Capítulo 18

Com alguns ainda abalados, fizeram o caminho de volta até chegarem no entorno da empresa. Subiram com cuidado pela barranceira esburacada e se posicionaram atrás das barracas.

- Não tem como dar a volta. Vamos ter que passar pelo meio da estrada – comentou Julia depois de analisar o movimento.

- Só se fizermos isso durante a noite – falou Paula. - Mas não acho que temos todo esse tempo.

- Então é bom que vocês tenham alguma ideia porque assim que nos virem com esse uniforme dos prisioneiros seremos pegos – argumentou Fred.

- Então trocaremos de uniforme – respondeu Marcos. - Quando passamos correndo por entre as barracas mais cedo, eu percebi que dentro de uma haviam vários uniformes dos funcionários. Não sei se ainda estão lá, e não sei exatamente em que barraca estão, mas é a nossa chance.

- Certo. Eu e Paula podemos ir e pegar. Mônica, pode nos ajudar na vigia? - perguntou Julia.

- Claro.

Marcos concordou com um aceno de cabeça, elas então se viraram e caminharam atrás das tendas observando o interior de cada uma.

Fred estava sentado. Seu pé já estava melhor e agora conseguia caminhar com mais facilidade apesar de ainda sentir um pouco de dor. Marcos se sentou ao lado dele.

- Você está bem? - perguntou Fred.

- Estou, é claro. Não como eu gostaria mas sim, estou bem - disse se virando para Fred e depois retornou o olhar para as mulheres que pareciam ter encontrado o que procurava.

- Certeza? - perguntou.

- Claro - Marcos respondeu firme. Sua expressão não demonstrava certeza sobre o que dizia.

Fred resolveu não continuar o assunto. Se o amigo não estava se sentindo a vontade para falar no momento então ele não iria insistir. A atenção de ambos foi atraída ao escutaram cochichos se aproximando. Eram as mulheres trazendo macacões brancos nos braços.

Julia repartiu os uniformes e todos se vestiram. O uniforme era quente, por isso só era usado dentro da empresa que era climatizada, o pessoal que trabalhava do lado de fora e principalmente os que estavam na construção, não usavam. Com isso acabavam deixando os uniformes dentro das barracas. Aproveitando a distração dos outros que estavam se vestindo, Marcos acenou para Julia que o acompanhou ficando ambos a uma certa distância dos demais.

- O que houve? - perguntou curiosa.

- Temos uma chance de acabar com isso - ele disse.

- Temos?

- Sim. Eu tenho uma ideia, mas preciso de alguém mais experiente em situações assim para me dizer se o que eu tenho em mente pode funcionar.

- Um plano de vingança? - ela perguntou.

- Talvez. Você disse que não compactua com o que fazem aqui dentro não é mesmo? Ou isso também era uma mentira? Eu não me surpreenderia.

- Não, não era uma mentira - respondeu meio rude com a desconfiança.

- Muito bem - Marcos avistou por cima do ombro dela que os outros já haviam percebido que eles estavam conversando em particular pois os encarava com olhares desconfiados e curiosos. Então, se virando novamente para ela, ele contou de forma detalhada o que tinha planejado.

- É ousado e perigoso. Nessa situação, a chance de dar certo não é muito grande. Tem certeza que quer fazer isso?

- Sim.

- O.K... Então vamos.

Com o fim da conversa, eles retornaram para o grupo que estava ansioso para os próximos passos.

- O que faremos agora? - Mônica perguntou.

- Agora a gente atravessa - respondeu Marcos se abaixando ao ouvir passos do outro lado das barracas. Todos se abaixaram rapidamente. - Façam o seguinte: caminhem devagar, como se estivessem indo ao supermercado, e atravessem a estrada. Quando chegarem do outro lado, entre dentro de alguma barraca, rasgue o plástico da parte de trás, desça pela barranceira e se esconda da melhor forma possível. Todos entenderam?

- Sim – responderam os três.

Os olhos e ouvidos atentos ficaram ainda mais intensos ao perceberem ele se levantar e caminhar com dificuldade pela barranceira em direção ao mesmo lugar do qual as mulheres tinham voltado com os uniformes à pouco.

- O que ele vai fazer? - perguntou Fred à Julia fazendo todos a olharem.

Ela estranhou os três pares de olhos a encarando enquanto esperavam por uma explicação.

- Eu não sei - disse.

- Achei que soubesse - falou Paula. - Vocês estavam conversando agora a pouco não é!? O que ele pretende fazer?

Antes de Julia decidir se inventaria uma mentira ou se realmente diria que no momento não sabia o que Marcos estava pensando, ele retornou com passos cuidadosos enquanto segurava alguns discos de metal nas mãos.

- Perguntem a ele - falou.

- O que é isso? – perguntou Paula.

- São bombas - respondeu ao se agachar em frente ao grupo.

- Bombas! - disse Mônica um tanto alto demais fazendo todos a repreenderem. - Você enlouqueceu? O que faremos com isso?! - cochichou assustada.

- Vão para a praia e escolham uma embarcacão para fugirmos - Marcos estendeu um dos discos para Fred que o pegou indiferente. Depois para Paula que o encarou antes de encostar a mão no objeto frio e circular que possuía um botão no centro. Por fim, Mônica não queria pegar a bomba. Paula então a tomou da mão de Marcos e estendeu para Mônica de forma rude que, depois de relutar por um tempo, acabou o pegando ainda com receio. - Depois que escolherem nosso barco, apertem esse botão no centro e escondam as outras bombas nos outros barcos. Entenderam?

Eles assentiram.

- Aqui está o controle remoto - estendeu para Fred que o pegou.

