontrou?

Julia cruzou os braços na altura do peito abaixando a cabeça disfarçando e a levantando depois.

- Como Marcos disse, essa é uma longa história... Depois ele conta a vocês.

- Eu vou em casa tomar um banho... - Marcos falou ao fundo chamando a atenção deles -, já está escurecendo. No jantar eu conto o que aconteceu.

- Bem, eu também já vou indo – Julia se despediu.

- Não que ficar para o jantar? – perguntou dona Ana.

- Não sei... – disse timidamente.

- Acho melhor não - a frase deixou um desconforto no ar. Todos se viraram para Marcos automaticamente.

- Por que? - perguntou seu João. - Qual o problema? Já dissemos que por nós tudo bem... Se lembra da nossa conversa?!

- Não é esse o problema - a frieza em sua resposta deixou seu João desconfiado. Ele o encarou e Marcos desviou o olhar para baixo.

Seu João sabia que algo estava errado mas resolveu não insistir em mais perguntas. Isso poderia ser deixado para outra hora. Agora não era o momento.

- Eu faço questão que você fique - insistiu dona Ana.

Julia acabou por aceitar ao ver que não teria saída. Negar mais uma vez o convite só tornaria a situação ainda mais estranha, e surgiriam mais perguntas. E essa ainda não era a hora de respondê-las.

- Tudo bem. Então... vejo vocês à noite – disse oferecendo um sorriso. Em seguida, abriu a porta e saiu.

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