- Mas espera, algum de vocês sabe pilotar uma lancha? - perguntou Mônica. - Porque eu não sei.

Paula murmurou um "não" e Fred balançou a cabeça negativamente.

- Não, eu também não sei – respondeu Marcos. – Mas não deve ser tão difícil.

- Eu sei pilotar – falou Julia.

- Ótimo! Estão prontos? - perguntou.

Paula e Mônica assentiram, Fred porém ficou em silêncio.

- Espera - disse interrompendo. - Por que parece que nós somos um time - ele apontou para Paula, Mônica e si mesmo -, e vocês dois são outro?

As mulheres que antes estavam decididas e preparadas para seguir com o plano estranharam ao escutar a pergunta e, então, se tocaram do ponto de vista que estavam deixando passar. Fred recebeu os olhares atentos que logo depois pousaram sobre o rosto de Marcos como se o

- O que você pretende fazer? - perguntou Paula.

- Eu... tenho um plano. Eu vou dar um fim nisso tudo. Afinal foi comigo que tudo isso começou não é mesmo? Ninguém melhor do que eu para dar uma basta nessa situação - disse.

- Não foi sua culpa - rebateu ela.

- Eu sei que não. Mas não custa tentar resolver o problema.

- Pode custar sua vida.

- Fiquem tranquilos, não vou fazer nada arriscado.

- O que você tem em mente? - perguntou Fred.

Marcos demorou alguns segundos tentando formular uma resposta válida mas Julia foi mais rápida e direta do que ele seria.

- Vamos explodir esse lugar.

Eles não responderam de súbito. Estavam processando a informação primeiro.

- Então vai precisar de ajuda. Eu também vou - falou Paula assustando Mônica com a atitude inesperada.

- Claro que não - Marcos interviu. - Quanto mais pessoas, maiores serão as chances de que dê alguma coisa errada. Vamos só nós dois mesmo.

- Tem certeza que quer fazer isso? - perguntou Fred. Tinha consciência  de que ele sabia no que estavam mexendo e nos riscos que iria correr se continuasse em frente, mas a essa altura Marcos estava bastante determinado a fazer isso e não parecia haver algo que o pudesse fazer mudar de ideia.

Marcos balançou a cabeça em afirmação.

- Mas, e se vocês não chegarem a tempo na praia? - perguntou Mônica. - Quem vai pilotar aquele negócio?

Marcos pensou por um instante, havia se esquecido dessa parte. Se não conseguisse sair a tempo não adiantaria de nada, ele não conseguiria dar um fim nessa situação, não salvaria os outros, e acabaria colocando a todos em perigo. Ele teria que ir sozinho, Julia deveria ficar para garantir que os outros conseguiriam sobreviver. Era isso.

- Eu piloto - Paula disse antes que Marcos tomasse sua decisão.

- Mas você disse que não sabia - respondeu confuso.

- E não sei. Bem, não como ela deve saber - disse apontando pra Julia. - Eu... tive um namorado... e ele me ensinou um pouco. Acho que sei o básico, deve dar para conseguirmos fugir.

- E como vamos saber à partir de quando devemos ir e deixar vocês caso não apareçam na praia? - perguntou Fred. As mulheres o lançaram um olhar afiado. A pergunta parecia torná-lo uma pessoa fria e sem esperança mas todas as possibilidades deveriam ser encaradas. E ter planejamento era essencial.

- Se depois de um tempo os soldados aparecem na praia e virem vocês, então vão embora. Não quero que corram mais risco. Se ainda estivermos vivos, vamos dar um jeito.

- Que jeito!? - disse Mônica.

- Daremos um jeito.

- Certo - Fred estendeu o braço para um aperto de mão entre eles. - Boa sorte pra vocês - ele cumprimentou Marcos e Julia.

Mônica e Paula reproduziram o mesmo gesto.

- E tratem de aparecer naquela praia - disse Mônica por fim, antes de entrar na barraca.

Marcos assentiu e os vigiou entrar e atravessar a estrada. Depois disso não conseguir ver muita coisa, a última imagem que teve foi o plástico sendo rasgado e Paula olhando para trás antes de atravessar por último.

Agora era sua vez. Ele pegou algumas bombas que haviam sobrado e as escondeu no macação, Julia fez o mesmo. Seus olhos se encontraram e um gesto de afirmação feito com a cabeça foi feito quase que ao mesmo tempo.

O uniforme não era apenas um macacão, alguns também usavam máscaras e foi isso que deu a Marcos a confirmação final de que havia uma chance de seu plano maluco realmente funcionar.

Com a parte debaixo do rosto coberto, ele caminhava o mais natural possível ao lado de Julia pela estrada de terra vermelha e assolada. Alguns funcionários estavam espalhados dentro de algumas barracas, e isso deixava Marcos nervoso. Não podiam ser descobertos, estavam cercados, no meio dos inimigos.

- Ei! Espera! - disse uma voz por trás. O som reverberou pela mente de Marcos como um grito dado em um quarto gigante e vazio. Seus pés travaram instantaneamente e o sangue gelou nas veias.

Fomos pegos

Ele olhou de súbito para Julia que também aparentava ter se assustado. Calmamente eles se viraram para a figura. Era André. Estava parado vestido com seu uniforme azul com uma das mãos sobre seu cinto e segurava uma caneca de porcelana na outra.

- Leve isso para mim, por favor - disse estendendo o braço com o objeto.

Julia pegou a caneca desviando o rosto. Entrar novamente dentro daquele lugar, justo ela uma traidora e ele o mais procurado era uma completa maluquice mas precisavam tentar. Então, forçando os pés contra o chão, eles se movimentaram a passos firmes para dentro da imensa construção.

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